8 MULHERES
“8
Mulheres” é uma peça teatral do francês Robert Thomas que mistura com alguma
agilidade a comédia e o policial. Tudo se passa no salão de uma casa senhorial
na província francesa, na época do Natal, com muita neve a isolar oito
mulheres, seis da família e duas empregadas. É manhã, e todas esperam que o
único homem da casa acorde, para tomar o pequeno almoço, mas este não sai do
quarto. Vão descobrir que o corpo do mesmo
se encontra na cama, envolto em sangue, com o cabo de uma faca a
sair-lhe das costas. Crime!, dizem elas. E uma das oito mulheres será a
criminosa, pois todas têm algum motivo para o ajuste de contas e nenhuma delas
tem um alibi muito forte. A estrutura policial baseia-se nesta curiosidade de
saber quem poderia ter assassinado o homem da casa, a comédia vem sobretudo do
facto de toda a gente ter algo a esconder. Divertido, um pouco na linha de
Agatha Christie e dos “Ten Little Niggers”.
A
peça teve sucesso e múltiplas encenações por todo o mundo, mas o êxito veio-lhe
sobretudo de uma excelente adaptação para cinema assinada por François Ozon,
com oito mulheres de luxo a integrarem o elenco: Catherine Deneuve, Isabelle
Huppert, Emmanuelle Béart , Fanny Ardant, Virgine Ledoyen, Danielle Darrieux,
Firmine Richard e Ludivine Sagnier.
Ozon, que é definitivamente um dos mais interessantes cineastas
franceses no activo, introduz uma novidade de peso: cada personagem tem direito
a uma canção mais ou menos conhecida do reportório francês, e o talento
narrativo do cineasta, aliado à genialidade de algumas das actrizes e à intensidade
dos momentos musicais faz do filme um clássico.
Agora,
o grupo “Tenda”, com encenação de Hélder Gamboa, leva à cena no Teatro da
Trindade, “8 Mulheres”, com um elenco interessante, onde se podem ver Ângela
Pinto, Carmen Santos, Catarina Mago, Custódia Gallego, Inês Castel-Branco,
Joana Brandão, Paula Guedes e Victoria Guerra. A qualidade é irregular, mas de
um modo geral é agradável e eficaz, com relevo para Custódia Gallego e Inês
Castel-Branco, Paula Guedes e Ângela Pinto. Mas o mais evidente é que a
direcção de actores não foi muito exigente e cada actriz funciona em registo
livre.
A
encenação é o mais discutível do espectáculo. O cenário não é brilhante, a
utilização de elementos de outros espectáculos não ajudou, mas sobretudo há
incoerências que tornam frágil a globalidade. Por exemplo: porquê nomes
portugueses e franceses nas personagens? Porquê a utilização de duas canções na
versão teatral, sem qualquer justificação? Por quê a mescla de guarda-roupa,
que não define nem época nem personagem? Mesmo ao nível das marcações e da
movimentação das actrizes ressalta um certo primarismo.
Mas,
neste momento da vida nacional, em que resistir é importante, tudo o que se
faça para manter teatros a funcionar, actores e técnicos a trabalhar e público
a frequentar as salas, será bem-vindo. De resto, apesar alguns reparos, “8 Mulheres”
merece uma visita.
8
MULHERES (8 Femmes)
Texto de Robert Thomas; encenação Hélder
Gamboa; produção musical Fernando Martins; coreografia Paulo Jesus; cenografia Eurico
Lopes; guarda-roupa Sandra Rodrigues; assistente de encenação Gonçalo Ferreira;
desenho de Luz Paulo Sabino; produção executiva Miguel Manaças: produção Tenda;
Intérpretes: Ângela Pinto, Carmen Santos, Catarina Mago, Custódia Gallego, Inês
Castel-Branco, Joana Brandão, Paula Guedes e Vitória Guerra; Teatro da
Trindade, até 1 Junho; 4ª feira a sáb.
21h30, domingo 18h; M / 12 anos.
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