O CASO
SPOTLIGHT
Há uma longa e meritória tradição no
cinema norte-americano de filmes abordando investigações jornalísticas que
tiveram importância decisiva na consciencialização do cidadão normal e das
instituições públicas para certas anomalias ocorridas na sociedade. “Os Homens
do Presidente” é o exemplo mais flagrante, mas há muitos mais. Aliás o
jornalismo na América tem sido abordado sob diversos pontos de vista, desde o
elogio do jornalista como herói justiceiro, último recurso desse quarto poder
para repor a justiça no normal funcionamento das instituições, até à denúncia
do profissional corrupto que se alia às máfias locais para as justificar ou
inclusive à pública declaração de alianças de poder entre empresas e direcções
de jornais com interesses obscuros. “O Caso Spotlight” é apenas mais um
exemplo. Um bom exemplo, diga-se desde já.
O caso passa-se em Boston, e o jornal é
o Boston Global. Tudo se passa recorrendo a factos reais, acontecidos entre
1976 e 2002. O filme tenta apenas recuperar, reconstituir a investigação de um
grupo de quatro jornalistas que durante todo esse tempo se ocupa em investigar
o que terá acontecido com alguns padres que foram acusados de práticas
pedófilas. De início são 13 os visados, depois o número sobe para 90,
finalmente ascende às várias centenas. Tudo perante uma certa apatia e
cumplicidade das autoridades eclesiásticas que, em lugar de punir os
prevaricadores, se limitavam a lançá-los em baixa clínica ou transferi-los de
diocese. A averiguação acompanha-se como um policial, com os jornalistas a
funcionarem como investigadores, ou dectetives privados, que de pista em pista
chegam finalmente à acusação final.
Tom McCarthy, que assina a realização
da obra, é mais conhecido como actor, tendo participado em cerca de quatro
dezenas de títulos, entre comédias (“Não Há Família Pior!”, por exemplo) e
dramas sociais (“Syriana” e “Boa Noite, e Boa Sorte”, entre alguns mais),
sempre como actor secundário. Escreveu vários argumentos, quase todos os dos
seus filmes e ainda “Up – Altamente”. Como realizador, tem um passado
interessante, mas pouco mais: “A Estação” (2003), “O Visitante” (2007), “Todos
Ganhamos” (2011), “O Sapateiro Mágico” (2014), até chegar a “O Caso Spotlight”
(2015). Com este título conheceu a glória como realizador e argumentista, tendo
sido nomeado para tudo o que seja premiações na América, e no mundo, tendo já
arrecadado vários prémios, sobretudo como argumentista. Mas nos Oscars de 2016
aparece bem colocado nas duas categorias (Melhor Realizador e Melhor Argumento
Original), além do filme reunir ainda outras nomeações para Melhor Filme,
Melhor Actor Secundário (Mark Ruffalo), Melhor Actriz Secundária (Rachel
McAdams), e Melhor Montagem.
A obra desenvolve-se com uma escrita
escorreita, na boa tradição do clássico cinema norte-americano, eficaz e
nervoso, com uma fotografia intimista e densa, uma montagem eficiente e
ritmada, uma boa banda sonora e uma interpretação inatacável. Mark Ruffalo
(Mike Rezendes, o luso descendente que é o principal motor da investigação),
Michael Keaton (o jornalista chefe Walter 'Robby' Robinson) e Rachel McAdams (a
outra jornalista de campo, Sacha Pfeiffer) são excelentes.
Como denúncia de práticas criminosas e
como exemplo de uma investigação jornalística, “O Caso Spotlight” merece bem
figurar entre os bons filmes de 2015 e, seguramente, entre os que melhor
testemunham boas práticas dos media, numa altura em que os jornais impressos
atravessam uma tão grave crise.
O CASO SPOTLIGHT
Título original:
Spotlight
Realização: Tom McCarthy (EUA,
Canadá, 2015); Argumento: Josh Singer, Tom McCarthy; Produção: Kate Churchill,
Blye Pagon Faust, Steve Golin, Nicole Rocklin, Michael Sugar, Youtchi von
Lintel; Música: Howard Shore; Fotografia (cor): Masanobu Takayanagi; Montagem:
Tom McArdle; Casting: Kerry Barden, John Buchan, Jason Knight, Paul Schnee;
Design de produção: Stephen H. Carter; Direcção artística: Michaela Cheyne;
Decoração: Vanessa Knoll, Shane Vieau; Guarda-roupa: Wendy Chuck; Maquilhagem:
Karola Dirnberger, Brenda McNally, Jordan Samuel, Teresa Young; Direcção de
Produção: Danielle Blumstein, D.J. Carson, Kelley Cribben; Assistentes de
realização: Adam Richard Benish, Walter
Gasparovic, Conte Mark Matal, Andrea O'Connor, Scooter Perrotta, Vibhuti
Rathod, Gerrod Shully; Departamento de arte: Lara Alexander, Bobby Anderson,
Jill Beecher, Carlos Caneca, William Cheng, John MacNeil, John Moran, Dusty
Reeves; Som: Paul Hsu; Efeitos visuais: Kayla Cabral, Colin Davies, Brandon
Terry; Companhias de produção: Anonymous
Content, First Look Media, Participant Media, Rocklin / Faust; Intérpretes: Mark Ruffalo (Mike
Rezendes), Michael Keaton (Walter 'Robby' Robinson), Rachel McAdams (Sacha
Pfeiffer), Liev Schreiber (Marty Baron), John Slattery (Ben Bradlee Jr.), Brian
d'Arcy James (Matt Carroll), Stanley Tucci (Mitchell Garabedian), Elena Wohl
(Barbara), Gene Amoroso (Steve Kurkjian), Doug Murray (Peter Canellos), Sharon
McFarlane (Helen Donovan), Jamey Sheridan (Jim Sullivan), Neal Huff (Phil
Saviano), Billy Crudup (Eric Macleish), Robert B. Kennedy, Duane Murray, Brian
Chamberlain, Michael Cyril Creighton, Paul Guilfoyle, Michael Countryman, Tim
Whalen, Martin Roach, Brad Borbridge, Don Allison, Patty Ross, Paloma Nuñez,
Robert Clarke, Gary Galone, David Fraser, Paulette Sinclair, Laurie Heineman,
Elena Juatco, Nancy Villone, Wendy Merry, Siobhan Murphy, Eileen Padua, Darrin
Baker, Brett Cramp, Joe Stapleton, Maureen Keiller, Jimmy LeBlanc, Tim Progosh,
Neion George, Laurie Murdoch, Zarrin Darnell-Martin, Krista Morin, Paula
Barrett, Mairtin O'Carrigan, Rob
deLeeuw, etc. Duração: 128 minutos;
Distribuição em Portugal: NOS Audiovisuais; Classificação etária: M/ 14 anos;
Data de estreia em Portugal: 28 de Janeiro de 2016.
No Festival de Toronto, realizador, actores e os autênticos jornalistas do Boston Globe.
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