JO NESBO
E “CAÇADORES DE
CABEÇAS”
1.JO NESBØ
Jo Nesbø é norueguês. Escritor de policiais, foi
corrector de bolsa, jornalista, e ainda vocalista e compositor da banda pop Di
Derre. Hoje em dia, é um dos escritores nórdicos de maior sucesso. Dele li tudo
o que se encontra traduzido para português, e tornei-me num dos seus leitores
compulsivos. Da série Harry Hole, um curioso inspector de polícia, cuja
existência literária se inicia em 1997, com “Flaggermusmannen”, a que se segue,
em 1998, “Kakerlakkene”, conheço “O Pássaro de Peito Vermelho” (Rødstrupe,
2000), “Vingança a Sangue-Frio” (Sorgenfri, 2000), “A Estrela do Diabo”
(Marekors, 2003) e “O Redentor” (Frelseren, 2005), recentemente lançado em
Portugal pela sua editora de sempre, a D. Quixote. Existem mais quatro volumes
da mesma série a aguardar tradução: “Snømannen” (2007), “Panserhjerte” (2009),
“Gjenferd” (2011) e “Politi” (2013). Para lá desta série policial, Jo Nesbø
escreveu ainda livros infantis, integrados igualmente numa série, Doktor
Proktor, de que se conhecem cinco títulos, e ainda outros romances e novelas,
como “Karusellmusikk” (2001), “Det hvite hotellet” (2007), e “Caçadores de
Cabeças” (“Hodejegerne”, em inglês “Headhunters”, 2008), este último igualmente
policial, mas independente da série do inspector Harry Hole.
Jo Nesbø é um excelente escritor, unanimemente
considerado como tal. Não é só um talentoso escritor "de policiais",
mas um romancista de têmpera, que levou o New York Times a dizer que a Noruega
já tinha dado homens como Henrik Ibsen e Edvard Munch mas também o escritor de
bestsellers Jo Nesbø”. A CNN, por seu lado, vai mais longe, mas na mesma
perspectiva: “O próximo Munch ou Ibsen pode ser Jo Nesbø … e, se existir alguma
justiça, um dia destes Harry Hole será tão grande como Harry Potter”. Como se
pode perceber, trata-se de um escritor bem cotado, numa altura em que o
policial nórdico impera no campo literário e começa a ombrear com as produções
norte-americanas, no plano televisivo e cinematográfico.
A mãe era bibliotecária, o que certamente levou
Nesbø a interessar-se desde muito cedo por literatura, mas os estudos não lhe
corriam de feição, preferindo a prática de futebol, tendo-se tornado jogador
profissional do Tottenham Hotspur FC e depois do Molde FC. Afastou-se do
desporto quando alguns problemas do joelho o forçaram a abandonar a carreira.
Cumpriu o serviço militar no norte da Noruega, enquanto estudava. Começou a
tocar numa banda de garagem chamada I De Tusen Hjem, ingressando depois na
banda Di Derre. Entretanto, iniciou a actividade como corrector da bolsa, de
que se fartou rapidamente. Viajou para a Austrália, pouco tempo depois de uma
editora o ter convidado a escrever um livro. Começou a escrever o romance
“Flaggermusmannen” durante o voo para a Austrália e, quando regressou a Oslo,
trazia a obra na bagagem. Enviou o manuscrito para a editora Aschehoug, sob o
pseudónimo de Kim Erik Lokker, procurando que a sua relativa fama como músico
não interferisse no processo de avaliação da obra. O livro foi um sucesso e
alcançou prémios como “Rivertonprisen” (melhor romance policial da Noruega) e
“Glassnøkkelen” (melhor romance policial da Escandinávia). Os seus sucessivos
trabalhos ganharam diversos prestigiados galardões e uma popularidade imensa.
“Snømannen”, por exemplo, vendeu 160 000 exemplares na primeira semana nas
livrarias. Até meados de 2008, Nesbø tinha conseguido vender mais de meio
milhão de livros só na Noruega e estava traduzido em cerca de quarenta línguas.
Em 2009, Nesbø foi agraciado com o prémio de reconhecimento pelo público da
revista “Dagbladet”, pois tinha três dos seus títulos no top da lista de
romances mais vendidos na Noruega.
Tem recebido vários convites para a série Harry
Hole ser adaptada ao cinema e à televisão, mas tem afirmado que não gostaria
que isso acontecesse antes de a mesma estar concluída. “Caçadores de Cabeças”,
todavia, não fazendo parte deste grupo acabou por ser realizado em 2010, por
Morten Tyldum, com Aksel Hennie no papel principal. Curiosidade adicional: os
direitos de autor do livro, bem assim como os lucros que o filme reúna, serão
doados à Fundação Harry Hole, que ajuda crianças, em países em desenvolvimento,
a aprender a ler e escrever.
2. ALGUNS ROMANCES DE JO NESBØ
O mais recente livro de Jo Nesbø a chegar a
Portugal, em tradução, é “O Redentor”. Como (quase sempre) passado em Oslo,
desta feita durante um inverno gelado. Numa movimentada rua da capital
norueguesa, o Exército de Salvação dá um concerto de Natal, quando subitamente
se ouve um estrondo e um dos elementos do Exército cai, fulminado por um tiro à
queima-roupa. Harry Hole, o inspector, é chamado ao local, com a sua equipa, e não
encontra nada a que se agarrar, nem suspeito, nem arma do crime, nem móbil. Em
paralelo, vamos acompanhando a fuga do assassino, que rapidamente percebe que
não acertou em quem devia, mas sim num irmão com muitas semelhanças. Sabe-se
que vem da Sérvia, a guerra da Bósnia paira sobre todo este ambiente pesado e,
à medida que se vê cada vez mais cercado, o fugitivo enfrenta as agruras do
frio nórdico, da ausência de dinheiro, da falta de um local para se abrigar, da
solidão, da presença cada vez mais próxima do perspicaz Harry Hole.
Mais uma vez o crime, a política internacional, as
instituições religiosas estão na base deste trabalho empolgante, onde perpassa
igualmente um curioso retrato da sociedade norueguesa.
Os outros títulos da série Harry Hole já
traduzidos para português são “O Pássaro de Peito Vermelho” (2000), “Vingança a Sangue-Frio” (2000) e “A
Estrela do Diabo” (2003). No primeiro destes três a acção volta a decorrer em
Oslo, mas Harry Hole, que se percebe ter sido um alcoólico, em recuperação e
recentemente transferido para o Serviço de Segurança Pública, é encarregue de
vigiar Sverre Olsen, um neonazi corrupto que escapou à condenação devido a um
pormenor técnico, o que transporta a intriga para os derradeiros dias da II
Guerra Mundial. Por entre traições, vinganças, assassinatos que ameaçam
multiplicarem-se, confundindo tempos históricos, a batalha de Leninegrado, os
nazis noruegueses e os skinhead da actualidade.
“Vingança a Sangue Frio” mantém o mesmo tipo de
intensidade dramática e o suspense que caracteriza a escrita de Nesbø. Desta
feita, tudo começa com um “hold up” invulgarmente violento: através das imagens
das câmaras de vigilância vê-se um homem a entrar num banco de Oslo e a apontar
uma arma à cabeça da mulher que se encontrava na caixa, exigindo que esta conte
até vinte e cinco. Como não consegue o dinheiro a tempo, executa friamente a
jovem caixa, e leva consigo dois milhões de coroas norueguesas. O inspector
Harry Hole é o elemento destacado para investigar o caso. Entretanto, Harry
debate-se com problemas pessoais. Enquanto a namorada viaja até à Rússia, uma
antiga paixão regressa e entra em contacto com ele. Anna Bethsen, artista que
enfrentava dificuldades financeiras, convida Hole para jantar, este não
consegue resistir ao convite, mas a noite termina de uma forma estranha e, ao
acordar, Hole sente uma fortíssima dor de cabeça, descobre o seu telemóvel
desaparecido, e perdeu a memória do que se passou nas últimas doze horas. Para
agravar a situação, Anna é encontrada morta na sua cama, com um tiro na cabeça,
e o inspector recebe e-mails ameaçadores. Obviamente alguém está a tentar
culpá-lo por esta morte inexplicável, enquanto os assaltos a bancos prosseguem
com incomparável brutalidade.
Ainda da série Harry Holle é “A Estrela do Diabo”,
com Oslo a sufocar numa onda de calor. Neste verão tórrido, uma jovem é
assassinada no seu apartamento, apresentando um dedo cortado e, debaixo de uma
pálpebra, descobre-se um pequenino diamante vermelho com o formato de um
pentagrama. Harry Hole e Tom Waaler, um colega em quem ele não confia, são
chamados para tomar conta do caso. Tom faz jogo duplo, trabalha para um bando
de traficantes de armas, e Harry desconfia que está implicado no assassinato da
sua antiga parceira de armas. Harry continua com problemas com o álcool,
debate-se com os seus superiores, e este caso é uma bóia de salvação. Dias
depois, outra mulher é dada como desaparecida, surgindo um dedo dela cortado e adornado
com um diamante vermelho com a forma de uma estrela. Percebe-se que há um serial-killer
à solta. Desmascarar Tom Waaler, e deitar a mão ao assassino são duas
prioridades que se descobrem interligadas e que põem em risco de vida o próprio
inspector.
3. HEADHUNTERS - CAÇADORES
DE CABEÇAS
Finalmente, o derradeiro romance de Nesby em
edição portuguesa é “Caçadores de Cabeças”, que não tem Harry Hole como
protagonista, mas sim Roger Brown, um “caçador de cabeças”, ou seja de talentos
que descobre para colocar em empresas de sucesso. Mas é também um sedutor
ladrão de obras de arte. Casado com Diana, uma “belíssima, alta e elegante”
dona de uma galeria de arte, vive num apartamento luxuoso, leva uma vida bem
acima das suas posses, e aproveita-se dos conhecimentos da mulher e dos contactos
que faz para engendrar a troca de originais preciosos por cópias sem valor.
Numa inauguração da galeria, a mulher apresenta-o
a Clas Greve, um holandês riquíssimo e bem colocado na vida, e Harry percebe
que não pode deixar escapar aquela oportunidade. Clas Greve não é apenas o
candidato perfeito ao cargo de director-geral que ele tem de recrutar para a
Pathfinder, como ainda tem em seu poder o famoso quadro de Rubens, “A Caça ao
Javali de Caledónia”. Este seria um golpe que o deixaria independente
economicamente. Mas nem tudo corre bem e Jo Nesbø oferece-nos uma perturbadora
panorâmica sobre o mundo da alta finança, das grandes empresas, da elite
industrial e de um submundo larvar de assassinos contratados e burlões.
“Caçadores de Cabeças” é a única adaptação ao cinema que conhecemos de uma obra de Jo Nesbø, apesar de já existirem outras e de se anunciar que um remake desta mesma está já a ser produzido por estúdios norte-americanos, para ser dirigido pelo inglês Sacha Gervasi, o mesmo que escreveu o argumento de “Terminal de Aeroporto”, de Spielberg, e que realizou o recente “Hitchcock”. Fala-se igualmente na possibilidade Martin Scorsese vir a rodar um filme retirado de uma outra obra de Nesbø.
“Headhunters”, realizado por Morten Tyldum, numa produção da Noruega e da Alemanha, conta com Aksel Hennie como intérprete da personagem de Roger Brown, um excelente actor que consegue dar espessura e credibilidade à figura e erguer sobre ela este policial que, não sendo uma obra-prima, se mostra todavia bastante eficaz de um ponto de vista de escrita, bem doseado em suspense e habilmente fotografado, fazendo sobressair a luz fria dos países nórdicos, que confere ao mesmo uma tonalidade azulada e metálica que se coaduna bem com o ambiente pretendido.
O filme não consegue a qualidade do romance, sobretudo no tom de discreta mas verrinosa ironia anti-établissement que Jo Nesbø lhe inculca, mas satisfaz as necessidades do entretenimento inteligente e elegante, muito embora algumas cenas mais sangrentas de um epílogo um pouco fantasioso, mas vibrante. Outros actores, como Nikolaj Coster-Waldau (Clas Greve) e Synnøve Macody Lund (Diana Brown), asseguram uma competência de representação muito boa, o que só vem dignificar a qualidade dos trabalhos oriundo deste país, e que ombreiam com outros de diversos países nórdicos.
Se a literatura policial por estas bandas desencadeou um boom de interesse público a nível mundial, não é menos verdade que as suas cinematografias conseguem acompanhar este entusiasmo num nível de produção industrial que nada fica a dever à dos países anglo-saxónicos. Para já não falar da produção cinematográfica de autor, que é bastante importante e significativa nesta última década, com a revelação de novos nomes e de obras extremamente sugestivas.
4. FILMES RETIRADOS DE OBRAS
DE JO NESBØ:
DEADLINE TORP (TV)
Realização: Nils Gaup (Noruega, 2005); Argumento: Nils
Gaup, Håkan Lindhe, Jo Nesbø, Segundo ideia de Dag Erik Pedersen; com Danilo
Bejarano, Emil Forselius, Jørgen Langhelle, Sverre Anker Ousdal, etc.
FERDIG MANN
Realização: Søren Kragh-Jacobsen (Dinamarca, Noruega,
2010); Argumento: Jo Nesbø (poema); com
Abdulahi Abdikafi, Mohammad Abdullah, Mohamed Adel, etc. 6 minutos.
HEADHUNTERS - CAÇADORES DE CABEÇAS
Título original: Hodejegerne
Realização: Morten Tyldum (Noruega, Alemanha, 2011); Argumento:
Lars Gudmestad, Ulf Ryberg, segundoo romance de Jo Nesbø; Produção: Anni
Faurbye Fernandez, Marianne Gray, Lone Korslund, Christian Fredrik Martin, Paul
Røed, Asle Vatn, Mikael Wallen; Música: Trond Bjerknes, Jeppe Kaas; Fotografia
(cor): John Andreas Andersen; Montagem: Vidar Flataukan; Casting: Jannecke
Bervel; Design de produção: Nina Bjerch Andresen; Guarda-roupa: Karen Fabritius
Gram; Maquilhagem: Stuart Conran, Rick Marr, Jim Udenberg; Direcção de produção:
Trond Mjøs; Assistentes de realização: Martin Ersgård, Nina Samdal;
Departamento de arte: Monja Wiik; Som: Tormod Ringnes; Efeitos especiais: Mark
Hedegaard, Hummer Høimark, Claus Nørregård; Efeitos visuais: Lars Erik Hansen;
Companhias de produção: Friland, Yellow Bird Films, Nordisk Film, ARD Degeto
Film; Release Date: Intérpretes:
Aksel Hennie (Roger Brown), Nikolaj Coster-Waldau (Clas Greve), Synnøve Macody
Lund (Diana Brown), Eivind Sander (Ove Kjikerud), Julie R. Ølgaard (Lotte),
Kyrre Haugen Sydness (Jeremias Lander), Valentina Alexeeva (Natasja), Reidar
Sørensen (Brede Sperre), Nils Jørgen Kaalstad (Stig), Joachim Rafaelsen, Mats
Mogeland, Gunnar Skramstad Johnsen, Lars Skramstad Johnsen, Signe Tynning, Nils
Gunnar Lie, Baard Owe, Sondre Abel, Morten Hennie, Irina Eidsvold, Kyrre
Mosleth, Martin Furulund, Mattis Herman Nyquist, Torgrim Mellum Stene, Camilla
Augusta Hallan, Anjum Salwan, etc. Duração: 100 minutos; Distyribuição em Portugal: Vendetta
Filmes; Classficação etária: M/ 16 anos, Estreia em Portugal: 13 de Junho de
2013.
ARME RIDDERE
Realização: Magnus Martens (Noruega, 2011); Argumento:
Magnus Martens, segundo ideia de Jo Nesbø; com Kyrre Hellum, Mads Ousdal,
Henrik Mestad, etc.
I AM VICTOR (TV)
Realização: ??; (EUA, 2013)
Argumento: Mark Goffman, segundo romance de Jo
Nesbø; com John Stamos, Matthew Lillard, Josh Zuckerman, Lorenza Izzo, etc. (em
produção).
DOKTOR PROKTORS PROMPEPULVER
Realização: Arild Fröhlich (Noruega, 2014); Argumento:
Johan Bogaeus, segundo obra de Jo Nesbø; com Eilif Hellum Noraker, etc. (em
produção).
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