terça-feira, janeiro 24, 2012

CINEMA: OS DESCENDENTES

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OS DESCENDENTES
   
Alexander Payne é realmente um cineasta invulgar. Pelos temas escolhidos, mas sobretudo pelo tom em que os consegue manter.
Nascido em 10 de Fevereiro de 1961, em Omaha, no Nebraska, de uma família de origem grega, Alexander Constantine Papadopoulos, depois Payne por opção, estudou na Universidade de Stanford, mais tarde formou-se em “Theater Arts”, pela “UCLA Filmschool” (1990), tendo, entretanto, andado pela Europa, onde estudou em Salamanca, Espanha.
Começou a sua carreira cinematográfica com uma curta, “Cármen”, 1985, alguns vídeos, “Inside Out”, com o episódio "My Secret Moments", 1991, e “Inside Out III”, 1992, e passou à realização de longas-metragens, com “The Passion of Martin”, 1991, “Citizen Ruth”, 1996, “Eleição” (Election, 1999), revelando-se completamente a partir de “As Confissões de Schmidt” (2002), e, sobretudo, “Sideways” (2004). Antes de “Os Descendentes”, participou ainda num episódio de “Paris, je t'Aime” ("14e Arrondissement", 2006) e no episódio piloto da série “Hung” (2009). Não muita obra, mas a suficiente para se perceber estarmos perante um verdadeiro autor, com uma voz própria e uma temática e um estilo muito originais. Inconfundíveis, até. “As Confissões de Schmidt”, “Sideways” e agora este “Os Descendentes” criam uma mesma atmosfera envolvente, um clima de intimidade invulgar, um certo tom de viagem ao sabor do tempo, descontraída, plausível, autêntica, sem efeitos nem rebuscamentos. As paisagens são as de uma cuidada viagem em “home vídeo”, os actores actuam como se estivessem ainda nos ensaios e não já a representar, o guarda-roupa é o de todos os dias, os cenários sentem-se vividos como poucos, não há poses estudadas, nem artifícios estéticos para causar bom efeitos. O bom efeito, todavia, está lá, nessa apetência de autenticidade. Cada filme seu é um convite para entrar na privacidade de uns quantos seres com os seus problemas, alguns graves, outros risíveis, mas confraternizamos com eles sem confrangimentos, como velhos amigos que conhecemos há muito. E com quem não se faz cerimónia. Em “Os Descendestes”, há uma cena em que Clooney entra pela casa dentro de um casal amigo, sem se fazer anunciar, a não ser quando já está bem dentro da sala. Entramos nos filmes de Alexander Payne da mesma forma, sem aviso prévio, somos familiares ou amigos convidados a partilhar pedaços de algumas existências.
Em “The Descendants”, o protagonista é Matt King (George Clooney), um advogado que mora no Havai, cuja mulher se encontra em coma no hospital local, depois de um acidente com um barco, enquanto fazia sky aquático. Tem duas filhas, um impressionante número de familiares, negócios a tratar, um belíssimo terreno herdado, pronto para ser vendido a um grande empreendimento turístico, e a mulher a morrer, sem esperança de salvação. É um daqueles momentos em que cai tudo sobre a cabeça de um homem, sobretudo porque as filhas, uma de 10 e outra de 17, se mostram rebeldes, e ainda por cima a mais velha resolve trazer a reboque um emplastro meio aparvalhado. Depois, Matt King faz uma descoberta desconcertante: a sua apaixonada esposa era-lhe infiel e preparava-se para pedir o divórcio, antes de sofrer o acidente que a atirou para a cama do hospital, em estado vegetativo.
Matt King está nos antípodas do que costumam ser os personagens interpretados por Clooney. Ele é um ser desamparado, aparentemente desorientado, vestido com umas camisas havaianas não muito recomendáveis, desajeitado a correr, sem saber muito bem para que lado se voltar. A vida tem destas ocasiões, e há que enfrentar as crises. Matt King oscila entre o torpor e a explosão de violência benigna, até encontrar o seu rumo e consigo levar a família, afinal todos envolvidos no mesmo drama ou, se preferirem, no mesmo cobertor.
Muito interessante é a forma anti-turística como nos é apresentado o Havai, uma zona que nos é quase sempre servida através dos mais estafados clichés e que o cineasta afasta para nos mostrar o país profundo, não a zona turística da beira-mar, mas o interior ou as praias isoladas, as casas dos autóctones e o dia a dia despojado, sem o charme dos grandes hotéis de luxo, mas com o secreto encanto e a dolorosa presença dos pequenos e grandes dramas e alegrias do comum dos mortais.
Lídimo representando do cinema “independente” norte-americano, mesmo quando já enquadrado na grande indústria, Alexander Payne deixa-se levar numa tocante melopeia que roça o melodrama e a comédia, abordando de uma maneira discreta, subtil e comovente alguns dos grandes problemas da vida, do amor à morte, do ciúme à compreensão, da educação à ecologia.
Ou me engano muito ou, mesmo havendo outros fortes candidatos ao Oscar de melhor filme do ano, este o vai recolher sem grande margem para conflitualidade. É o típico filme para o Oscar. Também George Cloooney me parece bem orientado para receber o almejado Oscar de melhor actor. E Shailene Woodley pode ser uma surpresa entre as secundárias. Interessante referir que Kaui Hart Hemmings, a autora havaiana do celebrado romance – primeira obra – donde parte o filme, se encontra entre os actores, num pequeno papel a contracenar com Clooney.   
OS DESCENDENTES
Título original: The Descendants
Realização: Alexander Payne (EUA, 2011); Argumento: Alexander Payne, Nat Faxon, Jim Rash, segundo romance de Kaui Hart Hemmings; Produção: Tracy Boyd, Jim Burke, George Parra, Alexander Payne, Jim Taylor; Fotografia (cor): Phedon Papamichael; Montagem: Kevin Tent; Casting: John Jackson; Design de produção: Jane Ann Stewart; Direcção artística: T.K. Kirkpatrick; Decoração: Matt Callahan; Guarda-roupa: Wendy Chuck; Direcção de produção: Renee Confair, George Parra; Assistentes de realização: Scott August, Tracy Boyd, Richard L. Fox; Departamento de arte: Serena Rios Flores; Som: Frank Gaeta; Efeitos visuais: Mark Dornfeld, Michele Ferrone, Paulina Kuszta; Companhias de produção: Ad Hominem Enterprises; Intérpretes: George Clooney (Matt King), Shailene Woodley (Alexandra King), Amara Miller (Scottie King), Nick Krause (Sid), Patricia Hastie (Elizabeth King), Grace A. Cruz (Professora de Scottie), Kim Gennaula, Karen Kuioka Hironaga, Carmen Kaichi, Kaui Hart Hemmings, Beau Bridges, Matt Corboy, Matt Esecson, Michael Ontkean, Stanton Johnston, Jon McManus, Hugh Foster, Tiare R. Finney, Tom McTigue, Milt Kogan, Mary Birdsong, Rob Huebel, Laird John Hamilton, Aileen 'Boo' Arnold, etc. Duração: 115 minutos; Distribuição em Portugal: Big Picture 2 Films; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 19 de Janeiro de 2012. 

1 comentário:

Ana disse...

Lauro António,tudo o que possa dizer sobre o realozador,até sobre o filme.Eu pessoalmente,não gostei deste filme,muito embora tenha recebido um globo de ouro,tem razãao quanto às paisagens...contou a história ,como eu a entendi,mas que quer,achei deprimente em tudo,desde o Pai com as meninas mais um namorado que aparece não se sabe donde,visto a filha estar num colégio intern.Ficatudo muito amigo. A busca do homem que tinha sido amante da mulheragora em coma ptofundo Um sogro super ordinário com a mulhercom alzeimer.
Idas à praia,sempre em busca do vendedor de casas.E a senhora smpre em coma ,os negócos do terreno.Agora a senhora ainda mais em coma,desligam-se as máquinas...
Não continuo ,mas que é deprimente É.