domingo, agosto 20, 2006

CINEMA


“ROMANCE E CIGARROS”

John Turturro é sobretudo conhecido como actor (brilhante) de várias obras onde a sua presença marcou (como, sobretudo, em filmes dos irmãos Coen e de Spike Lee, e de alguns mais que aqui se recordam: “She Hates Me” (2004), “Secret Window”, “O Brother, Where Art Thou?” (2000), “Company Man”, “Summer of Sam” (1999), “Cradle Will Rock”, “Rounders” (1998), “The Big Lebowski”, “Girl 6” (1996), “Clockers” (1995), “Quiz Show” (1994), “Jungle Fever” (1991), “Barton Fink”, “State of Grace” (1990), “Miller's Crossing”, “Mo' Better Blues”, Do the Right Thing (1989), “The Sicilian” (1987), “The Color of Money” (1986), “Hannah and Her Sisters” ou “To Live and Die in L.A.” (1985). Mas Turturo também ensaiou até hoje algumas incursões na realização com resultados irregulares, mas sempre interessantes, como são os caso de “Mac” (1992), “Illuminata” (1998) ou deste “Romance & Cigarettes” (2005). Quase todos os filmes que interpreta e realiza não são filmes normalizados. Há sempre um toque de loucura no que faz, o que torna duplamente inquietante e interessante o seu trabalho.

Com “Romance & Cigarettes” volta a acontecer o mesmo. Estamos no domínio do musical dramático, mas de um musical muito especial, de que não há muitos exemplos ao longo da história do cinema, mas de que existem alguns sumamente interessante. Num registo realista, dramático, por vezes trágico, introduzem-se quebras fantásticas, irreais, que têm a ver com a música. O que transforma os filmes assim concebidos numa mistura acre-doce de efeitos muito especiais: quem não se lembra de títulos como “Dinheiro do Céu”, “Moulin Rouge”, “Do Fundo do Coração”, “Dance in the Dark”, ou "É Sempre a Mesma Cantiga"? Que lista! Quase só obras-primas. Ao lado destas, “Romance e Cigarros” faz figura de parente pobre, mas, mesmo assim, revela qualidades.

A história é apenas um pretexto. Escolhendo como cenário, uma América sub urbana, actual e atormentada por pequenas querelas sentimentais, o filme centraliza a atenção num casal, Nick Murder (James Gandolfini) e Kitty (Susan Sarandon), ele, metalúrgico, ela, costureira, com três filhas que integram uma banda pop. Tudo começa no dia em que Kitty descobre que Nick Murder tem uma amante, uma empregada de balcão de uma loja de lingerie que tem tudo para se poder chamar ninfomaníaca. Essa sedutora Tula (Kate Winslet) põe em causa a tranquilidade familiar da célula em que se intromete, mas o efeito é devastador, como no melhor dos melodramas mais intensos. Que não vamos obviamente revelar, mas que, de tão excessivo e puritano, contra o adultério e o consumo do tabaco, só pode ser interpretado como uma sátira algo mordaz.
O próprio Turturo explica: "Quando as personagens não conseguem já exprimir-se por palavras, começam a cantar, sincronizando os seus movimentos de lábios com as canções que habitam o seu subconsciente. É a sua forma de fugir à realidade do seu mundo: sonhar, recordar, ligar-se com outro ser humano."
Com produção dos irmãos Coen, e evocações de canções célebres de Elvis, Tom Jones, James Brown, Nick Cave, Bruce Springsteen, entre muitos outros, “Romance & Cigarettes” é um drama musical que cedo se torna uma comédia e que principia com uma meia hora notável, com “números” musicais brilhantes e um humor feito de ironia e alguma nostalgia. Depois o filme deslassa como a maionese, passa por altos e baixos, continua a manter um tom interessante de acompanhar, mas alguns excessos na caracterização de personagens e uma deficiente estruturação narrativa fazem perder a unidade e perder-se o filme. Infelizmente. “Um pouco mais de azul e era além”. Faltou-lhe o azul e, quando assim é, lamenta-se duplamente. Porque esteve tão próximo de ser, e não foi.
Ficam interpretações excelentes de James Gandolfini, Susan Sarandon, Kate Winslet (notável, depois de “Titanic”), Christopher Walken (surpreendente!), Steve Buscemi, Mary-Louise Parker, Eddie Izzard ou de Cady Huffman (uma pequena cena que termina com uma faca nas entranhas, mas que anuncia uma belíssima e grande actriz).

ROMANCE E CIGARROS (Romance & Cigarettes), de John Turturro (EUA, 2006), com James Gandolfini, Susan Sarandon, Kate Winslet, Christopher Walken, Steve Buscemi, Mandy Moore, Bobby Cannavale, Mary-Louise Parker, Aida Turturro, Eddie Izzard, etc. 115 min; M/12 anos.

2 comentários:

Dora disse...

Há mais de 1 ano que ando atrás deste filme e ainda não o apanhei!

Anónimo disse...

Eu ja vi, e garanto.É muito bom!
E eu vi no cinema, é muito bom!