quinta-feira, maio 31, 2012

"MANHÃ SUBMERSA" EM CERVEIRA

Vão comer a "Manhã Submersa"
em Vila Nova de Cerveira, 
durante as "Curtas de Gastronomia",
na noite do dia 8 de Junho. 

terça-feira, maio 29, 2012

CINEMA: PROCUREM ABRIGO



PROCUREM ABRIGO 

“Procurem Abrigo” é uma experiência profundamente angustiante e inquietante, prolongando de forma particularmente coerente o ambiente de uma América rural, aparentemente bucólica, mas no fundo brutalmente traumatizada, que já vinha do belíssimo filme de estreia de Jeff Nichols, “Histórias de Caçadeiras”. Em ambos os casos, no centro do drama encontram-se células familiares que vivem momentos de crise. Falar aqui de crise, não será tão estranho como possa parecer. Esta crise de “Take Shelter” é uma crise individual, mas tudo leva a crer que a sua leitura possa ser metafórica e envolver não só a sociedade americana actual, mas toda a humanidade.
Curtis (Michael Shannon) vive no Ohio, numa região do Midwest de indesmentível beleza paisagística, serena e quase bucólica. Ele é um homem íntegro e religioso, branco conservador e tradicionalista, devotado ao trabalho e à família, com dedicada mulher, Samantha (Jessica Chastain) e uma muito amada filha, surda-muda, Hannah (Tova Stewart). Tudo parece correr na mais discreta harmonia, o seu companheiro de trabalho, Dewart (Shea Whigham), chega mesmo a invejar a sua vida. De forma insidiosa mas insistente, no entanto, a paranóia instala-se. Curtis começa a ter sonhos e visões perturbadoras. A tempestade agiganta-se no céu toldado de pesadas e negras nuvens, os raios ameaçadores cruzam o horizonte, a chuva é pegajosa e suja, assemelhando-se, nas suas palavras, a óleo de carros. Nos seus sonhos cada vez mais frequentes sente-se atacado pelo seu fiel cão, é assaltado no carro quando viaja com a filha, tem ataques de ansiedade quando conduz, adoece com febre, inunda a cama de urina numa noite de pesadelo… Sempre que olha o céu, a ameaça vislumbra-se, acompanhada de alarmantes sons e presságios funestos. Pássaros negros atacam-no e depois despedem-se do céu caindo com fragor na estrada. Pergunta-se: Sou só eu que vejo e ouço o que se passa?
Curtis sabe que a mãe (Kathy Baker) se encontra num lar há trinta anos desde que lhe foi diagnosticada esquizofrenia paranóica. Um dia vai visitá-la para lhe perguntar quais os primeiros sintomas da sua doença. “Tinha pesadelos?”, pergunta. “Não, mas passei por períodos stressantes, que geravam o pânico. Sentia-me observada e ouvida por toda a gente”. A hereditariedade constrange-o. Ele não acredita que sonhe. Para Curtis aqueles sinais são presságios, pressentimentos: “Tenho medo do que venha aí!” Procura um psiquiatra, é ouvido por uma psicóloga. E começa a preparar um abrigo subterrâneo para se precaver, a si e à sua família, do que há-de vir. A sua normalidade foi para sempre transtornada. Contrai dívidas, perde o emprego, destrói a harmonia familiar, volta-se contra os amigos, explode com violência num jantar durante o qual é acusado de estar louco.
Curtis tem medo do que aí vem. A natureza parece a todos pacifica mas a ele não. Na aragem que varre as árvores ele descobre a tempestade. A chuva que cai em pesadas bátegas ele vê-a nas suas mãos como óleo contaminado. Nas nuvens que toldam o céu descobre tornados malditos. O medo tudo transforma, tudo subverte. Do caso particular, singular, de uma esquizofrenia paranóica, pode facilmente passar-se para o colectivo. E se finalmente não fosse só Curtis a ver aproximar-se a tormenta? Será que esta é real ou será que a sua esquizofrenia se transmitiu a outros? Como o próprio afirma, quando lhe perguntam se anda preocupado, a resposta é “não mais do que os outros”. O que pode querer transformar a experiência pessoal em metáfora colectiva.
“Procurem Abrigo” é definitivamente um filme catástrofe sobre um fim de mundo que se aproxima. Mas, ao contrário de muitos outros, que jogam nos efeitos especiais para provocar o medo, aqui o medo é interior, instala-se no âmago de cada um de nós. O filme de Jeff Nichols é talvez um dos mais belos, rigorosos, implacáveis e austeros filmes americanos dos últimos anos. Anda paredes-meias com “A Árvore da Vida”, de Mallick, com “Melancolia”, de Lars von Trier, aproximando muito de alguns outros títulos surgidos nos anos mais próximos, onde o ambiente rural prefigura um microcosmo americano. Ameaçado. 
Para o sucesso desta obra, a que me apetece chamar obra-prima, muito contribui a interpretação genial de um actor magnifico, Michael Shannon (que há muito merece nomeações para Oscars), e a presença frágil e dúctil dessa perturbante Jessica Chastain, que já notáramos este ano em “A Árvore da Vida” e em “As Serviçais” (entre outros trabalhos). Mas a sumptuosa fotografia de Adam Stone e o seu aproveitamento dramático da paisagem, a partitura musical de David Wingo, bem como a sonoplastia, discreta, minimalista, mas profundamente inquietante, merecem referência especial. Este é bem um filme do nosso tempo, um preocupante sintoma de uma sociedade esquizofrénica, em crise. Um dos mais lancinantes retratos da América actual, sem demagogias, sem retórica, escavando até à alma de um povo dilacerado pelo medo. O medo do exterior, o medo do interior. Uma inspirada projecção deste tempo de crise que a todos nos devora.


PROCUREM ABRIGO
Título original: Take Shelter
Realização: Jeff Nichols (EUA, 2011); Argumento: Jeff Nichols; Produção: Tyler Davidson, Kevin Flanigan, Sarah Green, Brian Kavanaugh-Jones, Christos V. Konstantakopoulos, Sophia Lin, Chris Perot, Richard Rothfeld, Robert Ruggeri, Colin Strause, Greg Strause, Adam Wilkins; Música: David Wingo; Fotografia (cor): Adam Stone; Montagem: Parke Gregg; Design de produção: Chad Keith; Direcção artística: Jennifer Klide; Decoração: Adam Willis; Guarda-roupa: Karen Malecki; Maquilhagem: Julia Lallas; Assistentes de realização: Timothy Johnson, Lia Lockert, Cosmo Pfeil, Darius Shahmir; Som: Joshua Chase, Lyman Hardy; Efeitos especiais: Chad Ball, Timothy R. Hoffman, Francis Link; Efeitos visuais: Chris Wells; Companhias de produção: Hydraulx Entertainment, REI Capital, Grove Hill Productions, Strange Matter Films; Intérpretes: Michael Shannon (Curtis), Jessica Chastain (Samantha), Tova Stewart (Hannah), Kathy Baker (Sarah), Shea Whigham (Dewart), Katy Mixon (Nat), Natasha Randall (Cammie), Ron Kennard (Russell), Scott Knisley (Lewis), Robert Longstreet (Jim), Heather Caldwell, Sheila Hullihen, John Kloock, Marianna Alacchi, Jacque Jovic, Bob Maines, Charles Moore, Pete Ferry, Molly McGinnis, Angie Marino-Smith, Isabelle Smith, Tina Stump, Ken Strunk, Maryanne Nagel, Hailee Dickens, Guy Van Swearingen, etc. Duração: 120 minutos; Distribuição em Portugal: ZON Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 17 de Maio de 2012.

 o realizador Jeff Nichols

sábado, maio 19, 2012

A PARTIR DE AMANHÃ, EM PORTEL



_O CASTELO EM IMAGENS – 2012
Texto de Apresentação
Faz dez anos este pequeno festival de cinema, “O Castelo em Imagens”, que nasceu da ideia de homenagear e sublinhar a importância histórica, social, cultural, artística e cinematográfica do “castelo”. Algo que este ano, nos apraz registar, foi seguido por Guimarães, Capital Europeia da Cultura, que desde o dia 7 de Abril, numa iniciativa a que deu o nome “O Castelo em 3 Actos”, um projecto de Paulo Cunha e Silva em volta do símbolo mais mediático de Guimarães, salientou igualmente a simbologia do seu castelo através de diversas manifestações artísticas a que não faltou o cinema. Interessante verificar esta convergência de intenções.
No ano passado, referimos que este “O Castelo em Imagens” “emanou de um conjunto de vontades com interesses comuns à volta das muralhas de um castelo (o de Portel), de todos os castelos (inicialmente os portugueses, como é óbvio, mas também todos os castelos do mundo, do mundo “visível”, dito “real”, mas também do mundo da fantasia, que só existe no interior de cada um de nós). Falamos de utopias, de castelos idealizados como vida em comum, harmoniosa e fraterna, não dos castelos da violência, da ocupação, da usurpação e da prepotência. O castelo da defesa dos ideais. De Camelot, o castelo dos Cavaleiros da Távora Redonda, por exemplo”. Este ano vamos mais longe e, explorando o tema do western, entramos por terrenos bravios do Velho Oeste norte-americano, para, com base nas incipientes fortificações que por ali se ergueram em tempos de conquista da fronteira e de desbravamento de terras selvagens, muitas vezes ocupadas por índios que se viram espoliados pelos invasores, funcionaram igualmente como símbolo de um tempo e de um espaço.
Não se trata quase nunca do castelo tradicional, enquanto constituição militar, que foram raros, mas neste caso o castelo tanto podia ser uma missão religiosa transformada em forte, como foi o caso de “The Alamo”, como de uma caravana de colonos, fechada em círculo, resguardando-se de ataques adversos, como de uma aldeia mexicana, vítima da prepotência de bandos de pistoleiros saqueadores, ou de uma aldeia índia, a braços com agressores. Por vezes, uma única casa, perdida na planície, é o castelo de resistência de uma família de agricultores. Ou a diligência que atravessa os grandes espaços, exposta à fúria dos elementos e dos assaltantes. O castelo é, pois, o local de refúgio e resistência.
Para lá desse pequeno ciclo que relembra a importância do western que André Bazin considerou “o cinema americano por excelência”, haverá ainda sessões com animação para o público mais jovem, uma sessão com “Frei Luís de Sousa”, integrada no Dia do Autor Português”, e um pequeno workshop sobre “O que é o Cinema”, onde se tentará uma iniciação à linguagem cinematográfica e audiovisual.
Desde a segunda edição de “O Castelo em Imagens” que se alargaram os horizontes do festival e se criou o Concurso Nacional Escolar, dedicado aos jovens em idade escolar, do ensino básico ao superior, que quisessem expressar as suas artes e sensibilidades, os seus conhecimentos e a sua fantasia, em pintura, desenho, fotografia ou vídeo. Com o castelo como tema inspirador, o concurso nasceu, e em boa hora o fez, porque desde a primeira edição se mostrou uma certeza motivadora. Quaisquer que sejam os outros balanços que se possam fazer deste festival (e esperemos que sejam francamente positivos), esta afluência de obras de escolas e alunos de todas as regiões de Portugal (e igualmente de muitas outras partes do mundo onde há comunidades portuguesas, de Timor ao Brasil, da Europa à América!) é já uma realidade insofismável que coloca Portel no centro nevrálgico de uma nova aproximação do nosso património histórico, cultural e artístico que o “castelo” representa. E demonstra uma vez mais que só é preciso um pouco de imaginação para mobilizar jovens e docentes para novos e aliciantes projectos pedagógicos.
As obras concorrentes serão, como sempre, apreciadas por um Júri independente, que incorporará elementos de reconhecida idoneidade ligados ao campo da Cultura, do Cinema e do Audiovisual ou da História, escolhidos pela organização do Festival, e ainda outros convidados de Portel. Este ano estão previstas no Júri as presenças de Alice Vieira e Fernando Dacosta, escritores, Frederico Corado, realizador e encenador, Aurora da Conceição Carapinha, Delegada Regional de Cultura do Alentejo, Jorge Luís Marques Garcia, professor da Escola de Portel, e Patrícia Gomes da Silva, representante da Câmara Municipal de Portel. Teremos ainda outras actividades paralelas, como concertos a abrir e a fechar o certame, reunindo Anabela e Carlos Guilherme e o flamengo de Serva la Bari.

Lauro António
Director de “O Castelo em Imagens”


Programação:

Domingo, 20 de Maio de 2012
21,30 Espectáculo de Abertura: Concerto com Anabela, Carlos Guilherme 
e Banda do Lavre
Segunda-feira, 21 de Maio de 2012
10,00 ANIMAÇÃO: CLÁSSICOS DE ENCANTAR (Walt Disney), A Lebre e a Tartaruga, A
Deusa da Primavera, Crianças no Bosque, etc. M/ 4 anos.
14,00 WESTERN: OS SETE MAGNIFICOS (The Magnificent Seven), de John Sturges
(EUA, 1960), com Yul Brynner, Eli Wallach, Steve McQueen, Charles Bronson, etc.
125 m; M/ 12 anos.
21,30 WESTERN: A QUADRILHA SELVAGEM (The Wild Bunch), de Sam Peckinpah (EUA,
1969); com William Holden, Robert Ryan, Ernest Borgnine, etc. 140 m; M/ 12 anos.

Terça-feira, 22 de Maio de 2012
10,00 ANIMAÇÃO: CLÁSSICOS DE ENCANTAR (Walt Disney), O Príncipe e o Pobre, O
Flautista de Hamelin, O Rei Cole, Cavaleiro por um Dia, etc. M/ 4 anos.
14,00 WESTERN: FORTE APACHE (Fort Apache), de John Ford (EUA, 1948), com John
Wayne, Henry Fonda, Shirley Temple, etc. 127 m; M/ 12 anos.
21,30 WESTERN: JUSTICEIRO SOLITARIO (Pale Rider), de Clint Eastwood (EUA, 1985),
com Clint Eastwood, Michael Moriarty, etc. 111 m; M/ 12 anos.
Quarta-feira, 23 de Maio de 2012
10,00 ANIMAÇÃO: CLÁSSICOS DE ENCANTAR (Walt Disney), O Dragão Relutante, O
Touro Fernando, Golias, Johnny Semente de Maçã, etc. M/ 4 anos.
14,00 DIA DO AUTOR PORTUGUÊS: FREI LUIS DE SOUSA, de António Lopes Ribeiro
(Portugal, 1950); com Maria Sampaio, Maria Dulce, Raul de Carvalho, João
Villaret, Barreto Poeira, Tomás de Macedo, etc. 118 m; M/12 anos.
21,30 WESTERN: O HOMEM QUE MATOU LIBERTY VALANCE (The Man who Shot
Liberty Valance), de John Ford (EUA, 1962), com James Stewart, John Wayne, Vera
Miles, Lee Marvin, etc. 118 m; M/ 6 anos.
Quinta-feira, 24 de Maio de 2012
10,00 ANIMAÇÃO: CLÁSSICOS DE ENCANTAR (Walt Disney), Os Três Porquinhos, O Lobo Mau, Lambert, o Leão Ovelhudo, Os Três Mosrateiros, etc. M/ 4 anos.
14,00 WESTERN: SILVERADO, de Laurence Kasdan (EUA, 1985), com Kevin Kline, Kevin Kostner, Scott Glwenn, Danny Glover, etc. 127 m; M/ 12 anos.
17,00 OBRAS A CONCURSO
21,30 WESTERN: ALAMO, de John Wayne (EUA, 1960), com John Wayne, Richard
Widmark, Laurence Harvey, etc. 154 m; M/ 12 anos.
Sexta-feira, 25 de Maio de 2012
10,00 ANIMAÇÃO: CLÁSSICOS DE ENCANTAR (Walt Disney), A Lebre e a tartaruga, A
Deusa da Primavera, Crianças no Bosque, etc. M/ 4 anos.
14,00 WORKSHOP: “O que é o cinema?” – Lauro António e Frederico Corado
17,00 OBRAS A CONCURSO
21,30 WESTERN: OS PROFISSIONAIS (The Professionals), de Richard Brooks (EA, 1966),
com Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan, Cláudia Cardinale, etc. 
112 m; M/ 12 anos. 

Sábado, 26 de Maio de 2012
14,00 WORKSHOP: “O que é o cinema?” – Lauro António e Frederico Corado
17,00 ENCERRAMENTO E ENTREGA DE PRÉMIOS
18,00 ESPECTÁCULO COM SERVA LA BARI E OS SEUS “AIRES FLAMENCOS”



CINEMA: UMA TRAIÇÃO FATAL


UMA TRAIÇÃO FATAL
Steven Soderbergh é um realizador com quem simpatizo bastante, desde os tempos de “Sexo, Mentiras e Vídeo” (1989). Em cada seu filme sente-se o prazer do cinema, quer sejam obras decisivamente pessoais, mais experimentais, quer se trate de outras mais “comerciais”, mas ainda assim muito marcadas pelo seu estilo. Depois, é um “faz tudo” e faz tudo bem, escreve, realiza, produz, fotografa, monta, etc, etc. e não pára de trabalhar. Chega aos três filmes por ano: em 2011, realizou “The Last Time I Saw Michael Gregg”, “Contágio” e “Uma Traição Fatal”, não falando noutras actividades suas como produtor (ainda em 2011 produziu para outros realizadores “Roman Polanski: Odd Man Out”, “Temos de Falar Sobre Kevin” e “His Way”).
“Uma Traição Fatal” vem na linha da sua série “Ocean's Eleven - Façam as Vossas Apostas” (2001), “Ocean's 12” (2004) e “Ocean's 13” (2007), procurando erguer uma obra de acção intensa, sem grandes preocupações de plausibilidade, jogando no divertimento pelo divertimento. O argumentista Lem Dobbs (o mesmo de “Kafka” e “O Falcão Inglês”, ambos de Soderbergh, e ainda de “Sem Saída” ou de “Cidade Misteriosa”) acompanha a peregrinação de uma espia norte-americana, “não oficial”, Mallory Kane (Gina Carano) que nos é apresentada nas imagens iniciais num café de estrada, onde é vítima de uma cilada engendrada pelo traidor inglês Kenneth (Ewan McGregor), que terá sido seu marido no passado. Foge num carro pedido de empréstimo a um estupefacto Scott (Angarano), a quem depois se entretém a contar parte da sua movimentada vida, introduzida em flashbacks no filme. Depois tudo é cada vez mais confuso e caótico, percebendo-se que anda ao serviço de um americano de nome Coblenz (Douglas) que a tinha enviado a Barcelona, e depois a Dublin, em parceria com um agente da MI6, Paul (Fassbender), tudo isto resvalando de emboscada em emboscada e de demonstrações de artes marciais em demonstrações de artes marciais, que só têm um fito: a vingança e a limpeza do nome de Mallory, filha de um retirado escritor a viver no México. Deve acrescentar-se que, em questões de limpeza, Mallory Kane é um ás, não fosse a simpática Gina Carano uma expert em artes marciais e cenas de pancadaria avulsas, levando tudo à frente, a solo ou em grupo, só com punhos ou contra gangs armados de metralhadoras. Uma espécie de “Kill Bill”, de Tarantino, mas sem metade da graça, ainda que a narrativa esteja sempre à altura do estilo fluído e elegante de Soderbergh. Acontece, porém, que o exercício é desconcertantemente desmiolado e oco, parecendo que roda no vazio, sem âncora a que se agarrar. Saltitando de cidade em cidade, de país em país, qual guia turístico com roteiro para cumprir, a aventura acaba por aborrecer um pouco, que nem a fotografia de Peter Andrews (pseudónimo de próprio Soderbergh), nem a montagem de Mary Ann Bernard (outra vez Soderbergh sob disfarce) logram minimizar. 
Saúde-se, no entanto, a vedeta da companhia, bonita e destemida, a ameaçadora Gina Carano, que relembra a já mítica Lisbeth Salander, de “Millenium”, o que deixa adivinhar uma nova geração de heroínas a povoar o cinema contemporâneo. Mulheres fatais (mas muito diferentes das antigas mulheres fatais do “film noire”) que conduzem o seu próprio jogo depois de fustigadas por sucessivos desencantamentos e traições masculinas. Gina Carano tem tudo para regressar mais vezes e ser bem-vinda.
“Haywire” não é um mau filme, mas sabe a muito pouco, sobretudo assinado por Soderbergh, e mesmo um entretenimento sem pretensões merece um pouco mais. Como a série “Ocean's Eleven” o demonstrava.
Além de Gina Carano, andam por aqui ainda Michael Fassbender, Ewan McGregor, Michael Douglas, Antonio Banderas, Bill Paxton, Mathieu Kassovitz, entre outros, pouco mais do que a facturar uns milhares de dólares.
UMA TRAIÇÃO FATAL
Título original: Haywire
Realização: Steven Soderbergh (EUA, Irlanda, 2011); Argumento: Lem Dobbs; Produção: Ken Halsband, Gregory Jacobs, Alan Moloney, Michael Polaire, Tucker Tooley; Música: David Holmes; Fotografia (cor): Peter Andrews (Steven Soderbergh); Montagem: Mary Ann Bernard (Steven Soderbergh); Casting: Carmen Cuba; Design de produção: Howard Cummings; Direcção artística: Iñigo Navarro; James F. Oberlander, Anna Rackard; Decoração: Barbara Munch; Guarda-roupa: Shoshana Rubin; Maquilhagem: Marie Larkin, Michelle Vittone; Direcção de Produção: Julie M. Anderson, Nicos Beatty, Noëlette Buckley, Bernat Elias, David Kirchner, Michael Polaire; Assistentes de realização: Jim Corr, Catherine Dunne, Eric Glasser, Gregory Jacobs, Jody Spilkoman; Departamento de arte: Robert J. Carlyle, Amahl Lovato, Roberta Marquez Seret, Chad Owens, Schuyler Telleen, Schuyler Telleen, Pilar Valência; Som: Andrew Felton, Thomas W. Jordan, Edwardo Santiago, Dennis Towns; Efeitos especiais: Ron Bolanowski, Kevin Hannigan, Juan Ramón Molina; Efeitos visuais: John Kennedy, Tim Morris; Companhias de produção: Relativity Media, Bord Scannan na hEireann / Irish Film Board / The Irish Film Board; Intérpretes: Gina Carano (Mallory Kane), Michael Fassbender (Paul), Ewan McGregor (Kenneth), Michael Douglas (Coblenz), Antonio Banderas (Rodrigo), Bill Paxton (John Kane), Mathieu Kassovitz (Studer), Julian Alcaraz (Victor), Eddie J. Fernandez (Barroso), Lluís Botella Pont (Helpful Guy), Aaron Cohen (Jamie), Maximino Arciniega (Gomez), Anthony Brandon Wong (Jiang), James Flynn, Karl Shiels, Bobby Burns, Al Goto, R.A. Rondell, John Wylie, Todd Thatcher Cash, Edward A. Duran, Derick Pritchard, J.J. Perry, Michael Angarano, Debby Lynn Ross, Tim Connolly, Natascha Berg, etc. Duração: 93 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 10 de Maio de 2012.

domingo, maio 13, 2012

CONCERTO INOLVIDÁVEL

BERNARDO SASSETTI ABRE 
"CINE ECO 2010"
Num concerto memorável, Bernardo Sassetti e o seu Trio de Jazz (ele mais Carlos Barreto e Alexandre Frazão) abriram o Festival de Seia de 2010. No mesmo ano em que Fernando Lopes era Presidente do Júri Internacional. Duas perdas irreparáveis para a cultura portuguesa, duas perdas pessoais imensas. 
A presença, entre outros, destes nomes tornou o Cine Eco 2010 inolvidável. (fotos de MEC)

sexta-feira, maio 11, 2012

BERNARDO SASSETTI


Bernardo Sassetti e Beatriz Batarda, marido e mulher, estiveram no Famafest 2010 quando a actriz foi homenageada. Estas são fotos de um dia feliz. Nessa noite ficou combinado que, na edição de 2011, Bernardo Sassetti iria abrir o festival com um concerto especial, só com música de filmes, originais seus e de outros compositores. E ficou prometida a homenagem devida ao grande compositor e pianista. Infelizmente, em 2011 já não houve festival, nem concerto, nem homenagem. Mas ficarei para sempre com a sua presença comigo, e a homenagem essa é a de todos nós ao seu talento. 

domingo, maio 06, 2012

NO DIA DA MÃE

MINHA MÃE

Recordando a minha mãe, em quadros do meu pai. 
No último, a família de então reunida, 
segurada pelo braço de meu pai, Lauro Corado
 Eu a minha mãe.
Auto retrato de meu pai, com a família, minha mãe e eu, acabado de nascer (enfim, por aí...)

quarta-feira, maio 02, 2012

NÓS POR CÁ (NEM) TODOS BEM


FERNANDO LOPES 
(1935-2012)
O que retenho do Fernando Lopes? Para lá dos seus filmes, os encontros no Vavá e no Luanda, com o seu blusão de couro, o seu whisky, o seu café e o seu cigarro. O sorriso no seu rosto, a palavra doce, a generosidade do gesto. “Senta aí!”
Para lá do convívio com os filmes, muitos deles dos mais belos do cinema português, de “Belarmino” a “Uma Abelha na Chuva”, de “O Fio do Horizonte” a “O Delfim”, fica o encontro com o homem, encontro que fiz questão de ser constante ao longo de alguns festivais que fui realizando, onde esteve em todos como Presidente de Júri. Ele era um dos melhores da geração do Cinema Novo, continuou a ser uma dos melhores. Lembro-me dele, em Portel, sentados ambos num banco de jardim, saboreando a aragem alentejana. Saboreando a vida. Agora que partiu, fica essa imagem de quem soube saborear a vida e quem no la deu a saborear. 
 En Seia, no Júri do Cine Eco, à direita, sentado no degrau.
Em Famalicão, durante o Famafest. 
Em Seide, na Casa de Camilo Castelo Branco, durante o Famafest, ao lado de Otelo.
Em Portel, no Júri de "O Castelo em Imagens" 
 Em Seia, durante o Cine Eco, num descanso do guerreiro.