segunda-feira, fevereiro 25, 2013

OS OSCARS DE 2013

 

OSCARS 2013:RESULTADOS
Eis a lista dos Oscars de 2013. Acertar (a vermelho e verde) em 15 dos possíveis 20 vencedores (não tinha dado palpites em quatro categorias de que não conhecias os concorrentes) não parece mal. A cerimónia foi divertida, com bons números, evocações, humor e charme. Hollywood no seu melhor, até na ligação directa à Casa Branca, uma boa malha que Barack Obama agradece e que mostra que grande parte do cinema americano está com ele.  
 
MELHOR FILME
•“Argo”

MELHOR REALIZADOR
•Ang Lee por “Life of Pi”
 
MELHOR ACTOR PRINCIPAL
•Daniel Day-Lewis por “Lincoln”
 
MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL
•Jennifer Lawrence por “Silver Linings Playbook”
 
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
•Anne Hathaway por “Les Misérbales”
 
MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
•Christoph Waltz por “Django Unchained”
 
MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
•“Argo”, escrito por Chris Terrio
 
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
•“Django Unchained”, escrito por Quentin Tarantino
 
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
•“Brave”
 
MELHOR FOTOGRAFIA
•“Life of Pi”Claudio Miranda
 
MELHOR GUARDA-ROUPA
•“Anna Karenina” Jacqueline Durran
 
MELHOR DOCUMENTÁRIO
•“Searching for Sugar Man”

MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL
•“Inocente”, de Sean Fine e Andrea Nix Fine
 
MELHOR MONTAGEM
•“Argo”
 
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
•“Amour” – Áustria
 
MELHOR MAQUILHAGEM & CABELO
•“Les Misérables”

MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
•“Life of Pi”, por Mychael Danna
 
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
•“Skyfall” do filme “Skyfall”
(música e letra por Adele Adkins e Paul Epworth)
 
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
•“Lincoln”

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
•“Paperman”, de John Kahrs

MELHOR CURTA-METRAGEM
•“Curfew”, de Shawn Christensen
 
MELHOR EDIÇÃO DE SOM
•“Skyfall”
•“Zero Dark Thirty”

MELHOR MISTURA DE SOM
•“Les Misérables”
 
MELHORES EFEITOS VISUAIS
•“Life of Pi”
 

domingo, fevereiro 24, 2013

TERTÚLIA SOBRE OS OSCARS 2013

 

Amanhã, das 19 às 20 horas, no Alvalade City,
tertúlia sobre o resultado dos Oscars.
Entrada livre.
 

OS OSCARS 2013. PREVISÕES

 
OSCARS 2013:PREVISÕES

É já daqui a umas horas que decorrerá a cerimónia da atribuição dos Oscars de 2013, relativos a filmes do ano passado. Como é normal, a espectativa é grande e esse ano, ao contrário do que se esperava, há bastantes bons filmes a competirem nas diversas categorias. Como sempre aqui ficam as nossas previsões. Na lista dos nomeados, a verde colocamos o candidato da nossa preferência pessoal, e a vermelho o que julgamos ir ganhar. Quando ambos se sobrepuserem, vale o vermelho. Não aposto no que não conheço (documentários e animações curtas).
Julgo que não vai haver grandes surpresas. Nem haverá um filme com uma dezena de Oscars. O bem será dividido por muitas aldeias. Vamos lá então às apostas. 

Lista de Nomeados para os Óscars 2013

MELHOR FILME
•“Beasts of the Southern Wild”
•“Silver Linings Playbook”
•“Zero Dark Thirty”
•“Lincoln”
•“Les Miserables”
•“Life of Pi”
•“Amour”
•“Django Unchained”
•“Argo” 

MELHOR REALIZADOR
•David O. Russell por “Silver Linings Playbook”
•Ang Lee por “Life of Pi”
•Steven Spielberg por “Lincoln”
•Michael Haneke por “Amour”
•Behn Zeitlin por “Beasts of the Southern Wild” 

MELHOR ACTOR PRINCIPAL
•Bradley Cooper por “Silver Linings Playbook”
•Daniel Day-Lewis por “Lincoln”
•Hugh Jackman por “Les Misérables”
•Joaquin Phoenix por “The Master”
•Denzel Washington por “Flight” 

MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL
•Jessica Chastain por “Zero Dark Thirty”
•Jennifer Lawrence por “Silver Linings Playbook”
•Emmanuelle Riva por “Amour”
•Quvenzhané Wallis por “Beasts of the Southern Wild”
•Naomi Watts por “The Impossible” 

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
•Sally Field por “Lincoln”
•Anne Hathaway por “Les Misérbales”
•Jackie Weaver por ”Silver Linings Playbook”
•Helen Hunt por “The Sessions”
•Amy Adams por “The Master” 

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
•Christoph Waltz por “Django Unchained”
•Philip Seymour Hoffman por “The Master”
•Robert De Niro por “Silver Linings Playbook”
•Alan Arkin por “Argo”
•Tommy Lee Jones, por “Lincoln” 

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
•“Argo”, escrito por Chris Terrio
•“Beasts of the Southern Wild”, escrito por Lucy Alibar & Benh Zeitlin
•“Life of Pi”, escrito por David Magee
•“Lincoln”, escrito por Tony Kushner
•“Silver Linings Playbook”, escrito por David O. Russell 

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
•“Amour”, escrito por Michael Haneke
•“Django Unchained”, escrito por Quentin Tarantino
•“Flight”, escrito por John Gatins
•“Moonrise Kingdom”, escrito por Wes Anderson & Roman Coppola
•“Zero Dark Thirty”, escrito por Mark Boal 

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
•“Brave”
•“Frankenweenie”
•“ParaNorman”
•“The Pirates! Band of Misfits”
•“Wreck-It Ralph” 

MELHOR FOTOGRAFIA
•“Anna Karenina” Seamus McGarvey
•“Django Unchained” Robert Richardson
•“Life of Pi” Claudio Miranda
•“Lincoln” Janusz Kaminski
•“Skyfall” Roger Deakins

MELHOR GUARDA-ROUPA
•“Anna Karenina” Jacqueline Durran
•“Les Misérables” Paco Delgado
•“Lincoln” Joanna Johnston
•“Mirror Mirror” Eiko Ishioka
•“Snow White and the Huntsman” Colleen Atwood

MELHOR DOCUMENTÁRIO
•“5 Broken Cameras”, de Emad Burnat & Guy Davidi
•“The Gatekeepers”
•“How to Survive a Plague”
•“The Invisible War”
•“Searching for Sugar Man” 

MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL
•“Inocente”, de Sean Fine e Andrea Nix Fine
•“Kings Point”, de Sari Gilman e Jedd Wider
•“Mondays at Racine”, de Cynthia Wade e Robin Honan
•“Open Heart”, de Kief Davidson e Cori Shepherd Stern
•“Redemption”, de Jon Alpert e Matthew O’Neill 

MELHOR MONTAGEM
•“Argo”
•“Life of Pi”
•“Lincoln”
•“Silver Linings Playbook”
•“Zero Dark Thirty” 

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
•“Amour” – Áustria
•“Kon-Tiki” – Noruega
•“No” . Chile
•“A Royal Affair” – Dinamarca
•“War Witch” – Canadá 

MELHOR MAQUILHAGEM & CABELO
•“Hitchcock”
•“The Hobbit: An Unexpected Journey”
•“Les Misérables” 

MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
•“Anna Karenina”, por Dario Marianelli
•“Argo”, por Alexandre Desplat
•“Life of Pi”, por Mychael Danna
•“Lincoln”, por John Williams
•“Skyfall”, por Thomas Newman 

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
•“Before My Time” do filme “Chasing Ice”
(música e letra por J. Ralph)
•“Everybody Needs A Best Friend” do filme “Ted”
(música por Walter Murphy e letra por Seth MacFarlane)
•“Pi’s Lullaby” do filme “Life of Pi”
(música por Mychael Danna e letra por Bombay Jayashri)
•“Skyfall” do filme “Skyfall”
(música e letra por Adele Adkins e Paul Epworth)
•“Suddenly” do filme “Les Misérables”
(música por Claude-Michel Schönberg e letra por Herbert Kretzmer e Alain Boublil) 

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
•“Anna Karenina”
•“The Hobbit: An Unexpected Journey”
•“Les Misérables”
•“Life of Pi”
•“Lincoln” 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO
•“Adam and Dog”, de Minkyu Lee
•“Fresh Guacamole”, de PES
•“Head over Heels”, de Timothy Reckart e Fodhla Cronin O’Reilly
•“Maggie Simpson in “The Longest Daycare””, de David Silverman
•“Paperman”, de John Kahrs 

MELHOR CURTA-METRAGEM
•“Asad”, de Bryan Buckley e Mino Jarjoura
•“Buzkashi Boys”, de Sam French e Ariel Nasr
•“Curfew”, de Shawn Christensen
•“Death of a Shadow (Dood van een Schaduw)”, de Tom Van Avermaet e Ellen De Waele
•“Henry”, de Yan England

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
•“Argo”
•“Django Unchained”
•“Life of Pi”
•“Skyfall”
•“Zero Dark Thirty”

MELHOR MISTURA DE SOM
•“Argo”
•“Les Misérables”
•“Life of Pi”
•“Lincoln”
•“Skyfall” 

MELHORES EFEITOS VISUAIS
•“The Hobbit: An Unexpected Journey”
•“Life of Pi”
•“The Avengers”
•“Prometheus”
•“Snow White and the Huntsman”
 

sábado, fevereiro 16, 2013

CINEMA: O MENTOR

 
THE MASTER - O MENTOR

Paul Thomas Anderson é um dos mais interessantes e originais cineastas norte-americanos da actualidade. Não tem uma filmografia muito vasta, apesar de estar no ofício desde 1988, mas, abstraindo as curtas-metragens e os vídeos, assinou “Sydney” (Passado Sangrento, 1996), “Boogie Nights” (Jogos de Prazer, 1997), “Magnolia” (1999), “Punch-Drunk Love” (Embriagado de Amor, 2002), “There Will Be Blood” (Haverá Sangue, 2007) e agora este “The Master” (O Mentor, 2012). Prepara “Inherent Vice”. Não tendo uma filmografia extensa, tem, no entanto, um conjunto de obras particularmente sugestivas, de uma grande coerência estilística e temática, afirmando-se como um cineasta independente que todavia gosta de se integrar no sistema dos estúdios e de Hollywood.
“O Mentor” passa-se nos EUA, nos anos 50, e um dos aspectos a reter desde logo é a forma como o ambiente social nos é restituído, através de uma rigorosa reconstrução que é tanto de cenários e adereços, guarda-roupa e maquilhagem, como sobretudo de tom de época, algo de mais interiorizado e visceral.
Freddie Quell (Joaquim Phoenix) é um marinheiro, veterano de guerra, que regressa à Califórnia, depois de se ter batido no Pacífico. Vamos encontrá-lo em não muito bom estado. Traumatizado, nervoso, alcoólico, violento, de reacções incertas, de uma sexualidade primária e agressiva, Freddie Quell é o resultado óbvio de tempos inseguros. Um dia salta para o interior de um barco que passa pelo rio. Aí se encontra Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), rodeado de um grupo de amigos e fiéis adeptos da sua excêntrica terapia, a que chama “A Causa”. Ele apresenta-se como “romancista, doutor em física nuclear e filosofo teórico”. Dodd adopta Freddie, como marinheiro e como companheiro de experiências terapêuticas. A figura de Dodd foi inspirada no fundador da cientologia, L. Ron Hubbard, e, também segundo declarações do realizador, a personagem de Freddie terá muito a ver com uma certa fase da vida do escritor John Steinbeck. Do convívio entre Freddie e Dodd nascerá o desenrolar de “The Master”, uma fascinante história de atracção e repulsa, de aproximação e afastamento, com Freddie fascinado pelo poder de Dodd, com este seduzido pela rebeldia e desejo de aventura e liberdade de Freddie.
 

Claro que Dodd é um charlatão espiritual, de palavra acolhedora para os mais fracos, mas não nos encontramos no campo de um “O Falso Profeta” (Elmer Gantry, 1960), de Richard Brooks. Os tempos mudaram e os falsos profetas evoluíram. São muito mais complexos, mais instruídos, bem-falantes, não andam por feiras a arregimentar populares, agora concentram a sua atenção em Hollywood e outros centros bem avalizados financeiramente. Mas se existe uma crítica explícita à cientologia e outras seitas idênticas, o que sobressai nesta obra notável são sobretudo as intrincadas relações humanas que se estabelecem entre mestre e discípulos, por onde passam sugestões eróticas indefinidas e relações de poder nunca olhadas de forma simplista.
Freddie, que à partida é um rebelde desadaptado, violento (veja-se a forma como agride um modelo que fotografa num grande armazém) aceita ser o maleável instrumento experimental nas mãos de Dodd, passando a defendê-lo dos detractores com a mesma violência de que sempre dera provas. O mestre é ambicioso, e a ambiguidade da sua postura é desarmante. Julgamo-lo realmente convicto das suas ideias, mas também cioso dos lucros e do prestígio social que acarretam. Percebe-se facilmente que aprecia o convívio com os notáveis (e os milionários) e que nem sequer se importa com os conflitos que provoca com as autoridades. Numa das cenas do filme, Dodd e Freddie são feitos prisioneiros em salas separadas, mas contíguas, e assistimos – num mesmo plano - ao comportamento de ambos, um destruindo toda a cela, num acesso de violência indescritível, o outro em pose majestática, limitando-se a esperar pelo regresso à liberdade que sabe inevitável. Mas, de forma quase imperceptível, um ao outro vão-se contaminando. Dodd acaba por sofrer ataques súbitos de agressividade. Numa outra excelente sequência, passada no deserto, ambos experimentam uma moto, mas Freddie arranca rumo ao horizonte para nele se perder (durante alguns anos, que o filme resolve numa magnifica elipse temporal).
 
 
A obra oferece um trabalho de actores notável Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Amy Adams (Mary Sue Dodd, a mulher de Lancaster Dodd) e Laura Dern (Helen) são particularmente de realçar num elenco todo ele muito homogéneo. De referir ainda que “The Master” foi (quase integralmente: 80%) rodado em 70 milímetros (65 milímetros, para ser mais preciso), uma prática muito usual nos anos 60 e 70, sobretudo em filmes históricos, e apresenta imagens magníficas (com a assinatura de Mihai Malaimare Jr), plasticamente deslumbrantes. O que é igualmente uma das características de Paul Thomas Anderson. Também a partitura musical de Jonny Greenwood é de grande qualidade, funcionando admiravelmente ao desenvolver  um clima inquietante (ele já fora o compositor da banda sonora de “Haverá Sangue”, do mesmo  cineasta, e de “Temos de Falar Sobre Kevin”).
“O Mentor” é definitivamente um dos grandes filmes norte-americanos do ano de 2012, senão mesmo “o” grande filme desse ano. Uma injustiça, portanto, não o ver a concorrer às categorias de melhor filme e de melhor realizador nos Oscars.  

THE MASTER - O MENTOR
Título original: The Master
Realização: Paul Thomas Anderson (EUA, 2012); Argumento: Paul Thomas Anderson; Produção: Paul Thomas Anderson, Megan Ellison, Daniel Lupi, Ted Schipper, JoAnne Sellar, Adam Somner; Música: Jonny Greenwood; Fotografia (cor): Mihai Malaimare Jr.; Montagem: Leslie Jones, Peter McNulty; Casting: Cassandra Kulukundis; Design de produção: David Crank, Jack Fisk; Decoração: Amy Wells;  Guarda-roupa: Mark Bridges; Maquilhagem: Aurora Bergere, Kate Biscoe, Miia Kovero; Direcção de produção:  Erica Frauman, Daniel Lupi; Assistentes de realização: Eric Richard Lasko, Adam Somner, Trevor Tavares, Wainani Young-Tomich; Departamento de arte: John P. Goldsmith, Bill Holmquist, Conner McKinley; Som: Christopher Scarabosio; Efeitos especiais: Michael Lantieri; Efeitos visuais: Dan Glass; Compnhias de produçao: The Weinstein Company,  Ghoulardi Film Company, Annapurna Pictures; Intérpretes: Joaquin Phoenix (Freddie Quell), Philip Seymour Hoffman (Lancaster Dodd), Amy Adams (Peggy Dodd), Ambyr Childers (Elizabeth Dodd), Jesse Plemons (Val Dodd), Rami Malek (Clark), Laura Dern (Helen Sullivan), Madisen Beaty (Doris Solstad), Lena Endre (Mrs. Solstad), Kevin J. O'Connor (Bill William), Amy Ferguson (Martha), Joshua Close (Wayne Gregory), Patty McCormack (Mildred Drummond), Fiona Dourif (bailarina), Freddie Quell, Mike Howard, Sarah Shoshana David, Bruce Goodchild, Matt Hering, Dan Anderson, Andrew Koponen, Jeffrey W. Jenkins, Patrick Biggs, Ryan Curtis, Jay Laurence, Abraxas Adams, Tina Bruna, Kevin Hudnell, Hunter Craig, Ryder Craig, Rodion Salnikov, Emily Gilliam, etc. Duração: 144 minutos; Distribuição em Portugal: Pris Audiovisuais; Classificação etária: M/16 anos; Estreia em Portugal: 7 de Fevereiro de 2013.

terça-feira, fevereiro 12, 2013

CINEMA: HITCHCOCK

 
 
 
HITCHCOCK


 
“Hitchcock” não é uma biografia de Alfred Hitchcock, mas o relato de um momento da sua vida, precisamente o que antecede a estreia de “Psyco”, um dos seus filmes de maior sucesso, reunindo elogios da crítica e as benesses da bilheteira. O cineasta acabara de estrear “Intriga Internacional” e fica impressionado com um caso que ocupou as páginas dos jornais e que levou o romancista Robert Bloch a escrever “Psycho”: Ed Gein, um serial killer, atormentado pela imagem da mãe, com quem aliás dormia, não sendo já esta mais do que um cadáver ressequido. Estamos em 1959, Hitch (como gostava de ser tratado, “esqueçam o “cock”, costumava acrescentar) inicia a preparação de um filme algo raro na sua filmografia que o tornara conhecido como o “mestre do suspense”. “Psico” manterá as características de suspense, levando-as mesmo a limites invulgares, mas entra abertamente do terreno do filme de terror. A Paramount, sua produtora na altura, apesar do prestígio do cineasta, não está muito convencida a alinhar nesta aventura demasiado chocante para a época e para os rigores da comissão de censura (apesar de tudo nessa altura já a perder a força de outros tempos). Mas Hitch acredita profundamente nas virtualidades do projecto, abalança-se na realização, mesmo hipotecando casa e piscina, sempre apoiado na sua grande colaboradora de sempre, a mulher Alma Reville, sua secretária, montadora, co-autora de argumentos e inspiradora.
 
 
Claro que para um cinéfilo admirador de Hitchcock, este filme de Sasha Gervasi não deixa de ser interessante, apesar de nada trazer de novo. Vai repescar alguns episódios e frases que tornaram o cineasta mítico, reconstitui com alguma fidelidade o ambiente dos estúdios durante o final da década de 50, mas não vai muito além disso, tanto mais que um dos factores em que apostou deliberadamente, a caracterização das personagens, fica aquém dos resultados pretendidos. Anthony Hopkins, no protagonista, é como sempre um actor excelente, consegue a postura física e o tom de voz do modelo original, mas parece-se muito mais, sobretudo de perfil, com Nicolau Breyner do que com Hitchcock. A magnífica Helen Mirren ergue uma figura interessante, sobretudo na sua disputa de ciúmes com o marido, ele olhando com suspeição a relação da mulher com o escritor Whitfield Cook, ela tendo a certeza das lúbricas intenções do marido para com as suas louras de estimação. Mas as honras da casa vão para Scarlett Johansson (Janet Leigh) e James D'Arcy (Anthony Perkins), que conseguem compor figuras que se aproximam muito dos originais.
 
 
Há situações que julgamos mal resolvidas (a presença obcecante de Ed Gein, como fantasma inspirador, é uma delas), há curiosidades que são interessantes de conhecer (para lá de todo o seu prestígio, Hitch não consegue levar a Paramount a investir capital neste seu novo projecto; Hitch lutando pelo “final cut” apesar de o financiamento da obra ser seu e a Paramount apenas distribuir o filme; “Psico” estreia nos EUA somente em duas salas; a campanha de marketing preparada pelo cineasta, com destacamentos de policias à porta dos cinemas e alarmantes avisos dirigidos aos espectadores, etc.).
Não sendo o grande filme que poderia ser, “Hitchcock” justifica alguma atenção, sobretudo por parte daqueles que gostam de ver o outro lado do cinema, de Hollywood, e dessa fábrica de sonhos. Mas para se conhecer o mestre, o melhor mesmo é ver “Psico” ou “Vertigo”, cuja reposição em cópia nova, remasterizada, anda por aí anunciada, agora que a revista inglesa “Sight and Sound” o considera o melhor filme de sempre, após consulta a algumas dezenas de críticos e cineastas de todo o mundo.
Sacha Gervasi, inglês de nascimento, é talvez mais conhecido como argumentista do que realizador (escreveu, entre outros, “The Big Tease”, 1999, “Terminal de Aeroporto”, 2004, ou “O Crime de Henry”, (2010). Como realizador, é autor de um documentário bem recebido, “Anvil: The Story of Anvil”, antes deste “Hitchcock”. Prepara “My Dinner with Herve”.
 
 
HITCHCOCK
Título original: Hitchcock
Director: Sacha Gervasi (EUA, 2012); Argumento: John J. McLaughlin, segundo obra de Stephen Rebello ("Alfred Hitchcock and the Making of Psycho"); Produção: Alan Barnette, Ali Bell, Joe Medjuck, Richard Middleton, Tom Pollock, Ivan Reitman, John Schneider, Tom ThayerM ; Música: Danny Elfman; Fotografia (cor): Jeff Cronenweth; Montagem:  Pamela Martin; Casting: Terri Taylor; Design de produção: Judy Becker; Direcção artística: Alexander Wei; Decoração: Robert Gould; Guarda-roupa: Julie Weiss; Maquilhagem: Julie Hewett, Maha, Martin Samuel, Kimberley Spiteri; Direcção de Produção: Beverley Ward; Assistentes de realização: Peter Kohn, Brandon Lambdin, Lauren Pasternack; Departamento de arte: Andrew Birdzell, Susannah Carradine, Cristina Colissimo, Kevin Kalaba, Thomas Machan, Daniel Turk; Som: Mildred Iatrou, Jason Johnston, Ai-Ling Lee; Efeitos especiais: Josh Hakian, David Waine; Efeitos visuais: Erik Courtney, Andrew Lewitin, Ken Locsmandi, Kevin London, Bhavini Ashwinkumar Shah, Amir Shahinsha; Companhias de produção: Fox Searchlight Pictures, Cold Spring Pictures, The Montecito Picture Company; Intérpretes: Anthony Hopkins (Alfred Hitchcock), Helen Mirren (Alma Reville), Scarlett Johansson (Janet Leigh), Danny Huston (Whitfield Cook), Toni Collette (Peggy Robertson), Michael Stuhlbarg (Lew Wasserman), Michael Wincott (Ed Gein), Jessica Biel (Vera Miles), James D'Arcy (Anthony Perkins), Richard Portnow, Kurtwood Smith, Ralph Macchio, Kai Lennox, Rita Riggs, Wallace Langham, Paul Schackman, Currie Graham, Spencer Garrett, Terry Rhoads, Tom Virtue, Karina Deyko, Steven Lee Allen, Richard Chassler, Frank Collison, Melinda Chilton, Mary Anne McGarry, Jon Abrahams, Gil McKinney, Emma Jacobs, Spencer Leigh, Sean MacPherson, Gerald V. Casale, Tara Arroyave, Judith Hoag, Josh Yeo, Danielle Burgio, etc. Duração: 98 minutos; Distribuição em Portugal: Big Picture 2 Films; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 7 de Fevereiro de 2013.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

OS CINEMAS DE LISBOA

 

DOS FILMES E DAS SALAS
ONDE ELES SE VÊEM (E SE VIAM)
Neste momento encontram-se em exibição em salas de cinema portuguesas vários filmes de grande qualidade, a maioria dos quais norte-americanos, o que se compreende por esta ser uma regra geral na nossa exibição (não a qualidade, mas o facto dos filmes serem anglófilos), acrescida do facto de nos encontrarmos em vésperas de atribuição de Oscars. Nesta altura do ano costumam acumular-se os filmes nomeados, o que mais uma vez acontece.

“Lincoln”, de Steven Spielberg, “Django Libertado”, de Quentin Tarantino, “00,30 – A Hora Negra”, de Kathryn Bigelow, “Argo”, de Ben Affleck, “Guia para um Final Feliz”, de Davi O. Russell, “Amor”, de Michael Haneke são obras a ver sem hesitação. Mas há mais a considerar: “Os Miseráveis”, de Tom Holland, “A Vida de Pi”, de Ang Lee, são outras hipóteses, com algumas reticências. Acrescente-se-lhes duas estreias recentes, “Bárbara”, de Christian Petzold, e “Seis Sessões”, de Bem Levin. Há muito por onde escolher, e para todos os gostos, do western à comédia, do drama ao filme histórico, do filme de amor trágico ao musical.

Para ver todos estes filmes, porém, hoje em dia há várias hipóteses. Vê-los directamente numa sala de cinema, esperar algum tempo e assistir a eles na poltrona da nossa sala de estar, através de um DVD, de um canal de televisão generalista ou por TV por cabo, ou ter o privilégio de os ver antes de todos os outros sem pagar nada, fazendo um download pirata, via internet. Mau costume é certo, mas uma realidade que não se pode escamotear.

Ver filmes tornou-se, portanto, uma actividade que pode ser levada a cabo através de várias vias. O que não acontecia, por exemplo, nos anos 40 do século passado. Por isso não se pode dizer que a indústria cinematográfica, no que diz respeito à produção, esteja em crise. Em crise estará seguramente a exibição, e, em certa medida, a distribuição (ainda que, neste campo, a associação que existe muitas vezes entre distribuição cinematográfica e edição de DVD atenue ligeiramente a crise no sector).

Por isso, o recente anúncio do encerramento de quase 50 salas no nosso país justifica curiosas, complexas e até contraditórias considerações. São essas salas exemplos arquitectónicos a lamentar? Na maioria dos casos são multiplexes no interior de centros comerciais sem nada que as faça recordar com nostalgia. Eram salas especialmente vocacionadas para cinema de qualidade? Nem por isso. Eram salas comerciais, que faziam negócio, ou, neste caso, deixaram de fazer negócio. Por isso encerram. Leis do mercado concorrencial e da competição desenfreada, portanto, que tanto entusiasma os neo-liberais que nos governam. Eles que se entendam!

Claro que se lamenta que as populações fiquem sem salas onde vejam cinema. Tanto mais que os prejudicados são os poucos que ainda iam ao cinema. Mas tudo isto são consequências de novas tecnologias que não recuam e de hábitos que se perdem e se trocam por novos usos e costumes.

No entanto a memória dessas belas salas de outrora fica para sempre e um livro como “Os Cinemas de Lisboa”, de Margarida Acciaiuoli, numa edição Bizâncio, com 384 páginas de evocações, não pode deixar de nos entusiasmar. A obra tem uma característica que a torna diferente de todas as que até agora se publicaram sobre o mesmo tema: privilegia a arquitectura das salas e enquadra-as na urbanização da cidade. Fala-nos das diferentes épocas e define-as através dos espaços e da relação da sala de cinema com a sua envolvência urbana e humana. Não observa só as salas de cinema, mas a sua conexão com cafés e snacks, com avenidas e estreitas ruas, com o centro da cidade e os bairros periféricos. Recorda as grandes salas, os templos dessa liturgia do século XX, que, para a autora, as viu nascer, as viu explodir na sua magnificência e as viu morrer de morte lenta. Ali se recorda os tempos gloriosos do Monumental e do Império, do São Luís e do Alvalade, do Chiado-Terrasse, do Tivoli, do Éden e tantos outros. Na obra se lembra como ir ao cinema era um acto elegante, que merecia indumentária apropriada, e também um acto social, ia-se para ver e ser visto, para se confraternizar. As grandes salas de cinema foram desaparecendo da cidade e, hoje, vai-se ao cinema nos centros comerciais, no intervalo de umas compras. A história deste percurso é feita de modo notável, pela autora, numa obra onde o rigor caminha a par das memórias afectuosas que todos temos em relação àquela especial sala de cinema que fez a delicia da nossa adolescência, onde vimos os títulos que nos marcaram para sempre, ou onde se namorou, sim porque no escuro da sala de cinema não se viam só os filmes. Também se inventaram muitas histórias de amor feliz ou melodramas de desencontros funestos.

Margarida Acciaiuoli é professora de História de Arte no Instituto de Ciências Sociais e Humanas e tem atrás de si uma importante obra dedicada à arte portuguesa dos séculos XIX e XX, com volumes sobre o pintor Fernando Lemos (ver aqui: Fernando Lemos) (2006, Editorial Caminho) ou as Exposições do Estado Novo (ver aqui: Exposições do Estado Novo) (1998, Livros Horizonte). Da autora espera-se mais sobre o mesmo tema.

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

DUAS CRISES EM CONFRONTO: FEVEREIRO

 
Próximas sessões de "Duas Crises em Confronto". Na próxima quinta-feira, pelas 18 horas, lá estarei para apresentar "Peço a Palavra", de Frank Capra.