sábado, maio 30, 2015

"A NOITE DAS MIL ESTRELAS" NO CASINO DO ESTORIL



A NOITE DAS MIL ESTRELAS



Devo dizer que gosto muito da Costa do Sol, com particular destaque para Oeiras, Estoril e Cascais. Recordei recentemente uma série de reportagens que publiquei no extinto jornal “República”, corria o ano de 1966, e que percorria a rota “Do Cais do Sodré a Cascais”, com subtítulo “Em Comboio eléctrico – primeira etapa de férias”, reportagem que foi premiada com o primeiro prémio no concurso promovido pela Junta de Turismo da Costa do Sol, “O Melhor Artigo sobre a Costa do Sol” (reportagem republicada  em “Cascais e seus Lugares”, Cascais, 1968). Teria muitas histórias para contar do tanto que por ali tenho vivido, desde as férias passadas com a família em Cascais, à minha estreita relação com o TEC desde a sua fundação, não esquecendo, infelizmente!, as últimas férias de meu pai, num hotel do Estoril, até às masterclasses que agora mantenho em Oeiras. Depois, devo confessar que gosto bastante de arriscar uns escudos ou uns euros nas máquinas do Casino, prazer que tenho abandonado pois os tempos não estão para esses apetites, e fui frequentador assíduo de concertos grandiosos, de espectáculos feéricos, com que Assis Ferreira dinamizou o novo Casino, sobretudo a partir de umas Galas orientadas pelo João Maria Tudela e que ajudaram a mudar a cara do velho para o novo. O “velho” era aquele Casino onde uma vez fui impedido de entrar porque não levava gravata e que justificou uma crónica no “Diário de Lisboa”, onde então escrevia. O “novo” é aquele espaço multicolor, explodindo em néones e jackpots (estes muito raros, infelizmente), com um salão preto e prata por onde passaram algumas das maiores vozes do mundo e também do maior silêncio mímico.
Há dias estreou um novo espectáculo neste espaço, “A Noite das Mil Estrelas”, da autoria de Filipe La Féria, que o escreveu e encenou, tendo por base uma viagem pelos momentos mais emblemáticos da história do Casino Estoril, desde os anos trinta à actualidade, fazendo, ainda, o enquadramento com a História de Portugal do séc. XX aos nossos dias. É um espectáculo ligeiro, um daqueles espectáculos para Casino. É conveniente não esquecer isto. Muita luz, cor, movimento, ritmo, mulheres bonitas, lantejoulas e plumas, entremeados com números de actores e cantores. O que me pareceu mais bem conseguido foram algumas evocações “históricas”, desde a fundação do casino, à praia do Tamariz, passando pela presença de personalidades como os reis de Espanha (Juan Carlos) e de Itália (Humberto), Grace Kelly, Ian Fleming, Margaret de Inglaterra, Soraya do Irão, Jorge Amado ou Salvador Dali. Mais desequilibradas são as recordações de algumas das muitas estrelas que deram luz a esta noite: Amália, Carlos do Carmo, Gloria Swanson, Tony Bennett, Elis Regina, Charles Aznavour, Júlio Iglésias, Liza Minnelli, The Platters, Stevie Wonder, Woody Allen, Ray Charles, entre muitos outros. Sem esquecer aquele memorável "Só Nós Três". 


Mas, globalmente, esta “A Noite das Mil Estrelas” é um grande espectáculo de music-hall, com um belíssimo guarda-roupa de Costa Reis, bem ritmado e animado, com o talento (e a loucura, pois então! de La Féria a dar boa conta de si. Não sei como aparece “O Rei Leão” nesta fantasia, mas trata-se de um número imperdível. Entre os intérpretes contam-se Alexandra, Rui Andrade, Gonçalo Salgueiro, Pedro Bargado, Vanessa, David Ripado, Dora, Cláudia Soares, João Frizza e Catarina Mouro. Obviamente que há um vistoso corpo de bailarinos, acrobatas e uma orquestra ao vivo. Tudo boas razões para optar por uma noite relaxante e fresca, a partir das 21h30, com o musical “A Noite das Mil Estrelas”, em exibição de quinta-feira a domingo (às 17h00), no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril. M/12 anos. 

sexta-feira, maio 08, 2015

TEATRO: HÉCUBA


“HÉCUBA”

“Hécuba” é uma tragédia grega, escrita por Eurípides no ano de 424 a.C.. Passa-se depois de terminada a Guerra de Tróia, antes dos gregos deixarem a cidade, e tem como protagonista Hécuba, uma mulher que foi rainha e é agora escrava, que foi mãe de dois filhos e agora os chora, transformando-se “de um ser bom e humano numa “cadela vingadora de olhos de fogo” (citando o programa do espectáculo e a própria peça). 
A tragédia que agora se estreou no São Luiz, numa produção conjunta da Escola de Mulheres e do próprio São Luiz, é apresentada como “o sofrimento desmedido”, e que outra coisa se pode dizer de uma mulher que perde o país, o marido e dois filhos. A encenação de Fernanda Lapa toma esta base grega para nos falar do “sofrimento desmedido” de todas as mulheres em todas as guerras. Sem local definido, sem tempo anunciado. "Consideramos este espectáculo um libelo contra a guerra e dedicamo-lo a todas as mulheres que por esse mundo fora vivem, por esse motivo, um sofrimento desmedido", diz a encenadora. E continua: "A violência gera violência e o sofrimento em excesso a degradação. Ontem como hoje", escreve Fernanda Lapa.
Digamos que o resultado desta incursão pela tragédia grega é brilhante e asseguro que será, desde já, um dos grandes espectáculos de 2015 em Portugal. O trabalho da encenação é invulgarmente bem conseguido, moldando os corpos e as vozes do elenco, obedecendo a marcações imaginativas e surpreendentes, tudo isto num espaço extremamente austero, mas absolutamente espantoso em termos de eficácia espectacular, um cenário com a assinatura de António Lagarto, que ainda concebe um guarda-roupa admirável. Lagarto é sempre uma garantia e volta a demonstrá-lo. De resto, o elenco chega igualmente a ser notável, com presenças poderosas de Carla Calvão, Margarida Cardeal, Filomena Cautela, Fernanda Lapa, Luís Gaspar, entre outras e outros.
Escusado será aconselhar o público a entrar antes do espectáculo começar (porque também não pode entrar depois deste ter início), mas seria imperdoável perder o prólogo, com o fantasma de Polidoro a lançar luz sobre o flashback que se sucede.


Hécuba, de  Eurípedes; Tradução: José Luís Coelho, Maria do Céu Fialho e Fernanda Lapa; Dramaturgia e encenação: Fernanda Lapa; Espaço cénico e figurinos: António Lagarto; Coreografia e assistência de encenação: Marta Lapa; Desenho de luz: José Nuno Lima; Sonoplastia: Pedro Costa e Sérgio Henriques; Direcção de produção: Ruy Malheiro; Intérpretes: Hécuba: Carla Galvão, Cassandra: Margarida Cardeal, Polixena: Filomena Cautela, Serva: Nuna Livhaber, Clitemnestra: Fernanda Lapa, Coro: Fernanda Lapa, Filomena Cautela, Inês Santos Cruz, Margarida Cardeal, Sandra de Sousa, Nuna Livhaber, Expectro de Polidoro: Vasco Batista, Ulisses: Luís Gaspar, Polimestor: Luís Gaspar, Taltíbio: Vasco Batista, Agamémnon: Afonso Molinar; Co-produção: Escola de Mulheres e São Luiz Teatro Municipal; de 7 a 17 de Maio no São Luiz.