segunda-feira, agosto 31, 2009

AINDA AS "ESCUTAS", II

:
DEMOCRACIA, POLÍTICOS E PORTUGAL
Dada a enorme polémica surgida no meu Facebook sobre este texto, cumpre-me esclarecer dois ou três pontos:
- De todos os sistemas políticos que conheço o melhor é a Democracia. É o único em que acredito, pela qual no passado lutei e no presente no bato. Só ela permite, por exemplo, este tipo de discussão. Só ela permite, por exemplo, saber, no caso em análise, se há escutas, ou se não há escutas. Se se investigarem os factos.
- Acreditando na Democracia, acredito na política e nos políticos. Por princípio. E acho absolutamente perversa a forma como muitos portugueses (falo de portugueses, são os que aqui me interessam) abordam a politica e adjectivam “os políticos”. Se existem políticos medíocres e outros corruptos, há também muitos competentes e sacrificados pelo bem público. Acho totalmente injusto uns pagarem pelos outros. Por isso é que a Democracia se regenera, investigando os erros e os vícios e fazendo pagar quem os pratica. Assim, por exemplo, no caso das anunciadas “escutas”, não acho possível não haver um culpado: ou quem escuta indevidamente, ou quem o afirma mentindo ou sem provas.
- Sobre Portugal. Com todos os defeitos que se lhe possam apontar, acho Portugal um quase milagre no mundo. Adoro Portugal, acho um País espantoso, temos dos maiores do mundo em quase todos os ramos do saber, das artes, das letras, do desporto. Temos das melhores paisagens, da mais ilustre História, temos um povo pacífico sem ser submisso, temos um saber viver muito próprio, que vai da saudade ao desenrascanço e de tudo isso eu gosto. Por isso cá estou, e cá continuo, escrevendo (e fazendo muitas outras coisas, claro) num blogue e no Facebook, porque (ao contrário do que pensa e escreve Miguel Sousa Tavares, que é um português que eu admiro em muitos aspectos) me dá gozo e julgo útil.

domingo, agosto 30, 2009

AINDA AS "ESCUTAS"

:
AGORA (JULGO) TER PERCEBIDO TUDO

Não tinha percebido ao que viera aquela insinuação proveniente de fonte anónima do Palácio de Belém que afirmava que alguém do Governo andava a escutar os telefonemas dos assessores do Senhor Presidente da República. Mas a coisa tornou-se agora límpida aos meus olhos e aos de quem queira ver.
Há dias, a Senhora Drª Manuela Ferreira Leite tinha afirmado numa entrevista à RTP que não lhe interessava saber se havia ou não escutas, e de culpa de quem eram os boatos. A ela interessava-lhe sobretudo saber que existiam suspeitas e mostrar como a vida portuguesa se encontrava eivada de suspeitas destas. Bonito. Para uma candidata a Primeiro-ministro, não se pode exigir mais. Em clareza. Em hipocrisia. Em demissão total frente à calúnia, desde que sirva os seus intuitos. O que afirmou foi que não lhe interessava saber se alguém do Governo andava às escutas (e logo do Senhor Presidente da República), nem se alguém do "staff" do Presidente mentiu ao dizer que havia escutas, para criar alarmismo no País, desacreditar o Governo, logo desacreditar José Sócrates e o PS, logo beneficiar o PSD, logo beneficiar Manuela Ferreira Leite. À referida Senhora não lhe interessa averiguar a verdade, se existir no País esse clima de suspeição, que pode ser criado por boatos como este. E que servem os seus propósitos eleitorais. Ficámos elucidados.
Agora aparece o Senhor Presidente da República a afirmar que não se mete em querelas partidárias, que está acima destas questões e que os cidadãos, “no tempo em que estamos”, não “devem desviar a sua atenção dos reais problemas do País.”
Portanto, “no tempo em que estamos”, não fará comentários com conotações partidárias (que é, de certa forma, reconhecer que a questão em causa é de conotação partidária), o que é grave.
Depois considera “que está acima” destes acontecimentos, o que é confirmado por tudo e todos, dado que sempre se falou numa "fonte anónima" da Casa Civil e nunca no próprio Presidente.
Finalmente, achar que haver escutas ou não na Presidência da República não é “um dos problemas reais do País”, é deixar subentender uma de duas coisas, ambas realmente graves:
1) não é um “problema real” porque sabe que não houve nem há escutas, o que é grave;
2) não é um “problema real” porque acha que o problema não é mesmo importante, quer haja ou não escutas. O que me parece conclusão realmente grave para um Presidente da República proferir de ânimo leve.
Por mim, considero esta questão muito grave e importante para que eu possa continuar a ter alguma confiança nos políticos que nos governam. Nos EUA um Presidente caiu por causa de escutas ilegais. Será que Portugal é muito mais tolerante com estas “ninharias”? Ou será que anda meio mundo a promover “o ambiente asfixiante de um País cheio de escutas” para que alguém que já se assumiu como directa herdeira desse clima possa ganhar eleições?
Esperamos os próximos episódios.

DISCUSSÂO NO FACEBOOK SOBRE TEXTO DE ESCUTAS

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Discussão interessante no "Facebook",
sobre o texto "Ainda as "Escutas":
Luis Miguel Costa
Não há dúvida nenhuma Lauro. Há escutas e Belém sabe disso e Belém apoia o PSD e esteve nos trabalhos de elaboração do Programa Eleitoral. A todos interessa lançar e partilhar a suspeita mas a ninguém interessa tirar tudo a pratos limpos em nome de uma ética política completamente distorcida e vil. Fica tudo no diz que disse e no fez que fez e o povo pequenino que tire as conclusões no recato da tômbola do voto. Frutos podres de uma democracia degenerada em que um Ministro da Administração Interna independente que foi Director do SIS e diz ter medo de cobras. A única dúvida de que não tenho é que sou do PS, de um certo PS que se reveja ainda na espantosa vitória democrática que, como refere, foi o caso Watergate.
há 5 horas · ApagarVítor CoelhoMeu caro, não se preocupe demasiado com o assunto. Depois do dia 27 de Setembro, tudo esquecerá, e aparecerão outros fait-divers. A malta gosta destas intrigalhadas, deixe lá.

Gi VI
Será???
Parece que pouco ou nada vai mudar, ganhe quem ganhar.

Vítor Coelho
Se ganhar Manuela Ferreira leite teremos mais instabilidade, penso eu de que ...

Anibal Miranda
Ora ai está

Gi VI
Não digo que não, mas esta prepotência de quero, posso e mando, também não. Acho que nunca estivemos tão mal de opções como agora.

Humberto Antunes
subscrevo. alertemos os eleitores para que despertem a sua memória, para que deixem de a ter curta... " vocês sabem do que estou a falar..."

Manuela Lima
Concordo!!!

Vítor Coelho
Humberto, está a falar de quê? Explique lá o segredo...

Vítor Coelho
É só para eu perceber, claro. O quero, posso e mando de quem? Do Jerónimo de Sousa? Do Francisco Louçã? Do Aníbal Cavaco? Do Sócrates? Da Manuela F. Leite? Do Paulo Portas?

Vítor Coelho
Ou seja, destes 6 nomes, qual seria o MENOS mandão se viesse a ser primeiro-ministro? Esclareçamos lá a democraticidade destas pessoas, talvez numa escala de 1 a 20, á moda antiga.

Gi VI
A democracias destas pessoas estaria com nota negativa todos eles, uns mais que outros, o que é pena, é que nos não votamos num governo mas sim numa única pessoa, a qual escolhe "da melhor forma" para não dizer palavrões, quem nos vai governar, o problema não são os presidentes dos partidos, mas sim o grupo que com eles governam. Basta olhar para os nossos ministros, que sobre os assuntos que tutelam nada ou quase nada sabem, mas mandam, e se mandam.

Vítor Coelho
Então se nenhum serve, o melhor é fecharmos o País e vamos todos para banhos, né? É tão facil considerarmos que ninguém presta, excepto nós, não é?

Gi VI
Não é bem assim, quando escolhe, escolhe um plano de governo, e espera que esse plano na medida do possível seja cumprido.
Agora quando um ministro, que não interessa mencionar nomes, não concorda com o programa do governo, e porque sua excelência não concorda muda todas as regras existentes só porque tem uma ideia já preconcebida da situação mesmo que esta não seja a real. Não faz sentido nenhum. Se estou em democracia e a minha ideia não é a da maioria, na mesma eu tenho de respeitar a ideia que teve consenso até nova analise. Acho que não é pedir muito. Que a democracia seja respeitada.

Casa Amadis
O que mais me aflige é que nesta campanha todos recorreram a calúnias (ou quase) e o que a maior parte das pessoas que ouço se importam pouco em saber se são verdade ou calúnia. Antes ficam felizes pois alimentam as respectivas conversas políticas e ataques a este e aquele (sobre tudo ao Sócrates, a verdade tem de ser dita mesmo que não agrade).
Um país que prefere ouvir mentiras para argumentar em política a procurar razões válidas para atacar um político (neste caso o PM), é o digno herdeiro do que sempre foi desde os anos 80. Um país que vive de miragens (CEE por exemplo) que rejeita em seguida cuspindo-lhes para cima dizendo que nunca concordou com isso.
Que odeia quem governa (seja quem for) e ama a oposição (seja ela qual for).
O português faz política como "faz futebol". A política é um jogo de bola.
Morra o árbitro! se perde.
Mas que rica batota, venha mais! quando ganha.
O português é pujadista butiqueiro como pequeno burguês que sempre foi, desde as descobertas.
Ou até antes

Albertina Fernandes
lembram-se da Manelinha como Ministra da Educação? e que tal como Ministra das Finanças? que tal de grande exemplo de "quero posso e mando". Um abraço :)

Sergio Mascarenhas
Mas quando é que as pessoas se deixam dessa treta de classificar tudo o que diz respeito a pol... Ler maisítica com mimos do tipo «podre», «vil», «degenerado/a», etc.? Ó Luís, o «povo pequenino» são sempre os outros, não é verdade? Eu, socialista sem PS, utópico na classificação de Marx (o que me dá a rir porque ninguém foi mais socialista utópico - no mau sentido - do que o próprio Marx), acho que a «podridão», a «vileza», a «degeneração», etc., começam sempre em que classifica a política nesses termos. Porque eles começam sempre numa mente, numa boca, numa mão que escreve.
Volta Ramalho, o país nunca precisou tanto de ti. Mas antes de voltares, no purgatório onde residem as memórias de todos os grandes escritores dá uma boa coça ao Eça, o grande pecado do pensar político português!

Mauro Burlamaqui Sampaio
Andam a sofrer de mem... Ler maisória curta !!!! Dias Loureiro , ex Ministro de Cavaco , ex Conselheiro de Estado amigo ? Pessoa de confiança ? De confiança política ? Esqueceram que ele foi Ministro da Administração Interna de Cavaco Silva e é isso que temos !!!! , Todos muito simpáticos porque roubar em nome do Estado até fica bem ... Qual é a índole de Portugueses que estão disponíveis para tolerar esta gente ??? Onde estão ? Onde vivem são amigos de quem?
Maldita índole, entregam um País saqueado a geração a frente ... canalhas e egoístas.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Bem feito o que depender de mim isto está só a começar.
Quando a Embraer cancelar o investimento em Portugal e a Polícia Federal brasileira começar vigiar de perto
a Portugal Telecon , Grupo Espírito Santo , Banif e Edp nesta altura os Portugueses vão perceber que o assunto interno é sério e para resolver.

Alice Costa
Casa Amadis, "o português é pujadista butiqueiro"; pode traduzir por favor? Obrigada.
.."como pequeno burguês que sempre foi"..
E termina, num desfecho insultuoso!
Não é português, ou se é, lamento por si.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Alice Costa , a verdade é para reflectir e não para ignorar.
Há criminosos na governança em Portugal ao mais alto nível
quem não gosta de Portugal e pensa só em si é que defende
a actual situação nas principais Instituições do País querer mudar é gostar do país. E aqui vai zero posição política na verdade, nestas coisas ou se está de um lado ou se está do outro.

Alice Costa
Os portugueses, foram a GLÓRIA do mundo, na época dos descobrimentos e isso ninguém nos pode tirar!
Ainda hoje podemos orgulhar-nos de termos grandes cientistas, médicos, inventores, um sem número de génios, dentro e fora do país!
Voçê não é português, mas eu sou e com muito orgulho!!

Mauro Burlamaqui Sampaio
Alice Costa , quem disse que não sou Português ? E o que a história Nobre do País é para aqui chamada para se misturar
com está índole de pseudo portugueses. Acho bem que se orgulhe como eu , mas não ensinarei meus filhos tolerar está gente.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Já agora... os médicos portugueses andam a se esconder nos corredores do santa maria e são joão e a fazer especializações da treta , muitas vezes sendo pagos pelo Estado e pela indústria farmacêutica enquanto os portugueses precisam de medicina geral .
Depois queixam-se que contratam estrangeiros.

Alice Costa
sr Mauro, eu dirigi-me a Casa Amadis, certo?

Mauro Burlamaqui Sampaio
E eu estou-me nas tintas , -:) Amadis não desenvolveu o tema numa verdade efectiva , e acabou por fazer considerações só ofensivas e que nada acrescenta ... isso é verdade.Alice CostaJá agora, Amadis é françês e o sr é brasileiro.
Atenção, que não sou xenófoba.
Leia tudo (mas tudo) para depois opinar, sim?
Não posso tolerar que insultem os portugueses!

Alice Costa
Sr Mauro, "cada macaco no seu galho".
Não venha falar de médicos, medicina, antes de absolutas certezas de tudo o que foi e está a ser feito.
Olhe para a sua área e depois critique com razões válidas, as outras. Nunca se precipite, pq ás vezes dá mau resultado!
Seja ponderado.
Boa noite.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Nunca falo dos Portugueses como é evidente , uma coisa são os Portugueses outra o Estado Português actual , este Estado é corrupto e desaconselhável. Volto a dizer nestas coisas não existem nacionalidades nem ideologias políticas,
ou se está de um lado ou se está do outro.
Aprenda a encarar o factos e não traga ao de cima valores e história de outros Portugueses, repito outra índole de Portugueses para justificar a actual canalha.
Há uma canalha na governança e nas principais Instituições do País , eu valorizo os portugueses que devem ser valorizados assim como de qualquer outra nacionalidade.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Naturalmente que sou ponderado há 12 anos que colaboro com a polícia Judiciária, esta animália vai cair um a um e nada de pressas tem é de ser bem feito.

Casa Amadis
Sou português.
E tenho o direito de dizer o que dá na realíssima gana dos meus compatriotas.
Para mim não precisa de ir até aos descobrimentos. época em que Portugal, segundo Camões, contava mais Velhos do Restelo que cientistas embarcadiços.
Basta recuar até 1974, 75, 76, 77 e 78. Anos em que se deu uma verdadeira revolução de pensamento. Em que, em vez de patriotismos bacocos e apelos a vanglórias passadas, tentamos reflectir sobre o que éramos e sobre o que queríamos ser.
Somos por isso talvez o único povo da Europa que tem a constituição política e o regime que quis. O problema é que nem eleitores nem políticos, hoje em dia, sabem o que fazer com ele (ou eles, país e regime). ... Ler mais
Por pura preguiça mental.
Estou farto de ver copiar tudo o que vem do estrangeiro sem discernimento. Comparar-nos com a França ou a Alemanha sem pensar que nunca teremos dimensão para tal. De ver olhar beatamente para os países nórdicos esquecendo que não temos prisões para portadores de HIV

Alice Costa
Sr Mauro, preciso de me repetir?
Já lhe disse que respondi a Casa Amadis, resposta essa, que estava dentro de um contexto que o sr não se inteirou!

Mauro Burlamaqui Sampaio
Percebi Alice Costa . -:) fica bem , boa noite. É sempre bom participar.

Casa Amadis
nem tantas outras aberrações morais e políticas tão comuns nesses supostos paraísos.
O problema de Portugal é no entanto bem simples.
Esbanjamos o dinheiro em obras sumptuosas e condenamos o nosso povo a viver de salários de miséria sob pretexto que sem isso as fábricas iriam à falência (que vão) em vez de utilizar esse dinheiro para fechar de vez a indústria obsoleta herdada do tempo do monopólio colonial e criar postos de trabalho com ordenados decentes.
Temos multinacionais que nos fazem ganhar rios de dinheiro que desprezamos e cantamos glórias ao "dinamismo nortenho" baseado em fabriquetas que nem a China já quer onde se mata gente com trabalho por 400 euros de ordenado.
Temos um ensino superior rasca com quadros formados no estrangeiro antes do 25 de Abril mas que recusa obstinadamente reconhecer diplomas estrangeiros.
etc., etc., etc.
Temos boas leis mas criticamo-las.
Temos uma política económica inepta mas tudo o que fazemos é caluniar quem está dentro e apoiar quem está fora.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Casa Amadis, concordo inteiramente com a crónica falta de vontade em tomar decisões estratégias puramente portuguesas , reproduzir modelos só se forem compatíveis económicamente e culturalmente ... foi um dos erros crassos de Sócrates seguir vários modelos , uns falsos , outros frágeis outros enganadores . Apesar de ter havido também algumas medidas boas ... mas o assunto é a escuta ao presidente !!!! Bem isso não interessa para nada ... -:)

Casa Amadis
Fico por aqui

Maria Reis
Peço desculpa...era só para avisar que o Paulo Portas poderá chegar a qualquer momento para distribuir beijinhos e braçinhos. Obrigada. Boa noite.

Mauro Burlamaqui Sampaio
E eu aproveito também e vou a reunião com o irmão Miguel Portas.

Albertina Fernandes
No que isto deu... mas que grande trolar... ó! que tal se relativizássemos (nem sei se isto existe):
a Itália tem o Berlusconi, os USA tiveram o Bush, o Brasil teve o Collor (ainda tem para lá uns tipos multitask políticos/jornalistas/criminosos), Cuba continua com os irmãos Castro (pena que não são os gémeos), enfim. Vamos brincar um pouco com isto, vá lá só para descontrair. Temos um PM todo janota, um PR que rega as plantas cada vez que fala, uma líder da oposição que agora veste cor de rosa, um Portas que devia concorrer ao ídolos (com aquela voz de falsete ia longe), um Louçã que mantém o discurso e o tom que já vem do tempo em que prometeu água e saneamento básico a D.Maria e last but not least o Jerónimo, eterno operário que não mexe na ferramenta há 30 e tal anos. Melhor que tudo isto só o facto de estarmos para aqui com conversa, crítica opinião enfim, viver em Democracia é bom e eu gosto. :p

Mauro Burlamaqui Sampaio
Bravo Albertina ! Concordo. Precisamos , entretanto aplicar um anexo , para além de viver a democracia ela não é sempre garantia absoluta precisamos de vigia-la porque nós , alguns , sujam tudo muito rapidamente e os ratos instalam-se e precisamos de vez em quando de efectuar uma limpeza , através da lei claro , mas precisamos.

Albertina Fernandes
não podia estar mais de acordo (estive todo o dia a tentar dizer esta frase) :p
Por agora ainda são só ratinhos (uns mais gordinhos é verdade) mas, ratinhos - alguns já andam de pulseira electronica :)

Mauro Burlamaqui Sampaio
Bem , sejamos verdadeiros , alguma coisa está a ser feita ... seria necessário mais alguns magistrados com aquilo no sítio desculpe a expressão é que a tolerância é uma palavra repleta de significado mas a paciência é também humana e termina. Precisavamos só de um pouco mais de justiça ... o resto a sociedade resolveria e muito bem não falta gente de bem e boa por aí.

Casa Amadis
Se me fala de democracia, concordo (adoro).
Também concordo com o calamitoso panorama do dirigentes portugueses (mas se quer descansar olhe para os franceses e fica descontraida e confiante no futuro nacional).
Também concordo no que diz respeito ao "calamitismo".
Experimentem o Sarkozy e verão a diferença. E olhe que não é como aquela do anúncio do Omo que lava mais branco.
A propósito de branco, mais vale ser dessa cor aqui pelas bandas.... Ler mais
Da última vez que estive aí (em Março) ia desatando à chapada com um primo que me queria convencer que o Sócrates é como o Sarkozy.
é que era um insulto, tanto para o pobre do Engenheiro (que tem muitas no cartório mas não é nenhum Petain) e para o povo francês, que anda a mamar o pão que pediu ao diabo para amassar.
e que, se calhar, vocês vão pedira à Ferreira Leite para amassar.
Não vos aconselho.
Eu chamo-me Tito Lívio, para os servir.

Albertina Fernandes
Adorei conversar convosco, foi um prazer. Amanhã há que trabalhar por isso... vou dormir :) boa noite

Vanessa Batoques Pelerigo
Caro Lauro, parecem-me algo descabidas essas possíveis conclusões quanto à Dra. Manuela Ferreira Leite, por uma ordem variadíssima de razões que passo a expor. A Presidência da República teme estar a ser vigiada (e está!), o Procurador não investiga, o Presidente nada diz, o Primeiro-ministro, José Sócrates, recusou comentar directamente o assunto, dizendo não poder perder tempo com "disparates de Verão".. Porque haverá uma candidata a 1º ministro comentar tal sucedido?
Primeiro, das alegadas escutas à Casa Civil da Presidência da República nada se pode concluir enquanto as mesmas não forem devidamente provadas, logo as atenções não devem ser desviadas dos problemas graves de Portugal (onde as escutas serão, apenas, uma pequena gota de água).
A Dra. Manuela Ferreira Leite não comentou, assim como o Dr. Francisco Louçã ou como Jerónimo de Sousa. Todos eles acharam que isto mais não é que um 'pateto-gate', um 'silly-gate. Não percebo o porquê do "bater" apenas no PSD.
Vanessa Batoques Pelerigo
Não é novidade nenhuma que diversas personalidades escrevem os programas do partido. Conheço uma que contribuiu para o do PS, assim como para o do PSD - já não me choca. Belém continuará a apoiar a liderança do PSD para as próximas legislativas. E não é apenas com o regresso dos ministros de Cavaco Silva ao Grupo Parlamentar e a exclusão de todos os que não alinharam com a estratégia do cavaquismo reciclado de Ferreira Leite. Belém vai mais longe e está a apoiar com assessores a elaboração do programa do PSD, que acaba por não aproveitar grande coisa do trabalho feito no Gabinete de Estados por Alexandre Relvas, um putativo candidato a líder da facção cavaquista que gostaria de afastar a actual líder.
Se vamos criticar Ferreira Leite então vamos criticar todos os intervenientes porque todos eles têm culpa no cartório! O que se está a passar não é bom para o prestígio e a dignidade da democracia. Se há suspeitas deve-se investigar e mais nada.
Vanessa Batoques Pelerigo
Mal se soube, Cavaco devia ter intervido e não o fez. Porquê? Quanto ao PS ter escutas em Belém também não me surpreenderia assim como também não o faria se me dissessem que Belém também tem escutas em S. Bento ou que todos se andam a escutar a todos. Quem não se lembra do famoso envelope 9 que tanto deu que falar sem que no fim se soubesse quem andava a escutar quem.
Mas, passemos ao importante. O Presidente tem de proibir os membros da sua Casa Civil, que têm um estatuto especial, de fazerem declarações que em nada contribuem para prestigiar a função presidencial. Depois, o Procurador Geral da República não vê motivos para investigar e com razão! É que não existe nenhum facto em concreto, apesar da continuação da polémica em plena campanha eleitoral.
Mas, se quisermos ir pela via venenosa então a notícia da suposta vigilância do governo à Presidência da República não desmentia a participação de assessores do governo na elaboração do programa eleitoral, ao contrário do que diz o PSD e aí sim podem "bater" à vontade na Dra. Manuela Ferreira Leite.De qualquer modo, o Presidente da República dificilmente conseguirá trabalhar novamente com José Sócrates como primeiro-ministro. A machadada final na "falta de lealdade" de José Sócrates de que Cavaco Silva se queixa foi dada com a recusa da nomeação de João Lobo Antunes para o Conselho Nacional de Ética.
E o mais curioso é que os socialistas querem evitar um confronto público com o Presidente, convencidos de que isto os pode prejudicar na campanha e favorecer o PSD. Mas o PSD não está nada convencido de que o "incidente" de Belém o faça ganhar votos e eu, sinceramente, concordo. As escolhas de MFL falaram per si.
Enfim...material para entreter a populaça nas férias. Típico da silly season.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Do meu ponto de vista é mais fácil do que parece , e nada tem haver com política . Há muita gente prejudicada no país pelas mais variadas razões e nada tem haver com partidos políticos.

Mauro Burlamaqui Sampaio
Vanessa Pelerigo , esqueça um pouco a política e abra os olhos , o problema é criminal . O problema Português há muito saiu da política reside agora na investigação, nos tribunais e numa justiça expectável. Todo esperamos isso .
Pelo menos as pessoas de bem e informadas.

Vanessa Batoques Pelerigo
Mas, a questão é exactamente essa. As pessoas dão demasiada importância às politiquices e ao diz que disse. Toda a gente julga antes do tempo. Ninguém espera que a (tardia) justiça desempenhe o papel para que foi desenhada. E a presunção de inocência? Proclama-se um Estado de Direito e a Democracia, mas face aos problemas concretos responde-se de um modo repressivo e autoritário. Há que perceber a forma de funcionamento dos tribunais penais e também na forma de actuação dos promotores de justiça, da polícia, dos litigantes.
A reforma da justiça penal não é uma simples mudança de procedimentos é uma alteração institucional de grande envergadura, que redefine o papel da justiça no contexto democrático. As pessoas é que tendem a fechar os olhos.
As pessoas de bem e bem informadas, essas, acreditam que o nosso direito penal é moderno, avançado, racional, favorável à reintegração do criminoso recuperado e à protecção das vítimas (na verdade não o nosso direito, mas o direito alemão e o direito italiano. Mas, não consegue cumprir as tarefas a que se propôs inicialmente. O que mais choca são os aspectos processuais, as diferentes manobras processuais, com recursos de tudo e nada, estratégias dilatórias, e finalmente vítima da prescrição. Não serve nem as vítimas, nem os inocentes, nem os magistrados, nem os procuradores

Casa Amadis
O Sócrates fez eleger o Cavaco e lá teria as suas razões. Se o cálculo lhe saiu furado... não sei.
Quanto aos tribunais, o Sarkozy resolveu o problema. Acabou com os juízes de instrução. Passando esta para o ministério público, isto é, para o Ministério do Interior, para ele próprio.
Nunca mais haverá processos políticos contra membros da maioria enquanto esta estiver no poder controlando a instrução dos processos.
Digo-vos isto porque conhecendo a Pátria Amada, mais dia menos dia imitam os franceses.
Quem previne vosso amigo é.

Mauro Burlamaqui Sampaio
É fácil , o Estado Italiano ,onde também vivo, tem criado leis de excepção para combater a índole mafiosa. Se for preciso combater amanhã ... muda-se lei amanhã ao sabor dos prevaricadores é que uma sociedade não pode ficar .
È preciso ser prático . Leis cirúrgicas e tolerância zero para esta gente.

Mauro Burlamaqui Sampaio
É um facto que Cavaco Silva entrou para Presidência através de um acordo de cavalheiros , o Bloco central na sua expressão máxima. Feio , muito feio e é uma regra que tem condenado os portugueses ao atraso.

Casa Amadis
quem andou na faculdade nos finais de 70 e princípios de 80 (sobre tudo na U Nova) sabe muito bem que toda essa gente foi formada pelo Cavaco ou pelos discípulos deste.
Eles eram abertamente neo-liberais, já na altura.
Em política temos que ter memória.
Por outro lado:
Se vive na Itália sabe que Sócrates não é Berlusconi nem Sarkozy e pode alinhar nas chapadas na cara do meu primo.
E com isto tudo está a dar o "Poil de Carotte" do Julien Duvivier na 3 e perdi o princípio.

Casa Amadis
Bater só no PSD?
Porquê?
Porque dá gozo, muito gozo.
Se tivéssemos batido assim no Sarkozy andávamos menos lixados. Sobre tudo se formos escurinhos.

Casa Amadis
Caro Mauro,
claro que é atraso porque os blocos centrais rimam com política do "juste millieu". Isto é, políticas do consenso mole. Dos arranjinhos.
Governo sem oposição capaz de alternância é marasmo.
E quem mais perde é o PS que se arrisca a tomar o mesmo caminho que o SPD alemão, fagocitado pela CDU.
Mas é bem feito para a cara deles.

sexta-feira, agosto 28, 2009

CINEMA: UP- ALTAMENTE!

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UP-ALTAMENTE

“Up-Altamente” é um muito bom filme de animação, mas não me parece estar à altura do coro de (quase) unanimidade que se estende à sua volta, desde que inaugurou o festival de Cannes (primeira longa de animação a lograr tal feito!). Julgo que é uma excelente animação, com magníficos desenhos, boa caracterização de personagens, um belíssimo enquadramento paisagístico (que funciona como elemento dramático por excelência), mas deixa algo a desejar quanto à história e à sua estrutura dramática. Dir-se-ia que existem duas histórias em uma, ainda por cima não muito bem cozinhadas.
Inicialmente assiste-se à vida de Carl Fredricksen, vendedor de balões, casado, feliz, até que a morte da mulher o vai encontrar com 78 anos, e desejoso de realizar o sonho da sua vida (e da mulher, que tem até um álbum dedicado à “Grande Aventura”: uma fabulosa viagem que o levará (e à sua casa) até às Cataratas do Paraíso. Prende então milhares de balões à sua modesta vivenda e consegue voar à descoberta do sonho. Que é também o pesadelo. Ou mesmo dois pesadelos: a presença de um intrometido escuteiro, mas bom rapaz, preocupado com a harmonia ecológica, e a chegada à terra onde o perigoso Charles Muntz persegue e cataloga ossadas de animais extintos ou em via de extinção. O filme é delicodoce até ao aparecimento de Muntz, torna-se uma vertiginosa aventura daí em diante. De início arrasta-se em fotografias de álbum de família a puxar ao choradinho, depois lança-se numa aventura estilo Indiana Jones.
Obviamente que se trata de um filme estimável e recomendável, mas comparar “Up” com “Wall-E”, por exemplo, vindo da mesma Pixar, para mim fica a perder. De todas as formas a animação digitar segue de vento em popa, anulando o pessimismo dos que asseguraram que a animação nunca mais seria a mesma coisa e perderia toda a magia. Digital ou não, o importante é a sensibilidade e o talento de quem cria, não as técnicas que utiliza.
UP - ALTAMENTE!
Título original: Up
Realização: Pete Docter, Bob Peterson (EUA, 2009); Argumento: Bob Peterson, Pete Docter, Thomas McCarthy; Produção: Le Con, John Lasseter, Jonas Rivera, Andrew Stanton; Música: Michael Giacchino; Montagem: Katherine Ringgold; Design de produção: Ricky Nierva; Direcção artística: Ralph Eggleston, Bryn Imagire, Harley Jessup, Daniel Lopez Munoz, Don Shank; Departamento de arte: James S. Baker, Josh Cooley, Stephanie Hamilton, Erik Langley, Bobby Rubio, Peter Sohn, Veronica Watson; Som: Tom Myers; Efeitos visuais: Gary Bruins, Tolga Goktekin, Thomas Jordan; Animação: Dave Mullins; Companhias de produção: Walt Disney Pictures,Pixar Animation Studios; Intérpretes: Edward Asner (Carl Fredricksen), Christopher Plummer (Charles Muntz), Jordan Nagai (Russell), Bob Peterson (Dug / Alpha), Delroy Lindo (Beta), Jerome Ranft (Gamma), John Ratzenberger, David Kaye, Elie Docter, Jeremy Leary, Mickie McGowan, Danny Mann, Donald Fullilove, Jess Harnell, Josh Cooley, Pete Docter, etc. Duração: 96 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 6 anos; Estreia em Portugal: 13 de Agosto de 2009.

segunda-feira, agosto 24, 2009

CINEMA: INIMIGOS PÚBLICOS


INIMIGOS PÚBLICOS

“Inimigos Públicos”, de Michael Mann, pode considerar-se uma (quase) obra-prima do cinema moderno, afirmando-se uma realização de uma inteligência e actualidade gritantes, ao mesmo tempo que se impõe como filme com um estilo e um originalidade invulgares. Michael Mann já nos dera excelentes exemplos de filmes de acção que cruzavam o “filme negro” com o policial, como "Heat - Cidade Sob Pressão", “O Informador” (The Insider), “Colateral” ou “Miami Vice” e já nos presenteara com certas características muito próprias de uma estética definida, que poderíamos integrar nos domínios do “tecno”, do “cool”, do “postmodernismo”. Creio que “Public Enemies” é, senão o seu melhor trabalho até ao presente, um dos seus melhores.
O filme merece certamente um desenvolvimento especial. Estamos em 1933, na América em plena crise económica e social. Depois do “crash” de 1929, a “Grande Depressão” vai estender-se pela década de 30, dando azo ao aparecimento de uma fortíssima instabilidade social, ao aparecimento de uma sucessão de gangsters que se tornariam célebres, muitos deles quase acarinhados pela população, que viam neles justiceiros populares, dado que desafiavam os detentores do poder, em primeiro lugar os banqueiros (olhados como os principais fautores da crise), os políticos e os agentes da autoridade (que lhe davam cobertura legal). São desse tempo Dillinger, Bonnie e Clyde, Baby Face Nelson, Pretty Boy Floyd, Al Capone, George Clarence 'Bugs' Moran, Joe Sante, Kate 'Ma' Barker, e tantos outros.

John Herbert Dillinger nasceu em Indianápolis, a 22 de Junho de 1903 e viria a ser liquidado em Chicago, a 22 de Julho de 1934. Filho de John Wilson Dillinger (1864-1943) e da primeira mulher deste, Mary Ellen "Mollie" Lancaster (1860-1907), teve uma infância não muito feliz, com uma educação ora severa e ríspida, ora permissiva e descuidada. Aos três anos a mãe morre e, quando o pai se volta a casar, anos mais tarde, não suporta a madrasta e a convivência torna-se mais difícil. Logo que pode, alista-se na Marinha, donde desertou poucos meses depois. De volta a Indiana, casa-se em 12 de Abril de 1924 com Beryl Ethel Hovious. Mas as dificuldades em assentar eram muitas, borbulhava no seu íntimo uma rebeldia nata. A sua vida não dava um filme, já deu vários.
Em poucos anos tornou-se no mais famoso ladrão de bancos dos EUA, sendo considerado uma espécie de Robin dos Bosques da época. Ao roubar os banqueiros e ao nunca interferir com o dinheiro dos cidadãos, que respeitava e nunca molestava, criou essa lenda (no filme de Michael Mann pode ver-se ele a assaltar um banco e afirmar a um depositante: “Nós assaltamos bancos, não pessoas”). Ora os bancos e os banqueiros eram responsabilizados pelo cidadão comum pela desgraça nacional que a América atravessava, pelo desastre financeiro que a ganância e os jogos de bolsa provocavam, pela especulação desenfreada que arrastou para a miséria, a fome, a desonra, mesmo a morte milhões de inocentes cidadãos que de um dia para o outro viram aos suas economias ruírem sem motivo aparente. A segurança e a prosperidade prometidas pelos bancos e pela bolsa afinal nada valiam, eram zero. Dillinger e outros como ele só repunham um pouco de justiça no sistema – contra ladrões instalados no poder, os ladrões de armas na mão chegavam a ser bem vindos e bem vistos pela populaça.
Dillinger tinha uma técnica afinada, actuava rápido e fugia com destreza quer dos locais dos assaltos, como das prisões para onde era enviado sempre que o logravam capturar. A imprensa começou a chamar-lhe “o inimigo publico nº 1”, numa acção concertada com a polícia, que procurava criar em seu redor uma auréola de violência, com intuitos secretos, mas que ficaram depois bem à vista de todos, quando o sagaz e ambicioso J. Edgar Hoover impôs a criação do FBI.
Iniciada a sua vida de fora da lei, foi preso em 1924 na Cadeia Estatal de Indiana. Foi aí que conheceu gangsters com longo historial, como Harry Pierpont de Muncie (Indiana) e Russell "Boobie" Clark, de Terre Haute. Dillinger trabalhava na lavandaria da prisão, o que lhe permitiu ajudar na fuga de Pierpont, Clark e outros. Em 1933, saiu em liberdade condicional e juntou-se ao grupo que ajudara, integrando a quadrilha, formando "o primeiro gang de Dillinger" que, além de Pierpont e Clark, ainda contava com Charles Makley, Edward W. Shouse Jr., Harry Copeland, "Oklahoma Jack" Clark, Walter Dietrich e John "Red" Hamilton. O "segundo gang de Dillinger", criado depois da sua fuga Crown Point (Indiana), contaria ainda com Homer Van Meter e Lester Gillis (Baby Face Nelson).
Partindo dos relatos da imprensa da época (e da lenda que se construiu à sua volta), Dillinger era um perfeccionista na forma como preparava os assaltos, que revelavam astúcia e imaginação, além de grande coragem. Fez-se passar facilmente por vendedor de alarmes de segurança em Indiana e Ohio, e chegou a existir um assalto em que o gang se disfarçou de equipa cinematográfica que filmava o roubo de um banco, enquanto o roubava na realidade. O que remete para a relação de Dillinger com o cinema, que o filme de Michael Mann sublinha.
Algum tempo de depois da saída da cadeia de Indiana, voltou à prisão, desta feita em Lima (Ohio), donde foi libertado pelo gang, que na ocorrência matou o xerife Jessie Sarber. Muitos dos participantes da quadrilha foram capturados no fim do ano em Tucson, Arizona, num violento incêndio no Historic Hotel Congress. Dillinger também voltou a ser preso e enviado para a cadeia de Crown Point, Indiana. Julgado sob a acusação de homicídio do guarda William O'Malley durante um tiroteio num banco em East Chicago, Indiana. Foi durante esse julgamento que foi registada a célebre foto dele a apontar uma arma ao promotor de justiça Robert Estill. A 3 de Março de 1934, Dillinger voltava a fugir, agora de Crown Point, usando uma arma moldada numa barra de sabão, mais um elemento a ser explorado na mitologia do crime e dos gangsters norte-americanos. O xerife Lillian Holley, posto em xeque, jurou matar Dillinger. Quando este cruza a fronteira dos Estados de Indiana e Illinois num carro roubado, comete um crime federal, violando o “National Motor Vehicle Theft Act”, o que o coloca sob a alçada do FBI. Entra então em acção J. Edgar Hoover, que procura extrair da prisão, ou morte, de Dillinger dividendos políticos para impor junto do governo o “seu” FBI.
Será em Abril desse mesmo ano que a quadrilha aparece em Manitowish Waters, Wisconsin, em busca de um esconderijo. Fazem parte do gang nessa altura, além de Dillinger e de Evelyn Frechette, Homer Van Meter, Lester ("Baby Face Nelson") Gillis, Eddie Green, e Tommy Carroll, além de outros. Denunciados à polícia de Chicago, esta chama o FBI, que manda uma equipa de agentes, chefiada por Hugh Clegg e Melvin Purvis, que cerca o local. Avisados igualmente os foragidos, segue-se forte tiroteio que possibilita a fuga de quase toda a quadrilha, mas deixa para trás o corpo do agente W. Carter Baum, atingido por "Baby Face" Nelson. Segue-se um período de refúgio, com Dillinger escondido em Chicago, sob um nome falso, Jimmy Lawrence, época em que ele é visto com uma prostituta, Polly Hamilton, que nada sabia da sua verdadeira identidade. Mas o FBI encontra o carro de Dillinger, percebendo que ele se encontra na cidade. Preparam a caça ao homem. Servem-se de uma amiga de Dillinger, Ana Cumpanas, conhecida por Anna Sage, dona de um bordel, que era romena e estava nos EUA com problemas de imigração, e levam-na a denunciar Dilliger, que ela vira entrar no seu estabelecimento acompanhado por Polly Hamilton, e identificara através de uma fotografia de jornal. Prepara-se uma cilada, aproveitando uma ida ao cinema de Dillinger e da namorada.
O título escolhido foi ”Manhattan Melodrama” (que, em português, se chamou oportunistamente “O Inimigo Publico nº 1”, pois só se estreou em 1935), uma realização de W.S. Van Dyke (com a colaboração não creditada de George Cukor), partindo de uma história de gangsters, violência de traições, escrita por Oliver H.P. Garrett e Joseph L. Mankiewicz, segundo ideia de Arthur Caesar, com Clark Gable, na figura de Edward J. 'Blackie' Gallagher, contracenando com William Powell e Myrna Loy.
"Imaginem ser John Dillinger ali sentado no cinema", sugere o realizador. "Todos os teus amigos morreram; a tua mulher, o amor da tua vida, desapareceu. Há cada vez menos pessoas como tu. Estás a enfrentar forças evolutivas gigantescas que tentam esmagar-te – o crime organizado de um lado e o FBI do outro. E o fim está próximo. Não és sentimental em relação a isso – de qualquer forma, não pensas que vais viver para sempre. E tu, Dillinger, estás ali sentado e o Clark Gable diz-te aquelas coisas, ao mesmo tempo que, sem saberes, a menos de cem metros estão 30 agentes do FBI à tua espera, a planear matar-te".
O filme projectava-se no Biograph Theater, em Lincoln Park, Chicago, e Dillinger foi vê-lo na companhia da Polly Hamilton e de Anna Sage, que usava um vestido de cor de laranja para ser facilmente referenciada. Havia duas hipóteses de salas de cinema, mas numa delas passava um filme de Shirley Temple, que foi quase de imediato descartado. Mas a equipe de agentes federais dividiu-se em dois grupos, e à saída do Biograph Theater, fuzilaram Dillinger, atingindo-o com três balas, uma delas no coração. Sage ficaria conhecida como a "dama de vermelho" (a iluminação artificial fez confundir as cores), uma figura sinistramente traiçoeira, que, apesar da denúncia e dos pretensos acordos com as autoridades, acabaria por ser deportada para Roménia, dois anos depois. Dillinger seria sepultado no Cemitério de Crown Hill, em Indianápolis.
Os agentes que fuzilaram Dillinger foram Charles B. Winstead, Clarence O. Hurt, e Herman E. Hollis, não se sabendo qual deles lhe teria provocado a morte com a bala no coração. Mas todos foram louvados por J. Edgar Hoover pelo heroísmo e coragem. Com a morte de Dillinger, fechou a “época de ouro do crime” de rua na América. O crime organizado continuou a existir, mas de forma menos espectacular, mais discreta, controlado do interior de gabinetes e possivelmente do âmago de bancos (veja-se a crise actual, e o estendal de acusações a banqueiros corruptos).
O filme de Michael Mann acompanha os últimos catorze meses de vida de Dillinger, precisamente entre 1933-34. Segundo informações do FBI, só entre Setembro de 1933 e a data da sua morte, em Julho de 1934, “Dillinger e o seu gang aterrorizaram o Midwest, matando dez homens, ferindo sete outros, assaltando bancos e arsenais da polícia, e organizando três fugas de cadeias, durante as quais morreu um xerife e ficaram feridos dois guardas”.
“Public Enemies” começa por ser uma boa reconstituição de época, que funciona como pano de fundo, mas agarra-se fundamentalmente a um aspecto essencial desse período: as transformações tecnológicas e sociais, que umas às outras se influenciavam. Estamos realmente num período charneira da história dos EUA, saídos há pouco da “Lei Seca”, numa transição de um capitalismo selvagem, que levou os bancos à bancarrota e à maior miséria grande parte da população americana (e mundial, por arrastamento), e que, com a política do “New Deal”, do presidente Roosevelt, tende para uma sociedade algo diferente, mais solidária, a que alguns chegaram mesmo a chamar socialista. As semelhanças com o que se passa na actualidade são gritantes nesse aspecto e não deixa de ser curioso ser este mais um filme que aborda a década de 30, entre os recentemente produzidos pelos estúdios norte-americanos.
John Dillinger (Johnny Depp) é, neste contexto, um anti-herói nacional como Bonie e Clyde, mas um homem que se serve das transformações tecnológicas para surpreender o sistema. Ele utiliza o mais moderno armamento e os carros mais velozes (o filme mostra bem a sua preocupação com os carros que usa e que lhe irão permitir movimentar-se com rapidez, bem como as armas que manuseia). As auto-estradas cruzam os Estados, agora mais Unidos. A aviação comercial lança-se em força. O cinema começara a falar, não há muito. Curiosamente J. Edgar Hoover (Billy Crudup) quer criar uma polícia moderna, usando meios mais sofisticados e menos convencionais. Utiliza os meios de comunicação social (nessa altura os jornais sobretudo, mas também a rádio e o cinema, como veremos mais à frente) para lançar a caçada ao “Inimigo Público Número Um”, como passa a designar bombasticamente Dillinger. Hoover sabe como criar dramaticidade. Quer dar força ao seu FBI (Federal Bureau of Investigation) e serve-se do obstinado Melvin Purvis (Christian Bale) para o efeito.
Este monta modernas salas de escutas telefónicas que irão ser vitais para localizar Dillinger, utiliza o poder mobilizador de cinema, recrutando as plateias para denunciarem Dilinger, “se ele estiver ao seu lado” (numa bela cena que Michael Mann encena com humor, mas como se fosse um pesadelo, que de certa forma prenuncia a “caça às bruxas” do macchartismo, onde J. Edgar Hoover vai desempenhar importante papel na sua frenética cruzada anti-comunista). As forças da ordem servem-se ainda de interrogatórios de uma enorme brutalidade, mas Purvis prefere-lhes abertamente outro tipo de coação, a que leva Anna Sage a trair o amigo e entregá-lo às balas à porta de um cinema. Utiliza igualmente armamento sofisticado, e abate perseguidos pela justiça como se de caça grossa se tratasse.
Mas há um outro aspecto muito curioso que Michael Mann explora de forma discreta, não deixando de sublinhar porém esta transformação quase imperceptível: o próprio tipo de crime muda. O assalto a bancos através de tiroteio dá lugar ao crime de colarinho branco. Enquanto por um lado o FBI monta salas de escuta, o crime organizado monta salas de apostas que geram lucros muito mais substanciais do que aqueles que os assaltos proporcionam, e sobretudo muito mais seguros. Os chefes destes negócios não os querem pôr em risco, chamando a desnecessária atenção das autoridades. Logo, interessa-lhes uma cidade tranquila, sem crime nas ruas e sem a polícia a patrulhá-las. Interessa-lhe que homens como Dillinger deixem de exercer o seu “ofício” para que o deles prospere na segurança do esquecimento. Depois, é muito mais fácil “pagar” para as autoridades “esquecerem” este negócio, do que para menosprezarem o crime violento, que assusta o cidadão e o atemoriza. Tudo portanto a favor dos novos tempos, tudo contra o gangster “romântico” (enfim, é uma maneira de dizer, mas o filme de Michael Mann envereda precisamente por esse caminho) que tem os dias contados. Terá sido a polícia a recrutar Anna Sage para a emboscada, mas terão sido os novos processos da Máfia de Chicago que permitiram e incentivaram que o ajuste de contas se processasse. Com Dillinger morto, a cidade tranquilizava à superfície, permitindo que os negócios obscuros prosperassem.
"Dillinger nunca foi considerado responsável pela morte de qualquer cidadão particular inocente", explicou Christian Bale aos jornalistas em Paris. E acrescentou: "Os bancos eram claramente o inimigo. Executavam as hipotecas e roubavam as vidas às pessoas.” “Não que hoje as coisas sejam muito diferentes", continua Johnny Depp no "Ain't It Cool News". "O filme que eu queria fazer tinha a ver com este tipo um bocado selvagem que quer tudo, e que o quer agora, com paixão", disse Michael Mann ao "Guardian". Rodado nos locais onde tudo aconteceu na realidade, e em alta-definição digital, o cineasta explica: "O vídeo parece a realidade, é mais imediato, tem uma superfície de 'vérité'. A película tem uma superfície tipo líquida, parece algo inventado".
Michael Mann inspirou-se numa obra do jornalista e ensaísta Bryan Burrough, "America's Greatest Crime Wave and the Birth of the FBI", e na verdade o seu argumento acompanha com certo rigor (e algumas liberdades “poéticas” obvias) as peripécias da vida de Dillinger e seus companheiros de existência. Uma existência que o próprio gangster quer que seja para “viver e morrer depressa, sem se deixar arrastar”, como aconselha uma jovem que com ele se cruza. Estamos em plena lufada de romantismo, que é explorada na sua vertente de Robin dos Bosques e de apaixonado. Algumas das cenas mais conseguidas neste aspecto, assinalam o encontro de Dillinger com Billie Frechette (Marion Cotillard), a sua namorada em final de vida, suscitando algumas interrogações metafísicas (“Donde vens, para onde vais, para onde me guias?”), culminando nessa cena antológica de sedução e charme num baile, com “Bye, bye, blackbird” por banda sonora. O cinema também serve de pretexto e espelho para Michael Mann criar um contraponto entre realidade e ficção, sobretudo quando, nas cenas finais, Dillinger no cinema se enfrenta com outro gangster, Edward J. 'Blackie' Gallagher (sob a aparência do mítico Clark Gable), num campo/contra-campo premonitório da tragédia que o aguardava à saída dessa “fábrica de sonhos” que, por vezes, também é causa de pesadelos.
Michael Mann exercita uma narrativa brilhante, rodada em HD e com muita câmara à mão, acompanhando os actores e libertando uma tensão inabitual. Há momentos de uma emoção invulgar. Dillinger invadindo o "Dillinger Bureau" da polícia de Chicago, passeando por entre as fotos e as notas recolhidas pelo departamento sobre si próprio, interrogando os agentes sobre o resultado do jogo que ouviam na rádio, é o instante de glória que saboreia em êxtase. Se foi verdade, é magnífico. Se foi uma invenção de Mann, é brilhante. A fotografia é esplendorosa, nas tonalidades nocturnas nimbadas por um matiz entre o castanho carregado e denso e o dourado que reflecte bem o clima da acção (veja-se a excelente chegada do preso Dillinger, de avião, numa noite iluminada pelo tungsténio dos fotógrafos). A montagem consegue o equilíbrio necessário entre a duração febril das acções violentas e o “tempo” necessário ao desenvolver das emoções. Os actores são todos eles brilhantes, mas será justo destacar o magnífico Johnny Deep (numa composição de grande sobriedade e intimismo, o que não surpreende num actor como ele é, mas convém não esquecer) e Christian Dale (absolutamente impecável, é o termo, no cerebral, frio e pragmático Purvis). Este é um encontro de vidas que tinham de ter este frente a frente. Cada um deles parece ter sido feito para o outro. Dillinger o anti-sistema, Purvis o guardião da ordem que assegura o sistema. Enfim, uma obra de uma actualidade notável, reconstruindo uma época e personagens históricas para sobre elas se repensar o presente. Se a História nunca se repete, olhar o passado pode ser uma boa lição para o futuro.
Antes deste “Inimigos Públicos”, de Michael Mann, Dillinger já fora várias vezes recriado no cinema, sendo o mais interessante o filme, escrito e dirigido por John Milius, “Dillinger, Inimigo Público nº 1”, com um magnifico Warren Oates no papel do célebre gangster, ao lado de Ben Johnson (Purvis), Harry Dean Stanton e Cloris Leachman.
Outras versões: em 1945, Lawrence Tierney foi o primeiro a interpretar a personagem de Dillinger, num filme do mesmo nome, dirigido por Max Nossecks. Em 1957, o excelente Don Siegel roda “Baby Face Nelson”, com Mickey Rooney como Nelson e Leo Gordon como Dillinger. Dois anos depois, em 1959, "The FBI Story", protagonizada por James Stewart, Scott Peters interpreta a figura de Dillinger, numa realização de Mervyn LeRoy. O italiano Marco Ferreri assina em 1969 o filme “Dillinger Is Dead”que incluía sequências documentais do autêntico John Dillinger. “The Lady in Red”, de Lewis Teague (1979), apresenta Pamela Sue Martin como a famosa “mulher de vermelho”, mas muda-lhe o nome, passa a Polly, em vez de Anna Sage (Louise Fletcher). Dillinger é Robert Conrad. Em 1991, surge “Dillinger”, um teledramático, com Mark Harmon no papel que dá nome ao filme.
Finalmente, acaricie-se o ego português, com uma boa novidade: Johnny Depp e demais actores do elenco de “Inimigos Públicos” usam chapéus de feltro manufacturados na fábrica Fepsa, em São João da Madeira. Mas antes deles, já Robert de Niro, Nicolas Cage e Clint Eastwood usavam os chapéus de feltro de origem portuguesa, que hoje em dia são coqueluche na América (55% da produção destina-se aos EUA). Até Bush não dispensa o seu feltro nacional, mas isso já é outra conversa, sem tanta graça.

INIMIGOS PÚBLICOS
Título original: Public Enemies
Realização: Michael Mann (EUA, 2009); Argumento: Ronan Bennett, Michael Mann, Ann Biderman, segundo obra de Bryan Burrough ("Public Enemies: America's Greatest Crime Wave and the Birth of the FBI, 1933-34"); Produção: Michael Mann, Kevin Misher, Bryan H. Carroll, Gusmano Cesaretti, Kevin De La Noy, G. Mac Brown, Robert De Niro, Karl McMillan, Maria Norman, Jane Rosenthal; Música: Elliot Goldenthal; Fotografia (cor): Dante Spinotti; Montagem: Jeffrey Ford, Paul Rubell; Casting: Avy Kaufman, Bonnie Timmermann; Design de produção: Nathan Crowley; Direcção artística: Patrick Lumb, William Ladd Skinner; Decoração: Rosemary Brandenburg; Guarda-roupa: Colleen Atwood; Maquilhagem: Danielle Friedman, Jane Galli, Rob Hinderstein, Lisa Jelic, Emanuel Millar, Gregory Nicotero, Linda Rizzuto, Patty York; Direcção de Produção: Julie Herrin, Sean T. Stratton; Assistentes de realização: Bob Wagner, Kwame Amoaku, Bryan H. Carroll, David Kelley, Allen Kupetsky, Charles Mueller, Andy Spellman, Michael Waxman; Departamento de arte: Jeff B. Adams Jr., Karen Fletcher Trujillo, David W. Krummel, Phillis Lehmer, Scott Matula, David Tennenbaum; Som: Derek Casari, Tim Gomillion, Laurent Kossayan, Ed Novick, Jeremy Peirson; Efeitos especiais: Jeff Miller, Don Parsons, Bruno Van Zeebroeck; Efeitos visuais: Collin Fowler, Ben Marks, Andy Schwab, Doyle Smith, Robert Stadd; Companhias de produção: Universal Pictures, Relativity Media, Forward Pass, Misher Films, Tribeca Productions, Appian Way; Intérpretes: Johnny Depp (John Dillinger), Christian Bale (Melvin Purvis), Marion Cotillard (Billie Frechette), Billy Crudup (J. Edgar Hoover), Rory Cochrane (Agente Carter Baum), Jason Clarke (John 'Red' Hamilton), Stephen Dorff (Homer Van Meter), Branka Katic (Anna Sage), Channing Tatum (“Pretty Boy” Floyd), Stephen Graham ("Baby Face" Nelson), Stephen Lang (Charles Winstead), Giovanni Ribisi (Alvin Karpis), James Russo (Walter Dietrich), David Wenham (Harry 'Pete' Pierpont), Christian Stolte, John Judd, Michael Vieau, John Kishline, Wesley Walker, John Scherp, Elena Kenney, William Nero Jr., Madison Dirks, Len Bajenski, Adam Clark, Carey Mulligan, Andrzej Krukowski, John Michael Bolger, Peter Defaria, Jonathan Macchi, Jeff Shannon, Michael Sassone, Emilie de Ravin, Brian Connelly, Ed Bruce, Geoffrey Cantor, Chandler Williams, Robert B. Hollingsworth Jr., David Paul Innes, Joe Carlson, Ben Mac Brown, Diana Krall (cantora), Duane Sharp, Domenick Lombardozzi, Bill Camp, John Ortiz, Richard Short, Randy Ryan, Shawn Hatosy, Kurt Naebig, John Hoogenakker, Adam Mucci, Rebecca Spence, Danni Simon, Don Harvey, Shanyn Leigh, Spencer Garrett, Don Frye, Matt Craven, Laurence Mason, Randy Steinmeyer, Kris Wolff, Lili Taylor, Donald G. Asher, Andrew Steele, Philip M. Potempa, Brian McConkey, Alan Wilder, David Warshofsky, Peter Gerety, Michael Bentt, John Lister, Jim Carrane, Joseph Mazurk, John Fenner Mays, Rick Uecker, Craig Spidle, Jason T. Arnold, Andrew Blair, Mark Vallarta, Daniel Maldonado, Sean Rosales, Stephen Spencer, Patrick Zielinski, Gareth Saxe, Guy Van Swearingen, Jeff Still, Lance Baker, Steve Key, Leelee Sobieski, David Carde, Gerald Goff, Aaron Roman Weiner, Keith Kupferer, Turk Muller, Tim Grimm, Martie Sanders, Robyn Scott, etc. Duração: 140 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 16 anos; Estreia em Portugal: 6 de Agosto de 2009.


quinta-feira, agosto 20, 2009

AGORA SÃO AS ESCUTAS!?

:
CHEGA DE BANDALHEIRA!

Quase a um mês das eleições, alguém do Palácio de Belém veio dizer que alguém do governo anda a escutar os telefonemas dos assessores do Presidente da República.
Ao contrário do BE e do PCP que não deram especial importância a estas “tontices”, eu, e julgo que a maioria dos cidadãos portugueses, dou muita importância a este facto. De há uns tempos para cá parece que vivemos numa república das bananas, com casos sobre casos, anónimos sobre anónimos, insinuações sobre insinuações, e nada se sabe, fica tudo como está. É altura de dizer basta a esta bandalheira que nos submerge.
Vou votar daqui a um mês e quero saber quem roubou, e se roubaram no Freeport, ou se procuraram apenas linchar o Primeiro-ministro e o governo. Vou votar e quero saber antes se o governo ou alguém do governo anda a escutar Belém, ou se Belém inventa escutas para queimar o governo e beneficiar os seus camaradas partidários.
Eu, e julgo que alguns milhões de portugueses, quero saber quem são efectivamente os senhores que detêm o poder e em quem podemos confiar.
Era bom acabar com as insinuações, era excelente pôr fim a esta onda de calúnias sem rosto de cobardes sem provas ou sem a coragem de as apresentar. Estou farto deste País cada vez mais doente e sem dignidade.
Não estou a brincar: estou mesmo farto desta bandalheira.
Isto não é atmosfera saudável para viver.

segunda-feira, agosto 17, 2009

A LIGA COMEÇOU - MAIS DO MESMO?

Acabada a pré-época e os amigáveis, começamos a ver quem tem unhas para tocar guitarra. Os 3 grandes empataram todos a 1, depois de todos estarem a perder durante quase todo o jogo. Mas uns jogaram fora, em terrenos tradicionalmente difíceis, e o outro em casa, campo que também não lhe é habitualmente muito favorável. Dos três, o pior resultado foi o do Benfica ultra reforçado que se anunciava ir ganhar tudo, mas que só o faz desde que seja a feijões (ou para taças de torneios de preparação). Dos três, o que me pareceu ter melhor equipa e mais equilibrada, foi o Porto, que aliás defrontou o adversário mais difícil. Dos três, o Sporting é o que mais se contenta com a prata da casa e que quase não gastou capital em compras de reforços de peso (o que tem vantagens óbvias e algumas desvantagens a considerar).Para já todos iguais na tabela classificativa, mas uns mais iguais que outros (nesse aspecto, o Benfica parece ser mais do mesmo).Começou a Liga. Vivam as emoções! (fortes? Ou mornas?).

quinta-feira, agosto 13, 2009

SHERLOCK HOLMES, 2

:
"SHERLOCK HOLMES" DE NOVO NO CINEMA

“Sherlock Holmes” vai voltar aos ecrãs de cinema de todo o mundo, no dia 25 de Dezembro de 2009. Esta nova versão, de que apresentamos algumas imagens, conta com realização de Guy Ritchie e argumento, retirado livremente das obras de Arthur Conan Doyle, assinado por Michael Robert Johnson, Anthony Peckham, Simon Kinberg e Lionel Wigram.
No elenco, algumas surpresas: Robert Downey Jr. é Sherlock Holmes e Jude Law é Dr. John Watson. Depois há ainda a referir Rachel McAdams (Irene Adler), Mark Strong (Lord Blackwood), Kelly Reilly (Mary Morstan), Eddie Marsan (Inspector Lestrade), James Fox (Sir Thomas), Hans Matheson (Lord Coward), Bronagh Gallagher (Palm Reader), entre muitos outros.
Guy Ritchie, que já foi casado com Madona, dirigiu alguns filmes interessantes, como “The Hard Case” (1995), “Lock, Stock and Two Smoking Barrels” (1998), “Snatch.” (2000), “Star” (2001), Swept Away (2002), “Revolver (2005), “RocknRolla” (2008) até chegar a este “Sherlock Holmes” (2009), estando já a preparar nova obra, “The Gamekeeper” (anunciada para 2010).
Esperemos que esta incursão pelo universo de Conan Doyle esteja à altura do mestre. O “trailer” deixa algumas dúvidas, muito embora as boas indicações a nível de cenários e fotografia.


SHERLOCK HOLMES, 1

:
AVENTURAS DE SHERLOCK HOLMES EM 12 LIVROS


Ora vamos lá começar por fazer publicidade. Gratuita.
Já não sei quantas vezes li e reli todos os livros do Conan Doyle, sobre Sherlock Holmes. Contos, novelas e romances. Desde a adolescência. Numa colecção que ainda guardo. Depois já comprei outras colecções, até um volume inglês que reproduz textualmente a revista onde inicialmente foram editados (com desenhos originais e tudo, uma preciosidade, que só folheio, e leio aqui e ali, o meu inglês não é o meu forte!, já sabem, não é?).
Agora, o DN, publica e distribui grátis, a quem comprar o jornal das terças, quintas e domingos, doze pequenos volumes com as aventuras de Sherlock Holmes e do seu amigo Dr. Watson, todos assinados por Sir Arthur Conan Doyle. As edições são muito bonitas, eu não resisto e ando a reler tudo. De novo. Convido-vos a darem uma espreitadela. Depois de Edgar Allan Poe, que “inventou” o romance policial, Conan Doyle deu-lhe carta de cidadania e um herói inesquecível. É uma leitura fascinante, que os mais velhos e os assim-assim não esquecem, mas que julgo que os mais novos irão apreciar e “descobrir” com um gosto redobrado.
É publicidade gratuita a minha: não percam estas preciosidades às terças, quintas e domingos.

quarta-feira, agosto 12, 2009

SELECÇÃO NACIONAL

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POP ARTE OU SURREALISMO?
LICHTENSTEIN 0 - PORTUGAL 3

Alguém me sabe explicar para que é que serviu este Lichtenstein-Portugal?
Para Carlos Queirós "descobrir" que estes jogadores do Lichtenstein
são muito parecidos com os da Dinamarca?
Na verdade, ambos são humanos...

CINEMA: DUPLO AMOR

:

DUPLO AMOR
“Duplo Amor”, de James Gray, é um drama sentimental que radica a sua construção e estética no mais tradicional, ou clássico, cinema norte-americano, para lhe subverter as regras nalguns momentos, sem que todavia se possa dizer que atraiçoa um estilo. Senão vejamos: uma personagem masculina central oscila entre duas mulheres, constituindo um daqueles triângulos que parece já não oferecer qualquer surpresa ao espectador. Puro engano. Se tudo já foi inventado, se tudo já foi escrito, e filmado, há sempre forma de lhe dar a volta.
Leonard (Joaquin Phoenix) é um jovem atraente que sofre de bipolaridade. Sofre no seu quarto de adolescente por um amor perdido. Atenta contra a própria vida por diversas vezes, a última das quais atirando-se do alto de uma ponte sobre um rio. Arrepende-se e pede auxílio, o que o salva. Os pais vivem preocupados com a instabilidade de sentimentos e de comportamento do filho, que trabalha na lavandaria familiar e se entretém a entregar encomendas. De repente vê-se confrontado com duas mulheres que se atravessam na sua vida: de um lado uma bela vizinha loura, Michelle (Gwyneth Paltrow), que habita um apartamento frente ao seu, onde se encontra com o amante, um homem casado que é simultaneamente seu patrão. Por outro lado, surge a morena Sandra (Vinessa Shaw), delicada e dedicada filha de um amigo do pai de Leonard, que quer reunir as famílias e os negócios.
O ambiente é o do judaico bairro de Brighton Beac, com incursões pelo coração de Nova Iorque. O suspense é o que é ditado pela ignorância de saber como irá finalizar este invulgar dueto feminino aos olhos de um atarantado jovem que, depois de um período de carência, vê a fome tornar-se fartura. O dilema põe-se entre conquistar a loura ao poderoso amante que a sustenta e lhe paga o apartamento ou aceitar a devotada Sandra. Pode parecer, mas não estamos no domínio da comédia. Estamos nos abismos do drama, e um dos feitos da obra de James Gray é conseguir durante o tempo da sua projecção criar no espectador um clima de tragédia latente, que paira sobre cada um dos belíssimos planos deste filme invernoso, denso, carregado de sombras de mau presságio. Cada nova sequência arrasta consigo o potencial desbloquear de uma ameaça que pode ferir de morte um ou vários dos intervenientes, mas a arte de James Gray está precisamente nesse aspecto não muito frequente no cinema: furtar-se aos grandes desenlaces dramáticos, estar mais interessado no desenho das personagens do que no precipitar das situações. E ainda ter escolhido “Estranha Forma de Vida”, cantada por Amália Rodrigues, para acompanhar, pianíssimo, uma das sequências chaves do filme.

A música portuguesa não será evocada apenas aí. Não será tão “vulgar” como isso dizer-se que esta obra é como que a versão erudita, e psicanalítica, do conhecido “Eu Tenho Dois Amores”, onde, como todos sabem, também havia alguém dividido entre uma loura e uma morena. A canção é popular e desenvolve um conceito de idêntico significado. Em “Duplo Amor” a coisa fia mais fino. Leonard, o protagonista, é assumidamente bipolar, e este facto faz toda a diferença. Não se trata de escolher entre uma loura que representa a aventura, a loucura sensorial e a insegurança, e uma morena que simboliza a paz e a tranquilidade (tudo isto na aparência, claro, porque há muita complexidade a moldar o quadro).
O caso de existirem duas mulheres diante das quais ele oscila, é a concretização visível da sua patologia. Sabe-se que a bipolaridade é um distúrbio de que sofre cerca de 1,6% da população mundial e que é tratável no plano médico. Consiste em bruscas mudanças de humor, que, no entanto, podem ser controladas por alguns medicamentos. O mais antigo é o carbonato de lítio, mas parece haver muitos mais nesta altura, sobretudo ao nível dos antidepressivos, o que aliás Leonard toma. Quando a medicação funciona podem atravessar-se longos períodos de saúde e de vida regular. Mas o acompanhamento, apoio e compreensão da família ou dos amigos mais chegados constituem uma boa base de sustentação. Importante contributo para a completa percepção do filme. Segundo informações recolhidas, os indivíduos bipolares são muitas vezes pessoas que se destacam nas actividades que exercem, principalmente nos meios artísticos (Mozart, Vivien Leigh, Schumman, Jaco Pastorius, Agatha Christie, Virginia Woolf, Ernest Hemingway, Edgar Allan Poe, Graham Greene, Hans Christian Andersen, Fernando Pessoa, T. S. Eliot, Walt Whitman, Cazuza, Axl Rose, Kurt Cobain, Elvis Presley, Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Thelonius Monk, Tchaikosvky, Maria Callas, Robin Williams, Jim Carrey, Marilyn Monroe, Elizabeth Taylor, Paul Gauguin, Vincent van Gogh, Platão, Isaac Newton, entre outros) e políticos (Abraham Lincoln, Winston Churchill, Ulisses Guimarães).
Volte-se ao filme de James Gray. Leonard oscila entre um estado de euforia amorosa e sexual, quando se aproxima de Michelle e a tenta roubar ao seu amante casado, e um estado de conforto e segurança emocional quando se encontra com Sandra. No início do filme sabe-se que, embora sem grande convicção (convicções parece ser coisa que Leonard não tem), tenta suicidar-se atirando-se ao rio, mas regressando à tona de água, pedindo socorro rapidamente. Depois, haverá todo o trajecto que percorre entre as duas mulheres, ziguezagueando entre uma e outra, até parecer optar por uma e acabar com a outra, o que nos oferece um final que, sendo obviamente inesperado, poderá ser considerado um pouco de tudo, desde uma desastrosa renuncia à felicidade até um falso “happy end” ou mesmo um verdadeiro “happy end”, conclusão que cada espectador retirará tendo em conta vários factores, entre os quais a própria condição de bipolar de Leonard.
O que me agrada de sobremaneira no filme? A delicadeza de análise das personagens, a justeza do tom, o clima de tragédia latente que o percorre sem que todavia nada aconteça de particularmente grave, as cores sobrecarregadas e densas que emprestam uma vivência especial à obra. Gosto ainda da maneira discreta como se escreve de uma forma clássica uma história de amor moderna (sim, a bipolaridade de Leonard é obviamente um sinal de modernidade, um sintoma da esquizofrenia da actual sociedade ocidental). Gosto da maneira de representar de Joaquin Phoenix que, esperemos, não se tenha despedido aqui do cinema, para enveredar unicamente por uma carreira de cantor. Ele é magnifico na forma de exteriorizar um comportamento disfuncional, sem grandes alardes, muito pelo contrário recorrendo aos mais ínfimos sinais, à completa e discreta interiorização de uma conduta. Muito bom é também o trabalho dessa espantosa Gwyneth Paltrow, aqui frágil e insegura, e da pouco conhecida Vinessa Shaw, que surpreende num papel difícil, misturando sensualidade e maternal segurança. Isabella Rossellini e Moni Monoshov, os pais de Leonard, são igualmente brilhantes na forma discreta e íntima como inspiram um casal atormentado pela doença do filho e que procuram tecer à sua volta a teia da segurança que julgam preservar Leonard de um futuro incerto.
Há quem chame a James Gray o “novo Martin Scorsese”, certamente tendo em conta sobretudo os seus três primeiros filmes, de ambiente bem negro. Nascido em 1969, em Nova Iorque, Gary descende de uma família de emigrantes russos. Começou por querer ser pintor, mas depois de tomar contrato com a obra de alguns cineastas norte-americanos, como Coppola, optou pelo cinema, tendo estudado na School of Cinematic Arts, na Universidade da Califórnia (1991), onde se tornou notado com um filme de fim de curso, "Cowboys and Angels", chamando a atenção do produtor Paul Webster, que lhe pediu para escrever um argumento que ele pudesse produzir.
Foi em 1994 que escreveu e realizou a sua obra de estreia, “Viver e Morrer em Little Odessa” (Little Odessa), com Tim Roth, Edward Furlong, Vanessa Redgrave e Maximillian Schell, que ganharia o Leão de Ouro de Veneza. Começava aqui uma carreira muito pessoal, muito centrada em temas obsessivos, família, “famílias” mafiosas (a máfia russa), violência e sexo, amor fraternal e filiar, divisão entre Bem e Mal, Nova Iorque, o bairro de Brighton Beach, em Brooklyn, e, invariavelmente, uma dicotomia que percorre todos os filmes de forma labiríntica e simbólica.
Em 2000, para a Miramax, dirige “Nas Teias da Corrupção” (The Yards), com um elenco notável, Mark Wahlberg, Joaquin Phoenix, Charlize Theron, James Caan, Ellen Burstyn e Faye Dunaway, um filme negro, como todos os que até agora realizou. “Nós Controlamos a Noite” (We Own the Night), com Joaquin Phoenix, Eva Mendes, Mark Wahlberg, Robert Duvall, Alex Veadov, Dominic Colon, Oleg Taktarov, Moni Moshonov, Tony Musante, entre outros, esteve em Cannes, e marcou pontos na carreira do cineasta, muito embora a sua desigual recepção crítica. Mas o filme é uma magnífica história bíblica (Abel e Caim) que tem no centro da acção a máfia russa instalada em Nova Iorque, procurando controlar bares e droga. Dois irmãos, filhos de um impoluto comandante da polícia, escolhem percursos diversos na vida. Um segue as peugadas do pai, ingressando na polícia, o outro dirige um bar, propriedade de um russo que tem uma família muito suspeita. A bipolaridade aqui é fraterna, e o filme oferece um clima de profunda inquietação, rondando sempre a tragédia, recortando-se de cenários nocturnos, rasgados por sangrentos néons de mau presságio. O actor fetiche de James Gray, Joaquim Phoenix (três presenças numa filmografia de quatro), compõe uma atormentada personagem que tem de escolher o seu lado da barricada. Um doloroso filme que deixa antever uma brilhante carreira, agora continuada com “Duplo Jogo”. Para 2010 anuncia-se nova obra: “The Lost City of Z”.
Há uma frase atribuída a James Gray que teria muito interesse desenvolver: “Apparently I'm the dramatic version of Jerry Lewis. Someone wrote that I'm the object of Gallic fetish.” Não esquecer que Jerry Lewis na sua comédia esquizofrénica desenvolveu muitas vezes o conceito de bipolaridade, como em “As Noites Loucas do Dr. Jerryl”. Ou “O Médico e o Monstro” na sua versão actual.

DUPLO AMOR
Título original: Two Lovers
Realização: James Gray (EUA, 2008); Argumento: James Gray, Ric Menello; Produção: Donna Gigliotti, James Gray, Anthony Katagas, Couper Samuelson, Mike Upton, Todd Wagner, Agnès Mentre, Marc Butan, Mark Cuban; Fotografia (cor): Joaquín Baca-Asay; Montagem: John Axelrad; Casting: Douglas Aibel; Design de produção: Happy Massee; Direcção artística: Marc Benacerraf, Peter Zumba; Decoração: Carol Silverman; Guarda-roupa: Michael Clancy; Maquilhagem: LuAnn Claps, Jorjee Douglas; Direcção de Produção: Anthony Katagas, Jamey Pryde; Assistentes de realização: Lauren Guilmartin, Jason Hightower, Francisco Ortiz, Doug Torres; Departamento de arte: Leni Calas, John J. Ciccimarro, Eddie DeCurtis, Heather Prendergast, Kevin L. Raper; Som: Douglas Murray; Efeitos especiais: Andrew Mortelliti; Efeitos visuais: J. Cody Baker, Michael Boggs, David Neuberger; Companhias de produção: 2929 Productions, Tempesta Films; Intérpretes: Joaquin Phoenix (Leonard Kraditor), Gwyneth Paltrow (Michelle Rausch), Vinessa Shaw (Sandra Cohen), Moni Moshonov (Reuben Kraditor), Isabella Rossellini (Ruth Kraditor), John Ortiz (Jose Cordero), Bob Ari (Michael Cohen), Julie Budd (Carol Cohen), Elias Koteas (Ronald Blatt), Shiran Nicholson, David Cale, Kathryn Gerhardt, Nick Gillie, Carmen M. Herlihy, Samantha Ivers, Anne Joyce, Mari Koda, RJ Konner, Evan Lewis, Marion McCorry, David Ross, Jeanine Serralles, Jose Edwin Soto, Uzimann, Elliot Villar, Mark Vincent, Craig Walker, Franco Bulaon, Luis Dalmasy Jr., Bianca Giancoli, Andrew Ginsburg, Christy Bella Joiner, Doug Wright, etc. Duração: 110 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 30 de Julho de 2009; Locais de filmagem: Brighton Beach, Sheepshead Bay, Brooklyn, Central Park West, Manhattan, Columbus Circle Subway, Central Park, Waldorf-Astoria Hotel - 301 Park Avenue, New York City, Lincoln Center, Nova Iorque, Hoboken, New Jersey, Jersey City, Kensington Avenue, Springfield, Jersey City, Lana Lounge - 92 River Street, Hoboken, Lincoln Park, New Jersey, EUA.

segunda-feira, agosto 10, 2009

NO DIA DA DESPEDIDA

A última vez que falei com Raul Solnado, foi por engano.
Aconteceu há já algumas semanas. O meu telemóvel tocou, li o seu nome no mostrador, atendi e saudei de imediato: “Olá, Raul”. Ele perguntou: “Quem é?” Identifiquei-me. E ele: - “Desculpa, queria falar com a Leonor. Enganei-me no número.” Concordei, não era eu, mas agradeci o engano, “é sempre bom falar consigo, mesmo por engano”. E desligámos. O telefone, não a amizade.
Hoje estive no Cemitério dos Olivais e, infelizmente, não era engano. Era mesmo verdade, e o mar de gente que ali acorreu também era verdade. Gente do espectáculo, muitos amigos, mas sobretudo povo, “malmequeres” bem portugueses que gostavam do Raul como ele gostava deles e lhe foram oferecer uma última salva de palmas, um último adeus, uma última lágrima.
Foi bonito de ver, e o Raul terá gostado de o sentir, ele que, como todos os homens do espectáculo, e ao contrário do que foi dito nalguns jornais, tanto gostava de uma sincera e comovida homenagem. Não das oficiais que se promovem por obrigação, certamente. Mas das que saíam espontâneamente do coração do “seu público”, que era afinal Portugal (quase) inteiro. Solnado pelava-se por uma boa salva de palma bem conquistada, bem merecida. E tantas ele mereceu!
Um actor só vive plenamente num palco. Mesmo que esse seja o palco da vida ou o da morte. “Eu não tenho medo da morte”, dizia. “Eu tenho é pena de deixar a vida. Eu gosto muito da vida”.
A vida gostava muito de ti, Raul, e nunca te esquecerá. Ela tem apenas pena que tenhas partido.


domingo, agosto 09, 2009

SOLNADO PELO OLHAR DE ANDRÉ CARRILHO



A mais bonita homenagem que vi hoje na imprensa portuguesa. (no Diário de Notícias)

sábado, agosto 08, 2009

MAIS UM AMIGO

Fotografia de Teresa Sá
RAÚL SOLNADO
(Raul Augusto de Almeida Solnado,
Lisboa, 19 de Outubro de 1929, Lisboa, 8 de Agosto de 2009).
Fotografia Maria Eduarda Colares
Raul Solnado morreu. No hospital de Santa Maria, na manhã de hoje, vítima de complicações cardíacas. Depois de (quase) oitenta anos de vida cheia e bem curtida, que nos fez curtir a nós também, seus espectadores incondicionais. Trabalhei com ele num “Conto de Natal”, para a noite de 24 de Dezembro de 1988, da RTP. Foi uma semana de rodagem magnífica, pelo seu profissionalismo, a sua inteligência, a sua entrega, a sua espontaneidade no acto de representar. Ele estudava com rigor e atenção o que tinha de fazer, mas depois deixava a sua intuição e a sua inteligência levá-lo, sempre a bom porto. Não pactuava com facilidade ou grosseria, era um humorista fino, delicado, elegante, mas incisivo, corrosivo, brilhante. Era um amigo para a eternidade, no convívio de quem se era feliz. Fui-o muitas vezes, ao longo dos anos, em Festivais de Cinema por mim organizados, onde fez parte dos Júris (“Famafest”, em Famalicão, “Cine Eco”, em Seia, “O Castelo em Imagens”, em Portel), onde foi justamente homenageado (com a Pena de Camilo em Famalicão). Foi o nosso primeiro convidado nas tertúlias do “Vavadiando” (e ia aparecendo depois, sempre que o trabalho lhe dava pausa).
Conhecia-o desde há muito. Assisti a algumas sessões de pose, quando o meu pai o pintou num belo retrato que há tempos ofereci ao Museu do Teatro (espero que se aproveite agora este infausto acontecimento para o quadro ser exposto e colocado no lugar a que tem direito). Depois, a admiração da família prolongou-se e o meu filho Frederico homenageou-o igualmente na primeira edição do Festival Rir em Lisboa.
Irrequieto e imaginativo, foi tudo o que quis ser, e dono de teatros (o belíssimo Villaret, que ele inventou) até director da Casa do Artista (que ele impulsionou desde a primeira hora). Fica na nossa lembrança no Teatro de Revista, e no declamado, da comédia ao drama, passando até pela ópera. Fez tudo na televisão (e não lhe pagaram na mesma moeda, nos últimos tempos, na RTP, onde só agora ia regressar num novo programa), e está ligado a alguns dos maiores momentos da história da televisão portuguesa (do “Zip Zip” à “Cornélia”), fez rádio e cinema, e também aqui marcou momentos brilhantes (como na “Balada da Praia dos Cães”). Interveio generosamente na vida social, cultural e política portuguesa. Era um ser humano magnífico, sempre apaixonado, sempre enamorado, sempre cativante.
*
Ser actor! Comunicar.
Ser humorista! Criticar.
Ser pessoa! Amar o próximo, mesmo quando dele se discorda, mesmo quando se critica.
Raul Solnado é, possivelmente, o maior actor cómico português vivo. Sublinho o “português”. É ele quem melhor encarna, ainda hoje, nas suas composições, o que de melhor (e de pior) existe no português típico. O melhor, essa ternura do pobre diabo do desenrascanço crónico, esse amoroso cultivo da banalidade e da vitimização, esse olhar cândido do “arrebenta” que solta a imaginação, quando não pode soltar mais nada. O pior? O mesmo, sem a ternura, sem o amoroso, sem o olhar cândido.
Solnado descobriu o Malmequer lusitano. Cantou-o, imortalizou-o. Todos somos Malmequeres do seu canteiro. Ele é o Malmequer deste jardim à beira mar plantado. Quando se quiser saber o que somos, o que fomos, para onde vamos, basta colocar o disco a girar e recordar Solnado nas suas/nossas representações. Para o melhor e o pior somos aquelas figuras. Para o melhor, fica-nos a certeza de termos sido interpretados pelo génio de um grande actor, e, sobretudo, pela generosidade de um grande homem.

Ver mais sobre Raul Solnado no blogue “Vavadiando” AQUI