de Arístides Vargas,
Continuamos com não muita sorte com o que nos vem de Espanha. Desta feita, “Flores Arrancadas à Névoa” (Flores Arrancadas a la Niebla), um texto de Arístides Vargas, com encenação de Pepe Bablé, também não convenceu por aí além a assistência, e deixou mesmo amargos de boca nalguns. O texto coloca em cena duas mulheres, Raquel e Aida, duas exiladas de uma qualquer guerra e de uma qualquer nação, que nunca chegam a dizer qual o motivo nem qual a guerra de que fogem. Encontram-se sozinhas numa estação de caminhos-de-ferro, esperam um comboio que não se sabe para onde vai, e dialogam sobre o que lhes passa pela cabeça, desde essa pátria, lugar de exílio, até ao território para onde vão, desde botânica e flores, até homens e sentimentos. Obviamente que se fala de solidão e de ostracismo, e das guerras que deslocam pessoas daqui para ali sem justificação aparente. Raquel, por exemplo, que esconde dentro de si uma orquídea, é cientista, estuda flores e plantas, e não aceita o seu exílio de ânimo leve, ela explica que vai para longe (a Amazónia?) para investigar casos a enviar posteriormente para as Academias. Mas a sua verdadeira viagem é até à solidão mais íntima, até ao lugar onde nada existe, até ao lugar que é a negação do lugar.
Ok, percebem-se as intenções, mas a peça é demasiado “poética”, difícil de se entender, um pouco pomposa no seu tom lírico-depressivo. A encenação também não ajuda, não tanto por ser enxuta (não há cenários, apenas duas mulheres, duas malas, e dois comboios de corda…), mas sobretudo porque não sabe muito bem o que fazer a duas mulheres sozinhas num palco, não demonstrando grande invenção. As actrizes esforçam-se, não são más, mas aos papéis falta consistência para se imporem como personagens.
O autor do texto não é espanhol, mas sim argentino. Arístides Vargas nasceu em Córdoba (Argentina), estudou teatro na Universidade de Cuyo e, em 1975, exila-se devido ao golpe militar. Dirigiu grupos e companhias de teatro latino-americanos, entre os quais a Companhia Nacional de Teatro da Costa Rica, o grupo Justo Rufino Garay, da Nicarágua, o grupo Taller del Sótano, do México, e a companhia Ire, de Porto Rico. É fundador de um dos grupos mais prestigiados da América Latina: o “Malayerba”, do Equador, que actualmente dirige. Entre outras, é autor das seguintes obras: “Jardín de pulpos”, “Pluma, La edad de la ciruela”, “Donde el viento hace buñuelos”, e “Nuestra Señora de las nubes”. Quanto ao encenador Pepe Bablé ele é, sobretudo, o rosto do Festival Iberoamericano, de Cádis. Presente desde a sua fundação, em 1985, só em 1992 se torna director do evento, passando a acumular também, a partir de 1994, a respectiva direcção artística.
FLORES ARRANCADAS À NÉVOA (FLORES ARRANCADAS A LA NIEBLA), de Arístides Vargas, encenação de Pepe Bablé; Intérpretes Ángeles Rodríguez, Charo Sábio; Cenário e figurinos Albanta; Desenho de luz e espaço sonoro Pepe Bablé; Adereços Francis Geraldía; Duração 1h20; Classificação M12.
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