domingo, maio 11, 2014

TEATRO: 8 MULHERES

8 MULHERES

“8 Mulheres” é uma peça teatral do francês Robert Thomas que mistura com alguma agilidade a comédia e o policial. Tudo se passa no salão de uma casa senhorial na província francesa, na época do Natal, com muita neve a isolar oito mulheres, seis da família e duas empregadas. É manhã, e todas esperam que o único homem da casa acorde, para tomar o pequeno almoço, mas este não sai do quarto. Vão descobrir que o corpo do mesmo  se encontra na cama, envolto em sangue, com o cabo de uma faca a sair-lhe das costas. Crime!, dizem elas. E uma das oito mulheres será a criminosa, pois todas têm algum motivo para o ajuste de contas e nenhuma delas tem um alibi muito forte. A estrutura policial baseia-se nesta curiosidade de saber quem poderia ter assassinado o homem da casa, a comédia vem sobretudo do facto de toda a gente ter algo a esconder. Divertido, um pouco na linha de Agatha Christie e dos “Ten Little Niggers”.
A peça teve sucesso e múltiplas encenações por todo o mundo, mas o êxito veio-lhe sobretudo de uma excelente adaptação para cinema assinada por François Ozon, com oito mulheres de luxo a integrarem o elenco: Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart , Fanny Ardant, Virgine Ledoyen, Danielle Darrieux, Firmine Richard e Ludivine Sagnier.  Ozon, que é definitivamente um dos mais interessantes cineastas franceses no activo, introduz uma novidade de peso: cada personagem tem direito a uma canção mais ou menos conhecida do reportório francês, e o talento narrativo do cineasta, aliado à genialidade de algumas das actrizes e à intensidade dos momentos musicais faz do filme um clássico.  
Agora, o grupo “Tenda”, com encenação de Hélder Gamboa, leva à cena no Teatro da Trindade, “8 Mulheres”, com um elenco interessante, onde se podem ver Ângela Pinto, Carmen Santos, Catarina Mago, Custódia Gallego, Inês Castel-Branco, Joana Brandão, Paula Guedes e Victoria Guerra. A qualidade é irregular, mas de um modo geral é agradável e eficaz, com relevo para Custódia Gallego e Inês Castel-Branco, Paula Guedes e Ângela Pinto. Mas o mais evidente é que a direcção de actores não foi muito exigente e cada actriz funciona em registo livre.
A encenação é o mais discutível do espectáculo. O cenário não é brilhante, a utilização de elementos de outros espectáculos não ajudou, mas sobretudo há incoerências que tornam frágil a globalidade. Por exemplo: porquê nomes portugueses e franceses nas personagens? Porquê a utilização de duas canções na versão teatral, sem qualquer justificação? Por quê a mescla de guarda-roupa, que não define nem época nem personagem? Mesmo ao nível das marcações e da movimentação das actrizes ressalta um certo primarismo.
Mas, neste momento da vida nacional, em que resistir é importante, tudo o que se faça para manter teatros a funcionar, actores e técnicos a trabalhar e público a frequentar as salas, será bem-vindo. De resto, apesar alguns reparos, “8 Mulheres” merece uma visita.

8 MULHERES (8 Femmes)
Texto de Robert Thomas; encenação Hélder Gamboa; produção musical Fernando Martins; coreografia Paulo Jesus; cenografia Eurico Lopes; guarda-roupa Sandra Rodrigues; assistente de encenação Gonçalo Ferreira; desenho de Luz Paulo Sabino; produção executiva Miguel Manaças: produção Tenda; Intérpretes: Ângela Pinto, Carmen Santos, Catarina Mago, Custódia Gallego, Inês Castel-Branco, Joana Brandão, Paula Guedes e Vitória Guerra; Teatro da Trindade, até 1 Junho;  4ª feira a sáb. 21h30, domingo 18h; M / 12 anos.

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