“War
Horse” começou por ser um romance assinado por Michael Morpurgo que foi
adaptado a teatro por Nick Stafford, e esteve duas temporadas esgotadas no National
Theatre, passando depois para o New London Theatre no West End e tendo sido estreado
posteriormente na Broadway, em Nova Iorque, no Lincoln Center Theater, e depois
noutros teatros, com igual sucesso de público e crítica. A encenação era
espectacular, contando com cavalos mecânicos idealizados pela Handspring Puppet
Company.
A
obra parecia feita de encomenda para Steven Spielberg, que rapidamente a
adaptou a cinema, criando um épico melodramático, oscilando entre o intimista e
o grandioso, tendo um jovem como protagonista, no que relembra o Império do
Sol, e tendo os horrores da guerra como cenário privilegiado, o que também é
tema caro ao cineasta (quem não recorda “A Lista de Shindler”, por um lado, ou
“O Regresso do Soldado Ryan”, por outro). Emoção e coragem, a denúncia da
brutalidade da guerra, tudo visto numa perspectiva invulgar, pelos olhos de um
adolescente apaixonado pelo seu pónei Joey, que cresce e é requisitado para
entrar na I Guerra Mundial, mas igualmente observado pelo prisma do próprio
animal. Não me lembro de ter visto a guerra e a sua violência gratuita
descoberta pelo sentir de um cavalo que a atravessa de forma absurda. Tão ou
mais absurda do que a forma como os homens para ela são atirados.
Tudo
se passa numa Inglaterra de início do século XX, a partir de uma pequena
propriedade rural, onde uma pobre família compra um pónei, Joey, um animal
rebelde e orgulhoso, que no entanto cria uma evidente amizade com o adolescente
Albert, filho do casal de agricultores. Depois de algumas peripécias, o cavalo
é incorporado no exército, quando Inglaterra e Alemanha declaram guerra uma à
outra, e é enviado para terras de França, onde o conflito se trava, por entre
trincheiras e arame farpado, gazes fatais e artilharia pesada. O cavalo vai
sobrevivendo a tudo, chamam-lhe miraculoso, e Albert, que a princípio não tinha
idade para se alistar, acaba por perseguir o “seu” cavalo pelas frentes de
batalha. Há sequências memoráveis, como o cavalo preso no arame farpado
enquanto fugia entre o fogo cruzado, ou a cena que junta ingleses e alemães num
cessar-fogo acordado entre trincheiras para libertar o animal dos arames que se
enterram na carne. Spielberg consegue imagens de uma beleza esplendorosa,
mantém o filme quase sempre a um nível de melodrama contido muito bem explorado
(excepção talvez à sequência francesa onde o rodriguinho se insinua) e, na
globalidade, oferece-nos uma magnífica lição de coragem e audácia, de amizade e
abnegação, com um excelente elenco, uma fotografia brilhante e uma banda sonora
inspirada.
CAVALO DE
GUERRA
Título
original: War Horse
Realização: Steven Spielberg (EUA,
2011); Argumento: Lee Hall, Richard Curtis, segundo romance de Michael
Morpurgo; Produção: Kathleen Kennedy, Steven Spielberg, Revel Guest, Kristie
Macosko, Frank Marshall, Tracey Seaward, Adam Somner; Música: John Williams;
Fotografia (cor): Janusz Kaminski; Montagem: Michael Kahn; Casting: Jina Jay;
Design de produção: Rick Carter; Direcção artística: Andrew Ackland-Snow, Neil
Lamont; Decoração: Lee Sandales; Guarda-roupa: Joanna Johnston; Maquilhagem:
Lois Burwell, Jon Henry Gordon, Charlotte Rogers; Direcção de Produção: Geoff
Dibben, Mark Graziano, Samantha Knox-Johnston, Nick Laws; Assistentes de
realização: Phil Booth, David Cain, Robert Grayson, Adam Somner; Departamento
de arte: Joel Chang, Lynne Divers, Paul J. Hayes, Jodie Jackman; Som: Gary
Rydstrom; Efeitos especiais: Neil Corbould, Anna Krawczyk; Efeitos visuais:
Rachel Faith Hanson, Nick King, Ben Morris; Companhias de produção: DreamWorks
SKG, Reliance Entertainment, Amblin Entertainment, The Kennedy/Marshall
Company, Touchstone Pictures; Intérpretes:
Jeremy Irvine (Albert Narracott), Peter Mullan (Ted Narracott), Emily Watson
(Rose Narracott), Niels Arestrup (Avô), David Thewlis (Lyons), Tom Hiddleston
(Capt. James Nicholls), Benedict Cumberbatch (Maj. Jamie Stewart), Celine
Buckens (Emilie), Toby Kebbell (Geordie), Patrick Kennedy (Charlie Waverly),
Leonard Carow (Michael), David Kross, Matt Milne, Robert Emms, Eddie Marsan,
Nicolas Bro, Rainer Bock, Hinnerk Schönemann, Gary Lydon, Geoff Bell, Liam
Cunningham, Sebastian Hülk, Gerard McSorley, Tony Pitts, Irfan Hussein, Pip
Torrens, Philippe Nahon, Jean-Claude Lecas, Justin Brett, etc. Duração: 146 minutos; Distribuição em
Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal:
23 de Fevereiro de 2012.
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