quarta-feira, janeiro 20, 2016

ANTÓNIO DA NÓVOA À PRESIDÊNCIA



O MEU VOTO PRESIDENCIAL

Agora que se aproxima o dia da eleição do futuro Presidente da República, poderá fazer-se um balanço, obviamente pessoal, isto é, numa óptica própria, que só a mim diz respeito e que se irá concretizar no dia (ou dias) da (ou das) votação (votações).
O facto de terem aparecido dez candidaturas não me causa grande mossa. Entre as e os proponentes, uns foram insuportáveis, outros ingénuos, alguns muito sabidos, uns sisudos, outros pacholas, uma ou outra surpresa boa (não sei se assim poderei colocar o caso de Marisa Matias). Que um português qualquer, com mais de 35 anos, no total usufruto das suas capacidades e direitos possa candidatar-se a um cargo público, tudo bem, é a democracia, que tanto gostamos de louvar, a funcionar.
Ouvidos todos, fica uma certeza: há dois candidatos possíveis, tudo o mais é folclore: Marcelo Rebelo de Sousa, que parte destacado, e Sampaio da Nóvoa. Ambos me merecem consideração e acredito que qualquer deles dará um bom presidente, cada um com o seu estilo, com a sua bagagem pessoal, cultural, política, um mais centro direita, outro mais centro esquerda, mas ambos a navegarem nas águas de uma social democracia abrangente.
Eu, que sempre me senti mais à esquerda, voto Sampaio da Nóvoa, sem vacilar, na primeira volta. Nóvoa tem a cultura, o prestígio, a inteligência, a propensão para o diálogo e um discreto carisma pessoal que faz dele o meu candidato natural. É o tipo de pessoa que gosto de contar como amigo, que sinto ser sincero, preocupado com injustiças, um homem de plena liberdade, que se preocupa com as verdadeiras revoluções: as culturais, de mentalidade, estruturantes da sociedade. Eu voto Sampaio da Nóvoa, portanto. É o meu Reitor.
Mas, na segunda volta, se a houver, e se, por estranho que pareça, Sampaio da Nóvoa não estiver entre os vencedores, aí voto Marcelo Rebelo de Sousa. Digo-o já para que não fiquem dúvidas. Podem dizer que ficaria rendido ao encanto pessoal do Professor que, apesar de tudo o que lhe apontam (nalguns casos, raros, com justiça), é um homem de cultura, inteligente, arguto, nada sisudo (que diferente de Cavaco Silva, meu caro General Ramalho Eanes!), económico na alimentação, discreto nas horas de sono, o que só traz vantagens para os bolsos dos contribuintes. É um homem que gostaria de contar entre os amigos, e nunca entre os inimigos. Muito embora alguns digam que “com amigos destes, não preciso de inimigos”.
Gostaria ainda de referir um aspecto desta campanha que me soou mal. As críticas mais evidentes a Marcelo Rebelo de Sousa foram, nalguns casos, tontas. Por exemplo, que anda há quarenta anos a fazer campanha nas televisões. Portanto, uma personalidade por ter prestígio conquistado na sua actividade, quer como professor universitário, como político, quer como comentador terá de ver esse facto como negativo? Curioso. O elogio do zé ninguém ou do desconhecido sem curriculum? Absurdo.
A outra crítica, sobretudo ao ser utilizada neste contexto, só demonstra a falta de tacticismo de alguns candidatos. Quando Marcelo procura colocar-se ao centro, e a direita mais trauliteira o olha de esguelha, e muitos preferem a abstenção a engolir um sapo, a esquerda lembra a esse eleitorado de direita que pode votar nele calmamente porque o Professor sempre foi de direita e não deixará de sê-lo quando estiver em Belém. 
Abençoados estrategas. Quanto mais disserem isso, mais Marcelo conquista votos que já tinha 

quinta-feira, janeiro 14, 2016

OSCARS DE 2016: NOMEADOS



OSCARS DE 2016: NOMEADOS

Foram hoje anunciados os nomeados para os Oscars de 2016. A lista completa é: 

Melhor Filme

Ponte dos Espiões
Perdido em Marte
Brooklyn
Quarto
O Caso Spotlight
Mad Max: Estrada da Fúria
The Revenant: O Renascido
A Queda de Wall Street

Melhor Realizador

Adam McKay (A Quede de Wall Street)
George Miller (Mad Max: Estrada da Fúria)
Alejandro G. Iñárritu (The Revenant: O Renascido)
Lenny Abrahamson (Quarto)
Tom McCarthy (O Caso Spotlight)

Melhor Actriz

Cate Blanchett - Carol
Brie Larson - Quarto
Jennifer Lawrence - Joy
Charlotte Rampling - 45 Anos
Saoirse Ronan - Brooklyn

Melhor Actor

Bryan Cranston - Trumbo
Matt Damon - Perdido em Marte
Leonardo DiCaprio - The Revenant: O Renascido
Michael Fassbender - Steve Jobs
Eddie Redmayne - A Rapariga Dinamarquesa

Melhor Actriz Secundária

Jennifer Jason Leigh - Os Oito Odiados
Rooney Mara - Carol
Rachel McAdams - O Caso Spotlight
Kate Winslet - Steve Jobs

Melhor Ator Secundário

Christian Bale - A Queda de Wall Street
Tom Hardy - The Revenant: O Renascido
Mark Ruffalo - O Caso Spotlight
Mark Rylance - Ponte dos Espiões
Sylvester Stallone - Creed

Melhor Argumento Original

Ponte dos Espiões
Ex Machina
Divertida-mente
O Casos Spotlight
Straight Outta Compton

Melhor Argumento Adaptado

A Queda de Wall Street
Brooklyn
Carol
Perdido em Marte
Quarto

Melhor Filme de Animação (Longa-Metragem)

Anomalisa
Divertida-mente
A Ovelha Choné - O Filme
Memórias de Marnie
O Rapaz e o Monstro

Melhor Filme Estrangeiro

Embrace of the Serpent (Colombia)
Mustang (França)
Son of Saul (Hungria)
Theeb (Jordânia)
A War (Dinamarca)

Melhor Filme de Animação (Curta-Metragem)

Bear Story
Prologue
Sanjay’s Superteam
We Can’t Live Without Cosmos
World of Tomorrow

Melhor Documentário (Longa-Metragem)

Amy
Cartel Land
The Look of Silence
What Happened, Miss Simone?
Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom

Melhor Documentário (Curta-Metragem)

Body Team 12
Chau Beyond the Lines
Claude Lanzmann
A Girl in the River
Last Day of Freedom

Melhor Curta-Metragem (Live Action)

Ava Maria
Day One
Everything Will Be Okay
Shok
Stutterer

Melhor Fotografia

Carol
Os Oito Odiados
Mad Max: Estrada da Fúria
The Revenant: O Renascido
Sicario

Melhor Montagem

A Queda de Wall Street
Mad Max: Estrada da Fúria
The Revenant: O Renascido
Star Wars: O Despertar da Força
O Caso Spotlight

Melhor Banda Sonora Original

Ponte dos Espiões
Carol
Os Oito Odiados
Sicario
Star Wars: O Despertar da Força

Melhor Canção Original

Earned It - 50 Shades of Grey
Til It Happens To You - The Hunting Ground
Writings On The Wall - Spectre
Manta Ray - Racing Extinction
Simple Song 3 - Youth

Melhor Edição de Som

Sicario
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
The Revenant: O Renascido
Star Wars: O Despertar da Força

Melhor Mistura Sonora

Ponte dos Espiões
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
The Revenant: O Renascido
Star Wars: O Despertar da Força

Melhor Direcção Artística

Ponte dos Espiões
A Rapariga Dinamarquesa
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
The Revenant: O Renascido

Melhores Efeitos Visuais

Ex Machina
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
The Revenant: O Renascido
Star Wars: O Despertar da Força

Melhor Guarda-Roupa

Carol
Cinderela
A Rapariga Dinamarquesa
Mad Max: Estrada da Fúria
The Revenant: O Renascido

Melhor Maquilhagem 

Mad Max: Estrada da Fúria
The Revenant: O Renascido
O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu


segunda-feira, janeiro 11, 2016

TEATRO: POUCO BARULHO


POUCO BARULHO

“Pouco Barulho” é uma excelente comédia inglesa, da autoria de Michael Frayn, e que tem sido encenada um pouco por todo o lado com resultados brilhantes. Em Londres “Noises Off”, no seu título original, recebeu o prémio de melhor comédia do ano de 1982, o mesmo acontecendo em Nova Iorque, em 1984.
O que tem de tão especial esta comédia? Parte de uma ideia brilhante, que é muito bem estruturada. Não se trata de um texto de tese, não procura modificar o mundo, apenas divertir os espectadores de uma forma inteligente, ao mesmo tempo que põe a descoberto os cordelinhos de uma produção teatral. O primeiro acto é ocupado com o ensaio geral, ou ensaio técnico, vá-se lá saber qual é o ensaio, de uma peça de teatro que irá estrear no dia seguinte. Nem tudo corre bem. Ou quase tudo corre mal. O que num ensaio geral nem costuma ser mau sinal. Dizem por aí os vaticinadores do futuro que um mau ensaio geral prenuncia uma boa estreia. No segundo acto não vemos o que os espectadores do suposto teatro veem, mas sim o que acontece nos bastidores, a parte detrás do cenário. Se as coisas correm mal pela frente, por detrás são ainda mais calamitosas. Finalmente, no terceiro acto, a companhia já rodou por várias salas e cidades, e está a dar o seu último espectáculo. Pode dizer-se que é a bandalheira geral.

Em 1985, vi no Teatro Villaret, numa produção Vasco Morgado um “Pouco Barulho” de boa recordação, com um elenco de luxo, Nicolau Breyner, Manuela Maria, Henrique Santos, Morais e Castro, Guida Maria, Victor de Sousa, Rosa de Canto, Isabel Mota, Jorge Nery. A tradução era de César de Oliveira e Barry Scraig e a encenação de Varela Silva, com cenários de Octávio Clérigo. Gostei bastante, mas tive uma desilusão de peso. Por essa altura andava eu a escrever uma peça de teatro que tinha mais ou menos a mesma ideia inicial. Depois de ver esta, desisti.


Em 2013, o Centro Cultural Malaposta, apresentou a mesma peça, agora sob a designação de "Tudo a Nu", com nova tradução de Paulo Oom, encenação de Fraga e música original de Adriano Filipe. O elenco era composto por Ângela Pinto, Gonçalo Ferreira, Hélder Gamboa, Inês Castel-Branco, Isabel Ribas, Mónica Garcez, Paulo Oom, Rui Raposo e Rui Sérgio. Não vi esta versão, mas tinha razões para ser interessante.
Agora surge no Cartaxo, no Centro Cultural, numa produção “Área de Serviço”, uma nova tradução da mesma peça, assinada por Frederico Corado, Vânia Calado e Maria Eduarda Colares, por sinal bastante boa, com encenação de Frederico Corado, que também assina a concepção cenográfica e ainda integra o elenco, ao lado de Hugo Rendas, Margarida Leonor, Vânia Parente, Mário Júlio, Carlos Ramos, Sara Inês, Mauro Cebolo e Mónica Coelho. A “Área de Serviço” é uma companhia comunitária, onde todos trabalham por amor à arte, e se veem e desejam para pagar os custos dos cenários e dos adereços. Nenhum apoio substancial, apenas algumas generosas dádivas, e uma vontade férrea de fazer teatro.  Ambiciosos. Já encenaram Oscar Wilde, Bernando Santareno, William Shakespeare, Eduardo De Filippo, Nikolai Gogol, Alice Vieira, Robert Thomas, George S. Kaufman e Moss Hart, entre outros.
Esta encenação de “Pouco Barulho” é extremamente divertida, inteligente e consegue manter um ritmo endiabrado. Trata-se de uma peça dentro de outra peça, de uma daquelas comédias com muitas portas, por onde entram e saem personagens que não se devem encontrar, com pratos de sardinhas, malas e caixas com fichas das finanças, arranjinhos amorosos, fugas ao fisco, ramos de flores trocados e tudo o mais que se possa imaginar. Reservam-se algumas surpresas. O cenário é bonito, sóbrio, mas bem imaginado, e o elenco, quase todo constituído por amadores sem grande experiência, porta-se à altura de algumas companhias profissionais (para não falar de outras, igualmente profissionais, que é melhor esquecer!). É um excelente divertimento, daqueles que não envergonham ninguém, e que devia, isso sim!, fazer corar de vergonha algumas peças e filmes, ditos cómicos, que abundam nas nossas salas nos últimos tempos.
Para os mal-intencionados tenho uma declaração de princípios a fazer. O Frederico Corado é meu filho. Mais uma razão para irem ver, no próximo fim de semana, sexta e sábado às 21,30, e domingo às 16 horas, para ficarem a saber se sou parcial. Eu julgo que não, mas vão lá e vejam. Depois digam.


Pouco Barulho (Noises Off). Texto de Michael Fryan | Encenação: Frederico Corado | Tradução: Frederico Corado, Vãnia Calado e Maria Eduarda Colares | Concepção Cenográfica: Frederico Corado | Intérpretes: Hugo Rendas, Margarida Leonor, Vânia Parente, Frederico Corado, Mário Júlio, Carlos Ramos, Sara Inês, Mauro Cebolo e Mónica Coelho | Execução Cenográfica: Mário Júlio | Produção da Área de Serviço: Frederico Corado, Vânia Calado e Mário Júlio com a assistência de Florbela Silva e Carolina Viana | Assistente de Encenação: Carolina Viana | Direcção de Cena: Mário Júlio | Técnica: Miguel Sena | Contra-Regra: Carolina Viana | Fotografia: Vitor Neno | Montagem: Mário Júlio | Construção de Adereços: Rosário Narciso | Uma Produção da Área de Serviço com o Centro Cultural do Cartaxo e Câmara Municipal do Cartaxo

quarta-feira, janeiro 06, 2016

CINEMA 2015: HOMEM IRRACIONAL



HOMEM IRRACIONAL


Abe Lucas (Joaquin Phoenix) é um atormentado professor de filosofia que entra numa universidade norte-americana em estado de depressão, desespero, futilidade, frustração e impotência. O melhor amigo morreu há pouco vítima de uma bomba no Médio Oriente e a mulher deixou-o. Nas aulas cita Heidegger e Kierkegaard, fala de liberdade e mentira e afirma mesmo que a filosofia são tretas, apenas “palavras”. Ele procura a acção directa. E vai encontrá-la, enquanto namorisca com Rita (Posey), uma colega professora, e Jill (Emma Stone), uma jovem aluna. A sua terá de ser uma escolha existencial que altere toda a sua persectiva de vida. A ambição do crime perfeito? Possivelmente.
“Homem Irracional” é Woody Allen a 100% o que não deixa de ser uma afirmação que é um lugar comum. Todos os seus filmes o são. Uma comédia que lentamente se transforma numa tragédia. Crime e castigo, com Dostoiévski de permeio, um pouco na linha de “Match Point”, “Crimes e Escapadelas”, “O Sonho de Cassandra” ou “O Misterioso Assassínio em Manhattan”, para só citar alguns dos seus títulos. Todos iguais e todos diferentes. As obsessões e os fantasma de Woody Allen, escritos com a leveza e a eficácia de quem domina a sua arte como poucos.


Não será do melhor Woody Allen, mas é um Woody Allen estimulante. Sobretudo pela forma nada convencional como combina a ligeireza da escrita, a superficialidade do tema musical, a aparente banalidade do tom inicial com a gravidade do que se vai avizinhando. O primarismo dos conceitos filosóficos que Abe Lucas vai enunciando marcam o primarismo dos seus conceitos pessoais e conduzem-no à divagação irracional, ao comportamento aberrante. “Heidegger e o fascismo” é o título do novo ensaio que prepara e que o deixa suspenso sobre a escrita. Compreensivelmente.
O filme é muito interessante, mas extremamente valorizado pelas excelentes interpretações de Joaquin Phoenix, Emma Stone e Parker Posey e ainda pela notável fotografia de Darius Khondji, deliberadamente de um romantismo de tonalidades e de cenários que envolve o espectador e contrasta como o percurso final e o desfecho.


HOMEM IRRACIONAL
Título original: Irrational Man

Realização: Woody Allen (EUA, 2015); Argumento: Woody Allen; Produção: Letty Aronson, Ron Chez, Helen Robin, Jack Rollins, Adam B. Stern, Allan The, Stephen Tenenbaum, Edward Walson; Fotografia (cor): Darius Khondji; Montagem: Alisa Lepselter; Casting: Patricia Kerrigan DiCerto, Juliet Taylor; Direcção artística: Carl Sprague; Decoração: Jennifer Engel; Guarda-roupa: Suzy Benzinger; Maquilhagem: Judy Chin, Jason Joseph Sica; Direcção de Produção: Helen Robin; Assistentes de realização: Mike McGuirk, Danielle Rigby, Brad Robinson; Departamento de arte: Lindsay Boffoli, David Rotondo, Carly Serodio, Shann Whynot-Young; Som: Ryan Baker, Matthew Haasch, Robert Hein, Darrell R. Smith; Efeitos especiais: Adam Bellao; Efeitos visuais: Alex Miller; Companhia de produção Gravier Productions; Intérpretes: Joaquin Phoenix (Abe), Emma Stone (Jill), Parker Posey (Rita), Joe Stapleton (Professora), Nancy Carroll (Professora), Allison Gallerani (estudante), Brigette Lundy-Paine (estudante), Katelyn Seme (estudante), Betsy Aidem (mãe de Jill), Ethan Phillips (pai de Jill), Jamie Blackley (Roy), Leah Anderson, Paula Plum, Nancy Giles, Henry Stram, Geoff Schuppert, Robert Petkoff, Alex Dunn, Ron Chez, Tamara Hickey, Sophie von Haselberg, Susan Pourfar, Tom Kemp, etc. Duração: 95 minutos; Distribuição em Portugal: Pris Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 17 de Setembro de 2015.