HOMEM DE AÇO
Inaugurou-se em Lisboa, no Colombo, uma sala IMAX, 3 D.
Já tinha visto várias salas IMAX em diversas cidades, mesmo Vila Franca de Xira
já tivera a sua.
IMAX é ecrã maior, maior precisão de imagem, som mais
envolvente e mais potente. Em suma, mais de tudo.
Tudo o que tinha visto até hoje em salas IMAX explorava
sobretudo as possibilidades das belezas naturais e do património arquitectónico,
sempre bem acondimentado nalguns efeitos espectaculares. Muito espectáculo, é
verdade, mas nada de muito especial em termos de cinema. Como não sou por
natureza negativista nem radical, acredito que dali possam vir experiências a
reter.
Mas não foi ainda com “Homem de Aço” que o IMAX se me
impôs. Na verdade, cheguei apenas a uma constatação: se um filme é mau, em IMAX
é muito pior. Foi esta a minha dolorosa conclusão.
Vejamos: nada tenho contra o “Super-Homem”. Muito pelo
contrário. É dos heróis de banda desenhada de que mais gosto. E os filmes com
Clark Kent/Superman, interpretados por Christopher Reeves, são dos meus
favoritos no domínio dos “comics” norte-americanos adaptados ao cinema
(juntamente com “Batman” e “Homem Aranha”).
Fui, pois, ver esta aventura pela curiosidade de
experimentar o IMAX do Colombo, e de ver o que tinham feito ao Super-Homem
nesta nova versão. Esportulei 10 euros para entrar na sala, munido de óculos e alguma
boa vontade, tanto mais que Christopher Nolan, um cineasta que muito prezo,
assina argumento e entra na produção, e a realização vinha assinada por Zack
Snyder, que tinha dirigido um curioso “300”, muito visual e com algum bom
gosto. Mas, quando à saída se entregam os óculos aos solícitos empregados que
nos esperam à porta, meu Deus!, que alívio!
Este “Homem de Aço” procura ir aos alicerces da figura e
perceber o que aconteceu a esta personagem antes de chegar a ser jornalista no
“The Planet”. Tudo começa no planeta “Cripton” à beira de extinção, com facções
rivais a disputarem o poder. Jor-El (Russell Crowe) é o pai de um bebé que é o
primeiro desde há muito que nasce por processos “naturais”, e juntamente com a
sua mulher, Lara Lor-Van (Ayelet Zurer), resolvem salvar o filho e enviá-lo
para a Terra a bordo de uma nave. Mas o General Zod (Michael Shannon)
fica furioso e jura vingar-se.
Há alguns anos, tinha eu um programa na TVI, um meu
espectador habitual escreveu-me um dia comentado que determinado filme tinha
muito bons efeitos “pirotécnicos”. Foi uma expressão que não mais esqueci. Pois
bem, essas pirotecnias não eram nada comparadas com esta vertigem de imagens e
sons que ensurdecem qualquer um e o deixam com os olhos em bico. Por isso, se
tiver mesmo que ir ver “Homem de Aço” na sala IMAX, não fique nas primeiras dez
filas da frente, que se arrisca a endoidecer. Mas, se for por mim, neste caso, o
melhor mesmo é ficar à porta a ver o cartaz.
Com o super miúdo já na Terra, com pais adoptivos (Kevin
Costner e Diane Lane), os super poderes começam a manifestar-se para grande
felicidade dos efeitos especiais. Há desastres e ameaças de todo o tipo, numa
galopante cavalgada para coisa nenhuma, onde chegam, esfalfados e quase sem
habitantes nos EUA e arranha-céus em Nova Iorque. O espalhafato é mais que
muito, mas qualquer tipo medianamente sensível agradecia que Christopher Reeves
voltasse para voar discretamente pelos céus, com Lois Lane nos braços. Nesses
filmes havia poesia e lirismo, e voar era uma forma de libertação.
Aqui o “sexy” Henry Cavill, que interpreta o papel de
Super-Homem ou Homem de Aço, como preferirem (e, sim, há uma polícia que no
final lhe chama “sexy”!), não voa, não é “nem um avião, nem um pássaro”, é um
foguete lançado de Cape Canaveral que mal se começa a ver, desaparece no
horizonte.
O filme de Zack Snyder tem outra característica tremenda.
Dir-se-ia que vai terminar duas ou três vezes e quando se suspira pelo seu término,
há sempre mais um vilão que sobrevive para mais uma tremenda contenda nos céus
e na terra, com naves a estilhaçarem-se, carros aos soluços, edifícios a
desmoronarem-se e a nossa paciência a esgotar-se.
É tudo mau? É tudo muito mau, e em grande, sim. Mesmo os
actores que admiramos, e há vários, como as belas Amy Adams, Diane Lane, Antje
Traue, Ayelet Zurer, e ainda Michael Shannon, Russell Crowe, Kevin Costner ou
Laurence Fishburne, apetece perguntar que andam eles por ali fazer. E já agora,
Christopher Nolan, que ideia foi esta de aparecer na produção e na escrita do
argumento desta cegada planetária que entontece qualquer um?
É disto que certo público gosta actualmente? Deste
completo embrutecimento dos sentidos? Desta descomunal anestesia geral? Bom,
aqui não há cinema nenhum. Apetece implorar pelas séries Z de ficção científica
dos anos 50 do século passado. Façam favor de não misturarem as coisas: cinema
aqui encontra-se talvez numa das salas ao lado.
HOMEM DE AÇO
Título original:
Man of Steel
Director: Zack Snyder (EUA, Canadá, Inglaterra, 2013); Argumento:
David S. Goyer, Christopher Nolan, segundo personagens criadas por Jerry Siegel
e Joe Shuster; Produção: Wesley Coller, Christopher Nolan, Charles Roven,
Deborah Snyder, Emma Thomas; Música: Hans Zimmer; Fotografia (cor): Amir Mokri;
Montagem: David Brenner; Casting: Kristy Carlson, Lora Kennedy; Design de
produção: Alex McDowell; Direcção artística: Chris Farmer, Kim Sinclair;
Decoração: Anne Kuljian; Guarda-roupa: James Acheson, Michael Wilkinson; Maquilhagem:
Anji Bemben, Victoria Down, Suzi Ostos, Cheryl Pickenback; Direcção de
produção: Lisa Gildehaus, Karen Jarnecke, James R. McAllister, Jim Rowe, Andrea
Wertheim, Gregor Wilson, Jason Pomerantz (versão IMAX); Sirector de segunda
unidade: Damon Caro; Assistentes de realização: Bruce Moriarty, Gordon Piper,
Brian Sepanzyk, Clay Staub, Rhonda Taylor; Departamento de arte: Andrea Carter,
Steve Jung, Carol Kiefer, Ben Mauro, Ed Natividad, Carie Wallis, Milena
Zdravkovic; Som: Eric A.; Efeitos especiais: Allen Hall, Scott Kodrik, Joel
Whist; Efeitos visuais: Valdone Cerniute, Sarah Cripps, Isabelle Fleck, Sofus
Graae, Danny Huerta, Ashley Irving-Scott, Woojo Jeon, Abigail Mendoza, James
Purdy, Max Rees, Rebecca Scott, Ged Wright, etc. Companias de produção: Warner
Bros.; Legendary Pictures, Syncopy, DC Entertainment, Third Act Productions; Intérpretes: Henry Cavill (Clark Kent /
Kal-El), Amy Adams (Lois Lane), Michael Shannon (General Zod), Diane Lane
(Martha Kent), Russell Crowe (Jor-El), Antje Traue (Faora-Ul), Harry Lennix
(General Swanwick), Richard Schiff (Dr. Emil Hamilton), Christopher Meloni
(Colonel Nathan Hardy), Kevin Costner (Jonathan Kent), Ayelet Zurer (Lara
Lor-Van), Laurence Fishburne (Perry White), Dylan Sprayberry (Clark Kent (13
anos), Cooper Timberline (Clark Kent (9 anos), Richard Cetrone, Mackenzie Gray,
Julian Richings, Mary Black, Samantha Jo, Michael Kelly, Rebecca Buller,
Christina Wren, David Lewis, Tahmoh Penikett, Doug Abrahams, Brad Kelly, David
Paetkau, etc. Duração: 143 minutos;
Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal;
Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 27 de Junho de
2013.
1 comentário:
é o segundo comentário muito mau sobre o filme.
isto das sequelas e das repetições e imitações tem muito que se lhe diga.
deviam saber que para pior já basta assim, mas olhando para os exemplos do mundo e do nosso Portugal, não sei não...
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