domingo, janeiro 15, 2012

CINEMA: MONEYBALL - JOGADA DE RISCO

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MONEYBALL - JOGADA DE RISCO

 “Moneyball – Jogada de Risco” é um filme muito interessante sob diversos pontos de vista. Enquanto o estava a ver lembrei-me várias vezes de dois filmes recentes, “A Rede Social” e “Drive”, ainda que por razões diferentes. Consultando depois a ficha técnica percebi que a aproximação com “A Rede Social” não era fortuita. Existe um mesmo argumentista (Aaron Sorkin), e um mesmo produtor (Michael De Luca). Depois, há um conjunto de coincidências que resultam obviamente dessa proximidade: ambos os títulos abordam casos de sucesso, protagonizados por jovens que se dedicam às novas tecnologias, informática sobretudo, e que triunfam na base de sucesso a todo o preço, sem olharem a quaisquer problemas de ordem afectiva ou social. As emoções guardam-nas, quando têm tempo para isso, para a família, neste caso a filha, e pouco mais. Ambos os filmes são muito equívocos quanto a intenções. Será que fazem o elogio dos seus protagonistas? Sim e não. Certamente que, num caso como noutro, o jovem em questão (ou os dois jovens em questão, um mais apagado por força da presença obsessiva do outro) tem capacidades que merecem ser sublinhadas, mas em ambos os exemplos há muito de, pelo menos, discutível na sua conduta.
Quanto a “Drive”, as semelhanças são diversas: ambos os filmes parecem ter sido rodados em “pianinho”, quase ao ralenti, com uma ou outra explosão, tanto ao nível da acção como da banda sonora.
Este novo filme sobre esse desporto americano tão apreciado nos US e que nós, europeus, não sabemos como se joga, é baseado no livro “Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game”, de Michael Lewis, que conta a história verídica de Billy Beane (Brad Pitt), que foi director desportivo da equipa de basebol do Oakland Athletics. Billy Beane fora antigo jogador prestigiado, e agarrou na equipa num período terrível, quando três dos ídolos da temporada anterior se tinham mudado, deixando o clube pendurado e sem dinheiro para grandes compras. Beane quer formar uma equipa competitiva, mas está longe de poder entrar em aventuras e adquirir os jogadores top que se encontram no mercado. Cruza-se um dia com Peter Brand (Jonah Hill), um coca-bichinhos dos computadores e da análise estatística de jogos e jogadores, e pensa que pode trocar os sábios conselhos de velhos olheiros e treinadores por um conjunto de operações matemáticas. A coisa começa por dar para o torto, com mais de uma dezena de derrotas consecutivas, mas depois de algumas afinações e de um puxão de orelhas no balneário, tudo se modifica e a equipa de imprestáveis arrebata o record de vitórias sucessivas, vinte de uma assentada, vindo a morrer na praia, no derradeiro jogo para o campeonato, ganho pelos de New York.
Portanto, Billy Beane tinha razão, mas não tanta que lhe permitisse chegar ao título. Fica a proeza e a persistência numa ideia, mas fica igualmente o sabor amargo de não ter conseguido ficar com o ceptro na mão. Digamos que é o sonho americano, mas de alguma forma nuanceado.
Não deixa de dar que pensar, tanto mais que o filme é muito bem conduzido por Bennett Miller (que já se tinha feito notar com “Capote”), mantém um estilo sóbrio que se afasta por completo dos exaltantes filmes sobre desporto a que estamos todos habituados (uma equipa de velhas glórias que acaba por ganhar tudo, fruto de muita vontade e coragem, com aleluias no final), criando um ambiente por vezes de cortar à faca, sem recurso a efeitos de qualquer espécie (veja-se como o silêncio e a ausência de fundo musical pode funcionar as mil maravilhas), jogando quase tudo na interiorização e no extraordinário trabalho dos intérpretes.
O retrato de Billy Beane que Brad Pitt nos oferece é excepcional, intenso, rigoroso, interiorizado, mas de uma simplicidade de processos notável, no que é magnificamente acompanhado por Jonah Hill. Nada nos surpreende se ambos aparecerem nomeados para os Oscars. Se o não forem, será de enorme injustiça. Philip Seymour Hoffman, num pequeno papel, é igualmente muito bom (como sempre, aliás).
Eis, portanto, um filme que não nos oferece uma conclusão óbvia, mas que nos faz pensar sobre os dados que apresenta. Quase me arriscava a dizer que este é mais um filme sobre o mundo dos negócios e como ele se vai transformando, do que um filme sobre desporto. Nele o cerebral impera sobre o emocional. Sem nos dizer que os velhos dinossauros estão certos, nem que os jovens recém chegados trazem a verdade no bolso (ou no pc). Mas que nos mostra, sem sombras de dúvidas, que os tempos estão a mudar, e que a vida, nestas condições, vai ser cada vez mais difícil, numa altura em que o que conta fundamentalmente são os números e o que eles representam como empate de capital e lucro à vista. Pode não ser a mensagem do filme, mas lá que esta subjacente, está.
Curiosidades suplementares: quando o livro de Michael Lewis foi comprado pela Columbia Pictures, a sua adaptação foi entregue a Stan Chervin, mas após a chegada de Brad Pitt ao projecto (actor e produtor), Chervin  foi substituído por Steven Zaillian, tendo sido a realização entregue a David Frankel.  Posteriormente, parece que Steven Soderbergh substituiu Frankel mas, poucos dias antes do início da rodagem, a Columbia dispensou Soderbergh porque na concepção dos responsáveis da produtora o argumento comportava “elementos considerados não tradicionais para um filme de desporto, como entrevistas com jogadores autênticos. Soderbergh saiu e entrou Bennett Miller, e o argumentista Aaron Sorkin, que escreveu uma terceira versão do argumento. A que agora vimos.


MONEYBALL - JOGADA DE RISCO
Título original: Moneyball
Realização:
Bennett Miller (EUA, 2011); Argumento: Steven Zaillian, Aaron Sorkin, Stan Chervin, segundo obra de Michael Lewis ("Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game"); Produção: Michael De Luca, Rachael Horovitz, Alissa Phillips, Brad Pitt, Scott Andrew Robertson, Scott Rudin, Mark Bakshi, Andrew S. Karsch; Música: Mychael Danna; Fotografia (cor): Wally Pfister; Montagem: Christopher Tellefsen; Casting: Francine Maisler; Design de produção: Jess Gonchor; Direcção artística: Brad Ricker, David Scott; Maquilhagem: Kathrine Gordon, Francisco X. Pérez; Direcção de produção: Heidi Erl, Jason Tamez, David Witz; Assistentes de realização: Courtenay Miles, Scott Andrew Robertson, Jonas Spaccarotelli, Brian Taylor; Departamento de arte: Gary Deaton, Lisa Fiorito, Amanda Hunter, Megan Romero, Jon Stein, Cheree Welsh, Ben Wolcott; Som: Ron Bochar; Efeitos especiais: Robert Cole; Efeitos visuais: Steve Carter, Gloria Cohen, Edwin Rivera, Meg Tyra; Companhias de produção: Columbia Pictures, Scott Rudin Productions, Michael De Luca Productions, Film Rites, Specialty Films; Intérpretes: Brad Pitt (Billy Beane), Jonah Hill (Peter Brand), Philip Seymour Hoffman (Art Howe), Robin Wright (Sharon), Chris Pratt (Scott Hatteberg), Stephen Bishop (David Justice), Brent Jennings (Ron Washington), Ken Medlock (Grady Fuson), Tammy Blanchard (Elizabeth Hatteberg), Jack McGee, Vyto Ruginis, Nick Searcy, Glenn Morshower, Casey Bond, Nick Porrazzo, Kerris Dorsey, Spike Jonze, Arliss Howard, Reed Thompson, James Shanklin, Diane Behrens, Takayo Fischer, Derrin Ebert, Miguel Mendoza, Adrian Bellani, Tom Gamboa, Barry Moss, Artie Harris, Bob Bishop, George Vranau, Phil Pote, Art Ortiz, Royce Clayton, Marvin Horn, Brent Dohling, Ken Rudulph, Lisa Guerrero, Christopher Dehau Lee, Joe Satriani, etc. Duração: 133 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 12 de Janeiro de 2012.

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