NO TEATRO E NO CINEMA

No Teatro Maria Matos, unicamente durante cinco dias, a encenação de João Paulo Costa, de "A Noite da Iguana", peça de Tennessee Williams, numa produção conjunta daquele teatro e do ACE/Teatro do Bolhão. O Porto desceu a Lisboa, o que deveria acontecer por mais vezes.
Não me parece que “The Night of Iguana” seja uma das melhores peças de Tennessee Williams, mas sei que deu um belíssimo e intenso filme com a assinatura de John Huston e desempenhos memoráveis de Richard Burton, Ava Gadner, Sue Lyon e, sobretudo, dessa espantosa Deborah Kerr. Era um elenco explosivo. Conta-se que o velho e divertido cineasta (um dos meus preferidos!), antes de iniciar as filmagens com tão “poderoso” elenco (e ainda com a presença de Elisabeth Taylor, a “controlar” o seu então marido) resolveu presentear os protagonistas, e também Elisabeth Taylor, com uma pistola e quatro balas douradas onde haviam sido previamente gravados os nomes dos demais actores. Felizmente, ninguém chegou a precisar de usá-las. Mas isto dizia bem, ainda que de forma irónica, do grau de tensão que existia entre o elenco. O mesmo se verificou entre as personagens, no resultado final.
A intriga não tem muito que contar. Lawrence Shannon (Richard Burton), ex-pastor protestante e admirador de uma boa bebida, trabalha agora como guia turístico, e dirige uma excursão formada por professoras bem entradotas na idade, que se fazem acompanhar por uma jovem, Charlotte Goodall (Sue Lyon, a “Lolita” de Kubrick), obcecada em seduzir o ex-sacerdote.
Não me parece que “The Night of Iguana” seja uma das melhores peças de Tennessee Williams, mas sei que deu um belíssimo e intenso filme com a assinatura de John Huston e desempenhos memoráveis de Richard Burton, Ava Gadner, Sue Lyon e, sobretudo, dessa espantosa Deborah Kerr. Era um elenco explosivo. Conta-se que o velho e divertido cineasta (um dos meus preferidos!), antes de iniciar as filmagens com tão “poderoso” elenco (e ainda com a presença de Elisabeth Taylor, a “controlar” o seu então marido) resolveu presentear os protagonistas, e também Elisabeth Taylor, com uma pistola e quatro balas douradas onde haviam sido previamente gravados os nomes dos demais actores. Felizmente, ninguém chegou a precisar de usá-las. Mas isto dizia bem, ainda que de forma irónica, do grau de tensão que existia entre o elenco. O mesmo se verificou entre as personagens, no resultado final.
A intriga não tem muito que contar. Lawrence Shannon (Richard Burton), ex-pastor protestante e admirador de uma boa bebida, trabalha agora como guia turístico, e dirige uma excursão formada por professoras bem entradotas na idade, que se fazem acompanhar por uma jovem, Charlotte Goodall (Sue Lyon, a “Lolita” de Kubrick), obcecada em seduzir o ex-sacerdote.

O ex-padre ressente-se da fé abalada, esforça-se para juntar os pedaços de uma vida despedaçada, e vê-se encurralado por três mulheres que o cortejam cada uma à sua maneira. Neste jogo de vida ou de morte, de salvação ou perdição, Huston conseguia alguns bons momentos de quente sensualidade na tumultuosa paisagem mexicana. Os actores ajudavam bastante a retirar tensão dramática neste embate de destroços, mas o talento de Huston apadrinhava muito na direcção de actores, e no aproveitamento das suas potencialidades, enquadrando-os em excelentes cenários, fabulosamente fotografados a preto e branco. Nos Óscares do ano ganharia um para o melhor guarda-roupa, Dorothy Jeakins, e foi nomeado para outros três que não venceu, melhor actriz secundária, Grayson Hall, melhor direcção artística, Stephen B. Grimes, e melhor fotografia, para mestre Gabriel Figueroa.

Creio que o erro maior não será tanto dos actores, mas sobretudo da encenação que não consegue nunca criar tensão entre as figuras, nem logra uma direcção de actores à altura da proposta. Óbvio que o desafio era imenso: esta é uma peça difícil, onde só grandes desempenhos conseguem tornar plausíveis personagens e situações. Não aconteceu. Foi pena.