sábado, fevereiro 18, 2017

“AMÁLIA”, LA FÉRIA, (OPUS 2)



“AMÁLIA”, LA FÉRIA, (OPUS 2)



“Amália” regressou e voltei a emocionar-me muito com este espectáculo de Felipe La Fèria. Deve haver algo errado em mim (ou se calhar não), mas confesso que me emociono com a sobriedade e o rigor constantes no antigo Teatro da Cornucópia, com tantas das criações dos “Artistas Unidos”, com fabulosas encenações dos maiores criadores do mundo, como com alguns dos grandes espectáculos do La Féria. São concepções completamente diferentes, eu sei, apelam por vezes a públicos diversos (quando não antagónicos), mas, que querem?, sou assim e, o que é mais grave, é que gosto de ser assim.
Posto isto, falemos um pouco deste “Amália” que sendo muito semelhante à versão de 1999, traz muitas novidades e algumas diferenças.  O elenco é muito semelhante, Alexandra e Anabela (que eu vi, mas que divide o papel de Amália jovem com Liana e Carolina) à cabeça de um grupo muito homogéneo e de boa qualidade. Dotes vocais a pedir meças, um verdadeiro desafio de pulmão, com garra e sentimento. Filipa Ferreira e Madalena Gil (que alternam, eu vi a última), são Amália em criança a cantar pelas ruas e a ganhar rebuçados e os aplausos do público, o de então, nas ruas, o de agora, na sala do Politeama.
Carlos Quintas (Frederico Valério), Alberto Villar (vários pequenos papeis), Francisco Sobral (Alfredo Marceneiro), Carlos Veríssimo (Ricardo Espírito Santo), Filipe de Moura (Alberto Ribeiro), Cristina Oliveira (Berta Cardoso), Patrícia Resende (Celeste Rodrigues), Eduardo Ricciardi (Hugo Rendas), Tiago Diogo (Alain Oulman), Mafalda Drummond (a secretária de Amália), e  Paula Marcelo (a costureira Lili) são alguns dos cerca de 50 fadistas, atores, bailarinos e músicos que vão surgindo neste compacto de vida e obra de Amália. É difícil destacar nomes, mas não quero deixar de sublinhar Francisco Sobral Filipe de Moura, Cristina Oliveira, Hugo Rendas e Tiago Diogo, muito pela importância das suas personagens particularmente marcantes e pela forma como as defendem.  
Quanto à encenação há que dizer que ganhou ritmo, foi encurtada (desapareceram algumas cenas da infância de Amália, e, que me recorde, uma cena no Café Luso, onde surgia António Ferro e algumas personalidades do Estado Novo, que me parece fazer falta para se perceber por que razão era Amália acusada de ser “fascista” depois de 74). Não foi só quanto aos cortes, porém, que “Amália” encurtou.  Isso também de fica a dever ao ritmo imposto por La Féria, galopante. O espectador não ganha fôlego neste desdobrar de cenas, nesta verdadeira cavalgada em tom de epopeia de uma vida. Será por vezes um pouco excessivo? Talvez, mas a verdade é que a emoção brota, o público comove-se, a lágrima que Amália pedia aí está. Logo que o pano de boca sobe e surge Amália escoltada por todo o elenco, o fado parte à desfilada levando consigo a emoção mais pura. Eu pecador me confesso: gosto muito de fado. E de Amália Rodrigues, uma voz única.  
Quantos aos vídeos que acompanham e definem as situações, o tempo histórico, mesmo as emoções, seguem o figurino da versão de 1999, mas vivem agora das possibilidades técnicas que, de então para cá, foram surgindo. Quase sempre certos e imaginativos, aqui e ali talvez excessivos. As janelas da Maluda que se abrem umas sobre as outras começam por ser bonitas e significativas, depois caem no exagero e perdem intenção; a animação do quadro de Malhoa é divertida, mas creio que abafa a canção e a acção; e podem citar-se um ou outro exemplo).
De resto, um belíssimo espectáculo, popular sem ser popularucho, que certamente vai permanecer em cartaz muitos meses (anos?) na Rua das Portas de Santo Antão. Longa vida à Rainha!


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