quinta-feira, julho 15, 2010

FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA, NOTAS, 9


“Uma Lição dos Aloés”, de Athol Fugard

“Uma Lição dos Aloés”, do sul-africano Athol Fugard, com encenação de José Peixoto, da Companhia do Teatro dos Aloés, residente na Amadora, abriu o 27º Festival de Teatro de Almada.
A peça é bastante interessante, conjugando a denúncia social do tempo do apartheid, com uma linguagem poética e simbólica, onde o “aloés” desempenha papel essencial.
Athol Fugard, nascido em 1932, escreveu teatro e romances, foi actor, sendo conhecido pelas suas posições anti-apartheid. Um romance seu, “Tsotsi”, foi premiado em 2005, e haveria de ser adaptado a filme, numa realização de Gavin Hood, com argumento do próprio director (foi Oscar de melhor filme em língua não inglesa em 2006). No campo do teatro, Athol Fugard dirigiu o Departamento de Teatro e Dança da Universidade da Califórnia, em São Diego. Um dos seus textos, precisamente “Sizwe Banzi Morreu”, encenado por Peter Brook, fora acontecimento destacado no Festival de Almada de 2007.
Esta “Uma Lição dos Aloés” fala-nos de um africânder, Piet, que, enquanto aguarda pelo seu amigo Steve e família para um jantar de despedida, vai-se dedicando à sua actividade favorita, identificar aloés desconhecidos, de que possui uma vasta colecção. A mulher de Piet, Gladys, encontra-se profundamente desequilibrada, preocupada com uns diários seus que a polícia confiscou, e vive numa angustia permanente e na total descrença da sociedade sul-africana, onde as injustiças, a prepotência e o terror policial imperam. Entretanto, Steve, que é negro, aparece sozinho, pois a mulher não confia em Piet, julgando-o um delator. O jantar decorre entre a dúvida e a confiança nos laços de amizade e assim se fica a perceber que se é possível tentar catalogar os aloés, não é muito provável classificar de igual modo as pessoas.
A encenação (nela comportando cenário, desenho de luzes, som, etc.) não ultrapassa a mediania bem comportada, quando o que se poderia desejar seria algo mais arrojado e poético. Já se viu melhor de José Peixoto. O mesmo se pode dizer da interpretação, onde se destaca, todavia, a presença de Elsa Valentim, defendendo com sensibilidade a figura de Galdys.

“Uma Lição dos Aloés”, de Athol Fugard; Tradução: Angélica Varandas, Graça Margarido, Mick Greer; Encenação; José Peixoto; Companhia do Teatro dos Aloés; Intérpretes: Daniel Martinho, Elsa Valentim, Jorge Silva; Cenografia e figurinos: Ana Paula Rocha (sobre um projecto de José Carlos Faria); Desenho de luz: Jochen Pasternacki; Design gráfico: Rui Pereira; Assistente de encenação: Joana Vidal; Vídeo: Eduardo Silveira; Fotografia: Margarida Dias; Produção executiva: Gislaine Tadwald, Joana Pães; Duração: 2H00 (com intervalo); Classificação: M/ 12.

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