quarta-feira, maio 30, 2007

LIVROS: "CIDADE PROIBIDA", DE EDUARDO PITTA

“CIDADE PROIBIDA”


Devo confessar: comprei o livro sem grandes esperanças, nem desesperanças. Nada sabia do autor a não ser que era nosso companheiro da blogosfera, que assinava e escrevia, quase na íntegra, um bom blogue, “Da Literatura”, e que lera dele, aqui e ali, críticas literárias interessantes. Chama-se Eduardo Pitta, o romance de estreia é “Cidade Proibida”, e, pelo que percebi ao folheá-lo na Fnac, é uma obra daquelas que muitos vão catalogar de “literatura gay” e colocá-la na banca assim denominada. Esta classificação parece-me de todo inqualificável, a não ser para facilitar vendas: os gays que procuram “literatura gay” vão àquela banca e escusam de se perder no meio da “literatura hetero”. Mas haverá “literatura gay”? Óscar Wilde e E.M. Forster são “literatura gay”? E Somerset Maugham? E Jean Cocteau? Ou serão simplesmente literatura?
Para mim basta-me que seja boa literatura, muito boa mesmo. Ora Eduardo Pitta surpreendeu-me em toda a linha. Li “Cidade Proibida” de um fôlego, e não por ser gay, e não também pela história que conta, mas sobretudo pelo estilo, pela vertigem da narrativa, imparável, pelo toque blasé, mesmo um pouco snobe que impõe e mantém com uma frescura notável ao longo de toda a obra, e que relembra o magnífico dandismo de Óscar Wilde, aqui retocado por um look muito pós-moderno. Óbvio que também se pode chamar à conversa o “Maurice”, de E.M. Forster, mas curiosamente a escrita lembrou-me mais a de alguns escritores americanos da década de 90, como Bret Easton Ellis (“Psicopata Americano”, entre outros), repleta de referências muito precisas a cidades, locais, marcas… Há um gosto pelo rigor matemático na escrita que poderia ser fastidioso, mas funciona precisamente ao contrário, é exaltante. Não há muitos pormenores, a escrita corre ágil, mas há uma precisão insuspeitada. Um exemplo à sorte do abrir da página: “Nessa tarde não voltou ao Instituto. Andou a pé horas a fio e só quando o corpo cedeu descansou num banco do Campo dos Mártires da Pátria. Depois foi à Trindade comer um prego e a seguir meteu-se na sauna do Largo da Misericórdia.” Um rigor que leva o autor a abrir o seu romance com uma “Tábua de personagens” onde refere e sinaliza cada personagem e cada família: Martim, dos bem instalados Moncadas, português dos Estoris, que estuda em Inglaterra e encontra em Portugal Rupert, dos Davies, proleta inglês que dá aulas no British Council (e não no Instituto Britânico, pormenor que faz toda a diferença no tom do livro). Vivem juntos, são homossexuais, cruzam-se com um vasto elenco de personagens e não há muito a contar desta história que poderia ser igual a tantas outras se não a distinguisse o tom em que está contada. O que transforma este romance, para mim, numa das revelações dos últimos anos.
É evidente que temos de fazer uma referência ao teor homossexual do livro. Obras “maricas” é o que há cada vez mais. Escritas amaricadas, “poéticas”, como que a desculpar “a coisa” com o sentimentalismo balofo das “emoções em êxtase.” Aqui não há nada disso, esta é uma história de amor e sexo igual a qualquer outra, o realismo de certas situações quase faz esquecer que os amantes são do mesmo sexo. São pessoas que fazem sexo. Assumidamente. Sem má consciência. De resto as descrições deste tipo são as que são, as precisas, as indispensáveis, não se especula com o facto.
Um excelente romance de um autor nascido em Lourenço Marques a 9 de Agosto de 1949, e que viveu em Moçambique até Novembro de 1975. Poeta, ficcionista, ensaísta e crítico literário do jornal Público, escreve e publica desde 1967. Entre 1974 e 2007 lançou oito livros de poesia, uma colectânea de contos, quatro volumes de ensaio e crítica, e um diário veneziano. Num desses ensaios, “Em Fractura, ensaio sobre a condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea”, “sinaliza representações da homotextualidade nacional numa perspectiva que não elide a “negociação de identidade”. Colaborou em publicações literárias de vária índole. Entre 1994 e 2005 manteve na revista LER a coluna de crítica O Som & o Sentido. Mantém desde 2005 o blogue Da Literatura. Em ficção, Eduardo Pitta, editou, e reeditou agora, livro de contos “Persona”. Vou procurar.



Um excerto de “Cidade Proibida”

“Assim que decidiram viver juntos, Martim e Rupert procuraram casa num triângulo cujos vértices eram o Príncipe Real, a Praça das Amoreiras e o Saldanha. A escolha recaiu num andar da Rua Mouzinho da Silveira, originalmente destinado a um arquitecto que desis­tira dele. Rupert continuava a achar absurdo o preço das casas portu­guesas, e não queria comprar, mas um dia Martim apareceu-lhe nas aulas com as chaves.
- Podes passar a vir a pé para o emprego...
Rupert vivera até então em Carcavelos, numa espécie de comuna que partilhara com professores ingleses de ambos os sexos. Apanhava o comboio todos os dias, seguindo depois a pé do Cais do Sodré para o Instituto.
- Anda, vem ver. Depois almoçamos no Pabe.
Com o skyline das colinas a toda a largura das janelas e o rio ao fundo, a vista do 4.° andar era magnífica. A casa estava vazia, só se mudaram ao fim de dez dias, mas Rupert ficou logo impressionado com a luminosidade, o soalho, o recorte dos estuques, o fogão de sala com sólidas guardas de bronze, o granito rosa das casas de banho e a tralha hi-tech da cozinha. Foi justamente na cozinha que Martim o comeu. A mesa era larga, tinha boa altura e um tampo surpreenden­temente macio. Não se lembra qual dos dois chupou primeiro o outro. Lembra-se da luz crua do sol, de ter arrancado as calças e os briefs de Rupert, obrigando-o a dobrar-se no tampo de pedra negra, ao mesmo tempo que com a mão aberta lhe apertava a garganta à medida que o penetrava. Nunca tinham fodido de pé. O orgasmo foi praticamente simultâneo, sem que Rupert tivesse necessidade de se tocar. Nessas ocasiões, Martim afrouxava a pressão dos dedos para melhor sentir estremecer o corpo do companheiro.
Quando entraram no restaurante, a mesa predilecta de ambos, no canto à esquerda de quem entra, estava vazia. Milagre! Martim largou a pasta junto ao vitral e dirigiu-se ao balcão.
- Farinha, prepare dois Bloody Mary. Também queremos almoçar, eu sei que é um pouco tarde, mas diga ao Lopes que somos nós.
- Então o senhor doutor não sabe?
- Não sei o quê? Era o 11 de Setembro.
Nessa manhã Martim não tinha ido à empresa, viera para Lisboa com o fito de mostrar a casa a Rupert. O telemóvel continuava na pasta, provavelmente desligado, e Rupert, com a pressa da saída, esquecera-se do seu no Instituto. A notícia provocou neles um estupor que durou dias. Esqueceram o almoço e foram para casa de Nora. A televisão repetia incessantemente as imagens dos aviões a embater nas torres. Quando a primeira desabou já eles estavam em casa. Martim julgou ouvir ranger os dentes de Rupert mas o eco da reportagem triturava tudo. Nora, que também tinha ido para o Estoril, entrou na biblioteca no exacto momento em que uma gigantesca onda de detritos engolia as ruas à volta do WTC. Ficou parada a ver de longe, as mãos apoiadas na mesa de jogo, e depois avançou devagar, colocando-se no meio dos dois e enlaçando-os pela cintura. Nenhum dos três falou, olhos vazados no ecrã.
Martim saiu de casa da mãe no dia 21.”
In “Cidade Proibida”, de Eduardo Pitta, pag. 33-34, Ed. Quidnovi, Matosinhos, Lisboa, 2007

Ver mais sobre Eduardo Pitta em: http://www.eduardopitta.com/index.html

terça-feira, maio 29, 2007

VAVA.DIANDO COM LÍDIA JORGE

6 º J A N T A R D A T E R T Ú L I A V Á . V Á . D I A N D O
30.05’07: 20H
R E S T A U R A N T E - C A F É V Á V Á

CONVIDADO ESPECIAL:
LÍDIA JORGE
VOCAÇÃO DE ESCRITORA

DEPOIS DE RAUL SOLNADO, FERNANDO DACOSTA, NUNO JÚDICE, TEOLINDA GERSÃO e IVA DELGADO, CONTINUAM OS NOSSOS ENCONTROS, REATANDO UMA TRADIÇÃO DE TERTÚLIA DO CAFÉ-RESTAURANTE VÁVÁ.


LIDIA JORGE, ESCRITORA, UM DOS VULTOS DA CULTURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA, ESTARÁ NO CENTRO DE MAIS UM DEBATE. “COMBATEREMOS A SOMBRA”, SUA ÚLTIMA OBRA.

TODOS ESTÃO CONVIDADOS MEDIANTE O PAGAMENTO DE UMA SIMBÓLICA QUANTIA: 12,5 EUROS POR PESSOA.
COM DIREITO A SOPA (DE ALHO FRANCÊS), UM PRATO DO DIA, PEIXE (FILETES COM SALADA RUSSA) OU CARNE, (ARROZ DE PATO) SOBREMESA, BEBIDA (VINHO É O DA CASA!) E CAFÉ. EXTRAS POR CONTA DO FREGUÊS.

RECUPEREM O BOM GOSTO DE UM SABOROSO JANTAR E DE UMA RECONFORTANTE CONVERSA À RODA DA MESA.
[ LOTAÇÃO LIMITADA A 45 CADEIRAS. ACEITAM-SE INSCRIÇÕES NO BALCÃO DO VÁVÁ. ]

Para informações e marcações de lugares:
LAURO ANTÓNIO / [ Blogue Va.Va.diando (http://vava-diando.blogspot.com/ ] [ mail: laproducine@gmail.com ]
RESTAURANTE - CAFÉ VÁVÁ AV. EUA, Nº 100 - 1700-179 – LISBOA (TELF 21.7966761)

LIVROS, FILMES E HISTÓRIA

O VÉU PINTADO

“.. esse véu pintado a que os que vivem chamam Vida.”


“The Painted Veil” é um excelente romance de W. Somerset Maugham e resulta num agradável filme de John Curran (2006). O mesmo romance já merecera várias adaptações ao cinema, duas das quais bastante citadas, uma de 1934, interpretada pela divina Greta Garbo, ao lado de Herbert Marshall e George Brent, numa realização de Richard Boleslawski, outra dirigida por Ronald Neame, em 1957, com Eleanor Parker, Bill Travers, Jean-Pierre Aumont, George Sanders e Françoise Rosay, que nas salas de cinema se chamou, de forma bem mais picante,"The Seventh Sin".
O romance "The Painted Veil" encontra-se ao nível do melhor de W. Somerset Maugham, podendo colocar-se ao lado de “A Condição Humana” ou “O Fio da Navalha”, na mesma linha de “As Paixões de Júlia” ou “Um Gosto e Seis Vinténs”. W. Somerset Maugham é, aliás, escritor de múltiplos talentos que sempre entusiasmou os seus leitores e deixou uma marca profunda no cinema, onde muitos trabalhos seus tiveram vida prolongada e, por vezes, saudáveis adaptações. Durante algum tempo era dos escritores contemporâneos mais conhecidos do universo da escrita anglo-saxónica, dos mais traduzidos por esse mundo fora. Depois atravessou uma zona de obscuridade, durante a década que terminou o século XX, mas ressuscitou em força com o dealbar do século XXI, com clara intenção de se estabilizar novamente entre os nomes mais correntes da literatura e dos autores mais vistos no cinema. A sua obra tem não só qualidade como uma actualidade resistente, uma elegância de estilo que cativa, uma temática eterna.
Esta nova adaptação de “O Véu Pintado” parece ficar a dever-se essencialmente ao actor Edward Norton que, conjuntamente, com a colega Naomi Watts são co-produtores do filme. Ele vivia entusiasmado com a perspectiva de interpretar em cinema a personagem do bacteriologista Walter Fane. Boa aposta, diga-se desde já, pois a sua composição, de um rigor e disciplina inexcedíveis, é uma das bases do sucesso desta obra, encabeçando aliás um elenco muito homogéneo, onde se contam ainda os nomes de Naomi Watts, Liev Schreiber, Toby Jones, Diana Rigg ou Juliet Howland. Mas foi Edward Norton quem batalhou para que o realizador John Curran e o argumentista Ron Nyswaner conseguissem levar a sua ávante.

Em meados dos anos 20 do século XX, em Inglaterra, Kitty Fane (Naomi Watts), filha de família remediada, mas com problemas de afirmação social, mãe dominadora e pai demissionário, descobre que a única forma de se libertar dessa tentacular rede de humilhação familiar é mesmo aceitar casar com o primeiro pretendente que lhe apareça. Ele é Walter Fane (Edward Norton), um bacteriologista que trabalha num laboratório governamental inglês na China. Ela não gosta dele, para ser sincera ele é-lhe completamente indiferente, acha-o mesmo algo estranho, metido consigo e distante, mais tarde dir-lhe-á que sempre o achou “fisicamente repulsivo”, mas, talvez por todo esse conjunto de impressões, aceita o pedido de casamento e parte para Xangai.
Em Xangai não demora muito a afeiçoar-se a Charlie Townsend (Liev Schreiber), vice-cônsul, uma homem sedutor e galante que rapidamente leva Kitty para a cama, ainda por cima uma cama em casa do bacteriologista, onde são pressentidos, mas não descobertos. Walter prefere não abrir a porta do quarto, apenas rodar a maçaneta e deixar a mulher perante o dilema da dúvida: será que fui apanhada ou não? Mas tudo se precipita a partir daí: numa aldeia chinesa a cólera explode com intensidade inusitada, o médico local morre, é preciso alguém para o substituir e Walter, apesar de não praticar clinica, é especialista em epidemias, e oferece-se para o lugar. Mas é nesta altura que irá estabelecer a sua vingança. Kitty terá de o acompanhar. Ela protesta, “que loucura, não quero ir, já viste a situação em que me colocas?”, mas ele não desiste. “Julgas que não sei do teu adultério?”, pergunta. Kitty cai em si. Percebe que não terá nenhum divórcio amigável, fica desorientada. Walter faz-lhe uma proposta irrecusável: “Vai ter com Charlie Townsend, se ele se divorciar para casar contigo, no prazo de uma semana, eu dou-te o divórcio e parto sozinho para Mei-tan-Fu.” Kitty corre para Charlie Townsend mas este descarta-se do caso, não pode abandonar a mulher, a carreira, etc. Kitty percebe que investiu demasiado num homem que apenas se queria divertir. Regressada a casa, aceita partir para a morte: – “Suponho que não devo levar mais do que meia dúzia de roupas de Verão e uma mortalha, pois não?”
Partem, por terra, dez longos dias de sofrimento físico e moral, levados pelas montanhas em liteiras, cruzando-se com cadáveres em busca de sepultura, até chegarem ao âmago do desespero e do pânico. Mei-tan-Fu é no fim do mundo e o fim do mundo não poderia ter cenário mais apropriado. No convento local, improvisada enfermaria, morre-se às dezenas; no cemitério local, que bordeja o rio, não há já espaço para sepultar mais ninguém, os corpos invadem a água, que fica contaminada; nas ruas os enterros cruzam-se com grupos de revolucionários que mandam para casa os colonialistas ingleses. “Go home!” As lutas anti-colonialistas na China estão no seu auge, ninguém se sente seguro, mesmo na mais longínqua aldeia, mesmo o mais abnegado médico que tenta salvar vidas não olhando à cor da pele. O cenário é de majestoso caos. Como em muitos outros romances de W. Somerset Maugham o caminho é o da aprendizagem da redenção: Kitty vai aprender a olhar para o sofrimento alheio, vai deixar de ser a menina mimada que fora até ali, vai descobrir os outros e vai descobrir-se a si própria, e vai sobretudo “descobrir” Walter Fane. Esse percurso, que é a essência do livro, e deste filme, é o caminho que o espectador irá percorrer, acompanhado por uma pitoresca personagem, o comissário Waddington (Toby Jones, o mesmo de “Infame”), e por uma madre superiora de um convento de religiosas francesas (Diana Rigg, a mesma de “Os Vingadores”, de há trinta anos), sendo ambos figuras indispensáveis no amadurecimento intelectual e sobretudo espiritual de Kitty. A fotografia de Stuart Dryburgh (que assinara "The Piano") é outro elemento importante para a definição de um espaço geográfico e humano propício ao desenrolar do drama, bem assim como a partitura musical de Alexandre Desplat.


Assim se passa este melodrama que é uma trágica história de desencontros amorosos no alvorecer de uma China nacionalista. Acontece que tanto o livro como o filme reflectem não só esses aspectos intimistas e individuais como o fazem integrando-os em contextos colectivos, com base histórica e evidente interesse sociológico. Muito curioso será referir a forma como é esboçado o ambiente social inglês de início do século XX, que empurra a jovem Kitty a afastar-se de uma família asfixiante e gananciosa nem que, para tanto, tenha de aceitar um casamento de conveniência. Kitty pensa que Walter a ama e julga que esse amor bastará para ultrapassar a sua indiferença e crê que essa situação é muito melhor que o desamor da família. Engana-se parcialmente, mas só o descobre tarde de mais. É, no entanto, um interessante retrato de uma mulher que se procura impor numa sociedade cujas regras limitam a sinceridade e espontaneidade e apontam para a hipocrisia e os interesses materiais. Não tanto uma sociedade machista, curiosamente, pois a prepotência é exercida fundamentalmente por uma mulher, a mãe. Os homens até se mostram dóceis, nesta sociedade matriarcal. Vejam-se os casos do pai de Kitty, completamente dominado pela vontade da mulher, e posteriormente Walter que, apesar de ter um comportamento rigoroso e de poucas palavras, absorto sempre na sua vida científica e nos livros, se apresenta igualmente como um homem tranquilo e sensível. Mas a diferença de maneiras de ser revela-se fatal. Kitty é uma mulher-criança que gosta de reuniões sociais, bailes e festas, enquanto Walter aprecia o silêncio e o retiro. Transpostos para a longuínqua e misteriosa China, primeiro surge a leviana traição, depois cresce a maturidade, imposta pelo isolamento e pelas circunstâncias adversas. W. Somerset Maugham, cosmopolita na sua sociabilidade, mas espiritualista na essência, aponta o caminho da renúncia e da redenção como forma de descobrir o amor na convivência profunda das pessoas e não no usufruto de um prazer imediato, mas sem futuro. No sacrifício e na contrariedade se caldeiam os sentimentos. Visão religiosa e mística, obviamente, mas que a sobriedade e o rigor de escrita do escritor tornam legítima. Aliás, W. Somerset Maugham não defende uma religião, tanto que aponta o Tao oriental como um “Caminho” possível, ao lado da fé das freiras francesas. A ideia é, sobretudo, valorizar o conhecimento profundo em detrimento do efémero, a experiência por vezes traumática em vez da facilidade e do comodismo. O que, nos dias de hoje, não deixa de ser uma aposta contra a corrente do imediatismo. Aliás, o filme parece até sublinhar com alguma argúcia certos aspectos que no livro aparecem somente indicados. Deve dizer-se que globalmente a adaptação é boa e inteligente, mantendo, na sua essência, o espírito do romance, ainda que aqui e ali necessite de condensar certas passagens (sobretudo na parte final do romance, que é muito mais extensa que o filme) ou, noutros casos, alterar a ordem da sua apresentação. Um exemplo: o livro inicia-se já na China com a cena de adultério; o filme prepara-a com uma longa sequência em Inglaterra, durante a qual vamos assistir à aproximação de Walter de Kitty, e onde se descobre toda a teia de humilhações familiares que levam Kitty a tomar a decisão de casar para se libertar dessa tentacular opressão diária. É evidente que o livro também descreve estes acontecimentos, mas posteriormente, e a alteração da ordem, no filme, é sintomática de uma outra perspectiva.
De resto, o filme apresenta uma narrativa inteligente e ágil, há momentos de certa inspiração na montagem (como quando se ligam, através de uma mesma imagem, lugares e tempos distintos) e os contornos históricos e sociais saem reforçados no filme, à luz de uma compreensão contemporânea do colonialismo. Mas a este aspecto voltaremos mais tarde.

(...) William Christened Somerset Maughan, um dos mais conhecidos e disputados escritores ingleses do século XX, nasceu a 25 de Janeiro de 1874, em Paris, França, de pais ingleses, e veio a falecer em Cap Ferrat, Nice, França, a 15 de Dezembro de 1965, vítima de pneumonia. Apesar de ter nascido em Paris, W. Somerset Maugham foi desde sempre um súbdito inglês. O pai, Robert Ormond Maugham, que era advogado da Embaixada inglesa na capital francesa, fez para que tal acontecesse, a fim de impedir que o filho fosse mais tarde considerado francês e tivesse de combater sob a bandeira deste país.
A mãe de Maugham, Edith Mary, morreu ainda nova, aos 41 anos, depois de um parto. Este facto traumatizou para sempre o jovem Somerset Maugham, levando-o a não mais se afastar de um retrato da mãe que manteve no seu quarto até ao dia da sua morte, com 91 anos. Mas dois anos depois da morte da mãe, morre o pai, vítima de cancro, e Wlllie é enviado para Inglaterra, para casa do seu tio Henry MacDonald Maugham, vigário de Whitstable, em Kent, um homem frio e cruel que transforma a juventude do futuro escritor num negro episódio de um romance de Charles Dickens. A sua fraca figura e o seu mau inglês (o francês tinha sido a sua primeira língua) foram argumentos suficientes para ser humilhado e perseguido nos seus tempos iniciais de estudante. Estuda na The King's School até que, aos dezasseis anos, recusa continuar ali, parte para a Alemanha, onde se inscreve na Universidade de Heidelberg. Estuda literatura e filosofia e conhece John Ellingham Brooks, um inglês mais velho dez anos, que o inicia na sua primeira experiência sexual. De regresso a Inglaterra, oscila entre a carreira de armas e a medicina, mas acaba por optar pela segunda. Durante cinco anos estuda medicina em Londres, no hospital de St. Thomas. Vários dos seus livros se refe­rem a essa época, nomeadamente a sua obra-prima “Servidão Humana” (Of Human Boundage, 1915).
O sucesso dos primeiros livros, “Liza de Lambeth” (Liza of Lambetll, 1897) e “Mrs Craddoek”, 1902, inscritos numa corrente de um certo realismo social, persuadiu-o a abandonar a medicina para se con­sagrar inteiramente à literatura. Durante uma década não voltou a ter um triunfo idêntico, mas, em 1907, a sua peça de teatro “Lady Frederick” obteve um êxito absolutamente invulgar. Viaja por Espanha e Capri, e, em 1914, tinha escrito 10 peças e outros tantos romances. Durante a I Guerra Mundial, Maugham serviu em França como membro da Cruz Vermelha inglesa, num grupo de 23 personalidades, conhecido por "Literary Ambulance Drivers", onde se incluíam nomes como os Ernest Hemingway, John Dos Passos, ou e. e. cummings. Foi nesse período que conheceu Frederick Gerald Haxton (1892 – 1944), um jovem de São Francisco, que se torna seu companheiro, secretário e amante, até à morte deste, em 1944 (Haxton surge mesmo na figura de Tony Paxton, na peça de Maugham, de 1917, “Our Betters”). Para fugir a perseguições puritanas como as que destruíram Oscar Wilde, o casal, terminada a guerra, instalou-se numa vivenda, “Mauresque”, na Riviera Francesa. Só dali saiu quando os alemães avançaram sobre a França, retirando-se para Nova Iorque, onde Haxton viria a falecer vítima de alcoolismo. W. Somerset Maugham dedica-lhe, em 1949, uma compilação de ensaios: “A Writer’s Notebook: In Loving Memory of My Friend Frederick Gerald Haxton, 1892 -1944”.
Apesar do seu assumido homossexualismo, S. Somerset Maugham teve vários “affairs” com mulheres, nomeadamente um que se tornou particularmente polémico, com Syrie Wellcome, filha de Thomas John Barnardo, fundador de um orfanato, e mulher do milionário farmacêutico Henry Wellcome, de quem teve uma filha, Liza (baptizada Mary Elizabeth Wellcome, 1915-1998). Henry Wellcome impôs o divórcio e, em Maio de 1917, Syrie, então uma decoradora de interiores de grande celebridade, e Maugham casaram-se. Em 1922 Maugham dedica a Syrie “On A Chinese Screen”, uma colectanea de 58 histórias reunidas depois de uma viagem pela China e Hong Kong. Divorciam-se de forma tempestuosa em 1928, em parte por causa das constantes viagens do escritor e do seu romance paralelo com Haxton.
Quer como romancista, quer como dramaturgo, Somerset Maugham sempre soube despertar a simpatia do público, permitindo-lhe esse seu constante êxito de vendas viver de harmonia com os seus gostos: viajou não apenas pela Europa como ainda pela América e pelo Oriente e, durante a primeira guerra mundial, foi encarregado de uma missão secreta na Rússia, donde resultou uma personagem de espião, “Ashenden”, que irá justificar a publicação de um volume de curtas histórias que muitos julgam estar na base da criação de Ian Fleming, James Bond.
“Of Human Bondage”, a sua obra de consagração, não foi inicialmente muito bem recebido nem pela críitica nem pelos leitores, mas tornou-se uma obra inquestionável a partir da altura em que o influente escritor norte americano Theodore Dreiser lhe chamou “obra de génio”, comparando-a a uma sinfonia de Beethoven.
Retirado em St. Jean-Cap Ferrat, na costa francesa, Somerset Maugham aproveitou as suas experiências pessoais e as observações que foi fazendo ao longo das viagens que o levaram a todos os cantos do mundo. Foi visto como o mais cosmopolita dos escritores ingleses contemporâneos e, sob certos aspectos, poderia considerar-se mais francês do que inglês (Somerset Maugham confessou que, antes de iniciar a escrita de uma nova história, lia invariavelmente “Cândido”). Somerset Maugham, como muitos outros romancistas anglo-saxónicos seus contemporâneos, vivia obcecado pelos problemas morais e religiosos: “O Véu Pintado” (The Painted Veil, 1925) é um bom exemplo dessa mensagem de regeneração e em “O Fio da Navalha” (Tlle Razor's Edge, 1944) faz a exaltação do misticismo ascético, não deixando no entanto de ser um homem mundano, tolerante mas, simultaneamente, um crítico austero e compadecido dos humanos pecados. Em 1938, Maugham confessou: "It must be a fault in me that I am not gravely shocked at the sins of others unless they personally affect me." Há quem veja nesta confissão uma forma do escritor absolver vícios privados, sobretudo o seu proverbial apetite sexual, desculpando fraquezas alheias. Muitas vezes transferia para o universo feminino a sua voluptuosidade homossexual, pois os tempos não lhe permitiam exprimir livremente a sua própria experiência. Isso explicaria a existência nas suas obras de tantas mulheres que se deixam seduzir pelas fraquezas da carne. Mas que, na maior parte das vezes, por elas são marcadas negativamente, apesar de haver invariavelmente um momento de regeneração e sublimação do pecado.
Escritor de grande saber oficinal e de requintada sensibilidade, ostentava uma malícia fina e cáustica, envolvida por uma ternura e compreensão humana igualmente invulgares. No “Dicionário dos Autores Universais”, pode ler-se: “Nos livros autobiográficos, “O Exame de Consciência” (The Summing Up, 1948) e “Apontamentos do Autor” (An Author's Notebook, 1949), Somerset Maugham fala franca­mente, embora de maneira desligada, das suas experiências, das suas leituras, das suas preocupações ético-filosóficas; as conclusões que tira da vida são, no fundo, as mesmas que colheria um protestante liberal, um moralista dramático. A crí­tica nem sempre lhe foi favorável, gostando de rotulá-lo de “superficial”, apesar de “competente”; porém, a sua habilidade de narrador, uma clareza de espírito quase francesa e a verosimilhança dos personagens e dos ambientes fizeram dele um ben­jamim do público.” É conveniente não esquecer que S. Somerset Maugham lutou contra titãs que impunham uma nova literatura e abriam caminho à modernidade, tais como William Faulkner, Thomas Mann, James Joyce ou Virginia Woolf, entre muitos outros.
Da sua produção devem citar-se ainda, entre alguns outros: “Um Gosto e Seis Vinténs” (The Moon and Sixpence, biografia de Gauguin, 1919); “Destino de um Homem” (Cakes and Ale, que retrata, apenas veladamente, certos personagens do mundo literá­rio contemporâneo, 1930); “Cavalheiro de Salão” (The Gentleman in the Parlor), belíssimo livro de viagens. Entre as obras teatrais, numerosas e varia­díssimas mas um tanto próximas, recordamos: “Os Nossos Superiores” (Our Betters, 1917); “The Cir­ele” (1921); “The Lelter” (1923). Das suas novelas, em grande número, existe uma colectânea: “As Novelas Completas” (The Complete Short Stories, 1951).” Na literatura de viagens também é de sublinhar a sua contribuição, sobretudo com dois títulos, “The Gentleman In The Parlour”, uma viagem pela Birmânia, Sião, Cambodja e Vietname, e o já citado “On A Chinese Screen”. Publicou igualmente, em 1949, uma selecção de apontamentos de diários pessoais, "A Writer's Notebook".

Durante a II Guerra Mundial refugiou-se nos Estados Unidos da América, inicialmente em Hollywood, onde escreveu vários argumentos e foi um dos primeiros escritores a viver desafogadamente de adaptações de romances seus. Depois passou para o Sul, onde permaneceu alguns anos. Após a morte de Gerard Haxton voltou a Inglaterra, mas em 1946 instalou-se definitivamente em França, alternado permanências e viagens até à data da sua morte.
A sua vida amorosa conheceu nova relação, mantendo-se agora ligado a Alan Searle, que conhecera em 1928, mas que se tornou seu novo secretário e companheiro, depois da morte de Haxton. Um amigo comum definiu a diferença entre Haxto e Searle do seguinte modo: "Gerald era colheita especial, Alan era vinho ordinário." A existência amorosa do escritor nunca foi simples. Num momento de maior sinceridade, escreveu: "I have most loved people who cared little or nothing for me and when people have loved me I have been embarrassed... In order not to hurt their feelings, I have often acted a passion I did not feel."
Em 1947 Maugham instituiu o “Prémio Somerset Maugham”, para o melhor jovem escritor publicado no ano anterior. Por este galardão já passaram vários escritores que se tornaram particularmente notados, como V.S. Naipaul, Kingsley Amis, Martin Amis ou Thom Gunn. Em testamento, Maugham ofereceu os seus direitos de autor à Royal Literary Fund.




excertos de um artigo sobre "O Véu Pintado" a aaprecer na revista História", de junho de 2007.

segunda-feira, maio 28, 2007

LIVROS: "PARAÍSO TRAVEL", DE JORGE FRANCO

Sobre Jorge Franco disse Gabriel Garcia Marques: “um dos autores colombianos a quem gostaria de passar o testemunho.” Não é elogio de somenos.
Nascido em 1962, em Medellín, cidade colombiana, mais conhecida por outros carteis, Jorge Franco estudou Literatura na Universidade Javeriana e mudou-se para Londres para estudar cinema na The London International Film School. De regresso à Colômbia, continuou estudos e técnicas de criação narrativa na Oficina de Escritores da Universidade Central de Bogotá. Em 2001 publicou “Rosário Tesouras” (Prémio de romance Dashiell Hammett Internacional em Gijón, Espanha), que foi assinalado por, de alguma forma, ter «quebrado em mil pedaços o realismo mágico que se impusera durante trinta anos na Colombia», transformando num bestseller esta obra. Antes tinha publicado uma recolha de contos e um romance, “Maldito amor” e “Mala Noche”. Posteriormente a “Rosario Tijeras”, lançou “Paraíso Travel” e “Melodrama”, todos três editados recentemente pela Quetzal Editora, em Portugal. Sobre o autor, Carlos Fuentes disse: “São tantos os que me falaram dele que não vou perder, por nada deste mundo, o prazer de o ler.” Mario Vargas Llosa afirmou no diário “El País”: “Recomendo dois romances que li de um fôlego durante a minha viagem [¿] um deles é “Rosário Tesouras”, de Jorge Franco”. Sobre “Paraíso Travel”, disse-se nos Estados Unidos: “Podemos festejar: escreveu-se o Grande Romance Americano (de todas as Américas), embora localizado muito longe da Macondo de García Márquez; na verdade, situado aqui mesmo.” (Victor Cruz Lugo, Hispanic). É a euforia da descoberta de uma voz nova latino americana, uma voz que não tem vergonha de ser colombiana, que exalta os valores do País natal e que, não desconhecendo as dificuldades por que passa a Colombia, não faz o choradinho da desgraça nacional. Opta por um registo pitoresco, por narrativas muito cinematográficas, uma escrita visual, uma montagem em “flash backs” de tempos diferentes, personagens de carne e osso num desenho onde impera humor e a ternura. Há que fale de uma certa influencia da literatura brasileira em Jorge Franco. Vão mais longe e apontam Robem Fonseca, sexo e violência. Curiosamente, para quem acabou de ler “Mundo Perdido”, de Patrícia Melo, há muitas analogias, na escrita, no ritmo da prosa coloquial, na própria intriga, com persoagens que procuram personagens, sendo toda a obra o acompanhar de uma busca insana.
Em “Paraíso Travel” há um protagonista, Marlon, que parte da Colômbia para Nova Iorque, em busca do Paraíso prometido. Não que a ele lhe interesse muito as melhorias de vida que lhe prometem e em que ela não acredita muito, mas sobretudo porque ama Reina, e esta só lhe promete o Paraíso em terras de gringos. Falam de Paraísos diferentes. Ela vai à procura de uma casa com vista sobre a Estátua da Liberdade, um quintal, um cão, talvez um filho. Uma vida melhor, com que sonha há muito e que tudo faz para alcançar, mesmo que tenha de roubar e enganar, emigrar a salto, chegar a Manhattan e perder-se de Marlon na primeira esquina. Quanto a Marlon o Paraíso são as perna de Reina, os seus olhos, um de cada cor, a forma como se desloca, a macieza da pele, e tudo isso ele só terá em Nova Iorque. Nem um nem outra atingirão o Paraíso. De Reina ficamos sem nada saber logo no inicio, tal como Marlon. Deste vamos acompanhando a perseguição de um sonho por terras americanas. A desilusão é tremenda, sofre que nem um cão, mas nada no livro é demagogia barata, Nova Iorque não é o Paraíso, mas também não é por isso que é um inferno. O inferno surge do facto de se procurarem Paraísos utópicos e não é a América quem os vai afastar da realidade em que viviam. Não basta atravessar fronteiras a salto para mudar a vida. Pode dizer-se que “Paraíso Travel” é a história de um amor louco que se transforma em pesadelo, mas acabará por reverter numa experiência positiva para quem a vive. Um belo romance de um autor que vou continuar a aprofundar. Já comprei igualmente “Rosário Tesouras” e “Melodrama”. Quanto a “Paraíso Travel”, anuncia-se adaptação para cinema numa co-produção colombiana e norte americana. O realizador será Simón Brand, conhecido sobretudo por dirigir videoclips, homem das relações de Mel Gibson e Jim Caviezel. Jorge Franco adaptou o seu livro, em colaboração com Juan Manuel Rendón. A mexicana Ana de la Reguera fará parte do elenco, enquanto cantora (interpretará entre outras canções, "Te busco", de Celia Cruz). Do elenco fazem ainda parte Aldemar Correa, Mateo Gómez e Margarita Rosa de Francisco.
Sobre a relação entre a sua escrita e o cinema, Jorge Franco disse: "Creo que hay mucha influencia, no sólo por mis estudios sino también porque pertenezco a esa generación de escritores que desde niños estamos altamente influenciados por los medios de comunicación audiovisuales, somos una generación que nos criamos viendo programas de televisión, con tele en el cuarto, casi teleadictos diría yo... y esa influencia se ha dejado ver en nuestra literatura. El uso de tres tiempos narrativos, flash-backs o los mismos diálogos tienen una clara influencia cinematográfica".


Excertos de “Paraíso Travel”

“Pude haber muerto ese amanecer en que perdí mis pasos, no sólo porque la misma muerte me tocó el hombro sino porque lo deseé con rabia. Recordé y entendí las tantas veces que Reina decía: mejor matémonos, y que de tanto decirlo ya nadie le abría los ojos como al comienzo.
-Mejor matémonos -decía iracunda ante cualquier contrariedad.
Yo temía no sólo por la vida de Reina sino por la de todos, por la mía, que yo cuidaba sin explicación, o tal vez por ese amor pesimista que siempre le he tenido a la vida. Amor que me duró hasta esa noche en que fui el más desesperado de todos los vivos, cuando por primera vez pensé: mejor muerto, peor vivo y sin Reina. Aunque fue precisamente el recuerdo de sus ideas extrañas el que me llevó a considerar que podía dar unos pasos más.
Supe que al correr comenzaba a perderla, que también me perdía yo en lo que dura un parpadeo. Mientras huía de los policías pensé en ella, en su boca iracunda después del grito: ¡no salgas, Marlon!
Pero mi rabia también contaba y salí sin sospechar que esa noche me iba a perder en el más grande y enredado de los laberintos, resignado a tener como último recuerdo de Reina su gesto bravo, llamándome como de niño me advertía mamá: ¡no salgas a la calle, Marlon Cruz!
Le grité a Reina y salí. Nos gritamos el cansancio y el silencio que habíamos guardado desde que le dijimos sí al disparate de venir a buscar futuro a Nueva York.
-¿Nueva York? -le había preguntado.
-Sí, Nueva York.
-¿Y por qué tan lejos?
-Por que allá queda -me dijo Reina.
La idea fue suya. En general, todas las ideas eran de ella. Yo también las tenía a veces pero sólo las de Reina se echaban a andar. Y ésta ya la tenía andando. Cuando me lo dijo ya era una decisión. No me preguntó si yo estaba de acuerdo.
-Nos vamos los dos -dijo.
También habló de las oportunidades, de los dólares, de ganar bien, de vivir mejor, de salir de este pobre mierdero.
-Aquí no hemos hecho, ni estamos haciendo, ni vamos a hacer nada.
De tener por fin un sitio para los dos, de prosperar, y hasta de tener hijos, habló. Lo dijo con los ojos muy brillantes, y tan sinceros que le creí. Tan decididos que me asustaron.
-Pero eso está lejos y no conocemos -le dije.
Reina me apretó las manos y se pegó bien a mi boca. No vi sus ojos sino dos manchas vidriosas de colores diferentes que se movían rápido, como buscando el pavor detrás de los míos. También le cambiaba el aliento a Reina cuando hablaba con otro humor.
-Nos vamos los dos -repitió-. ¿O te vas a quedar aquí, igual a tu mamá, a tu papá, o al mío, jodido como todo el mundo?
Lo dijo bajito, con los labios pegados a mi cara, apretando el cuerpo, exhalando aire caliente por la nariz, sin rabia pero resuelta, clavándome los pechos en cada respiración, para que yo sintiera lo que me iba a perder si me quedaba.
-Nos vamos los dos.
No me dio un beso como pensé, sino que despegó la cara y metió la mano entre mi pelo. Ahí la dejó y siguió mirándome, como esperando a que yo le dijera algo diferente al sí que ella ya había asumido, tal vez una idea fresca que reforzara su plan, algo que le mantuviera el brillo a su mirada bicolor.
-Pero yo no hablo inglés, Reina -fue lo único que le dije, y ella sacó la mano de mi pelo.
La idea fue suya. Se lo reclamé cuando llegamos. Ya no nos quedaba dinero, no existía la dirección a donde teníamos que llegar y las cosas no habían salido como esperábamos. Habíamos aguantado y callado durante todo el trayecto. Casi no dormimos porque el sobresalto no nos dejaba, y en el día tampoco pudimos descansar, y muchas veces dudé si alguna vez llegaríamos adonde Reina quería llegar. Se lo saqué en cara:
-La idea fue tuya -le dije con rabia.
-Ya lo sé -me dijo ella-. Vos no tenés ideas.
Le reclamé que ese cuartucho nada tenía que ver con el sitio que ella me hizo soñar, el que me describió cuando imaginábamos la vida que llevaríamos. Ella era la que me contaba como si ya conociera todo, como si ya hubiera venido antes a preparar la llegada: es un apartamento blanco con vista al río y a la Estatua de la Libertad, en un piso alto con una terracita que tiene un jardín chiquito y dos sillas para sentarse a mirar el atardecer en Nueva York. Me habló de un perro que tendríamos y que sacaríamos a pasear después del trabajo y que cuidaría el apartamento mientras estuviéramos fuera. Me contó de una cocina muy limpia, llena de electrodomésticos, y de un baño blanco con bañera blanca y grande donde nos meteríamos todas las noches a hacer el amor. Vamos a hacer el amor todas las noches, me decía, y yo sentía mariposas en el sexo y pensaba: nos vamos los dos.
Pero el verdadero cuarto era como un calabozo que nos dejaron por los billetes que nos quedaron, y que tomamos porque no había otra opción. No encontramos a Gloria, su prima, la que le mandó las fotos, la que le dañó la cabeza, la que le dijo: vente, vente prima para acá, que aquí hay plata y trabajo para todos; y le mandó la foto de su apartamento, y sí, era mucho mejor, y otra foto al lado de un carro, que ahora dudo que fuera suyo, y otra foto con un perro y en la nieve junto a un muñeco también de nieve con dos ramas por brazos, una zanahoria por nariz y dos cosas negras por ojos, y todos en la foto riendo, pero extraños, ajenos, como unos micos en el polo norte.
-Vamos a conocer la nieve, Marlon -decía Reina abrazándose a sí misma, anticipándose al frío.
Yo pensaba: sí, vos podés pasar por gringa porque aunque tenés los ojos raros, son claros, y tu pelo también; con un poco de tinte quedarías rubia del todo. Pero yo soy muy de acá, pensaba pero no se lo decía. Tan de acá que no me quiero ir.
-Mirá las fotos que me mandó Gloria, mi prima. -Las mostraba como quien enseña la fortuna en un tarot.
Me las mostró todos los días porque las guardaba en su billetera, las sacaba en el bus, en la calle, para gozar con el apartamento, con el carro, el perro, con el muñeco de nieve de Gloria, su prima. Me las mostró en el aeropuerto, en cada sitio en que tuve miedo, en todo el trayecto desde que salimos hasta acá; las guardó como si fueran sus documentos, la visa que no nos dieron, el dinero que nos gastamos, el pasaporte que nos hicieron botar.
-Pero Gloria, tu prima -le dije ya en el cuartucho-, nos dio otra dirección.
-Tal vez la memorizamos mal -la defendió Reina.
-Y el teléfono, ¿también lo memorizamos mal?
Ahí nos gastamos las últimas monedas. Contestaron en inglés y Reina sólo dijo: Gloria, Gloria please, pero al otro lado le soltaron una retahíla que la llenó de miedo.
-Cogé vos a ver si entendés -me dijo.
A mí me dio hasta risa su ocurrencia. Ella dijo: Tal vez nos equivocamos, marquemos otra vez, y yo le advertí: Reina, esta es la última moneda, pero Reina me miró feo y después marcó, y otra vez lo mismo: Gloria please, y el mismo rollo en inglés. Reina se atrevió a admitir: creo que es una grabación.
-Mejor subamos -me dijo- y mañana volvemos a llamar.
Yo le pregunté: con qué, y ella me dijo: algún vecino nos prestará el teléfono, pero yo dudaba que en ese tugurio hubiera otro teléfono que no fuera ése del pasillo. Y cuando volvimos a entrar me sentí desesperado entre tanta dificultad.
-La idea fue tuya.
-¿Qué creías? -me dijo-, ¿que íbamos a llegar a un Hilton?
-No, pero sí adonde tu prima.
Tal vez era por el tamaño del cuarto pero todo lo que hablábamos sonaba a gritos. Reina me dijo: mañana llamo a Gloria, mejor durmámonos que hace días no dormimos. Entonces yo le pregunté: ¿qué vamos a hacer, Reina?, pero ella no me contestó, le pregunté de nuevo y más fuerte: ¡¿qué vamos a hacer?!, entonces ella con su mirada me mandó para la mierda, y como me quedaba un cigarrillo decidí que me lo fumaría afuera, ventilaría mi ira, pensaría, caminaría para pensar. Tiré la puerta y ella después la volvió a abrir.
-¡No salgas, Marlon! -gritó.
Bajé las escaleras oscuras saltando los escalones de dos en dos y todavía escuchaba a Reina vociferando: no conocemos, Marlon, no tenemos papeles; llegué al pasillo, miré con rabia el teléfono que nos robó el medio dólar y salí a la calle. No saqué la chaqueta y el viento frío me pegó en el cuerpo, pero cuando encendí el cigarrillo sentí un poco de calor. Miré hacia arriba buscando a Reina en alguna ventana, pero ni siquiera estaba seguro si la nuestra daba a la calle, o si acaso teníamos una. Miré al frente y vi una valla iluminada donde alcancé a distinguir la única palabra que entendí: Queen. La conocía porque significa Reina.
Comencé a caminar y a pesar del frío el aire fresco me cayó bien. Pensé que Reina podía tener razón: después de dormir veríamos las cosas más claras. Tal vez al otro día encontraríamos a Gloria y todo se arreglaría. Ya le había dado media vuelta a la manzana, el cigarrillo ya iba por la mitad y mi arrebato también. Decidí dar la vuelta completa y contarle lo tonto que había sido. Tiré la colilla y doblé la esquina para volver, pero una mano en el hombro me heló el corazón, la mano enojada de un policía.
Él habló y yo no le entendí. Señaló la patrulla que yo no había visto, o tal vez señaló a su compañero que hablaba por radio. Creo que balbuceé y también creo que él dijo algo que tampoco entendí pero que hizo que mis pies decidieran por mí. Y mientras él miró al otro para hablarle, yo eché a correr a grandes zancadas empujado por el pánico, atropellando a la gente pero sin caer; miré hacia atrás y los policías también corrían, no muy lejos, abriéndose paso con sus silbatos y con sus armas desenfundadas pero todavía sin apuntar. Mis pies volaban y a mis pies frenaban los carros en cada calle que cruzaba. Veía sus luces como si corriera dentro de un carrusel. Los policías siguieron persiguiéndome pero el miedo me hizo más veloz.
«¡No salgas, Marlon!».
Corría y recordaba el grito que debí atender. Corrí con los otros dos detrás y con los carros entre mis piernas, y las luces encandilándome, pero seguí corriendo, ¡no salgas, Marlon!, y doblé más esquinas y corrí sin saber si iba a poder, pero los bocinazos me acosaban, veía a los policías cada vez más cerca y pensaba en Reina y en Dios. De pronto, sentí un golpe seco al cruzar otra calle, me atropellaron, pensé, pero no fue a mí, fue a uno de ellos, uno de los policías voló cerca, casi a mi lado, entonces el otro se detuvo, miró a su compañero en el piso y me miró a mí, pero yo seguí corriendo, y corrí más entre muros inmensos con avisos luminosos y edificios que se perdían en lo alto, entre un mar de gente a la que poco le importaba la carrera de un perseguido sin perseguidor.
Corrí muchas calles hasta llegar a un sitio oscuro, o hasta donde me llevó el desaliento y obedecieron mis pies. No sabía cuánto había corrido. Fueron muchas calles y un puente largo; siempre lleno de pánico pero no con tanto como en ese instante después, cuando con los ojos aguados miré alrededor y no distinguí nada familiar; estaba en medio de unas bodegas y aunque había letreros yo no los podía entender. Todavía ahogado recordé lo que siempre le había dicho a Reina: yo no conozco, yo no hablo inglés.
Y después su grito: ¡no salgas, Marlon!, que con el tiempo se ha ido desvaneciendo entre los otros tantos que vocifera Nueva York; por el que luché para que no perdiera su eco porque fue lo único que me sostuvo para seguir buscando a Reina.
***
-Mi nombre es John Roberts y voy a manejar este bus durante las próximas ocho horas -dice el conductor, en inglés, a través del altavoz-. Tienen los reglamentos frente a ustedes pero voy a recordárselos?
John Roberts comienza la lista de prohibiciones pero nadie le pone atención; están acostumbrados a que en este país todo lo que se prohíbe se hace. NO smoking, NO drinking, NO fucking, NO killing.
-No quiero oír música, no me gusta -dice John Roberts. No quiere oír charlas ruidosas, no quiere desorden y aunque sobre decirlo lo va a decir-: no quiero saber de alcohol ni de cigarrillos en este bus.
Suspende las advertencias para echarse un caramelo en la boca.
-Tengo amigos en la Policía que se pondrían muy contentos de ayudarme a sacar a quien viole el reglamento -dice masticando el caramelo.
Un pasajero levanta el dedo que le gustaría meterle a John Roberts por el culo. Yo miro la reacción de mi compañera de banca, pero ella está concentrada en acomodar sus bolsas. Es una negra enorme, entrada en carnes y en años, que también intenta acomodar su gordura en el asiento.
-Por último -dice el conductor-, nuestra próxima parada es Baltimore. Si no hay problemas con el tráfico, llegaremos en tres horas.
-Pues yo ya tengo hambre -dice la mujer que viaja a mi lado. Y me pregunta-: ¿Usted no?
Con esto de ver otra vez a Reina me he olvidado de comer. Ni siquiera comí cuando estuve en la estación. No me moví de la puerta que me asignaron; no pasará otra vez, no me volveré a perder ahora que ya sé dónde está. Y comeré cuando llegue; tal vez ella también querrá comer algo, si la sorpresa la deja y si la emoción no nos cierra el apetito, como ahora me lo cierra a mí. Comeré con Reina un año y tres meses después. Un año, tres meses y cinco días después.
A la mujer que va a mi lado le digo:
-No, todavía no tengo hambre -y le aclaro-: voy a esperar hasta que llegue a Miami.
Suelta una carcajada que hace que los otros miren. John Roberts también mira por el espejo retrovisor. De ella me asombra el tamaño de sus dientes: son grandes para cualquier boca, pero los tiene blancos y limpios. Se sigue riendo mientras menea la cabeza de un lado a otro, seguramente sumando las treinta horas de este viaje.
-Ay, ay -se queja en medio de la risa. Se pone la mano en el pecho y se obliga a parar de reír.
Me asombra el tamaño de sus fosas nasales dilatadas en su afán por respirar. Me dice: ay, amigo. Luego no dice más. Cierra los ojos y comienza a ronronear. Yo recuesto la cabeza y miro hacia fuera, y me veo a mí mismo reflejado en el vidrio, viendo cómo se aleja Nueva York. Se aleja lento como si supiera que voy a encontrarme con ella, o tal vez para que recuerde lo que dejo atrás, lo que logré por mi cuenta y sin Reina, por la que dejé Colombia y me vine a este país.

Reina, la del barrio, así me hablaron de ella, o de la que se fue y volvió, al cabo de mucho tiempo. Se fue con su madre y regresó sin ella. Volvió con su padre, los dos con la cara larga.
-¿Qué les pasó? ¿Se murió la señora?
Nadie había muerto. La señora, la madre, se había ido. Mamá subió los párpados y torció la boca, no dijo nada pero todos supimos lo que hubiera querido decir. Pero al menos esa vez no dijo nada, no delante de nosotros. A mí me insistieron: Reina, la de los ojos de distinto color, pero yo no relacionaba a ninguna con la que había llegado.
-No la reconozco -dije.
-¡Reina! ¡La que tiene un ojo de un color y el otro de otro!
-Me rindo. No sé cuál es.
Cómo iba a identificarla si se fue niña y volvió mujer. Si se fue fea y volvió preciosa. No parecía la misma. Si no hubiera sido porque a su papá sí lo recordaba, hubiera pensado que me estaban molestando.
-¡¿La misma que??! Pero si no parece.
Sí volvió toda formada y toda hecha; así la veíamos subir, bajarse del bus, caminar a la tienda de la esquina, entrar a misa.
-Y uno durmiendo solo con un radio -decía Juancho Tirado, salivando.
Era ella, entonces. La que de muy niña jugaba con otras niñas del barrio, jugaban a la golosa, a la cuerda, a las escondidas. A ellas les robábamos los dulces, las monedas, y nunca les permitimos jugar con nosotros, entrar a nuestro clan; no se aceptan niñas, sólo mujeres, aclaraba Eduardo Montoya; nosotras somos niñas, decían las niñas en coro.
-Entonces bájense los calzones -decíamos, y ellas salían corriendo y gritando. Después volvían, a los pocos días, buscándonos otra vez:
-Nosotras somos mujeres.
-Entonces vengan y orinen con nosotros -y de nuevo corrían despavoridas, dando gritos como si fuéramos unos psicópatas.
Y entre las que gritaban y huían estaba Reina. De vestidito corto, rodillas sucias, pelo revuelto, con los dientes desproporcionados, fastidiosa y cruel como todas las niñas, odiosa como todos los niños, maloliente, bulliciosa, niña al fin de cuentas. Muy distinta a la Reina que volvió diez años después.
-Toda una reina -decía Carlitos apretándose el bulto.
-¿Y por qué volvió? -pregunté mientras la vimos cargar los paquetes de la tienda, mientras me inventé una respuesta porque Juancho Tirado, Carlitos y Eduardo Montoya salieron como tres rayos a ayudarle con las bolsas, y ella se dejó ayudar, un poco confundida al comienzo y más sonriente después. Yo me quedé recostado en el muro viendo cómo la atosigaban los tres perros, pensando que ya perdía puntos al quedarme quieto, que finalmente uno de ellos la conquistaría, pensando, mientras los veía alejarse en un corrillo de risas y zalamerías, aunque luego me quedé tieso, de una pieza, porque antes de doblar la esquina, cuando ya sólo veía sus espaldas y pensaba que todo estaba perdido, Reina se dio vuelta y me miró, no como se mira a cualquier cosa, no, sino como se mira a algo que uno quiere mirar.

-¿Quiere uno? -me pregunta mi compañera de viaje y pone una bolsa de papel, abierta, debajo de mis narices.
-No, gracias -rechazo sin siquiera preguntar qué es.
-Son muffins -me explica-. Muffins de blueberry.
Miro rápidamente dentro de la bolsa pero puede más el aroma que la visión, gana el olor porque me obliga a cerrar los ojos. Luego el recuerdo le gana al aroma y aparecen de pronto el olor de mi casa, el olor a patio o a la cocina de mamá, entonces el instinto le gana a la evocación, y siento, como tantas veces, unas ganas imparables de regresar.
-Yo misma los hice -me trae de vuelta la voz gruesa de la negra, y antes de que yo pueda decidir, ella insiste-: vamos, hombre, no ha comido nada desde que salió. Coja uno.
Tomo uno y al tacto lo siento parecido al olor. Me lo llevo a la boca y ella espera mi aprobación. Asiento con la cabeza y mastico mientras ella dice:
-Yo soy Charlotte.
Creo que me he perdido en el sabor. Dudo si lo que entendí fue su nombre, su lugar de origen o su destino; además, inmediatamente, le agrega a mi confusión más nombres de mujer:
-Soy Charlotte, soy de Virginia, y voy hasta Augusta, en Georgia.
Después de un año mi inglés no es tan malo, aunque lo aprendí a las patadas, para sobrevivir, por eso es que siempre relaciono este idioma con la necesidad.
-¿Y usted? -me pregunta.
Me doy tiempo para responder mientras mastico. Para decidirme por su nombre y para postergar lo que da tanto trabajo encarar, algo tan sencillo pero tan escabroso como decir: mi nombre es Marlon Cruz y soy de Medellín, Colombia. Porque luego viene siempre el gesto del otro: de interrogación, de asombro o de terror.
-Oh, qué interesante -dice Charlotte para disimular, como todos, su pasmo, su horror o su ignorancia, porque hasta el momento no he entendido qué puede tener de interesante ser de Medellín, Colombia. Y luego agrega como casi todos-: tengo una sobrina allá, en Bolivia -dice, y yo sonrío pensando que también podría ser en Asunción, Maracaibo o Panamá. Para ellos es lo mismo. Sin embargo, mi nacionalidad no espantó a Charlotte, porque me ofrece otro muffin, y pregunta:
-¿Tienen blueberries en??
Me dan ganas de decirle: dígalo tranquila, que ese nombre no explota. Pero me limito a sacarla de su apuro y le respondo: Medellín. Y me pregunto: ¿Blueberries en Medellín?, y hasta me río porque ni siquiera sé cómo se dice eso en español, y para que no vaya a pensar nada raro de mi risa, le explico:
-Sí, sí tenemos. Todo es posible en Medellín.
Pienso: todo menos el olvido. Yo que perdí mi ruta no he podido olvidar, por mucho que lo he intentado, lo que soy y de dónde he venido, no por renegar o por vergüenza, sino para poder empezar de cero, sin remordimientos y con los pies bien puestos sobre este lado de la tierra.
Pero olvidé precisamente lo que no debía: mis pasos huyendo, mis pasos despavoridos, frenéticos, atravesando demente una ciudad desconocida.
Creí que esa misma noche encontraría a Reina, que era cosa, simplemente, de deshacer los pasos corridos y buscar el rastro que dejó mi fuga, echar reversa, devolver el tiempo, o si tan sólo hubiera sido posible, perder el miedo y recobrar la calma. Me dije: no es tan difícil volver, es cuestión de tranquilizarse y recordar. Me repetí: no es tan complicado, no es imposible. Y cuando comencé a caminar, muy despacio, mirando hacia arriba para reconocer algo, recordé lo que me habían advertido:
-Allá todo es igual.
Me lo había dicho Carlitos, que se mosqueaba mucho siempre que se tocaba este tema. Él nunca estuvo de acuerdo con nuestro viaje. Me insistió hasta el cansancio: te vas a comer toda la mierda que no te has comido nunca.
-Pero mierda gringa -me dijo Reina, después.
-Tal vez Carlitos tenga razón.
-Entonces quedate con Carlitos -me sugirió Reina.
Le bregué mucho a la memoria para tratar de volver al lugar donde empecé a correr. Me exigí que tenía que recordar algo, una puerta, un letrero, tal vez la mancha de sangre que derramó el policía antes o en el instante de morir.
-Al menos un olor -me obligué.
Un color, un sonido, una idea de algún sitio, tantas cosas que tiene una ciudad para recordar. Tantas cosas, y yo no pude encontrar ninguna. Presentí, además, que caminaba en círculos, como quienes caminan perdidos en una selva.
Después me quedé quieto para ver si ella me encontraba, así como esa vez, sin buscarla, yo me encontré con su mirada, esa primera tarde cuando mis amigos corrieron tras ella y fue Reina la que haciendo caso omiso de ellos, se inquietó por quien se había quedado recostado en el muro, preguntándose por qué había vuelto Reina a nuestro barrio.
-Parece que la mamá los dejó -me contaron luego.
-¿Y por eso volvieron? -pregunté.
-A lo mejor quieren olvidar.
-Nadie vuelve para olvidar -contesté.
Ni siquiera yo, que meses más tarde quise encontrar el sitio exacto donde me vi perdido, el puro corazón del laberinto. Volver allí como se vuelve a una tumba para decirle a quien yace: tú estás muerto y yo estoy vivo, para decirle: déjame vivir, que no tengo otra opción. Volver para matar al muerto, para descartar el encuentro imposible y desechar el milagro. Busqué mucho ese lugar, ya no para recordar el camino perdido hacia Reina, sino para olvidarlo. Pero se me borraron para siempre esas calles donde, aterrorizado, vomité y por donde vagué congelado y aturdido, arrimado a las canecas y a las hogueras de otros callejeros.
No sé cuántos días estuve en ese trance, porque cuando uno se pierde también se pierden, entre muchas cosas, el tiempo y el espacio. Lo poco que recuerdo son momentos tan perdidos como yo, tan borrosos como la gente que me miraba con fastidio; algunos que me pasaron comida y hasta monedas que nunca les pedí. Después vi a Reina escondida en las esquinas, vi luces de sirena y policías, vi gatos flacos entre las canecas escarbando lo que yo también buscaba, oí voces en otro idioma y el grito de Reina, ¡no salgas, Marlon!, la voz de mamá y el rostro implorante de papá. Oí ruidos y vi sombras en desorden, y a la muerte de gancho diciéndome como me decía Reina: mejor matémonos, y otra voz, tal vez la mía, que me animaba: sigue caminando que ya la vas a encontrar. Entonces, por momentos lo creí, a ratos también fui consciente de mi desvarío, por eso no supe qué fue y qué no fue, y por eso dudé tanto cuando vi el letrero y leí lo que de acuerdo con la lógica no tenía por qué leer, pero que me hizo creer que yo no estaba ahí, que ni siquiera había salido, que muy cerca entonces tendrían que estar los míos y mi casa y los amigos y hasta Reina. Por eso pensé: estoy loco, cuando después de varios días de estar buscando, leí las letras rojas sobre fondo amarillo, que en un cartel muy grande decían: Tierra Colombiana.

domingo, maio 27, 2007

LIVROS: "MUNDO PERDIDO", DE PATRICIA MELO

Patrícia Melo


Patrícia Melo é, nos últimos anos, uma das explosões brasileiras em termos de literatura. Rubem Fonseca é o seu mestre confessado. O que deixa garantia de bom gosto, não de génio. Mas o génio descobre-se por detrás deste seu último romance, “Mundo Perdido” (Ed. Campo das Letras, Porto, 2007).
“O Matador” era um dos seus romances de início de carreira, tinha Máiquel como protagonista, alguém que se transformava em assassino pelas contingências da vida e de uma sociedade marcada pela violência. Máiquel regressa agora neste “Mundo Perdido”, assumidamente assassino profissional, que mata por encomenda, mas que percorre as quase duzentas páginas da obra em busca da filha Samanta, que Erika, sua ex-companheira, e o pastor Marlénio, de uma seita neopentecostal, raptam e levam consigo, ao longo de uma tortuosa fuga que passa por todo o Brasil e ainda entra e sai da Bolívia.
Numa escrita forte, incisiva, nervosa, popular na sua terminologia, utilizando o calão com à vontade e propriedade, Patrícia Melo dá-nos um retrato de um pistoleiro aparentemente sem escrúpulos, que mata com um simples dedilhar de gatilho e vai embora sem problemas de consciência, mas que também se toma de amores por um cão vadio, feio, sujo e doente, que leva consigo até ao inferno sem pestanejar igualmente. Para lá desses retratos individuais, de Máiquel, mas também de algumas mulheres (como Eunice) que com ele se cruzam, e de alguns outros detectives privados que o servem, o que mais impressiona é a descarnada panorâmica de um país onde a violência se entranhou em todo o seu tecido social, onde ela é física, despudorada e animalesca, é certo, mas sobretudo psicológica, em seitas religiosas, em chefões policiais ou políticos, numa onda de capitalismo selvagem que mergulha até ao mais ínfimo, e onde o sucesso económico se basta como projecto de vida, desde o capitalista de São Paulo ao sem-terra da Rondonia.
A loucura homicida de Máiquel é um símbolo da loucura homicida de uma sociedade que se autodestrói sem futuro, sem alma, sem perspectivas. O humor e a ternura de algumas passagens só serve para estabelecer um confronto e agigantar a falta de uma perspectiva moral ou, melhor ainda, apenas humana.
Patrícia Melo tem a paixão do cinema. Já escreveu argumento para Rubem Fonseca e este já adaptara em 2003, o “Matador” de patrícia ao cinema, num filme chamado "O homem do ano", com realização de José Henrique Fonseca, filho de Rubem Fonseca. Tudo leva a crer que “Mundo Perdido” lhe siga o rasto e não nos tomamos por videntes excepcionais se preconizarmos matéria fértil para um bom thriller. Os americanos de 40 (Walsh, Fuller, Hawks, Huston, etc.) chamavam-lhe um figo. Que lhe chamarão os brasileiros de 2000?

Excertos de “Mundo Perdido”

(…) Estrada é bom pra pensar. Você engata a quinta, os pensamentos nascem do nada, de um buraco negro, você vê uma propaganda de seguro de vida para toda a família, uma família na mesa de jantar, sorrindo, papai, mamãe e filhinhos, e você pensa que a melhor hora de atacar é essa mesmo, quando todos estão se empanturrando, e depois os pensamentos continuam, um atrás do outro, e, quando você vê, você já está lá, pensando coisas, pum, o dia em que eu vou morrer, vermes, podrião, fim, ninguém mais mora aqui, só casca, esse carro vira lixo, sucata, as pessoas vão todas morrendo, as que você conhece, não sobra quase nada, e você continua com seus pensamentos, remexendo lá atrás, com raiva, adorando, odiando, esquecendo, e a coisa vai crescendo, ou nãoi, porque a Eunice atrapalha muito, ela tem mania de ler placas em voz alta e fala sem parar, desde pequena, sabe?, Máiquel, quando aprendi a ler, vi que não tinha volta, eu saía na rua com minha mãe e lia tudo o que aparecia na minha frente, preços, faixas, listas, placas, cartazes, propagandas, tudo, minha mãe, analfabeta, queria que eu lesse para ela alguma informação, nome de linha de ônibus, essas coisas, eu me sentia na obrigação de ler tudo o que aparecia na minha frente, era uma sensação ruim, como se as letras me atacassem, às vezes eu fechava os olhos, só para ter paz. Até hoje eu sou assim. Quer dizer, não fecho os olhos, leio tudo. Mas não sofro. Se está escrito, leio. Mas não dá para ler baixo?, perguntei. Não, não dava, ela precisava ler em voz alta. Porque era costume. Olha essa. Vendo esse terreno e outros melhores que este. Caramba, Máiquel, quem vai comprar este se eles vendem outros melhores? E depois você fala que Nova Iguaçu é feia. Osasco é de matar, hein? Poluída. Entulhada. Porra. Assim, eu não conseguia pensar . (p. 45-46)

(…) Eu ando pensando em virar pastor, também, disse Anderson, isso é que dá dinheiro no Brasil. Além do mais, você não precisa de faculdade, é só blábláblá mesmo, sabendo ler e escrever, o Espírito Santo cuida do resto.
Estávamos no escritório do Anderson, ele fumando, eu ouvindo. Pago tanto imposto, ele dizia, agora esses safados, esses macacos animadores de auditório, porque é isso que eles são, no começo sem as câmeras, sem os estúdios, e depois conseguem tudo, concessões do governo, viram donos de televisão, você já viu a quantidade de programa religioso na TV? Eu quase não ligava mais a televisão desde que a Eunice tinha se mandado. Só para ver futebol. Uísque, cigarro, cartão de crédito, antigamente eu adorava assistir essas propagandas, mulheres lindas, felizes, com jóias, homens com copos de bebida na mão, gargalhando, cheios de dentes, fumando, com cada carrão, andando na praia, de calça branca, em câmera lenta, agora isso quase não existia mais. Você nem via mais mulherão na TV. Só executivas, donas de casa, preocupadas em economizar. O Ministério da Saúde adverte, eles dizem, cigarro provoca câncer. Agora é assim. E oferecem frango a granel, coxão mole, boneca Susi pesquisadora de borboletas, três vezes de dez e noventa, aparelho de jantar dezesseis peças Duralex, quatro pratos rasos, quatro fundos, três vezes de seis e sessenta, e cortina em algodão cru, panela de pressão, tudo baratinho, a prazo, em vinte vezes ou mais, as Casas Nahia não te deixam em paz, propagandas feias, gente feia, tudo para você e seu lar, eles dizem. Quem não tem lar, como eu, não se interessa.
Para abrir uma seita, continuou Anderson, a única coisa que você precisa é cara-de-pau. Você vai no cartório e pronto, vira ministro. E não paga nada. É por isso que hoje tem igreja para cada tipo de fiel, bicha, empresário, surfista, até para os que querem falar com Deus em inglês. Neguinho mata dois coelhos com uma só cajadada, fala com Deus e aprende inglês. Mas e a Érica?, perguntei. Impressionante como o Anderson fugia do assunto. Érica se mandou, e você está perdendo seu tempo aqui em Campo Grande, ele disse. Pode fazer a mala e se picar. Ela deixou a cidade faz quatro dias. O safado do marido foi junto. (pág. 83-84)

(…) Fazia três dias que a gente estava na farra. Ela gostava de cheirar, a Lúcia. E de beber. Trazia pó para a pensão, trazia uísque também, e a gente se divertia.
Lembro ainda da primeira vez que ela subiu para o quarto. Fodemos de roupa e tudo. Agarrei Lúcia na porta. Levantei a saia dela, enfiei meu pau pela lateral da calcinha, segurando-a pela bunda. Ela sussurrou no meu ouvido, vou gozar, e aquilo me deixou com as pernas bambas. Deitei Lúcia na cama e passei o resto do dia fodendo. Lúcia era escandalosa, ria alto, gargalhava, falava palavrão, mas, na hora de gozar, sussurrava.
Outra coisa boa de Lúcia é que ela gostava de pau. Logo notou que eu tinha uma estrela tatuada ali. Nem toda mulher notava. Tem mulher que gosta de foder, gosta de um caralho no meio das pernas, mas não gosta de pau. Digo, não gosta de pegar. Nem de chupar. Não era o caso de Lúcia.
Por que você fez essa tatuagem?
Contei que tinha sido por causa de Érica. Sou mais velha que você, ela disse, vou te ensinar um segredinho: quando você está na cama com uma mulher, uma mulher bonita como eu, não fale de outra mulher. É chato, entendeu? Inventa qualquer merda. Minta. Diga que foi promessa. Para Nossa Senhora Aparecida.
Você perguntou, eu disse.
Isso não significa que eu queria saber a verdade. Não sou cientista. Nem sua mulher. Estamos aqui curtindo, entendeu?
Entendi. Foi promessa. (pág. 141)

EM SEIA

Um dia e meio em Seia, terra que bem conheço. Foi ali que instalei o quartel-general quando andei a filmar “Manhã Submersa” na Serra da estrela, corria o invernoso Dezembro de 1979. Foi ali que, há 13 anos, me convidaram a dirigir o Cine Eco. Foi ali que voltei sexta-feira para reunir com a equipa do Cine Eco, para continuarmos a preparar a edição deste ano, para visitar o CISE, e para corresponder a um amável convite da Escola Superior de Turismo e de Telecomunicações para acompanhar, ainda que só parcialmente, a “OdiSeia 77”.
Gosto da Serra e gosto de Seia. Gosto da gente de Seia, boa gente beirã que não é de muitas falas nem de hipocrisias, mas que sabe distinguir quem lhe quer bem de quem a quer apenas enganar, gente que progressivamente se vai abrindo aos que começa a saber serem amigos. São muitos os que me tratam já por “senense”, e eu gosto de ser “senense”, apesar de lisboeta por nascimento.
Julgo que, nesta altura, doze edições passadas, o Cine Eco é um dos mais populares e considerados festivais de cinema e vídeo portugueses. O único de temática ambiental. Internacionalmente era muito mais conhecido e conceituado que internamente, mas, no ano de 2006, deu finalmente o salto a nível nacional, quando foi distinguido com o Prémio Nacional do Ambiente, e igualmente com a atribuição do seu Prémio da Lusofonia a “Ainda Há Pastores”, de Jorge Pelicano, que salientou dois factos interessantes de sublinhar: a importância e independência de um festival que teve a coragem de aceitar (e abrir oficialmente o concurso) com uma obra que tinha sido recusada num conceituado festival de Lisboa, e o facto do prémio da Lusofonia ali conquistado ter permitido “arrancar” com o filme para uma carreira gloriosa, a nível nacional e internacional. Depois, o inverso também foi verdade: o caminho do próprio filme projectou também o certame que o estreou. Nunca se estabeleceram tantas extensões do Cine Eco, de Norte a Sul de Portugal. Nunca tanta gente falou do Cine Eco em Portugal. Nunca tantos “MILHARES” de espectadores viram os filmes a concurso do Cine Eco da Madeira ao Algarve.
Na reunião de sexta-feira foi estabelecida a data definitiva da XIII edição, que irá decorrer entre 22 e 27 de Outubro próximo. Este ano uma novidade de peso: as sessões a concurso irão acontecer no excelente auditório, do ainda não inaugurado CISE (Centro de Interpretação da Serra da Estrela), uma estrutura criada para desenvolver actividades de educação ambiental e de valorização do património ambiental da Serra da Estrela. São várias as acções científicas, artísticas e educativas que já se vão podendo ali criar e apreciar. Em Outubro, os jurados internacionais e os jovens, e público em geral, ali estarão, em sessões às 15, 18 e 22 horas, a ver o que de melhor se fez em todo o mundo sobre ambiente em audiovisual. Muitas outras iniciativas se preparam, mas a reunião foi “à porta fechada”. Há que manter o segredo até ao momento oportuno.

Uma sala de jantar preparada pelos alunso da ESTTS

Não se deve fazer o mesmo em relação às actividades da Escola Superior de Turismo e de Telecomunicações de Seia, integrada no Instituto Politécnico da Guarda. Trata-se de uma escola jovem, instalada num excelente edifício desenhado e construído para o efeito, que funciona ainda há poucos anos, mas que se tem afirmado de forma fulgurante na sua área. Nos últimos três anos, para assinalar o aproximar do fim do ano lectivo, a ESTTS leva a efeito um curioso evento denominado OdiSeia. Já houve OdiSeia55, OdiSeia66 e este ano foi a OdiSeia77. 77 horas consecutivas de actividades ligadas ao Turismo e à Hotelaria. Iniciada às 19, 30 horas de 23 de Maio, prolonga-se sem intervalo até às 00,30 do dia 27. Mais de uma centena de alunos e muitos professores asseguram actividades, do entretenimento á cultura, do cinema á gastronomia. Ali almoçámos principescamente na sexta-feira, ali jantámos no mesmo dia com uma ementa que só de ler aguça o apetite. Todo elaborado pelos alunos, para degustação dos convidados, alunos que nos intervalos das refeições agarram nos visitantes e os levam a percorrer os corredores da escola, mostrando o seu orgulho na instituição da na OdiSeia.
Para fazer inveja aos meus leitores, veja-se o que se comia na noite de sexta, num “Jantar Jardim dos Aromas”. A ementa rezava assim: A abrir: Estaladiço de morcela da Beira com agridoce de maçã brava de Esmoífe e salada de rebentos. Seguia-se o prato de peixe: Naco de bacalhau braseado sobre batata cartão e couves salteadas. Emulsão de coentros e pimentos vermelhos. A intervalar: Sorvete de limão. Prato de carne: Lombinho de porco recheado com farinheira e cogumelos em crosta de ervas frescas e legumes da Beira. Como sobremesa: Trufo de chocolate, morangos com pimenta rosa e tomilho, espuma de alfazema. Que tal? Digo-vos que delicioso. Sem qualquer favor.

Com a excelente “agravante” de ser saboreado o jantar dos aromas numa mesa de aprazíveis companheiros de conversa, senenses da velha guarda e outros de guardas mais recentes que tornaram muito agradável esta noite que passaria ainda por um auditório, onde se viu desfilar outros alunos com o último grito da moda para a hotelaria. Já imaginaram?
A noite acabou mesmo no já muito nosso conhecido Hotel Camelo. Um must durante o festival.

LISBOA A SÉRIO? SÓ AGORA?

Apareceram por Lisboa, cartazes do PSD com foto do candidato Fernando Negrão, com o slogan: "LISBOA A SÉRIO".
Quer isto dizer, como parece (e já calculavamos), que "LISBOA FOI A BRINCAR ATÉ AGORA PARA O PSD" ?
Ou trata-se apenas de uma frase infeliz?
Ou já estão a tentar queimar o candidato dentro do próprio PSD?

Além disto, o candidato do PS à autárquia do Seixal em 2005, acusa o de Lisboa de plágio.
Veja-se notícia do "Portugal Diário":
"O candidato do PS à Câmara do Seixal nas autárquicas de 2005, Menezes Rodrigues, acusou hoje o candidato do PSD à autarquia de Lisboa, Fernando Negrão, de plagiar o seu slogan de campanha «Seixal a sério».
«Fiquei espantado quando vi o outdoor da campanha de Fernando Negrão, porque tem exactamente o mesmo slogan: Lisboa a sério», disse à agência Lusa o dirigente socialista e do Sporting Clube de Portugal.
Segundo Menezes Rodrigues, «poderemos estar perante um caso de violação dos direitos de autor», mas também perante «uma dupla infelicidade da parte do PSD».
«Além da questão do plágio, o PSD também devia tomar nota que, no Seixal, em 2005, não ganhei as eleições autárquicas e a CDU teve maioria absoluta. Se calhar Fernando Negrão e o PSD em Lisboa vão agora pelo mesmo caminho», disse o dirigente sportinguista."

sexta-feira, maio 25, 2007

SOBRE O NOSSO FUTURO

Uma jovem canadiana de 12 anos fala sobre o seu e o nosso futuro.
Conferência das Nações Unidas (Brasil).

quinta-feira, maio 24, 2007

ESTARREJA: UM PASSEIO EM FOTOS

na Av. Visconde de Salreu

uma esquina
O FCPorto em festa

Cafés e esplanadas
a praça central
O monumento aso mortos da I GG
a Biblioteca Municipal
Frente á capela de Santo António,
a caminho do Cine Teatro
Cine-Teatro de Estarreja
fotos do autor e de MEC