OS
JURAMENTOS INDISCRETOS
O teatro de Marivaux atravessa toda a
primeira metade do século XVIII numa toada de discreta comédia de costumes,
onde o amor é o tema central, e os seus infortúnios a base da trama. Em “Os
Juramentos Indiscretos”, escrito em 1732, não se foge à regra deste teatro que
não direi de excepção, mas que está longe de ser negligenciado. Marivaux sabia
construir e sustentar uma comédia de enganos e equívocos, que daria depois lugar
à comédia de boulevard de inspiração francesa, e que terá tido como influência
directa a commedia dell'arte italiana e de alguma forma Molière, ainda que este
fosse bem mais demolidor na sua crítica social.
Em “Os Juramentos Indiscretos”, temos
uma ténue intriga: Orgon e Ergaste são pais de Lucile e Phénice, o primeiro, e
de Damis, o segundo. Como era uso e
costume na época, resolvem selar a amizade que os liga e os interesses que os
unem organizando o casamento de Damis com Lucile. Mas os jovens não estão pelos
ajustes e, antes mesmo de se conhecerem, resolvem impugnar a decisão paterna.
Ela não quer casar, ele tem horror ao casamento. Até que se encontram, se apaixonam,
mas resolvem estabelecer um pacto de nunca se casarem um com o outro. À falta
de Lucile, salta para a cena Phénice, a irmã de Lucile, e afinal o casamento
com Damis é marcado. Para lá desta intriga, lateralmente, surgem Lisette, e Frontin,
criados de Lucile e de Damis, respectivamente, que assumem os desejos dos seus
jovens patrões, inclusive por calculismo, para manterem os bons empregos. Mas Lucile
torna-se uma obsessão para Damis, e este um secreto desgosto para Lucile. Mas,
como estamos no domínio da comédia de sentimentos em que o amor triunfa sempre,
lá chegará a altura de tudo se compor. Afinal triunfa o amor e a estabilidade social
e os pais até tinham razão.
Mas a peça é bem construída, os
cordelinhos bem oleados, a graça é discreta e sensível, a elegância mantém-se de
princípio até ao fim, e serve perfeitamente para um bom exercício de encenação
e representação pelo Teatro dos Aloés. O cenário é muito bonito e engenhoso, a
encenação de José Peixoto é delicada e inteligente, um verdadeiro trabalho de
miniaturista, atenta a todos os pormenores, movimentando com alegria e
vivacidade as personagens no espaço cénico, e trabalhando com eficácia cada
frase, cada gesto. O elenco (Adriana Moniz, Carla Chambel, Carlos Malvarez,
Jorge Silva, José Peixoto, Nuno Nunes e Sara Cipriano) é globalmente bastante
competente e deixa-se contaminar pela graça festiva do texto, a iluminação é
excelente, tirando bom partido do cenário, e o acompanhamento musical inspirado.
Se a peça não arrasa, o divertimento
que provoca é salutar e demonstra o bom momento do Teatro dos Aloés, que se saúda. (Até domingo, 15, no Teatro D. Maria II).
OS
JURAMENTOS INDISCRETOS
(Les Serments Indiscrets), de Marivaux; tradução Maria João Brilhante; encenação
José Peixoto; cenografia Marta Carreiras; conceito de figurinos Marta Carreiras
a partir dos figurinos do espólio do TNDM II de Abílio Matos e Silva, Catarina
Amaro, Nuno Carinhas, Octávio Clérigo, Ruy de Matos; desenho de luz Jochen
Pasternacki; música Luís Cília; Assistência de encenação Anna Eremin;
Intérpretes: Adriana Moniz, Carla
Chambel, Carlos Malvarez, Jorge Silva, José Peixoto, Nuno Nunes, Sara Cipriano;
coprodução Teatro dos Aloés, TNSJ. M/12 anos.
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