“HÉCUBA”
“Hécuba” é uma tragédia grega,
escrita por Eurípides no ano de 424 a.C.. Passa-se depois de terminada a Guerra
de Tróia, antes dos gregos deixarem a cidade, e tem como protagonista Hécuba,
uma mulher que foi rainha e é agora escrava, que foi mãe de dois filhos e agora
os chora, transformando-se “de um ser bom e humano numa “cadela vingadora de
olhos de fogo” (citando o programa do espectáculo e a própria peça).
A tragédia que agora se
estreou no São Luiz, numa produção conjunta da Escola de Mulheres e do próprio
São Luiz, é apresentada como “o sofrimento desmedido”, e que outra coisa se
pode dizer de uma mulher que perde o país, o marido e dois filhos. A encenação
de Fernanda Lapa toma esta base grega para nos falar do “sofrimento desmedido”
de todas as mulheres em todas as guerras. Sem local definido, sem tempo
anunciado. "Consideramos este espectáculo um libelo contra a guerra e
dedicamo-lo a todas as mulheres que por esse mundo fora vivem, por esse motivo,
um sofrimento desmedido", diz a encenadora. E continua: "A violência
gera violência e o sofrimento em excesso a degradação. Ontem como hoje",
escreve Fernanda Lapa.
Digamos que o resultado desta
incursão pela tragédia grega é brilhante e asseguro que será, desde já, um dos
grandes espectáculos de 2015 em Portugal. O trabalho da encenação é
invulgarmente bem conseguido, moldando os corpos e as vozes do elenco, obedecendo
a marcações imaginativas e surpreendentes, tudo isto num espaço extremamente
austero, mas absolutamente espantoso em termos de eficácia espectacular, um
cenário com a assinatura de António Lagarto, que ainda concebe um guarda-roupa
admirável. Lagarto é sempre uma garantia e volta a demonstrá-lo. De resto, o
elenco chega igualmente a ser notável, com presenças poderosas de Carla Calvão,
Margarida Cardeal, Filomena Cautela, Fernanda Lapa, Luís Gaspar, entre outras e
outros.
Escusado será aconselhar o público
a entrar antes do espectáculo começar (porque também não pode entrar depois
deste ter início), mas seria imperdoável perder o prólogo, com o fantasma de
Polidoro a lançar luz sobre o flashback que se sucede.
Hécuba, de Eurípedes; Tradução: José
Luís Coelho, Maria do Céu Fialho e Fernanda Lapa; Dramaturgia e encenação:
Fernanda Lapa; Espaço cénico e figurinos: António Lagarto; Coreografia e
assistência de encenação: Marta Lapa; Desenho de luz: José Nuno Lima; Sonoplastia:
Pedro Costa e Sérgio Henriques; Direcção de produção: Ruy Malheiro; Intérpretes:
Hécuba: Carla Galvão, Cassandra: Margarida Cardeal, Polixena: Filomena Cautela,
Serva: Nuna Livhaber, Clitemnestra: Fernanda Lapa, Coro: Fernanda Lapa,
Filomena Cautela, Inês Santos Cruz, Margarida Cardeal, Sandra de Sousa, Nuna
Livhaber, Expectro de Polidoro: Vasco Batista, Ulisses: Luís Gaspar,
Polimestor: Luís Gaspar, Taltíbio: Vasco Batista, Agamémnon: Afonso Molinar; Co-produção:
Escola de Mulheres e São Luiz Teatro Municipal; de 7 a 17 de Maio no São Luiz.
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