A VOZ HUMANA
Jean
Cocteau escreveu, em 1930, um monólogo teatral a que deu o título "La voix
humaine". Na Comédie Française, Berthe Bovy viveu em estreia esta tragédia
de uma mulher solitária, ligada pelo fio de telefone a alguém que é já passado
e que ela tenta por todos os meios fazer reviver. Sem sucesso. Nos anos 40,
Rossellini, no cinema, filmou Anna Magnani, numa interpretação soberba. Em
Portugal, Maria Barroso, Eunice Muñoz, Isabel de Castro criaram grandes
composições que se recordarão sempre. Para interpretar este monólogo de
desespero são necessárias grandes actrizes e personalidades fortes que consigam
encher um palco durante quarenta a sessenta minutos de dor e sofrimento, sem
parceiro visível. Não é o caso de Carmen Santos, que é nitidamente um caso de
erro de casting para este papel. Numa encenação de Vicente Alves do Ó (que tão
bem dirigira Dalila Carmo, em “Florbela”, no cinema), numa bonita cenografia de
Eurico Lopes, Carmen Santos perde-se no palco do Trindade, com uma deficiente
dicção, que torna imperceptíveis as palavras (aqui tão importantes!) e não
consegue nunca dar força e emoção à personagem. Curiosa a deriva na forma como
se desvia o texto do seu significado original, ganhando uma interpretação
diversa, mesmo contrária, à ideia de Cocteau. Mas mesmo neste aspecto, o
espectáculo necessitava de uma actriz com uma outra perversidade. Fica a
intenção e o arrojo de se lançar neste projecto. Infelizmente, quanto a mim,
falhado.
A VOZ HUMANA
Texto
de Jean Cocteau; Encenação: Vicente Alves do Ó; Música original: João Gomes;
Cenografia: Eurico Lopes; Intérprete: Cármen Santos; Produção: BS-Produção
Activa; Teatro da Trindade (de 22 de Agosto a 8 de Setembro).
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