segunda-feira, julho 28, 2014

DVD: SHARKNADO, TUBARÃO ASSASSINO


SHARKNADO, TUBARÃO ASSASSINO

Vamos lá ver como abordar este filme. Há algum tempo atrás, eu achava que os filmes fantásticos e de terror eram quase sempre bons de ver. Ou eram bem feitos, inteligentes e sugestivos, o que os tornava bons em absoluto, ou eram maus, mal feitos, parvos, ingénuos, e eram divertidíssimos. Creio que foi assim que o Fantasporto ganhou fama e público fiel: quase nunca se dava por mal empregue o tempo. Depois as coisas pioraram com o aparecimento em grande dos efeitos especiais, e passaram a existir muitos filmes que não eram nem carne nem peixe, e que já não davam gozo nenhum. Afastei-me um pouco do género, procurando agora só lá ir mais ou menos com alguma certeza de qualidade, inclusive porque não sou fã incondicional do “gore”, e este é o subgénero em moda.
Há dias, num trailer visto no IMDB, vi o anúncio a “Sharknado 2”, e fiquei  alerta. Fui investigar e descobri que “Sharknado” tinha sido um filme para televisão que tinha sido dos mais vistos nos EUA em 2013. De tal forma que se anunciava a sequela para 2014, de novo na TV, com estreia programada para 30 de Julho. Numa ida à Fnac descobri “Sharknado” e foi irresistível. De regresso a casa, vi-o de imediato.
E agora não sei como começar esta nota sem cair no total descrédito dos meus leitores. Realizado por Anthony C. Ferrante (que, antes deste, tinha dirigido curtas e “A Maldição do Cavaleiro Sem Cabeça”, 2007, e “Boo a Casa Maldita”, 2005, que desconhecemos), escrito por Thunder Levin (que escreveu e dirigiu algumas películas de terror, como a esclarecedora “Mutant Vampire Zombies from the 'Hood!”, 2008), “Sharknado” não se pode dizer que seja um bom filme. O argumento é delirante, dos mais delirantes que eu conheço, a realização é fraca, os actores são medíocres, e, no entanto, ver “Sharknado” é um experiência divertidíssima (sobretudo para os apreciadores do género. Quem só gosta de Dreyer e Ozu é favor abster-se!).


Os que continuarem a ler necessitam agora de algumas referências mais precisas. Estamos em Santa Mónica, na Califórnia, uma praia carregada de banhistas, um barzinho sobre as areias, uma roda gigante, o mar cada vez mais agitado, o que faz a felicidade dos surfistas, até que os tubarões dão à costa. Nada de muito novo. Spielberg já nos dera a versão definitiva e há dezenas de outros títulos a ilustrar o terror e a catástrofe. As pessoas começam a  fugir da praia e a procurarem terrenos mais elevados, porque o mar invade tudo e atira com a roda gigante contra um edifício, mas aproximam-se três tornados que vão devastar a zona de Los Angeles. Com uma característica invulgar (única, julgo eu): os tornados sugaram as águas do oceano, com elas vieram os tubarões aos milhares, que se começam a abater sobre as ruas, as avenidas, as casas, os viadutos, as piscinas locais, e a provocarem o caos e uma carnificina total. É o terror, há um grupo de sobreviventes que vai organizando “a resistência” (com alguns problemas familiares pelo meio, boa altura para discutir se a filha gosta ou não do pai…) e assiste-se a alguns dos momentos mais divertidos que me foram dado ver nos últimos anos em filmes semelhantes. Já pensaram o que é caírem do céu milhares de tubarões famintos que agarram no que podem em pleno voo? Já imaginaram um tipo, munido de serra mecânica, a aviar tubarões no ar? Já idealizaram a cena de esse tipo entrar pela boca de um tubarão com a serra mecânica em punho e sair do outro lado, trazendo consigo uma rapariga, a empregada do bar, que havia sido deglutida sequências atrás?  Respiração boca a boca e aproxima-se o final feliz, certamente com palmas entusiásticas da assistência. Enfim, como diz uma personagem do filme, “a minha mãe sempre me disse que Hollywood ia matar-me!” Cumpriu-se a profecia.
É um mau filme? É. Mas recupera o maravilhoso do cinema de Méliès e das barracas de feira do início do cinematógrafo. Será assim tão mau? Eu acho magnífico e fico à espera, com entusiasmo, pela sequela, agora passada em Nova Iorque. Com Estátua da Liberdade e tudo. Já se pode ver no cartaz.

SHARKNADO, TUBARÃO ASSASSINO
Título original: Sharknado

Realização: Anthony C. Ferrante (EUA, 2013) (TV); Argumento: Thunder Levin; Produção: Paul Bales, David L. Garber, David Michael Latt, Geoffrey Mark, Karen O'Hara, Cody Peck, Chris Regina, David Rimawi, Thomas P. Vitale, Devin Ward; Música: Ramin Kousha; Fotografia (cor):  Ben Demaree; Montagem: William Boodell; Casting: Gerald Webb; Design de produção: Vincent Albo; Direcção artística: Ashley Hasenyager; Decoração:  Moana Hom; Guarda-roupa:  Amber Hamzeh; Maquilhagem: Megan Areford; Direcção de Produção:  Julie Richheimer; Assistentes de realização: Cristy Arboleda, Maximilian Elfeldt, Esther Elise Johnson, Geoffrey Mark, John Mehrer, Tim McDaniel; Departamento de arte: Mike DiGrazia, Mike DiGrazia, Susan Donner, Naoko Inada; Som: Alexander X. Hutchinson, Cody Lawrence, Craig Polding, Lisa Ries; Efeitos especiais: Matt Langford, Alex Rondon, Sandy Zywocienski, Joseph Cornell, Josh Foster; Efeitos visuais: Ken Brilliant, Joseph J. Lawson, Geoffrey Mark, Emile Edwin Smith, Sandell Stangl;  Companhias de produção: The Asylum, Southward Films; Intérpretes: Ian Ziering (Fin Shepard), Tara Reid (April Wexler), John Heard (George) Cassandra Scerbo (Nova Clarke), Jaason Simmons (Baz Hogan), Alex Arleo (Bobby), Neil H. Berkow (Carl Hubert), Heather Jocelyn Blair (Candice), Sumiko Braun (Deanna), Diane Chambers (Agnes), Julie McCullough, Marcus Choi, Israel Sáez de Miguel, Tiffany Cole, Trish Coren, Chuck Hittinger, Aubrey Peeples, Michael Teh, Connor Weil, Christopher Wolfe, Steve Moulton, Robbie Rist, David Bittick, etc. Duração: 85 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Film4you; Classificação etária: M/ 14 anos; Emissão nos EUA: 11 de Julho de 2013. 

domingo, julho 13, 2014

TEATRO: TRÊS MULHERES ALTAS



TRÊS MULHERES ALTAS


“Três Mulheres Altas”, de Edward Albee, é considerada uma das peças mais pessoais, mesmo autobiográficas em muito do seu traçado, do autor de “Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?” que a escreveu pouco tempo após a morte da sua mãe adoptiva. É também dos seus trabalhos menos conhecidos e ainda bem que o Teatro Nacional de D. Maria II a deu a conhecer agora, pois se trata de um trabalho extremamente interessante, uma obra cénica de notável concepção, interligando em palco o discurso de três mulheres, em três fases distintas da sua vida, juventude, maturidade e velhice, que rapidamente se descobre serem a mesma pessoa, justapondo momentos diferentes da sua existência que dialogam entre si.
Esta dolorosa, e por vezes divertida, meditação sobre a vida (e a morte), sobre as relações humanas (aqui uma especial referência às relações com o filho, quase sempre ausente, seguramente uma das “culpas” a espiar por Albee), é um discurso intimista de uma agudeza de análise e de um humanismo que raras vezes se vê em palcos, com tal profundidade e clareza. Por entre um certo desespero, algum conformismo que roça também a revolta, e uma esperança sempre presente, “Três Mulheres Altas” ficará certamente como um dos bons espectáculos deste ano de 2014, servido por uma inteligente e límpida encenação de Manuel Coelho, inscrita num bom cenário de F. Ribeiro, plasticamente bonito e cenicamente eficaz.  As três mulheres oferecem matéria para Catarina Avelar brilhar num desempenho magnífico, Inês Castel-Branco demonstrar todas as suas qualidades e potencialidades e Paula Mora marcar igualmente uma boa presença. Um bom espectáculo, portanto, que se saúda



TRÊS MULHERES ALTAS (Three Tall Women), de Edward Albee; tradução Marta Mendonça; encenação Manuel Coelho; cenografia F. Ribeiro; figurinos Dino Alves; música original José Salgueiro; desenho de luz José Carlos Nascimento; cabelos e maquilhagem Carla Pinho; assistência de encenação José Neves; Intérpretes: Catarina Avelar, Inês Castel-Branco, Paula Mora e José Neves; produção TNDM II; M/16 anos.