quarta-feira, março 23, 2011

MORREU ARTUR AGOSTINHO

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ARTUR AGOSTINHO

Morreu Artur Agostinho. A sua voz era-me familiar desde miúdo. Ouvia-o, eu e o meu pai, a relatar jogos de futebol. Foi pela sua voz que ouvi muitos êxitos do nosso Sporting, sem que nessa altura eu sequer suspeitasse que ele era sportinguista. Era imparcial nos relatos. Tempos depois comecei a vê-lo na televisão. Finalmente conheci-o pessoalmente durante uma entrevista que me fez num programa da RTP, “Curto-circuito”. Eram os anos 60, eu começava a ser conhecido como critico de cinema, era olhado de esguelha pelas autoridades, e a entrevista no “Curto-circuito” causou algum embaraço aos seus responsáveis, já nem me lembro porquê.
Depois continuámos a ver-nos, por aqui e por ali. Nunca vi com bons olhos o que lhe aconteceu depois do 25 de Abril. Nunca o vi como “pessoa do regime”, não mais do que milhares de outras que desempenhavam papéis de relevo e eram caras conhecidas durante o Estado Novo. E sabia da minha experiência pessoal com ele, recordava a forma como me defendera durante a querela do “Curto-circuito”.

Mais tarde, em 2006, muito antes dos Globos de Ouro e da Presidência da República o terem homenageado, ele foi um dos notáveis que honrei no Famafest. Tal como em anteriores edições, também nesse ano o Famafest homenageou algumas personalidades do mundo da literatura, do cinema e do espectáculo. Nessa ocasião “celebrámos o talento de uma das mais importantes escritoras portuguesas contemporâneas, Teolinda Gersão, de duas actrizes com prestigiadas carreiras atrás de si, Maria Barroso e Graça Lobo, e de um multifacetado Artur Agostinho.” Rezava assim o texto.
Um multifacetado Artur Agostinho!

A nota que aparecia no programa resumia assim a sua actividade:
“Nasceu a 25 de Dezembro de 1920. Jornalista, radialista, escritor e actor. Teve alguns dos mais conhecidos programas de rádio, em estações como a Emissora Nacional ("Que Quer Ouvir?"), Rádio Peninsular, Clube Radiofónico de Portugal ou o Rádio Clube Português, sendo reconhecido como uma das grandes vozes do panorama radiofónico e televisivo português. Participou em filmes como “O Tarzan do 5º Esquerdo”, “Dois Dias no Paraíso”, “Sonhar É Fácil”, “Cantiga da Rua”, “O Leão da Estrela”,“Capas Negras”,“Cais do Sodré”,“Testamento do Senhor Napumoceno” ou “A Sombra dos Abutres”. Participou em programas de televisão como "No Tempo Em Que Você Nasceu" e "Curto-Circuito" (gravado ao vivo no Teatro Monumental) e ainda nas séries e telenovelas "Clube das Chaves", "Ana e os Sete", "Sonhos Traídos", "Ganância" e ”Casa da Saudade", para além de ter apresentado inúmeros concursos de grande sucesso. Actualmente é director do “Jornal do Sporting”.

Infelizmente, por motivos de saúde, nessa altura não pode deslocar-se a Famalicão para receber a “Pena de Camilo”, mas tive o cuidado de lha entregar em Lisboa.
Nesse mesmo ano de 2006, o Sporting Clube de Portugal comemorou o seu centenário, eu ofereci-me ao clube para organizar um festival de cinema integrado nas comemorações, e Artur Agostinho foi o presidente do Júri. Eu escrevia uma crónica de cinema no jornal do clube e ele era director. Foi, portanto, ainda que, infelizmente, por pouco tempo, meu director. Ele saiu de director e eu de colaborador gracioso, ainda estou hoje para perceber por quê.
Artur Agostinho era um homem amável, elegante, atencioso, Uma voz incomparável, um comunicador como não há outro nas suas áreas. Uma presença afável de contagiante simpatia. Não há ninguém insubstituível? É certo que a vida continua e tudo o que as pessoas que desaparecem fazem continuará a ser feito por outras. Mas cada pessoa é um mundo e é um mundo mesmo insubstituível – ninguém mais terá a voz de Artur Agostinho e o seu sorriso.

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