MARAT-SADE
O Teatro Experimental de Cascais tem em cena “Marat-Sade” de
Peter Weiss, numa encenação de Carlos Avilez, com um elenco de várias dezenas
de intérpretes, entre actores da companhia e alunos do curso de teatro. São
cerca de 90 pessoas a intervir, um acontecimento “impossível” de acontecer num
teatro em Portugal, actualmente, senão em circunstâncias muito especiais, como
é o caso.
“Marat-Sade: a perseguição e assassinato de Marat tal como
representado pelos pacientes do Hospício de Charenton sob a direcção de Marquês
de Sade” (em alemão Die Verfolgung und Ermordung Jean Paul Marats dargestellt
durch die Schauspielgruppe des Hospizes zu Charenton unter Anleitung des Herrn
de Sade) foi escrita pelo alemão Peter Weiss, em 1963, e desde logo conheceu
grande sucesso e provocou larga polémica. A acção decorre no ano de 1808, em
tempo napoleónico, quinze anos depois do assassinato de Marat, às mãos de
Charlotte Corday, em 1793. Estamos numa época pós-revolucionária, onde existem
revolucionários para todos os gostos e tendências, quase todos vítimas das suas
próprias acções e palavras: Marat, Robespierre, Danton, o próprio Sade. A peça
coloca frente a frente Sade e Marat, numa discussão filosófica e política sobre
a revolução, vista de um prisma individual (Sade) e de uma óptica social
radical (Marat). A ideia é que a peça a que assistimos, na sala de banhos do
hospício, foi escrita e encenada por Sade, e está a ser representada pelos
loucos ali internados. Há entrechoque de interesses e de perspectivas diversas,
o que torna aliciante este teatro épico, que fica a dever muito ao teatro da
crueldade de Artaud e ao distanciamento de Brecht.
O conceito é brilhante, o seu desenvolvimento notável, de
uma inteligência e actualidade gritantes, e o espectáculo erguido na sala do
Teatro Municipal Mirita Casimiro não deixa de ser um acontecimento a merecer os
maiores encómios, quer pela encenação imaginativa e lúcida de Avilez, como pela
direcção de um elenco muito jovem na sua maioria que, sabiamente dirigido,
consegue fazer esquecer que quase todos são alunos de uma escola de teatro.
Assisti a uma representação onde estava presente o primeiro elenco (existiram
três durante a sua representação) e devo dizer que, apesar de ser difícil
identificar nomes no meio de um tal grupo, não poderei deixar de salientar a
presença de David Esteves, em Marat, Laura Stone, em Simonne, Pedro Caeiro, em
Coulmier, Jani Zhao, em Arauto (apesar de algum excesso de voz, por vezes), ou
o mais tarimbado António Marques, em Sade, entre muitos outros. David Esteves é
mesmo uma revelação, com excelente presença, magnífica dicção e uma
desenvoltura que faz adivinhar um grande actor.
A mescla de dança, música, entremez, representação funciona
muito bem, relembrando aqui e ali a concepção de 1966, de Peter Brooks, que
encenou a peça em teatro e, posteriormente, dirigiu uma versão cinematográfica
notável.
A sala do TEC tem estado esgotada e a última sessão acontece
terça, 13 de Agosto. A não perder.
“Marat-Sade:
a perseguição e assassinato de Marat tal como representado pelos pacientes do
Hospício de Charenton sob a direcção de Marquês de Sade”
(Die Verfolgung und Ermordung Jean Paul Marats dargestellt durch die
Schauspielgruppe des Hospizes zu Charenton unter Anleitung des Herrn de Sade),
de Peter Weiss.
Versão e Dramaturgia: Miguel Graça;
Encenação: Carlos Avilez; Cenografia e Figurinos: Fernando Alvarez; Música
original: R. C. Peaslee; Coreografia: Natasha Tchitcherova; Apoio vocal: Ana
Ester Neves; Apoio contexto histórico: Ana Coelho; Apoio às patologias:
Cristina Rego; Direcção Musical: Maestro Hugo Neves Reis; Assistência de
direcção musical: Pedro Sousa; Músicos: Alexandre Andrade, trompete | André
Mota, percussão | Bernardo Marques, harmónio | Dina Hernandez, flauta | Gil
Gonçalves, tuba | Hugo Reis, guitarra e percussão | Pedro Sousa, contrabaixo;
Gravação e Edição da Banda Sonora: Maestro Hugo Neves Reis e Pedro Sousa;
Direcção de montagem: Manuel Amorim; Montagem e Sonoplastia: Augusto Loureiro;
Montagem e Contra-regra: Rui Casares; Assistência de encenação: Pedro Caeiro e
Renato Pino; Assistência de ensaios e Operação de luz: Jorge Saraiva; Produção
e Comunicação: Elsa Barão; Secretariado: Inácia Marques; Contabilidade: Ana
Landeiroto; Cabeleiras: Gena Ramos; Toucados: Virgínia Rico; Interpretação:
António Marques, Fernanda Neves, Luiz Rizo, Pedro Caeiro, Renato Pino, Sérgio
Silva, Teresa Côrte-Real, Ana Fernandes, Andreia Valles, Beatriz Bonzinho,
Brandão de Mello, Bruno Bernardo, Carlos
Braz, Carlos Trindade, Miguel Ferraria, Carolina Evaristo, Catarina Névoa,
Cláudia Barbosa, David Esteves, David Filipe Fernandes, Gonçalo Lucas, Inês
Frias Moreira, Inês Realista, Jani Zhao, Joana Lobo, Joana Caetano Calado, João
Cachola, João de Vasconcelos, Laura Stone, Mariana Graça, Matilde Oliveira,
Patrícia Godinho, Pedro Jorge, Rafael Costa, Raquel Rosado, Rita Correia, Rita
Silvestre, Rui Lemos, Rui Westermann, Sílvia Braga, Simão Vaz, Simão Soveral
Rodrigues, Tatiana Freire, Teresa Alves e alunos dos 1º e 2º anos da Escola
Profissional de Teatro de Cascais; Teatro Experimental de Cascais; Teatro
Municipal Mirita Casimiro, Estoril; Classificação: maiores de 16 anos.
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