SHARKNADO,
TUBARÃO ASSASSINO
Vamos lá ver como abordar este filme.
Há algum tempo atrás, eu achava que os filmes fantásticos e de terror eram
quase sempre bons de ver. Ou eram bem feitos, inteligentes e sugestivos, o que
os tornava bons em absoluto, ou eram maus, mal feitos, parvos, ingénuos, e eram
divertidíssimos. Creio que foi assim que o Fantasporto ganhou fama e público
fiel: quase nunca se dava por mal empregue o tempo. Depois as coisas pioraram
com o aparecimento em grande dos efeitos especiais, e passaram a existir muitos
filmes que não eram nem carne nem peixe, e que já não davam gozo nenhum.
Afastei-me um pouco do género, procurando agora só lá ir mais ou menos com
alguma certeza de qualidade, inclusive porque não sou fã incondicional do
“gore”, e este é o subgénero em moda.
Há dias, num trailer visto no IMDB, vi
o anúncio a “Sharknado 2”, e fiquei
alerta. Fui investigar e descobri que “Sharknado” tinha sido um filme
para televisão que tinha sido dos mais vistos nos EUA em 2013. De tal forma que
se anunciava a sequela para 2014, de novo na TV, com estreia programada para 30
de Julho. Numa ida à Fnac descobri “Sharknado” e foi irresistível. De regresso
a casa, vi-o de imediato.
E agora não sei como começar esta nota
sem cair no total descrédito dos meus leitores. Realizado por Anthony C.
Ferrante (que, antes deste, tinha dirigido curtas e “A Maldição do Cavaleiro
Sem Cabeça”, 2007, e “Boo a Casa Maldita”, 2005, que desconhecemos), escrito
por Thunder Levin (que escreveu e dirigiu algumas películas de terror, como a
esclarecedora “Mutant Vampire Zombies from the 'Hood!”, 2008), “Sharknado” não
se pode dizer que seja um bom filme. O argumento é delirante, dos mais
delirantes que eu conheço, a realização é fraca, os actores são medíocres, e,
no entanto, ver “Sharknado” é um experiência divertidíssima (sobretudo para os
apreciadores do género. Quem só gosta de Dreyer e Ozu é favor abster-se!).
Os que continuarem a ler necessitam
agora de algumas referências mais precisas. Estamos em Santa Mónica, na Califórnia,
uma praia carregada de banhistas, um barzinho sobre as areias, uma roda
gigante, o mar cada vez mais agitado, o que faz a felicidade dos surfistas, até
que os tubarões dão à costa. Nada de muito novo. Spielberg já nos dera a versão
definitiva e há dezenas de outros títulos a ilustrar o terror e a catástrofe.
As pessoas começam a fugir da praia e a
procurarem terrenos mais elevados, porque o mar invade tudo e atira com a roda
gigante contra um edifício, mas aproximam-se três tornados que vão devastar a
zona de Los Angeles. Com uma característica invulgar (única, julgo eu): os
tornados sugaram as águas do oceano, com elas vieram os tubarões aos milhares,
que se começam a abater sobre as ruas, as avenidas, as casas, os viadutos, as
piscinas locais, e a provocarem o caos e uma carnificina total. É o terror, há
um grupo de sobreviventes que vai organizando “a resistência” (com alguns
problemas familiares pelo meio, boa altura para discutir se a filha gosta ou
não do pai…) e assiste-se a alguns dos momentos mais divertidos que me foram
dado ver nos últimos anos em filmes semelhantes. Já pensaram o que é caírem do
céu milhares de tubarões famintos que agarram no que podem em pleno voo? Já
imaginaram um tipo, munido de serra mecânica, a aviar tubarões no ar? Já
idealizaram a cena de esse tipo entrar pela boca de um tubarão com a serra
mecânica em punho e sair do outro lado, trazendo consigo uma rapariga, a
empregada do bar, que havia sido deglutida sequências atrás? Respiração boca a boca e aproxima-se o final
feliz, certamente com palmas entusiásticas da assistência. Enfim, como diz uma
personagem do filme, “a minha mãe sempre me disse que Hollywood ia matar-me!”
Cumpriu-se a profecia.
É um mau filme? É. Mas recupera o
maravilhoso do cinema de Méliès e das barracas de feira do início do
cinematógrafo. Será assim tão mau? Eu acho magnífico e fico à espera, com
entusiasmo, pela sequela, agora passada em Nova Iorque. Com Estátua da
Liberdade e tudo. Já se pode ver no cartaz.
SHARKNADO,
TUBARÃO ASSASSINO
Título
original: Sharknado
Realização: Anthony C.
Ferrante (EUA, 2013) (TV); Argumento: Thunder Levin; Produção: Paul Bales,
David L. Garber, David Michael Latt, Geoffrey Mark, Karen O'Hara, Cody Peck,
Chris Regina, David Rimawi, Thomas P. Vitale, Devin Ward; Música: Ramin Kousha;
Fotografia (cor): Ben Demaree; Montagem:
William Boodell; Casting: Gerald Webb; Design de produção: Vincent Albo;
Direcção artística: Ashley Hasenyager; Decoração: Moana Hom; Guarda-roupa: Amber Hamzeh; Maquilhagem: Megan Areford;
Direcção de Produção: Julie Richheimer;
Assistentes de realização: Cristy Arboleda, Maximilian Elfeldt, Esther Elise
Johnson, Geoffrey Mark, John Mehrer, Tim McDaniel; Departamento de arte: Mike
DiGrazia, Mike DiGrazia, Susan Donner, Naoko Inada; Som: Alexander X.
Hutchinson, Cody Lawrence, Craig Polding, Lisa Ries; Efeitos especiais: Matt
Langford, Alex Rondon, Sandy Zywocienski, Joseph Cornell, Josh Foster; Efeitos
visuais: Ken Brilliant, Joseph J. Lawson, Geoffrey Mark, Emile Edwin Smith,
Sandell Stangl; Companhias de produção:
The Asylum, Southward Films; Intérpretes:
Ian Ziering (Fin Shepard), Tara Reid (April Wexler), John Heard (George) Cassandra
Scerbo (Nova Clarke), Jaason Simmons (Baz Hogan), Alex Arleo (Bobby), Neil H.
Berkow (Carl Hubert), Heather Jocelyn Blair (Candice), Sumiko Braun (Deanna), Diane
Chambers (Agnes), Julie McCullough, Marcus Choi, Israel Sáez de Miguel, Tiffany
Cole, Trish Coren, Chuck Hittinger, Aubrey Peeples, Michael Teh, Connor Weil, Christopher
Wolfe, Steve Moulton, Robbie Rist, David Bittick, etc. Duração: 85 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Film4you;
Classificação etária: M/ 14 anos; Emissão nos EUA: 11 de Julho de 2013.