A ÚLTIMA NOITE DE JÁCOME CASANOVA (ULTIMA NOTTE DI GIACOMO CASANOVA), de Stefano Massini, com encenação e interpretação de Mario M. Giorgetti
“Ultima Notte di Giacomo Casanova” é uma peça para um actor só, que nos fala da última noite de Giacomo Casanova. É autor da obra um jovem dramaturgo, Stefano Massini, que procura penetrar no universo de Casanova e, através das suas confidências, recuperar a memória da sua vida passada e as angústias da noite que se aproxima do adeus. Hedonista confesso, homem que amava a beleza do corpo das mulheres (e do seu próprio corpo, quando jovem), embriagado pelos prazeres da vida, não consegue enfrentar calmamente a decadência física e “os lábios que já não beijam” (frase com que abre o monólogo e que desde logo denuncia o seu andamento). Este balanço de uma vida olhado pela inexorável velhice e a solidão que esta acarreta é um tema recorrente em quem dedicou a existência ao culto dos deleites e se sente para sempre deles afastado. Nostálgico? Passadista? É o que é, a vida tem um fim, todos o sabemos, e encarar o desfecho é sempre doloroso, queira-se ou não dar a sensação de negativismo. É o que se passa com Casanova, e a versão que Stefano Massini oferece desta noite de recordações e de terrores tem a sua justificação óbvia. Não sendo um grande texto, notando-se aqui e ali alguma tendência para a grandiloquência e o “poético” pomposo, acaba por ser uma obra que se acompanha bem e que permite ao actor um monólogo esforçado e vibrante. Stefano Massini (nascido em Florença em 1975) é um dos mais promissores jovens escritores italianos. Em 2007 recebeu o Prémio Nacional da Crítica para jovens escritores, e em 2005 venceu o maior prémio de dramaturgia italiano: o Pier Vittorio Tondelli. As suas obras estão publicadas na editora Ubulibri, tendo sido traduzidas em português, francês, alemão e checo. Entre as suas peças mais conhecidas encontram-se “La Gabbia”, “Donna non Rieducabile”, “L’Odore Assordante del Bianco”, e “Processo a Dio”, encenadas quer em Itália, como no estrangeiro. Num bem elaborado cenário único, “Ultima Notte di Giacomo Casanova” decorre no escritório, ou na sala de estar, do palácio de Giacomo Casanova, na noite anterior à sua morte. Giacomo Girolamo Casanova, nasceu em Veneza, a 2 de Abril de 1725, filho de uma jovem actriz de apenas 17 anos de idade e, conta-se, de um nobre, Michele Grimani, proprietário do Teatro de San Samuele, onde a mãe de Casanova passou a actuar. Com uma vida tumultuosa, apesar de inicialmente orientado para a vida eclesiástica, Casanova ganhou uma reputação mítica que envolve toda a sua existência de libertino ou debochado, coleccionador de mulheres, escroque ou sedutor, conquistador empedernido que percorria os bordéis de Londres todas as noites para ter relações com mais de 60 meretrizes, ou aventureiro audaz que conseguia fugir das masmorras do Palácio Ducal de Veneza, numa rocambolesca evasão pelos telhados do palácio, depois de estar prisioneiro durante 16 meses. Atravessa a fronteira, chega a Munique, e só regressa a Veneza vinte anos mais tarde, em 1785, vindo de Trieste e com a missão de escrever regularmente relatórios secretos para a Inquisição de Veneza sobre as pessoas que ele frequenta nas suas longas noites de jogo e de dissolução. Aceita, pois denunciar amigos e conhecidos, existindo cerca de 50 relatórios onde ele acusa nobres e banqueiros de adultério e deboche, da posse de livros cabalísticos e proibidos, de conjura contra o Estado ou de vigarices, crimes que afinal ele próprio tão bem conhecia. Em 1772, é recebido novamente no palácio dos Grimani, uma família aristocrata de Veneza, onde acaba por ser humilhado por causa das dívidas do jogo. Vinga-se e escreve um panfleto intitulado "Nem Amor Nem Mulheres ou o Limpador dos Estábulos", onde é facilmente reconhecido o nobre Grimani. A Inquisição ameaça-o e é forçado a abandonar Veneza onde nunca mais regressou. Viaja até Paris e transforma-se num enciclopedista na tradição de Voltaire, Diderot ou D' Alembert. Percorre Avinhão, Marselha, Florença, Roma, Praga, São Petersburgo, Istambul e Viena, conhecendo grande parte das personagens relevantes da sua época. Nos últimos anos da sua vida escreve um romance, “Isocameron”, e redige as suas memórias, “História da Minha Vida”, que se assumem como um retrato fascinante de uma época. Publicado inicialmente em 1822-25, fizeram-se depois múltiplas edições novas, retocadas. O original integral só foi conhecido em 1960, em 28 volumes, onde confessa (ou vangloria-se) de ter dormido (um eufemismo certamente) com 122 mulheres ao longo de toda a sua vida. Morre em Dux, na Boémia, a 4 de Junho de 1798. A peça recupera a última noite de vida, com Casanova ainda a recordar momentos da sua vida passada, e dirigindo-se a um criado, Jacques, que vai escrevendo o que vai ouvindo, criado esse que nós, espectadores nunca vemos. Mario Mattia Giorgetti, encenador e único actor, é um nome importante do actual teatro italiano, tendo realizado mais de sessenta encenações para o teatro e contando outras tantas actuações como actor. Diplomado em 1961 pelo Piccolo Teatro de Milão como actor e encenador, trabalhou durante dois anos com Giorgio Strehler e depois com Orazio Costa Giovangigli. Em 1967 fundou o Centro Attori La Contemporanea, de que é director artístico. Ao longo da sua carreira como encenador dirigiu textos de Samuel Beckett, Ionesco, Camus, Genet, Gianni Hottm, Carlo Terron, Albee e Molière. A sua interpretação de Giacomo Casanova é interessante e representa um opção de base corajosa, pois passa a hora do monologo, sentado, frente ao público, cercado de mesas e livros, copos e garrafas, adereços de todo o género, de que se vai servindo. O monólogo por vezes é um pouco estereotipado na sua exuberância, mas acaba por cativar o espectador pelo arrojo da escolha. Um espectáculo que não ombreia ao lado dos melhores desta edição de Almada, mas não deslustra.
A ÚLTIMA NOITE DE JÁCOME CASANOVA (ULTIMA NOTTE DI GIACOMO CASANOVA), de Stefano Massini, com encenação e interpretação de Mario M. Giorgetti; Duração: 1h00; Classificação: M12.
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