ELIZABETH, A RAINHA VIRGEM
ELIZABETH, A RAINHA VIRGEM
Título original: Elizabeth
Realização: Shekhar Kapur (Inglaterra, 1998); Argumento: Michael Hirst; Música: David Hirschfelder; Fotografia (cor): Remi Adefarasin; Montagem: Jill Bilcock; Casting: Simone Ireland, Vanessa Pereira; Design de produção: John Myhre; Direcção artística: Lucy Richardson; Cenários: Peter Howitt; Guarda roupa: Alexandra Byrne; Maquilhagem: Jenny Shircore; Assistantes de realização: David Gilchrist, Tommy Gormley, Mark Layton, Ian Madden, Sarah Purser; Som: Mark Auguste, Gerry Bates, Tim Hands, Chris Scallan, David Stephenson, Derek Trigg; Efeitos Especiais: Peter Chiang, Rebecca Farhall, George Gibbs, Clive R. Kay, Stefan Lange; Produção: Tim Bevan, Liza Chasin, Eric Fellner, Debra Hayward, Alison Owen, Mary Richards
Intérpretes: Cate Blanchett (Elizabeth I), Liz Gilles (mulher mártir), Rod Culbertson (Master Ridley), Paul Fox (homem mártir), Terence Rigby (Bispo Stephen Gardiner), Christopher Eccleston (Duque de Norfolk), Peter Stockbridge, Amanda Ryan (Lettice Howard), Kathy Burke (Rainha Mary I ("Bloody Mary"), Valerie Gale (anão de Mary), George Yiasoumi (Rei Filipe II de Espanha), James Frain (Alvaro de la Quadra - Embaixador de Espanha), Jamie Foreman, Edward Hardwicke, Emily Mortimer (Kat Ashley), Joseph Fiennes (Robert Dudley), Kelly MacDonald (Isabel Knollys), Wayne Sleep, Sally Grey, Kate Loustan, Elika Gibbs Sarah Owen, Lily Allen, Joe White, Matt Andrews, Liam Foley, Geoffrey Rush, Ben Frain, Richard Attenborough (Sir William Cecil, Lord Burghley), Mark Lewis Jones, Michael Beint, Angus Deayton, Eric Cantona (Monsieur de Foix (embaixador francês), Kenny Doughty, Hayley Burroughs, Fanny Ardant (Mary of Guise), Joseph O'Connor, Brendan O'Hea, Edward Highmore, Daniel Moynihan, Jeremy Hawk, James Rowe, Donald Pelmear, Tim Bevan. Charles Cartmell, Edward Purver, Vincent Cassel, John Gielgud (Papa Paulo IV), Daniel Craig, Vladimir Veja, Alfie Owen-Allen, Daisy Bevan, Jennifer Lewicki, Viviane Horne, Nick Shallman, James Britton, Jean-Pierre Léaud, Matthew Rhys, Christian Simpson, Benjamin Wright, etc.
Duração: 120 min; Distribuição em Portugal: Filmes Lusomundo; Classificação: M/ 16 anos.ELIZABETH, A IDADE DE OURO
Um autor de origem indiana, Shekhar Kapur, é o realizador de “Elizabeth”, filme inglês que nos fala da gloriosa “idade de ouro” da monarquia britânica, a célebre “era isabelina.”
“Elizabeth” é um painel histórico de fulgurante densidade. Estamos em meados do século XVI, mais precisamente em 1554, e a Inglaterra atravessa um profunda crise política, social, militar e económica. Henrique VIII, o turbulento e despótico monarca que ficou conhecido pelas suas oito mulheres, morrera em 1547. Sucedera-lhe durante um curto lapso de tempo, seu filho Eduardo VI. Este pretendera afastar da hipótese de sucessão as suas duas irmãs, a católica Mary e a protestante Elizabeth, decretando nesse sentido. Mas, os ingleses não gostaram do que viram, e acabaram mesmo por colocar no trono a fraca e atormentada Mary que viria a morrer de cancro cinco anos depois. Cinco anos que bastaram para Mary, católica fanática, deixar o país entregue às lutas religiosas mais terríveis, conhecendo o reino perseguições de uma violência invulgar.
O filme de Shekhar Kapur inicia-se precisamente nesse momento histórico de pesado terror, durante o qual Mary procura terminar com a Reforma e impor o catolicismo como religião oficial. A seu lado, como sombra de emergente significado, o conde de Norfolk, a quem não bastava só fazer triunfar o catolicismo, mas impedir o triunfo do protestantismo num qualquer futuro. Dado que Mary não tinha descendentes, e dada ainda a sua galopante doença, Norfolk conspira igualmente para anular a possível influência da irmã de Mary, Elizabeth, filha da ligação de Henrique VIII com Ana Bolena, que acabaria com a cabeça decepada por ordem do rei, seu marido. O conde de Norfolk tenta reeditar a mesma sorte para Elizabeth, acusando-a de traição, mas esta acaba por ser poupada pela irmã, e por ser coroada rainha.
O filme faz desde as imagens iniciais o contraponto entre o clima de negro terror e despotismo do reinado de Mary, e a existência feliz e despreconceituosa de Elizabeth, uma vida entregue às suas delícias e ao amor do jovem Robert Dudley, passada num exílio dourado. Elizabeth parece ser a imagem da felicidade que o filme restitui em cores doces e sorrisos abertos, depois de ter passado pelos cadafalsos da perseguição e do horror, invulgarmente filmados com a câmara num ângulo “picado” que acompanha as vítimas desta inquisição desde o seu sumário julgamento até à sua imolação pelo fogo numa fogueira de horror.
Dir-se-ia que Elizabeth, ao ser coroada rainha, se transformaria no dócil cordeiro a sacrificar às intrigas da corte e aos interesses do Vaticano, e dos seus fieis servidores. Mas, o centro fulcral da obra de Shekhar Kapur reside precisamente ai, nessa transformação de uma pessoa, que lentamente se apercebe que para reinar tem de abdicar de si própria e da sua vida.
Durante o início do seu reinado as crises sucedem-se, principiando desde logo pela ameaça exterior dos franceses, que atacam a Escócia, passando pelo clima de conspiração constante no interior da sua própria corte. Elizabeth mostra-se um animal político hábil a desarmar os adversários, para o que conta com a sempre leal palavra de Sir Francis Walshingham, inicialmente a sua sombra protectora, e posteriormente o seu conselheiro político e militar. Uma a uma as crises vão sendo vencidas e ultrapassadas com raro tacto político, até ao desarme final dos seus inimigos mais declarados.
A revelação de que Robert Dudley, o seu companheiro de alcova, se casara secretamente, deverá ter igualmente pesado na sua decisão final. Também as palavras de Sir William Cecil deverão ter contribuído para tal. Ele ter-lhe-á dito que “uma rainha não tem vida nem corpo próprios, pois estes pertencem ao povo, e a eles deverão ser consagrados”. Perante tudo isto, e depois de consolidada a paz interna e externa, Elizabeth despoja-se da sua imagem de beleza e sensualidade e impõe uma imagem de austeridade e rigor. Corta os magníficos cabelos ruivos e anula o doce tom róseo da sua pele. A partir daí ela será Elizabeth Tudor, a Rainha Virgem, que reinará durante quarenta anos de progresso social, económico e cultural. Inglaterra irá conhecer sob o seu suave jugo, a sua idade de ouro.
A Shekhar Kapur interessa sobretudo estudar e analisar essa metamorfose - a passagem de Elizabeth de simples mulher a rainha. Uma mutação que não é só psicológica, mas também uma mutação de imagem exterior – a imagem que dela colhem os seus súbditos.
Nesse aspecto, o filme de Shekhar Kapur é uma obra de uma grande inteligência na construção narrativa e na maneira como impõe personagens e situações. A forma como joga com os cenários e a majestade da arquitectura, a subtileza com que integra as figuras nesse mapa de referências são notáveis. Basta referir como exemplo um plano em que Elizabeth sai de uma parede, através de uma porta falsa que se abre no interior de uma tapeçaria, para o percebermos. Aquelas são figuras inscritas num tempo e num espaço histórico.
Shekhar Kapur, indiano por nascimento, mas muito ligado à cultura inglesa, estreia-se no cinema britânico depois de uma promissora carreira como realizador na União Indiana. O seu último filme aí realizado, “A Rainha dos Bandidos”, chamou a atenção para o seu trabalho. Polémico na forma como restitui a figura de uma mulher fora da lei que conduziu a guerrilha na Índia, “A Rainha dos Bandidos” foi considerado um dos 10 melhores filmes do ano nos EUA, e banido dos écrans da União Indiana. A fama de Kapur estava assegurada e o seu triunfo em “Elizabeth” só o confirma como um dos grandes nomes do cinema contemporâneo. Aqui um cinema de raiz histórica, que estuda com rara clarividência a luta pelo poder e os mecanismo que a ele conduzem e o mantêm. “Elizabeth” vai entroncar numa herança barroca que tem em Eisenstein uma referência – “Ivan, o Terrível” ou “Alexandre Nevski” são óbvias influências -, mas também no mais discreto, mas não menos lúcido, Rossellini, “A Tomada de Poder por Luis XIV”.
Entre os intérpretes, há que destacar a fabulosa composição de Cate Blanchett, actriz australiana, que os espectadores já puderam ver em “A Estrada do Paraíso” ou “Oscar e Lucinda”, e que acabou de ganhar, com este seu fulgurante trabalho, o Globo de Ouro para melhor actriz dramática do ano. Boas perspectivas, portanto, se abrem para os Oscars que se adivinham. O seu desempenho é de um rigor e de uma intensidade invulgares. Mas a seu lado, Geoffrey Rush, de “Shining”, é igualmente notável, bem assim como Kathy Burke, Richard Attenborugh, Fanny Ardant, Christopher Eccleston, John Gielgud, e mesmo Eric Cantona, o célebre futebolista francês, aqui na personagem de um enviado especial da monarquia gaulesa que se candidata à mão de Elizabeth.
“Elizabeth” é, pois, um grande filme histórico, e uma grande lição de cinema que vale a pena não perder.
“Elizabeth” é um painel histórico de fulgurante densidade. Estamos em meados do século XVI, mais precisamente em 1554, e a Inglaterra atravessa um profunda crise política, social, militar e económica. Henrique VIII, o turbulento e despótico monarca que ficou conhecido pelas suas oito mulheres, morrera em 1547. Sucedera-lhe durante um curto lapso de tempo, seu filho Eduardo VI. Este pretendera afastar da hipótese de sucessão as suas duas irmãs, a católica Mary e a protestante Elizabeth, decretando nesse sentido. Mas, os ingleses não gostaram do que viram, e acabaram mesmo por colocar no trono a fraca e atormentada Mary que viria a morrer de cancro cinco anos depois. Cinco anos que bastaram para Mary, católica fanática, deixar o país entregue às lutas religiosas mais terríveis, conhecendo o reino perseguições de uma violência invulgar.
O filme de Shekhar Kapur inicia-se precisamente nesse momento histórico de pesado terror, durante o qual Mary procura terminar com a Reforma e impor o catolicismo como religião oficial. A seu lado, como sombra de emergente significado, o conde de Norfolk, a quem não bastava só fazer triunfar o catolicismo, mas impedir o triunfo do protestantismo num qualquer futuro. Dado que Mary não tinha descendentes, e dada ainda a sua galopante doença, Norfolk conspira igualmente para anular a possível influência da irmã de Mary, Elizabeth, filha da ligação de Henrique VIII com Ana Bolena, que acabaria com a cabeça decepada por ordem do rei, seu marido. O conde de Norfolk tenta reeditar a mesma sorte para Elizabeth, acusando-a de traição, mas esta acaba por ser poupada pela irmã, e por ser coroada rainha.
O filme faz desde as imagens iniciais o contraponto entre o clima de negro terror e despotismo do reinado de Mary, e a existência feliz e despreconceituosa de Elizabeth, uma vida entregue às suas delícias e ao amor do jovem Robert Dudley, passada num exílio dourado. Elizabeth parece ser a imagem da felicidade que o filme restitui em cores doces e sorrisos abertos, depois de ter passado pelos cadafalsos da perseguição e do horror, invulgarmente filmados com a câmara num ângulo “picado” que acompanha as vítimas desta inquisição desde o seu sumário julgamento até à sua imolação pelo fogo numa fogueira de horror.
Dir-se-ia que Elizabeth, ao ser coroada rainha, se transformaria no dócil cordeiro a sacrificar às intrigas da corte e aos interesses do Vaticano, e dos seus fieis servidores. Mas, o centro fulcral da obra de Shekhar Kapur reside precisamente ai, nessa transformação de uma pessoa, que lentamente se apercebe que para reinar tem de abdicar de si própria e da sua vida.
Durante o início do seu reinado as crises sucedem-se, principiando desde logo pela ameaça exterior dos franceses, que atacam a Escócia, passando pelo clima de conspiração constante no interior da sua própria corte. Elizabeth mostra-se um animal político hábil a desarmar os adversários, para o que conta com a sempre leal palavra de Sir Francis Walshingham, inicialmente a sua sombra protectora, e posteriormente o seu conselheiro político e militar. Uma a uma as crises vão sendo vencidas e ultrapassadas com raro tacto político, até ao desarme final dos seus inimigos mais declarados.
A revelação de que Robert Dudley, o seu companheiro de alcova, se casara secretamente, deverá ter igualmente pesado na sua decisão final. Também as palavras de Sir William Cecil deverão ter contribuído para tal. Ele ter-lhe-á dito que “uma rainha não tem vida nem corpo próprios, pois estes pertencem ao povo, e a eles deverão ser consagrados”. Perante tudo isto, e depois de consolidada a paz interna e externa, Elizabeth despoja-se da sua imagem de beleza e sensualidade e impõe uma imagem de austeridade e rigor. Corta os magníficos cabelos ruivos e anula o doce tom róseo da sua pele. A partir daí ela será Elizabeth Tudor, a Rainha Virgem, que reinará durante quarenta anos de progresso social, económico e cultural. Inglaterra irá conhecer sob o seu suave jugo, a sua idade de ouro.
A Shekhar Kapur interessa sobretudo estudar e analisar essa metamorfose - a passagem de Elizabeth de simples mulher a rainha. Uma mutação que não é só psicológica, mas também uma mutação de imagem exterior – a imagem que dela colhem os seus súbditos.
Nesse aspecto, o filme de Shekhar Kapur é uma obra de uma grande inteligência na construção narrativa e na maneira como impõe personagens e situações. A forma como joga com os cenários e a majestade da arquitectura, a subtileza com que integra as figuras nesse mapa de referências são notáveis. Basta referir como exemplo um plano em que Elizabeth sai de uma parede, através de uma porta falsa que se abre no interior de uma tapeçaria, para o percebermos. Aquelas são figuras inscritas num tempo e num espaço histórico.
Shekhar Kapur, indiano por nascimento, mas muito ligado à cultura inglesa, estreia-se no cinema britânico depois de uma promissora carreira como realizador na União Indiana. O seu último filme aí realizado, “A Rainha dos Bandidos”, chamou a atenção para o seu trabalho. Polémico na forma como restitui a figura de uma mulher fora da lei que conduziu a guerrilha na Índia, “A Rainha dos Bandidos” foi considerado um dos 10 melhores filmes do ano nos EUA, e banido dos écrans da União Indiana. A fama de Kapur estava assegurada e o seu triunfo em “Elizabeth” só o confirma como um dos grandes nomes do cinema contemporâneo. Aqui um cinema de raiz histórica, que estuda com rara clarividência a luta pelo poder e os mecanismo que a ele conduzem e o mantêm. “Elizabeth” vai entroncar numa herança barroca que tem em Eisenstein uma referência – “Ivan, o Terrível” ou “Alexandre Nevski” são óbvias influências -, mas também no mais discreto, mas não menos lúcido, Rossellini, “A Tomada de Poder por Luis XIV”.
Entre os intérpretes, há que destacar a fabulosa composição de Cate Blanchett, actriz australiana, que os espectadores já puderam ver em “A Estrada do Paraíso” ou “Oscar e Lucinda”, e que acabou de ganhar, com este seu fulgurante trabalho, o Globo de Ouro para melhor actriz dramática do ano. Boas perspectivas, portanto, se abrem para os Oscars que se adivinham. O seu desempenho é de um rigor e de uma intensidade invulgares. Mas a seu lado, Geoffrey Rush, de “Shining”, é igualmente notável, bem assim como Kathy Burke, Richard Attenborugh, Fanny Ardant, Christopher Eccleston, John Gielgud, e mesmo Eric Cantona, o célebre futebolista francês, aqui na personagem de um enviado especial da monarquia gaulesa que se candidata à mão de Elizabeth.
“Elizabeth” é, pois, um grande filme histórico, e uma grande lição de cinema que vale a pena não perder.
ELIZABETH, A RAINHA VIRGEM
Título original: Elizabeth
Realização: Shekhar Kapur (Inglaterra, 1998); Argumento: Michael Hirst; Música: David Hirschfelder; Fotografia (cor): Remi Adefarasin; Montagem: Jill Bilcock; Casting: Simone Ireland, Vanessa Pereira; Design de produção: John Myhre; Direcção artística: Lucy Richardson; Cenários: Peter Howitt; Guarda roupa: Alexandra Byrne; Maquilhagem: Jenny Shircore; Assistantes de realização: David Gilchrist, Tommy Gormley, Mark Layton, Ian Madden, Sarah Purser; Som: Mark Auguste, Gerry Bates, Tim Hands, Chris Scallan, David Stephenson, Derek Trigg; Efeitos Especiais: Peter Chiang, Rebecca Farhall, George Gibbs, Clive R. Kay, Stefan Lange; Produção: Tim Bevan, Liza Chasin, Eric Fellner, Debra Hayward, Alison Owen, Mary Richards
Intérpretes: Cate Blanchett (Elizabeth I), Liz Gilles (mulher mártir), Rod Culbertson (Master Ridley), Paul Fox (homem mártir), Terence Rigby (Bispo Stephen Gardiner), Christopher Eccleston (Duque de Norfolk), Peter Stockbridge, Amanda Ryan (Lettice Howard), Kathy Burke (Rainha Mary I ("Bloody Mary"), Valerie Gale (anão de Mary), George Yiasoumi (Rei Filipe II de Espanha), James Frain (Alvaro de la Quadra - Embaixador de Espanha), Jamie Foreman, Edward Hardwicke, Emily Mortimer (Kat Ashley), Joseph Fiennes (Robert Dudley), Kelly MacDonald (Isabel Knollys), Wayne Sleep, Sally Grey, Kate Loustan, Elika Gibbs Sarah Owen, Lily Allen, Joe White, Matt Andrews, Liam Foley, Geoffrey Rush, Ben Frain, Richard Attenborough (Sir William Cecil, Lord Burghley), Mark Lewis Jones, Michael Beint, Angus Deayton, Eric Cantona (Monsieur de Foix (embaixador francês), Kenny Doughty, Hayley Burroughs, Fanny Ardant (Mary of Guise), Joseph O'Connor, Brendan O'Hea, Edward Highmore, Daniel Moynihan, Jeremy Hawk, James Rowe, Donald Pelmear, Tim Bevan. Charles Cartmell, Edward Purver, Vincent Cassel, John Gielgud (Papa Paulo IV), Daniel Craig, Vladimir Veja, Alfie Owen-Allen, Daisy Bevan, Jennifer Lewicki, Viviane Horne, Nick Shallman, James Britton, Jean-Pierre Léaud, Matthew Rhys, Christian Simpson, Benjamin Wright, etc.
Duração: 120 min; Distribuição em Portugal: Filmes Lusomundo; Classificação: M/ 16 anos.
Se “Elizabeth, a Rainha Virgem” (1997) documentava os anos da “passagem de Elizabeth de simples mulher a rainha”, “Elizabeth: The Golden Age”(2007) fixa-se, como o título indica, no período áureo do seu reinado, tornando mais complexas certas decisões políticas e algumas atitudes particulares (o isolamento emocional de Elizabeth é aqui deixado na penumbra de algumas ligações possíveis, que apenas se esboçam, mas que podem querer indiciar algo mais do que um indicio – referimo-nos à sua ligação com Walter Raleigh, por um lado, e à sua equivoca relação com a sua aia predilecta, igualmente Elizabeth de seu nome, mas conhecido por Bess para se diferenciar da soberana).
Obviamente que, a um olhar mais rápido, se pode inferir que Elizabeth abdicou de uma vida pessoal em detrimento de uma actividade pública intensa, procurando que emoções e sentimentos particulares não influenciassem deliberações de Estado. Ela tem nas mãos o futuro de um País, mas mais do que isso, tem no seu pulso o rumo de uma considerável parte da Humanidade. Ela tem a Espanha a conspirar nas suas costas, tem Mary Stuart, uma prima ambiciosa, presa num castelo da Escócia, pronta a apoiar a revolta católica contra os anglicanos que se encontram no poder, e de que Elizabeth é exemplo e símbolo que urge abater, tem guerras e intrigas a vencer, tem pretendentes à sua mão e conspiradores que lhe cobiçam o pescoço, para o ver trespassado pela guilhotina, tem de combater na terra e no mar, opondo-se a uma “invencível armada” que, afinal, era por demais vencível, como se viu à entrada do estreito de Gibraltar, quando meia dúzia de barcos, incendiados pela estratégia de Drake e Raleigh, conseguiram levar de vencida, com o apoio dos ventos tempestuosos dos deuses que se soltaram para glória da Grã-bretanha, os 30.000 soldados espanhóis que viajavam nalgumas dezenas de barcos que a demagogia do catolicismo mais radical conseguira arregimentar para abater o inimigo religioso (só porque “diferente”).
William Nicholson e Michael Hirst (este último já fora responsável pelo argumento de “Elizabeth” (1998) e foi, posteriormente argumentista da infeliz série televisiva “The Tudors” (2007)), argumentistas, não desdenharam algumas “liberdades”, históricas ou não, mas no conjunto, reflectem com alguma verdade um tempo que ficou na história com o nome da sua personagem central. É a época Isabelina (1558-1603), durante a qual as artes e as ciências, a política e a exploração dos mares e de novos continentes floresceram no reino, como o provam a actividade de personalidades como William Shakespeare, obviamente, o mais conhecido, mas também Francis Bacon, John Dee, Francis Drake, Richard Grenville, Ben Jonson, Christopher Marlowe, Thomas North, Walter Raleigh, Philip Sidney, Edmund Spenser ou Francis Walsingham.
O filme tem qualidades, apesar de se colocar alguns pontos abaixo do seu predecessor, dando uma imagem relativamente fiel do que foram os tempos áureos do reinado da rainha Virgem de Inglaterra. Mas nem sempre o estilo de Shekhar Kapur se mostra à altura do seu anterior trabalho, mastigando a narrativa com alguns rodriguinhos estilísticos a despropósito, escondendo demasiadas vezes a câmara por detrás de elementos do cenário, optando por “picados” verticais sem a grandeza e o significado que tinham no seu primeiro filme dedicado à mesma personagem.
O filme retoma a história da Rainha Elizabeth desde 1585, quando a Espanha é apontada como a mais ambiciosa e poderosa nação europeia e multiplica as guerras santas as todas as potências que não sendo católicas, justificam a ira de Deus, personificada por Filipe II, de Espanha (I de Portugal). Ora sendo a Inglaterra um pais separado de Roma desde Henrique VIII, e tendo uma religião protestante própria, o anglicanismo, a governação de Elizabeth I não podia deixar de sentir na pele do seu território a ânsia expansionista dos espanhóis que não toleravam dissidências e, por causa delas, preparam uma armada que procurava terminar com as veleidades independentistas, em matéria religiosa, dos ingleses. Tudo isto era verdade, mas a verdade era ainda mais complexa: presa, por traição, encontrava-se Mary Stuart (Samantha Morton), rainha da Escócia, que, através de um imaginoso sistema de mensagens cifradas (a que os historiadores deram o nome de “código de Mary”), consegue estabelecer as premissas de uma revolta que iria assassinar a Rainha e colocá-la a ela no trono de Inglaterra, a que julga ter direito por descendência real. O Rei da Espanha (Jordi Mollá) não pensa noutra coisa, para assim afastar Elizabeth do poder. O resto já se sabe.
Cate Blanchet, que voltou a ser nomeada para o Óscar de Melhor Actriz pelo papel para que já fora anteriormente nomeada, tem um desempenho à altura dos seus pergaminhos. Clive Owen é um bem apessoado e romântico Sir Walter Raleigh e Geoffrey Rush volta a ser igualmente um astuto e inquietante conselheiro da Rainha. O filme, ficando embora abaixo uns bons furos do anterior, justifica, portanto, uma visão.
ELIZABETH, A IDADE DE OURO
Título original: Elizabeth: The Golden Age ou Elizabeth - Das goldene Königreich ou Elizabeth - L'Âge d'Or ou The Golden Age
Realização: Shekhar Kapur (Inglaterra, França, Alemanha, 2007); Argumentos: William Nicholson, Michael Hirst; Música: Craig Armstrong, R. Rahman; Fotografia (cor): Remi Adefarasin; Montagem: Jill Bilcock; Casting: Fiona Weir; Design de produção: Guy Dyas; Direcção artística: Christian Huband, Jason Knox-Johnston, Phil Simms, Andy Thomson, Frank Walsh; Decoração: Richard Roberts; Guarda-roupa: Alexandra Byrne; Maquilhagem: Joe Hopker, Katie Lee, Liz Murray, Dorka Nieradzik, Morag Ross, Loulia Sheppard, Jenny Shircore; Direcção de produção: Tania Windsor Blunden, Terry Blyther, Duncan Flower, Tom Forsyth, Mark Mostyn; Assistentes de realização: William Booker, Chloe Chesterton, Tommy Gormley, Richard Graysmark, Mark Layton, Zoe Liang, Alan Stewart; Departamento de arte: David Allday, Alan Cooch; Som: Paul Apted, Mark Auguste; Efeitos Especiais: Michael Dawson, Jason Leinster, Joss Williams; Efeitos Visuais: Nicolas Aithadi, Julian Blom, Michelle Corney, John Lockwood, Richard Stammers, Steve Street; Produção: Tim Bevan, Jonathan Cavendish, Liza Chasin, Chris Emposimato, Eric Fellner, Debra Hayward, Michael Hirst; Companhias de Produção: Motion Picture ZETA Produktionsgesellschaft, Studio Canal, Working Title Films;
Intérpretes: Cate Blanchett (Rainha Elizabeth I), Geoffrey Rush (Sir Francis Walsingham), Clive Owen (Sir Walter Raleigh), Samantha Morton (Mary Stuart), Rhys Ifans (Robert Reston), Jordi Mollà (Rei Filipe II de Espanha), John Shrapnel (Lord Howard), Aimee King (Infanta), Susan Lynch (Annette), Elise McCave, Abbie Cornish, Penelope McGhie, Eddie Redmayne, Stuart McLoughlin, Adrian Scarborough, Robert Styles, William Houston, Coral Beed, Rosalind Halstead, Steven Loton, Martin Baron, David Armand, Steven Robertson, Jeremy Barker, George Innes, Adam Godley, Kirstin Smith, Kelly Hunter, Christian Brassington, Robert Cambrinus, Tom Hollander, Sam Spruell, Tim Preece, Vidal Sancho, David Threlfall, Benjamin May, David Sterne, Kate Fleetwood, Glenn Doherty, Chris Brailsford, Dave Legeno, Antony Carrick, John Atterbury, David Robb, Alex Giannini, Joe Ferrara, Jonathan Bailey, Alexander Barnes, Charles Bruce, Jeremy Cracknell, Benedict Green, Adam Smith, Simon Stratton, Crispin Swayne, Laurence Fox, Hayley Burroughs, Kate Lindesay, etc.
Duração: 114 minutos; Classificação etária: M/12 anos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais (cinema); Universal (DVD); Locais de filmagem: Baddesley Clinton, Warwickshire, Inglaterra; Data de estreia: 1 de Novembro de 2007 (Portugal) .
Obviamente que, a um olhar mais rápido, se pode inferir que Elizabeth abdicou de uma vida pessoal em detrimento de uma actividade pública intensa, procurando que emoções e sentimentos particulares não influenciassem deliberações de Estado. Ela tem nas mãos o futuro de um País, mas mais do que isso, tem no seu pulso o rumo de uma considerável parte da Humanidade. Ela tem a Espanha a conspirar nas suas costas, tem Mary Stuart, uma prima ambiciosa, presa num castelo da Escócia, pronta a apoiar a revolta católica contra os anglicanos que se encontram no poder, e de que Elizabeth é exemplo e símbolo que urge abater, tem guerras e intrigas a vencer, tem pretendentes à sua mão e conspiradores que lhe cobiçam o pescoço, para o ver trespassado pela guilhotina, tem de combater na terra e no mar, opondo-se a uma “invencível armada” que, afinal, era por demais vencível, como se viu à entrada do estreito de Gibraltar, quando meia dúzia de barcos, incendiados pela estratégia de Drake e Raleigh, conseguiram levar de vencida, com o apoio dos ventos tempestuosos dos deuses que se soltaram para glória da Grã-bretanha, os 30.000 soldados espanhóis que viajavam nalgumas dezenas de barcos que a demagogia do catolicismo mais radical conseguira arregimentar para abater o inimigo religioso (só porque “diferente”).
William Nicholson e Michael Hirst (este último já fora responsável pelo argumento de “Elizabeth” (1998) e foi, posteriormente argumentista da infeliz série televisiva “The Tudors” (2007)), argumentistas, não desdenharam algumas “liberdades”, históricas ou não, mas no conjunto, reflectem com alguma verdade um tempo que ficou na história com o nome da sua personagem central. É a época Isabelina (1558-1603), durante a qual as artes e as ciências, a política e a exploração dos mares e de novos continentes floresceram no reino, como o provam a actividade de personalidades como William Shakespeare, obviamente, o mais conhecido, mas também Francis Bacon, John Dee, Francis Drake, Richard Grenville, Ben Jonson, Christopher Marlowe, Thomas North, Walter Raleigh, Philip Sidney, Edmund Spenser ou Francis Walsingham.
O filme tem qualidades, apesar de se colocar alguns pontos abaixo do seu predecessor, dando uma imagem relativamente fiel do que foram os tempos áureos do reinado da rainha Virgem de Inglaterra. Mas nem sempre o estilo de Shekhar Kapur se mostra à altura do seu anterior trabalho, mastigando a narrativa com alguns rodriguinhos estilísticos a despropósito, escondendo demasiadas vezes a câmara por detrás de elementos do cenário, optando por “picados” verticais sem a grandeza e o significado que tinham no seu primeiro filme dedicado à mesma personagem.
O filme retoma a história da Rainha Elizabeth desde 1585, quando a Espanha é apontada como a mais ambiciosa e poderosa nação europeia e multiplica as guerras santas as todas as potências que não sendo católicas, justificam a ira de Deus, personificada por Filipe II, de Espanha (I de Portugal). Ora sendo a Inglaterra um pais separado de Roma desde Henrique VIII, e tendo uma religião protestante própria, o anglicanismo, a governação de Elizabeth I não podia deixar de sentir na pele do seu território a ânsia expansionista dos espanhóis que não toleravam dissidências e, por causa delas, preparam uma armada que procurava terminar com as veleidades independentistas, em matéria religiosa, dos ingleses. Tudo isto era verdade, mas a verdade era ainda mais complexa: presa, por traição, encontrava-se Mary Stuart (Samantha Morton), rainha da Escócia, que, através de um imaginoso sistema de mensagens cifradas (a que os historiadores deram o nome de “código de Mary”), consegue estabelecer as premissas de uma revolta que iria assassinar a Rainha e colocá-la a ela no trono de Inglaterra, a que julga ter direito por descendência real. O Rei da Espanha (Jordi Mollá) não pensa noutra coisa, para assim afastar Elizabeth do poder. O resto já se sabe.
Cate Blanchet, que voltou a ser nomeada para o Óscar de Melhor Actriz pelo papel para que já fora anteriormente nomeada, tem um desempenho à altura dos seus pergaminhos. Clive Owen é um bem apessoado e romântico Sir Walter Raleigh e Geoffrey Rush volta a ser igualmente um astuto e inquietante conselheiro da Rainha. O filme, ficando embora abaixo uns bons furos do anterior, justifica, portanto, uma visão.
ELIZABETH, A IDADE DE OURO
Título original: Elizabeth: The Golden Age ou Elizabeth - Das goldene Königreich ou Elizabeth - L'Âge d'Or ou The Golden Age
Realização: Shekhar Kapur (Inglaterra, França, Alemanha, 2007); Argumentos: William Nicholson, Michael Hirst; Música: Craig Armstrong, R. Rahman; Fotografia (cor): Remi Adefarasin; Montagem: Jill Bilcock; Casting: Fiona Weir; Design de produção: Guy Dyas; Direcção artística: Christian Huband, Jason Knox-Johnston, Phil Simms, Andy Thomson, Frank Walsh; Decoração: Richard Roberts; Guarda-roupa: Alexandra Byrne; Maquilhagem: Joe Hopker, Katie Lee, Liz Murray, Dorka Nieradzik, Morag Ross, Loulia Sheppard, Jenny Shircore; Direcção de produção: Tania Windsor Blunden, Terry Blyther, Duncan Flower, Tom Forsyth, Mark Mostyn; Assistentes de realização: William Booker, Chloe Chesterton, Tommy Gormley, Richard Graysmark, Mark Layton, Zoe Liang, Alan Stewart; Departamento de arte: David Allday, Alan Cooch; Som: Paul Apted, Mark Auguste; Efeitos Especiais: Michael Dawson, Jason Leinster, Joss Williams; Efeitos Visuais: Nicolas Aithadi, Julian Blom, Michelle Corney, John Lockwood, Richard Stammers, Steve Street; Produção: Tim Bevan, Jonathan Cavendish, Liza Chasin, Chris Emposimato, Eric Fellner, Debra Hayward, Michael Hirst; Companhias de Produção: Motion Picture ZETA Produktionsgesellschaft, Studio Canal, Working Title Films;
Intérpretes: Cate Blanchett (Rainha Elizabeth I), Geoffrey Rush (Sir Francis Walsingham), Clive Owen (Sir Walter Raleigh), Samantha Morton (Mary Stuart), Rhys Ifans (Robert Reston), Jordi Mollà (Rei Filipe II de Espanha), John Shrapnel (Lord Howard), Aimee King (Infanta), Susan Lynch (Annette), Elise McCave, Abbie Cornish, Penelope McGhie, Eddie Redmayne, Stuart McLoughlin, Adrian Scarborough, Robert Styles, William Houston, Coral Beed, Rosalind Halstead, Steven Loton, Martin Baron, David Armand, Steven Robertson, Jeremy Barker, George Innes, Adam Godley, Kirstin Smith, Kelly Hunter, Christian Brassington, Robert Cambrinus, Tom Hollander, Sam Spruell, Tim Preece, Vidal Sancho, David Threlfall, Benjamin May, David Sterne, Kate Fleetwood, Glenn Doherty, Chris Brailsford, Dave Legeno, Antony Carrick, John Atterbury, David Robb, Alex Giannini, Joe Ferrara, Jonathan Bailey, Alexander Barnes, Charles Bruce, Jeremy Cracknell, Benedict Green, Adam Smith, Simon Stratton, Crispin Swayne, Laurence Fox, Hayley Burroughs, Kate Lindesay, etc.
Duração: 114 minutos; Classificação etária: M/12 anos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais (cinema); Universal (DVD); Locais de filmagem: Baddesley Clinton, Warwickshire, Inglaterra; Data de estreia: 1 de Novembro de 2007 (Portugal) .
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