quinta-feira, abril 07, 2011

CINEMA: MANHÃS GLORIOSAS

:
MANHÃS GLORIOSAS 

De novo a televisão nos ecrãs de cinema. Tema muito glosado, e quase sempre em tom crítico. Ou não tivessem sido, outrora, rivais. Agora já não. São parceiros, a tempo inteiro. Desta feita, o enfoque faz-se nos programas da manhã. “Morning Glory”, uma realização de Roger Michel (“Notting Hill”), com argumento de Aline Brosh McKenna (“The Devil Wears Prada”), conta com um bom elenco e cenas divertidas, mas falha o mais importante: a consequência. Ou então é mais grave: propõe e defende o que se mostra. 
Becky Fuller (Rachel McAdams), mercê da sua lábia incontinente, acaba de ser aceite como produtora executiva de uma importante cadeia de televisão norte-americana para um programa da manhã, “Daybreak”. A IBS tem problemas de audiências e quer multiplicar o seu público. Becky Fuller, a desenrascada, parece ser a mulher ideal para o conseguir. Mas os primeiros tempos não ajudam, tudo parece ir por água abaixo, os índices de audiência, em lugar de subirem, descem, e o patrão da estação (Jeff Goldblum) adverte-a: se dentro de alguns dias a tendência não se inverter substancialmente, acaba a experiência.
Becky Fuller descobre então uma saída para a crise. Ela tem no programa uma experiente pivot, Colleen Peck (Diane Keaton), com aquele penteado e modos que tanto agradam às donas de casa quando lhes fala, à hora do pequeno-almoço, de flores, cozinhados, electrodomésticos e outras questões tais. Vai tentar reuni-la a Mike Pomeroy (Harrison Ford), um jornalista veterano que já ganhou todos os prémios do jornalismo “sério” e agora se encontra mais ou menos arrumado na prateleira dourada. O risco é grande, é uma espécie de misturar água e azeite e esperar que a combinação resulte. Pomeroy não aceita este desafio de bom grado, não quer prostituir o jornalismo de investigação e Colleen Peck não se quer sentir ultrapassada, não quer deixar de ser ela a dizer um último “bom dia” do programa. Pomeroy também não. Os “bons dias” sucedem-se, o programa eterniza-se. As audiências não arrancam. Até ao dia em que Pomeroy tem uma “cacha”, resolve fazer jornalismo e apanhar em directo a prisão do governador do estado, acusado de corrupção. O “Daybreak” arranca, os espectadores do filme pensam que este quer dizer-nos que aquelas chachadas matinais, que põem em perigo de vida o esforçado meteorologista, não são assim essenciais, mas que o jornalismo sério o é, mas não. Bom, bom mesmo, é Pomeroy executar com brilhantismo uma omeleta matinal. Triunfo do programa, “humanização” do jornalista “sério”, triunfo da produtora executiva, que até se dá ao luxo de ter uma noite de vida privada.
Posto isto, o filme é divertido, bem interpretado, escorreito, eficaz. Discutível, no mínimo, é a sua defesa do conceito de televisão espectáculo onde vale tudo. Mesmo nas manhãs familiares.

MANHÃS GLORIOSAS
Título original: Morning Glory
Realização: Roger Michell (EUA, 2010); Argumento: Aline Brosh McKenna; Produção: J.J. Abrams, Bryan Burk, Sherryl Clark, Udi Nedivi, Lindsey Paulson, Guy Riedel; Música: David Arnold; Fotografia (cor): Alwin H. Kuchler; Montagem: Daniel Farrell, Nick Moore, Steven Weisberg; Casting: Marcia DeBonis, Ellen Lewis; Design de produção: Mark Friedberg; Direcção artística: Alex DiGerlando, Kim Jennings; Decoração: Alyssa Winter; Guarda-roupa: Frank L. Fleming, Bernie Pollack; Maquilhagem: Tarsha Marshall, Mary Anne Spano; Direcção Assistentes de realização: Tudor Jones, Maurice Sessoms, Michael E. Steele; Departamento de arte: Nick Miller, Nell Tivnan, Frank-Joseph Frelier; Som: Brady Nelson, Warren Shaw; Efeitos visuais: Ivan Moran; Companhias de produção: Bad Robot, Goldcrest Pictures; Intérpretes: Rachel McAdams (Becky Fuller), Noah Bean (First Date), Harrison Ford (Mike Pomeroy), Jack Davidson (Dog Walking Neighbor), Diane Keaton (Colleen Peck), Vanessa Aspillaga (Anna), Patrick Wilson (Adam Bennett), Jeff Goldblum (Jerry Barnes), Jeff Hiller, John Pankow, Linda Powell, Mike Hydeck, Joseph J. Vargas, Mario Frieson, Kevin Herbst, Jerome Weinstein, Steve Park, David Wolos-Fonteno, Patti D'Arbanville, Ty Burrell, Adrian Martinez, J. Elaine Marcos, Matt Malloy, Rizwan Manji, Jay Russell, Finnerty Steeves, Elaine Kaufman, Bob Schieffer, Morley Safer, Chris Matthews, 50 Cent, Tony Yayo, DJ Whoo Kid, Lloyd Banks, etc. Duração: 107 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 24 de Março de 2011.

1 comentário:

Tiago Couto disse...

De volta aos anos 60!

Visita http://palavrasdechocolate.blogspot.com/2011/04/de-volta-aos-anos-60.html E descobre um pouco mais sobre os anos 60 em Portugal!