sábado, dezembro 14, 2013

TEATRO: OS JURAMENTOS INDISCRETOS


OS JURAMENTOS INDISCRETOS

O teatro de Marivaux atravessa toda a primeira metade do século XVIII numa toada de discreta comédia de costumes, onde o amor é o tema central, e os seus infortúnios a base da trama. Em “Os Juramentos Indiscretos”, escrito em 1732, não se foge à regra deste teatro que não direi de excepção, mas que está longe de ser negligenciado. Marivaux sabia construir e sustentar uma comédia de enganos e equívocos, que daria depois lugar à comédia de boulevard de inspiração francesa, e que terá tido como influência directa a commedia dell'arte italiana e de alguma forma Molière, ainda que este fosse bem mais demolidor na sua crítica social.
Em “Os Juramentos Indiscretos”, temos uma ténue intriga: Orgon e Ergaste são pais de Lucile e Phénice, o primeiro, e de  Damis, o segundo. Como era uso e costume na época, resolvem selar a amizade que os liga e os interesses que os unem organizando o casamento de Damis com Lucile. Mas os jovens não estão pelos ajustes e, antes mesmo de se conhecerem, resolvem impugnar a decisão paterna. Ela não quer casar, ele tem horror ao casamento. Até que se encontram, se apaixonam, mas resolvem estabelecer um pacto de nunca se casarem um com o outro. À falta de Lucile, salta para a cena Phénice, a irmã de Lucile, e afinal o casamento com Damis é marcado. Para lá desta intriga, lateralmente, surgem Lisette, e Frontin, criados de Lucile e de Damis, respectivamente, que assumem os desejos dos seus jovens patrões, inclusive por calculismo, para manterem os bons empregos. Mas Lucile torna-se uma obsessão para Damis, e este um secreto desgosto para Lucile. Mas, como estamos no domínio da comédia de sentimentos em que o amor triunfa sempre, lá chegará a altura de tudo se compor. Afinal triunfa o amor e a estabilidade social e os pais até tinham razão.
Mas a peça é bem construída, os cordelinhos bem oleados, a graça é discreta e sensível, a elegância mantém-se de princípio até ao fim, e serve perfeitamente para um bom exercício de encenação e representação pelo Teatro dos Aloés. O cenário é muito bonito e engenhoso, a encenação de José Peixoto é delicada e inteligente, um verdadeiro trabalho de miniaturista, atenta a todos os pormenores, movimentando com alegria e vivacidade as personagens no espaço cénico, e trabalhando com eficácia cada frase, cada gesto. O elenco (Adriana Moniz, Carla Chambel, Carlos Malvarez, Jorge Silva, José Peixoto, Nuno Nunes e Sara Cipriano) é globalmente bastante competente e deixa-se contaminar pela graça festiva do texto, a iluminação é excelente, tirando bom partido do cenário, e o acompanhamento musical inspirado.
Se a peça não arrasa, o divertimento que provoca é salutar e demonstra o bom momento do Teatro dos Aloés, que se saúda. (Até domingo, 15, no Teatro D. Maria II).


OS JURAMENTOS INDISCRETOS (Les Serments Indiscrets), de Marivaux; tradução Maria João Brilhante; encenação José Peixoto; cenografia Marta Carreiras; conceito de figurinos Marta Carreiras a partir dos figurinos do espólio do TNDM II de Abílio Matos e Silva, Catarina Amaro, Nuno Carinhas, Octávio Clérigo, Ruy de Matos; desenho de luz Jochen Pasternacki; música Luís Cília; Assistência de encenação Anna Eremin; Intérpretes:  Adriana Moniz, Carla Chambel, Carlos Malvarez, Jorge Silva, José Peixoto, Nuno Nunes, Sara Cipriano; coprodução Teatro dos Aloés, TNSJ. M/12 anos. 

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