sábado, dezembro 29, 2012

CINEMA: OS PREFERIDOS

CINEMA: OS MELHORES DE 2012 
Confesso que este foi um ano em que fui pouco ao cinema (pouco, para o que era a minha norma, uma norma que às vezes me colocava numa sala de cinema das 8 da manhã até à noite, o que também não era saudável, convenhamos). Mesmo assim vi umas boas dezenas de filmes. Entre os que mais gostei, aqui ficam as minhas preferências:
AMOR, de Michael Haneke (Áustria)
O CAVALO DE TURIM, de Bela Tarr (Hungria)
O GEBO E A SOMBRA, de Manoel de Oliveira (Portugal)
COSMOPOLIS, de David Cronenberg (Canadá)
PROCUREM ABRIGO, de Jeff Nichols (EUA)
A INVENÇÃO DE HUGO, de Martin Scorsese (EUA)
MILENNIUM 1 – OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES, de David Fincher (EUA)
A VERGONHA, de Steve McQueen (Inglaterra)
HOLY MOTORS, de Leos Carax (França)
AGRUTA DOS SONHOS PERDIDOS, de Werner Herzog (Alemanha)
AS FLORES DA GUERRA, de Zhan Yimou (China)
4.44 ÚLTIMO DIA DA TERRA, de Abel Ferrara (EUA)
E num ano bom para o cinema português é conveniente não esquecer ainda
TABU, de Miguel Gomes
ESTRADA DE PALHA, de Rodrigo Areias
FLORBELA, de Vicente Alves d’ O
O BARÃO, de Edgar Pera (este não sei se estreou este ano, eu vi-o este ano, e, como gostei, fica)
E a completar, eu sei: foi um ano depressivo para burro! Ou para cavalo.

FICÇÃO PORTUGUESA NA RTP

DE "FLORBELA" A "4."
 
Constipação, período natalício, frio e preguiça têm-me retido algum tempo frente à televisão. Vi por isso os quatro episódios da série “4.” e os três de “Perdidamente Florbela” e, de um modo geral, dei por bem empregue o meu tempo. Começando pela obra de Vicente Alves d’ O, há que referir que já tinha gostado bastante do filme e que a série talvez me tenha ainda agradado mais. Bom trabalho de direcção de actores, realização fluente e sensível, cuidada e geralmente de muito bom gosto, com uma excelente direcção de arte que criou cenários plausíveis e plasticamente bem aproveitados. Os actores comportaram-se a muito bom nível e afigura-se-me que é série para fazer um bom percurso pelos festivais do género do estrangeiro.

Bastante diferente é o caso de “4.”, uma mini-série de 4 telefilmes autónomos entre si, ligados apenas por cada um deles reflectir um olhar sobre “Portugal Hoje”. Quatro escritores dos mais sonantes da nova geração escreveram uma história que representa a sua visão sobre o Portugal contemporâneo. José Luís Peixoto escreveu “Entre as Mulheres”, Pedro Mexia “Bloqueio”, João Tordo “Crónica de uma Revolução Anunciada” e Valter Hugo Mãe “A Morte dos Tolos”. Infelizmente os três primeiro deixaram muito a desejar, histórias algo descabeladas de encontros e desencontros sem grande nexo nem interesse, por vezes pretensiosas e snobs, por vezes demagógicas e primárias. O último episódio, de  Valter Hugo Mãe, “A Morte dos Tolos”, redimiu a série, com bons diálogos, personagens divertidas, situações de saudável crítica social, e bons actores. Diga-se, no entanto, que a realização de Henrique Oliveira foi, nos quatro casos, muito interessante, rigorosa, eficaz, mas a verdade é que, nuns casos, não deu para defender textos pobres e sem ideias.
De qualquer das maneiras, aqui tivemos a RTP a cumprir bem o seu papel de “serviço público”, incentivando a produção nacional. Nem tudo foi bom? Infelizmente não, mas em parte nenhuma o é. Por exemplo: de José Luís Peixoto, já li textos muito bons. Mas nem sempre se acerta.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

JOAQUIM BENITE, UM AMIGO


Morreu Joaquim Benite
(1943-2012)


Morreu um amigo. Quando assim é, difícil se torna sequer falar. Fomos muito próximos durante muito tempo. Ambos críticos, eu de cinema, ele de teatro, no “Diário de Lisboa”. Lá pelos anos 60. Ambos apaixonados pelo que escrevíamos. Fizemos depois carreiras diversas, mas lado a lado. Ambos apaixonados pelo que fazíamos. Acompanhei a sua actividade sempre com redobrado interesse, pela qualidade das suas propostas, mas também com o olhar de amigo que gosta de ver o amigo afirmar-se por mérito próprio. Sei que ele me seguia com igual emoção. A emoção que nos unia quando nos encontrávamos, aqui e ali, no Famafest que eu dirigia em Famalicão, onde fez parte do Júri Internacional em 2010, ano em que foi igualmente homenageado, no Teatro Municipal de Almada que dirigia e onde encenava espectáculos que ficarão na nossa recordação, no Festival que superiormente dirigia, um dos melhores da Europa no campo do teatro. Benite partiu mas o seu trabalho, consistente e coerente, a sua alegria de viver, o seu forte abraço, esses ficarão, triste consolação numa carreira brilhante que se finou. Que o exemplo não se cale. Por isso aqui fica um abraço para a Teresa, os filhos e também para o Rodrigo, seu assistente durante anos.
Perguntaram-lhe se achava que ficaria na História. Respondeu: “Os encenadores nunca ficam na história. Só os escritores, como o Shakespeare. Sabe, acho que vale a pena viver para nos divertirmos. Lutar por coisas, para cumprir missões, não. O teatro é um sinal de civilização que está na origem da sociedade. Até nos animais. Quando chego a casa, o meu cão faz uma dança que parece egípcia, pá. São rituais de representação. Mas o teatro não tem missão nenhuma. É uma coisa que as pessoas fazem porque gostam e as outras vêem porque lhes dá prazer”.
É tudo verdade. Mas ficarás na História, claro!

Nota do Teatro Municipal de Almada:

O encenador Joaquim Benite, director do Teatro Municipal de Almada e do Festival de Almada, faleceu esta noite, na sequência de complicações respiratórias motivadas por uma pneumonia. O fundador da Companhia de Teatro de Almada preparava a estreia absoluta em Portugal de Timão de Atenas, de Shakespeare, que representaria o seu regresso à actividade após um período de ausência dos palcos por motivo de doença. O País perde assim um dos seus mais prestigiados encenadores, ligado ao movimento de renovação do Teatro português no período que antecedeu e que se seguiu à Revolução de 1974.
Joaquim Benite nasceu em Lisboa em 1943. Começou a trabalhar como jornalista, aos 20 anos, no jornal República. Posteriormente fez parte da redacção do Diário de Lisboa e foi chefe de redacção dos jornais O séculoe O diário. Foi crítico de teatro no Diário de Lisboa e em diversas revistas e publicações.
Em 1971 fundou o Grupo de Campolide e estreou-se na encenação com O avançado centro morreu ao amanhecer, de Agustin Cuzzani. Com a peça Aventuras do grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança, de António José da Silva, ganhou, no ano seguinte, o Prémio da Crítica para o melhor espectáculo de teatro amador.
Em 1976, no Teatro da Trindade, transformou o Grupo de Campolide em companhia profissional. Em 1978 asua companhia instala-se em Almada, cidade de onde não mais sairia, e que transformou num dos principais focos teatrais do País, cujo expoente máximo será porventura o Festival de Almada, criado em 1984, e que em 2013 terá a sua 30ª edição. Em 1988, Joaquim Benite inaugura o primeiro Teatro Municipal dessa cidade, e em 2005 é finalmente concluído o projecto do novo Teatro Municipal de Almada — num edifício da autoria de Manuel Graça Diase Egas José Vieira —, que se tornou num dos principais teatros do País.
Tendo criado mais de uma centena de espectáculos, Joaquim Benite foi responsável pela estreia em teatro de José Saramago, de quem dirigiu A noite (1979) e Que farei com este livro? (1980 e 2007). Encenou ainda obras de Shakespeare, Molière, Brecht, Lorca, Bulgakov, Camus, Adamov, Gogol, Beckett, Albee, Neruda, Thomas Bernhard, Sanchis Sinisterra, Antonio Skármeta, Pushkin, Peter Schaffer, Marguerite Duras, Dias Gomes, Nick Dear, O’Neill, Marivaux, Feydeau, Almeida Garrett, Gil Vicente, Raul Brandão, entre muitos outros.
Entre os seus últimos trabalhos contam-se: Que farei com este livro, de José Saramago(2007); as óperas A clemência de Tito, de Mozart (2008), O doido e a morte(2008) e A rainha louca (2011), de Alexandre Delgado; O presidente, de Thomas Bernhard (2008); Timon de Atenas, de Shakespeare (Festival de Mérida, 2008); A mãe, de Brecht (2010); Tuning, de Rodrigo Francisco (2010); Troilo e Créssida, de Shakespeare (2010); e Hughie e Antes do pequeno-almoço, de Eugene O’Neill (2010).
Entre os numerosos prémios e distinções com que foi distinguido, Joaquim Benite foi agraciado com as Medalhas de Ouro dos Municípios de Almada e da Amadora, e as Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura e Mérito Distrital do Governo Civil de Setúbal. Foi-lhe também atribuído o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique; os graus de Cavaleiro e Oficial da Ordem das Artes e das Letras de França; e o grau de Comendador da Ordem do Mérito Civil de Espanha.