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quarta-feira, julho 01, 2009

HISTÓRIAS DO CINEMA, NA PÓVOA


COLECTIVA “HISTÓRIAS DO CINEMA”
Biblioteca Municipal Rocha Peixoto - Póvoa de Varzim
3 a 31 de Julho de 2009
INAUGURA DIA 3, SEXTA-FEIRA, PELAS 21H30 COM CONCERTO DOS PORTO RUBY

O Clube de Cinema 8 e Meio / ESEQ e o Pelouro da Cultura do Município da Póvoa de Varzim convidam-no para a inauguração da Exposição Colectiva de Artes Plásticas "Histórias do Cinema", sexta-feira dia 3 de Julho, pelas 21H30, na Galeria da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.
Programa extra: Concerto da banda Porto Ruby. Será servido um Porto de Honra.

A EXPOSIÇÃO

Os filmes de que gostamos têm essa capacidade... Trabalham-nos por dentro quando os vemos e deixam-nos uma cicatriz perpétua, um rasgão que nos tatua a alma para o resto da vida. Para o bem e para o mal eles são os filmes da nossa vida, aqueles que desenham os territórios onde gostamos de nos encontrar/perder.

O projecto "Histórias do Cinema" consta de uma mostra de trabalhos originais realizados em formato A5 e construídos a partir da memória ficcional de filmes seleccionados por convidados de diversas áreas profissionais. Foram aceites todas as formas de intervenção: desenho, colagem, pintura, fotografia, texto, etc. No leque de convidados estão representadas muito sensibilidades, algumas delas, inclusivé, sem uma ligação directa às artes plásticas ou gráficas. Pelo exposto decorre que o objectivo do projecto não passa obviamente por uma curadoria baseada em critérios puramente estéticos (nem serão estes os mais determinantes), interessando mais o lado afectivo que a actividade promove.

A exposição pública dos trabalhos decorre entre os dias 3 e 31 de Julho na galeria da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim.
As verbas auferidas com a exposição - todos os trabalhos estarão à venda pelo preço simbólico de 50 euros - revertem para o clube de cinema 8 e Meio, que as utilizará para as suas actividades: concurso de vídeo escolar 8 e Meio e organização de sessões com convidados.

O CONCERTO

Porto Ruby: Do charme gangster de Frank Sinatra, à diva do playback Britney Spears, da suavidade - pomada de Caetano Veloso ao desafinar de Bob Dylan, da anca de Nina Simone aos aranhiços de David Bowie, das quebras de tensão dos Jefferson Airplane aos desamores de bar de hotel de Leonard Cohen dos blues cubistas de Tom Waits às negras distâncias de uns Depeche Mode... Tudo num Porto Ruby.
MySpace: http://www.myspace.com/portoruby

PARTICIPANTES E FILMES SELECCIONADOS
(por ordem alfabética de nome de autor)

ALZIRA GUEDES (professora)
GATO PRETO, GATO BRANCO (Ex-Jugoslávia, 1998) de EMIR KUSTURICA

ANA ROMERO (artista plástica)
IN THE MOOD FOR LOVE (Hong Kong, 2000) de WONG KAR WAI

ANDRÉ CHIOTE (arquitecto)
LOST IN TRANSLATION (EUA, 2003) de SOFIA COPPOLA

ANDRÉ LEMOS (ilustrador)
NÃO TE MEXAS, MORRE E RESSUSCITA! (URSS, 1989) de VITALI KANEVSKY

ANTÓNIO FERNADEZ (arquitecto)
AMARCORD (Itália, 1973) de FEDERICO FELLINI

ANTÓNIO GONÇALVES (artista plástico)
OS IDIOTAS (Dinamarca, 1998) de LARS VON TRIER

ANTÓNIO JORGE GONÇALVES (artista visual)
HANA-BI (Japão, 1997) de TAKESHI KITANO

ANTÓNIO NORONHA NASCIMENTO (juiz-conselheiro/presidente do supremo tribunal de justiça)
ROCCO E SEUS IRMÃOS (ITALIA, 1960) de LUCHINO VISCONTI

ANTÓNIO PINTO (professor/artista plástico)
BRUSCAMENTE NO VERÃO PASSADO (EUA, 1959) de JOSEPH L. MANKIEWICZ

ARMANDA VILAR (designer)
L’ATALANTE (França, 1934) de JEAN VIGO

CAROLINA PINHO (designer gráfica)
ET: O EXTRA-TERRESTRE (EUA, 1982) de STEVEN SPIELBERG

CÉLIA NEVES (professora)
CINEMA PARAÍSO (Itália, 1988) de GIUSEPPE TORNATORE

DANIEL CURVAL (fotógrafo)
STALKER (URSS, 1979) de ANDREI TARKOVSKI

DANIEL SILVESTRE DA SILVA (ilustrador)
ZELIG (EUA, 1983) de WOODY ALLEN

ESGAR ACELERADO (ilustrador)
FREAKS (EUA, 1932) de TOD BROWNING

FRANCISCO CUNHA (ilustrador)
LA VEUVE DE SAINT-PIERRE (França, 2000) de PATRICE LECONTE
FRANCISCO LARANJEIRA (artista plástico)
ZABRISKIE POINT (EUA, 1970) de MICHELANGELO ANTONIONI

GRAÇA DINIS (professora)
ÚLTIMO TANGO EM PARIS (Itália, 1972) de BERNARDO BERTOLUCCI

HELDER LUÍS (designer)
LARANJA MECÂNICA (GB, 1971) de STANLEY KUBRICK

ISABEL ABOIM INGLEZ (cineasta)
OITO E MEIO (Itália, 1963) de FEDERICO FELLINI

ISABEL LHANO (artista plástica)
OS LIVROS DE PRÓSPERO (GB, 1991) de PETER GREENAWAY

ISABEL PADRÃO (artista plástica)
ERASERHEAD (EUA, 1977) de DAVID LYNCH

ISAQUE FERREIRA (leitor de poesia)
THE SHINING (EUA, 1980) de STANLEY KUBRICK

JOANA RÊGO (artista plástica)
CITIZEN KANE (EUA, 1941) de ORSON WELLES

JAIME EUSÉBIO (arquitecto)
MÓNICA E O DESEJO (Suécia ,1953) de INGMAR BERGMAN

JOÃO RIOS (poeta)
UN CHIEN ANDALOU (França, 1929) de LUIS BUÑUEL

JOSÉ CARLOS MARQUES (fotógrafo)
PULP FICTION (EUA, 2002) de QUENTIN TARANTINO

JOSÉ MIGUEL GERVÁSIO (artista plástico/professor)
FEIOS, PORCOS E MAUS (Itália, 1976) de ETTORE SCOLLA

JOSÉ ROSINHAS (artista plástico)
FIREWORKS (EUA, 1953) de KENNETH ANGER

JÚLIO DOLBETH (ilustrador)
MISTER LONELY (EUA, 2007) de HARMONY KORINE

LEONEL CUNHA (professor)
MAD MAX I (Austrália, 1979) de GEORGE MILLER

LUÍS NOGUEIRA (professor/artista plástico)
TAXI DRIVER (EUA, 1976) de MARTIN SCORSESE

LUÍS SILVA (ilustrador)
ANDREI RUBLIOV (URSS, 1966) de ANDREI TARKOVSKI

MARCEL SAINT-PIERRE (artista plástico)
O DESERTO VERMELHO (Itália, 1964) de MICHELANGELO ANTONIONI

MARIA JOÃO OLIVEIRA (professora)
O CASTELO ANDANTE (Japão, 2004 ) de HAYAO MIYAZAKO

MARIANA PEREIRA (designer gráfica)
NATURAL BORN KILLERS (EUA, 1994) de OLIVER STONE

MENINA LIMÃO (designer gráfica)
MAGNOLIA (EUA, 1999) de PAUL THOMAS ANDERSON

MIGUEL DIAS (director festival curtas metragens vila do conde)
SAMUEL FULLER

NELSON D’AIRES (fotógrafo)
O FIEL JARDINEIRO (GB, 2005) de FERNANDO MEIRELLES

NUNO BARROS (professor/artista plástico)
FANNY E ALEXANDRE (Suécia, 1982) de INGMAR BERGMAN

NUNO SARAIVA (ilustrador)
IL SORPASSO (Itália, 1962) de DINO RISI

ONDINA MORIM (professora)
AS ASAS DO DESEJO (Alemanha, 1987) de WIM WENDERS

PEDRO CALDAS (estudante de design)
TRAINSPOTTING (GB, 1996) de DANNY BOYLE

PEDRO EIRAS (escritor/professor)
JE VOUS SALUE, MARIE (França, 1985) de JEAN-LUC GODARD

PEDRO MOURA (realizador/ilustrador)
BULLITT (EUA, 1968) de PETER YATES

RICARDO CARVALHO (arquitecto)
WILD AT HEART (EUA, 1990) de DAVID LYNCH

RITA MENDES (designer)
CAT PEOPLE (EUA, 1942) de JACQUES TOURNEUR

RUI BALTHAZAR (artista plástico)
HISTOIRE(S) DU CINEMA (França, 1988-1998) de JEAN-LUC GODARD

RUI PINHEIRO (fotógrafo)
BLOW-UP (GB/Itália, 1966) de MICHELANGELO ANTONIONI

RUI RICARDO (ilustrador)
O PLANETA DOS MACACOS (EUA, 1968) de FRANKLIN J. SCHAFFNER

RUI VITORINO SANTOS (ilustrador/designer)
UM Z E DOIS ZEROS (GB, 1985) de PETER GREENAWAY

SARA MACEDO (estudante de música)
O DESPERTAR DA MENTE (EUA, 2004) de Michel Gondry

SARA SOTTOMAYOR (professora)
OS CAVALOS TAMBÉM SE ABATEM? (EUA, 1969) de SIDNEY POLLACK

SUSANA VASSALO (arquitecta)
DE TANTO BATER O MEU CORAÇÃO PAROU (França, 2005) de JACQUES AUDIARD

SÉRGIO LEMOS (fotógrafo/músico)
BLOW-UP (GB/Itália, 1966) de MICHELANGELO ANTONIONI

SIGLA-D (designer)
THE WALL (GB, 1982 ) de ALAN PARKER

TERESA GUEDES (professora)
O PERFUME (Alemanha, 2006) de TOM TYKWER

valter hugo mãe (escritor)
MANHÃ SUBMERSA (Portugal, 1980) de LAURO ANTÓNIO

VÍTOR LAGO SILVA (artista plástico)
NOSTALGIA (Itália, 1983) de ANDREI TARKOVSKY

ZBIGNIEV KONIEC (artista plástico)
BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES (EUA, 1937) de WALT DISNEY
Informação retirada, com a devida vénia, de "casadeosso"

segunda-feira, dezembro 15, 2008

sexta-feira, dezembro 12, 2008

EXPOSIÇÃO NO MUSEU DA IMPRENSA

EXPOSIÇÃO DA IMPRENSA
CINEMATOGRÁFICA PORTUGUESA
A convite de Luís Humberto, director do Museu da Imprensa, que há anos funciona (e bem!) ali para os lado do Freixo, no Porto, fui no passado dia 10 inaugurar uma Exposição da Imprensa Cinematográfica Portuguesa. O texto que então li, aqui fica como memória, mas sobretudo como homenagem a Manoel de Oliveira.
Não é por acaso que nos encontramos aqui hoje, a inaugurar uma exposição sobre a Imprensa Portuguesa de Cinema, neste Museu da Imprensa, na cidade do Porto. Claro que poderia ser por uma razão que tivesse a ver única e exclusivamente com a importância desta imprensa cinematográfica no contexto cultural português. Justificava-se por si só. Mas tudo leva a crer que inaugurar esta exposição um dia antes de Manuel de Oliveira completar cem anos, e dois dias antes dele ter sido registado na Conservatória quererá dizer alguma coisa. Obviamente que estamos na presença de uma homenagem ao mais conhecido, e reconhecido, cineasta português de toda a História do nosso cinema. A que gostosamente eu me associo, nestas curtas palavras que me solicitaram para dar por aberta ao público esta exposição.
O Cinema nasceu oficialmente em França em 1895. A 28 de Dezembro. Faz cento e treze anos daqui a poucos dias. A História do Cinema Português tem menos um ano, nasceu aqui, no Porto, quando Aurélio da Paz dos Reis filmou a saída da Fábrica Confiança, à semelhança do que um ano antes tinham feito os irmãos Lumière, na Fábrica Lumière. Oliveira não era ainda nascido, mas pouco faltava.
Curiosamente, em 1912, quando surge no Porto, a primeira revista de cinema de que se tem registo, a “Cine Revista”, dirigida por Lopes Teixeira, com edição de A. de Matos, Oliveira já deixara de gatinhar e possivelmente corria pelos corredores da casa dos pais com um carrinho de corridas de madeira, outra das suas paixões.
A história da Imprensa Cinematográfica Portuguesa não é particularmente brilhante e teve poucos momentos de certa importante. Curiosamente, ou não, a verdade é que sendo Portugal uma pequena cinematografia com muitos hiatos e raros períodos de florescimento, nada mais normal do que a sua imprensa especializada reflectir esse aspecto. Mas também se poderá ver o problema de forma inversa. Quase todos os países que tiveram e têm forte presença cinematográfica editaram grandes jornais, mas sobretudo revistas preponderantes, a promoverem essas cinematografias. Em França, “Cahiers du Cinema” e “Positif”, em Inglaterra “Sight and Sound”, em Itália, “Cinema Nuovo”, em Espanha, “Nuestro Cine” e “Primeiro Plano”, na América, “Variety” e tantas outras. Cada uma dessas revistas definiu-se como porta-voz de uma cinematografia de uma corrente estética, de um caminho que conheceu o triunfo, que se impôs e conseguiu impor cinematografias nacionais. Em Portugal nunca houve um revista que tenha conseguido furar o bloqueio exterior, que tenha ultrapassado fronteiras, que tenha ajudado a criar e a impor uma cinematografia. Fomos sempre mais dados a importar filmes estrangeiros e a publicitá-los bem nas nossas revistas, do que em fomentar uma indústria e uma arte e a exportá-la. Julgo que ambas as questões estão indissociavelmente ligadas: nunca houve imprensa forte porque nunca houve forte cinematografia; nunca houve cinematografia impositiva porque nunca existiu uma imprensa que a impusesse.
Mas houve alguns momentos em que os homens de cinema de certas épocas tentaram criar uma cinematografia e uma imprensa cinematográfica fortes e coesas, ambas a puxarem para o mesmo lado. Houve alturas ao longo da nossa história do cinema, em que se tentou ora criar uma indústria, ora impor uma cinematografia individualizada, personalizada e esteticamente distinta. Nessas alturas existiram revistas que procuram sublinhar esse aspecto e valorizá-lo junto dos seus criadores e técnicos, como junto do seu público. Na década de 20 do século passado, seria Manoel de Oliveira jovem e entusiástico espectadores de obras do mudo, que para sempre lhe marcaram a sensibilidade e o querer ser cineasta, no Porto, apareceu a Invicta Filmes que, com técnicos e artistas quase sempre importados de França e de Itália, tentou criar uma cinematografia portuguesa. O nosso “mudo” nunca foi particularmente excitante em termos artísticos, mas esta iniciativa marcou o seu tempo, Houve mesmo uma revista, que durou de 1923 a 1936, que se chamou “Invicta Cine”, que teve como directores sucessivamente Carlos Moreira e Roberto de Magalhães. Também no Porto, Rino Lupo, um dos estrangeirados que a Invicta acolheu, dirigiu “Arte Muda”, em 1928.
Em Lisboa, por essa época, multiplicando-se igualmente as tentativas: aparecia a primeira série de “Cinéfilo”, dirigida entre 1928 e 1939, por Avelino de Almeida, até 1932, e depois por Augusto Fraga. Seria um título a ter várias séries, e quase sempre com importante contributo, como iremos ver posteriormente. São ainda desse tempo, “Imagem”, de Chianca de Garcia, o inesquecível autor de “A Aldeia da Roupa Branca”, revista que iria de 1930 a 1935; “Kino”, uma primeira tentativa do talentoso António Lopes Ribeiro, que durou dois anos (1930-1931), “Cinema”, de Alberto Armando Pereira, outra vez no Porto). Andava Oliveira já na faina fluvial, apresentado “Douro”, a primeira obra que iria provocar polémica e hoje se pode considerar uma obra-prima indiscutível.
António Lopes Ribeiro, que desde cedo considerou, e muito, Oliveira, voltava à carga em 1933 com “Animatógrafo”, Fernando Fragosa tentava o “Cine Jornal”, entre 1935 e 40, Armando de Miranda lançava “O Espectáculo”, em 1937, e António Lopes Ribeiro voltava à carga com uma segunda série de “Animatógrafo”, iniciada em 1940 e prolongada até 1942, ano em que Manoel de Oliveira assinava a sua segunda obra-prima, um filme rodado no Porto, que prenunciava o neo-realismo, com catraios que brincavam ao “Aniki Bobo”.
“Filmagem” foi outra revista que teve influência certa na imprensa cinematográfica portuguesa. A segunda série surgiu entre 1943-44, dirigida por Raul Faria da Fonseca, a terceira foi de 1945 a 47, com direcção de A. Cardoso Lopes, que voltaria a orientá-la, numa quarta série, até 1948. Destas revistas todas só tomei conhecimento delas muitos anos depois em alfarrabistas. Ou então folheando um pequenino opúsculo que, anos mais tarde, o Henrique Alves Costa me ofereceu. Chamava-se “Breve História da Imprensa Cinematográfica Portuguesa”, edição do Cine Clube do Porto. Livrinho precioso.
Mas a partir dos anos 50, já eu comprava e guardava religiosamente algumas. A popular “Plateia”, que iniciou a publicação em 1951, foi dirigida inicialmente por Luís Miranda, depois António Feio e finalmente Baptista Rosa, sob a direcção do qual comecei a escrever textos e entrevistar personalidades. Atravessou décadas, numa segunda série que sobreviveu até meados dos anos 80. Mais exigente, era “Imagem”, que reunia gente dos cine clubes e da resistência, e que teve igualmente duas fases, uma de 50 a 53, sob direcção do mesmo Baptista Rosa, outra que duraria de 54 a 61. Revista popular, foi ainda “Estúdio”, impressa em rotogravura, que sobressaía pela tonalidade castanha e um certo alinhamento com a politica do Estado Novo. Durou de 1959 até 1975, então já sob direcção de Boavida Portugal.
Por estes anos, Oliveira rodava alguns belíssimos documentários, de “O Pintor e a Cidade”, ao “Pão”, culminando com um “Acto da Primavera” que se integrava numa nova geração de cineastas portugueses, aqueles que apareceram nos anos 60 e foram considerados a geração Gulbenkian, também chamada de “Cinema Novo Português”.
Nas revistas que apareceram a seguir, em muitas delas fui colaborando. No “Celulóide”, editada em Rio Maior, por Fernando Duarte, que organizava o Festival do Filme Agrícola de Santarém, e que estendeu a sua publicação mensal de 1957 a 1984. Em 1959, apareceu a “Filme”, dirigida pelo saudoso Luís de Pina, onde escrevi pela primeira vez um texto sobre Roger Corman, que nessa altura ninguém conhecia.
A actividade dos Cine Clubes era intensa e repercutia-se nas revistas: já referi a “Imagem”, mas há a assinalar várias outras, mais ou menos directamente ligadas ao movimento, como, por exemplo, “Cadernos de Cinema” (Universitário de Lisboa), “Plano” (dedicados a cinema e teatro) ou “Cine Clube” (Cine Clube do Porto).
De 1971, durando apenas três números, um dos quais dedicado a Manuel de Oliveira, é “Enquadramento”, a primeira das minhas tentativas (frustradas) para editar e manter um revista de cinema em Portugal. As outras foram “Isto é Espectáculo”, que teve oito números, entre 1976 e 77; “Isto é Cinema”, os primeiros 12 números da minha responsabilidade, e “Vídeo Som”, que apanhei em andamento e de que dirigi dezena e meia de números.
Entretanto, voltando atrás, entre 1973 e 74 surgiu uma nova série da revista “Cinéfilo”, desta feita com orientação editorial de Fernando Lopes. Teve um destacado papel no relançamento da geração de 60 e na consolidação da liberdade no pós-25 de Abril.
Por essa altura, Oliveira regressara em força, com “O Passado e o Presente”, “Benilde ou a Virgem Mãe”, “Amor de Perdição”, “Francisca”, etc. Conta-se que por essa altura sempre que apresentava um projecto e concorria a um subsídio, por exemplo através do Centro Português de Cinema, os realizadores mais novos perfilavam-se respeitosamente e comentavam entre si: “Deixem-no rodar mais este filme, está velhote, nunca se sabe…” Na verdade, nunca se sabe. Felizmente, depois desses rodou mais de três dezenas.
Voltando às revistas. Após 1974, não houve muitas, mas apareceram algumas muito curiosas. O Porto sempre a dar cartas: “Cinema Novo”, direcção de Mário Dorminsky, aparece em 1978, policopiada, estando na base do Fantasporto; “Cinema”, inicio em 1982, órgão da Federação Portuguesa de Cineclubes; “A Grande Ilusão”, outra vez o Porto, direcção de José Henrique de Barros, edição do Cine Clube do Norte; “Arte 7”, publicada em Lisboa por Manuel Costa e Silva, em 1991; “Senso - Revista de Estudos Fílmicos”, dirigida por Abílio Hernandez, uma edição da Sala de Estudos Cinematográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; “Premiére”, uma versão portuguesa de uma revista internacional com edições em vários países, que, apesar das condições de que dispunha, encontrou alguma dificuldade e suspendeu a publicação no passado ano e agora retomou com nova orientação. Continua a ser dirigida por José Vieira Mendes. Entretanto, à média de um filme por ano, Oliveira vai construindo uma obra impar e a impor o nome de Portugal pelos cinco continentes.
Mudou, porém, completamente nos últimos anos o perfil das revistas de cinema.
O lado mais popular de algumas, que se ocupavam principalmente das vedetas, foi ocupado pelas revistas cor-de-rosa;
A dificuldade de conseguir um público que as mantenha continua a ser enorme, num país pequeno como o nosso, e com pouca apetência para revistas de cultura;
A concorrência da Internet, dos sites de cinema e dos blogues que proliferam, por vezes com excelentes comentários, reduz o campo de interesse dos potenciais leitores, que colhem lá fora notícias fresquinhas;
O cinema português, única realidade que poderia justificar uma revista de cinema em Portugal, para o discutir e o promover, quando tem interesse é muito elitista, quando é popular é pimba e o público que o vê, na sua generalidade, não quer saber de crítica, de história ou de ensaísmo cinematográfico. Quer consumir sem mais.
Logo, neste momento só vislumbro três hipóteses de subsistirem revistas de cinema em Portugal.
Uma é o exemplo da “Premiére”, uma “franchise” internacional que se destina essencialmente a veicular a predominante produção anglófona, ainda que seja de justiça referir que tem assegurado sempre páginas para a produção portuguesa;
A segunda é a existência de revistas de crítica e ensaísmo, que debatam, historiem, critiquem com uma profundidade incomportável na Internet, e destinadas obviamente a um público minoritário;
A terceira é a edição on line. Para dar um exemplo, em Portugal, nesta altura existe uma muito interessante, dirigida por José Soares, com o título “Take”, e o endereço
http://take.com.pt/.
Chegamos assim ao dia de hoje, 10 de Dezembro de 2008, neste Museu da Imprensa, na cidade do Porto, onde se inaugura esta Exposição de Imprensa Cinematográfica Portuguesa. Enquanto nós estamos aqui a recordar um pouco da História antiga, em Lisboa, um Senhor, à beira de completar cem anos, continua a filmar. “Singularidades de uma rapariga Loura”, segundo Eça de Queirós. Curiosamente uma novela que eu próprio tive contrato firmado com a RTP, em meados dos anos 80, para adaptar a telefilme, no interior de uma série chamada “Histórias de Mulheres” (que eram oito, de início, mas fui obrigado a reduzir a quatro, pois cada nova história me trazia um prejuízo de centenas de contas!).
Os que amam o cinema e os que amam a vida te saudamos daqui, do Porto, neste dia. Boa sorte, Oliveira, e parabéns.
Porto, Museu da Imprensa, pelas 16 horas do dia 10 de Dezembro de 2008
Fotos LA e MEC

sexta-feira, novembro 16, 2007

BRAGA, PORTO



fotos da MEC
PASSEIO POR BRAGA,
COM ESCAPADA AO PORTO

Rápida viagem a Braga, a convite do “BragaCine”, para intervir num debate sobre “Cinema e Ecossistema” e ser “homenageado” com um “Prémio de Carreira - Manoel de Oliveira” (quando se começa a receber “prémios de carreira” é mau sinal!).
Braga estava soalheira e meiga de atmosfera. No Hotel do Elevador estava-se bem com a cidade aos pés, envolta em verdura outonal. Passear nas ruas solitárias depois da meia-noite, ou serpentear por entre pequenas multidões nas mesmas ruas de intenso comércio num sábado ao fim da tarde, são sensações que ficam na recordação. Como se recorda a permanência de Luís Pacheco e a leitura do seu “O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor” (1970).
Terra de igrejas belíssimas e soturnas, de padres e freiras, mas também cidade invadida por uma juventude ruidosa e heterodoxa, casas com história colectiva e janelas de olhares muito pessoais, largos e praças, avenidas com estátuas de pedra e bronze, o peso do passado, mas a presença ruidosa do presente a anunciar um futuro apenas imaginado.
Gostei de voltar a Braga, gostei de rever amigos, o Nicolau Breyner, o Joaquim de Almeida, alguns elementos ligados à organização, mas também de estimular novas estimas (o António Ferreira, que apresentou uma bela curta-metragem de ficção, “Deus Não Quis”; o Dominic Lees, de quem passou um muito interessante “Outlanders”; o galego Anxo Santomil, que fazia parte do Júri, e me lembrou com alguma nostalgia os tempos em que a “Manhã Submersa” passou pelos cinemas e cine-clubes da Galiza, despertando um vivo interesse e o calor de pessoas como a inesquecível Uxia Blanco).
Gostei de voltar a Braga e entrar no Theatro Circo pela mão amiga do Paulo Brandão, com quem privei na Casa das Artes de Famalicão, durante anos de Famafest, e agora vou encontrar a dirigir, com o seu gosto proverbial, esta fabulosa sala que percorri demoradamente e onde assisti a um bom Concerto da Orquestra Nacional do Porto. É bom sentir o abraço de alguém que estimamos e partirmos para um jantar de bacalhau à bracarense (que os há para todos os paladares!). Foi bom entrar no “Teatro Circo Café” e no “Praça Maior”, restaurantes que não devem nada à capital. Foi bom encontrar a Sara F. Costa, que eu não conhecia pessoalmente, e apalavrar Zhang Yimou no Café Viana, o café dessas belas arcadas de cinzento granítico.
Foi bom acordar, num sábado, às seis da manhã e tomar o pequeno almoço numa sala que nos olhava só a nós, beber um café e ver a paisagem, generosa no Minho, como o é generosa por esse Portugal fora. Foi bom entrar no santuário e admirar o fabuloso altar-mor em escultura e alto-relevo, banhado por uma quente luz dourada.
Foi bom sair de Braga, com a Eduarda, levados pelo Zé e a Bárbara (que têm 18 anos, ajudam na organização, e se amam!), que nos deixaram em Serralves, ali para os lados da Boavista, bem no centro cultural do Porto, para ir visitar a Exposição de um americano que de todo desconhecia. Robert Rauschenberg apresentou aqui a sua primeira grande exposição em Portugal. Desconcertante. Papelão resgatado de caixas e caixas, desperdícios vários, lixo, objectos em ruína, tecidos, pouco mais. A recuperação do inútil, numa sociedade a avançar para o consumismo desenfreado. Não sei se gostei ou não. Nem interessa esse facto: é um momento da arte moderna, uma etapa, um “travelling ‘70-‘76” que reúne sessenta e cinco trabalhos produzidos pelo artista.
Depois, um almoço em Serralves é sempre um momento de relaxe, mesmo que o ruído dos utilizadores do refeitório seja grande. Valeu a fuga para a esplanada, com a câmara da RTPN a captar as nossas opiniões sobre os livros de Woody Allen e Julian Barnes. Sugeri (e foi aceite) o cenário para as filmagens, uma cadeira simples com os matizados de verdes da paisagem do jardim por detrás. Um Outono perfeito, já o disse.
Passámos ainda pela Fnac da Rua de Santa Catarina (mais dois dvds e um livro!) e pela esplanada do Magestic, local de romagem imprescindível para sermos “roubados” por um café ao preço de um euro e noventa. Mas é um “roubo” em que oferecemos a carteira à marosca - por entre os ouros e os espelhos, rodeados de turistas palavrosos, num cálido por de sol, com o cheiro das castanhas assadas a esvoaçar por perto (oferecidas pela Vodafone a filas intermináveis de portuenses).
Gosto do Norte e tenho saudades dos dias passados no Porto. Tenho saudades dos meus alunos. Saudades aplacadas minimamente por um telefonema do Zé Magano, do João Leal, da Cristiana Maravilhas, do Samuel Reis e de outros mais alunos que deixei por lá e que queriam saber a opinião do professor sobre o filme que acabaram de terminar em produção TCAV. A opinião já lha dei. Foi bom o telefonema, o filme, a lembrança. Gosto do Porto, da luz, das casas, das gentes. Das manhãs e das tardes nas salas de aula, das semanas do Fantasporto, das noites, do comboio (ou do carro) galgando trezentos quilómetros para cima e para baixo todas as semanas. Gosto do Minho, de Famalicão onde anualmente regresso, de Viana que não esqueço, das férias em Moledo e Caminha, das tentações da Póvoa e de Espinho (que não fica no Minho, mas dá jeito incluir aqui!), das curtas-metragens em Vila do Conde. Gosto das pessoas, gosto do ar, gosto do cheiro, gosto do que ali já vivi e do que ali vou viver.

terça-feira, junho 05, 2007

EXPOSIÇÃO: JOÂO CONCHA NO CARTAXO

ALICES, SEM TÍTULO
Não é a primeira vez que falo dele neste meu blogue. Já noutras ocasiões escrevi sobre o Intruso, blogue de João Concha, arquitecto, designer, ilustrador, pintor, e afável bloguista, de traço elegante e sóbrio, aparentemente homem tímido e reservado, mas senhor de uma forte personalidade que se esconde por detrás de uma discreta bonomia e transmissível simpatia. Pois o Intruso inaugurou no passado sábado, dia 2 de Junho, na Casa da Cultura do Cartaxo, uma exposição chamada “Alices, sem título”, que é uma excelente afirmação do seu talento, para quem não o conhecia ainda.
João Concha nasceu em 1980, em Évora, e aos 18 anos vem para Lisboa, onde se licencia em Arquitectura. Agora esta exposição afirma-o como ilustrador e pintor sensível, inventivo, iconoclasta. A ter em conta, a partir de hoje. Por mim, já o tinha em conta há mais tempo, descoberto que foi nas ilustrações do seu blogue, onde vi e assinalei os esboços iniciais destas “Alices”. A partir desse contacto, convidei-o para um projecto comum (que talvez se concretize, ele o dirá!), por acreditar obviamente na justeza do seu traço. Mas estas “Alices” confirmam-no, para quem o não conhecia.
João Concha pega na personagem de Alice, tal como a conhecemos das gravuras de Sir John Tenniel (que ilustrou a primeira edição da obra de Lewis Carroll), e coloca-a nos mais diversos contextos, muitas vezes a fugir aos contextos, outras quase só pressentida nos contextos, e relança-a para novas leituras. Ou para nenhuma leitura outra que não seja a do seu diálogo com a matéria gráfica, as texturas, as tintas, a plasticidade da matéria, as cores, as formas, as proporções, a miniatura aqui, o gigantismo acolá, o pulsar de um coração, a presença de um botão que o deixa de ser ou de um pente que se metamorfoseia, uma porta a abrir para o mistério, a ameaça desconhecida, uma fuga de um campo verde (este é meu, cheguei tarde para optar por outros, mas gosto muito deste, para que estou a olhar na foto que a MEC me tirou).

Boa a exposição e muito boa a Casa da Cultura do Cartaxo (que tem acoplado um Auditório, onde cheguei tarde para ver o Bruno Schiappa no seu novo espectáculo, mas ele não perde pela demora, que o apanho por aí, noutra ocasião).
“Terra do Vinho”, como aparece escrito por cada canto da cidade, o Cartaxo já foi minha passagem regular quando ia visitar o João Maria Tudela, a Filomena e as crianças, que por ali perto têm casa, na Lapa, e quando o Frederico gravava “A Estrela” na Eireira (com a amigável colaboração da Maria do Céu Guerra e do Camacho Costa, saudade Camacho!). Mas há muito que por lá não passava e está uma terra bonita, na meia hora de entardecer que deu para ver a percorrer as ruas à volta da Câmara Municipal. Come-se razoavelmente bem no “Batalhoz”, onde vi Portugal ganhar à Bélgica, e, de volta, a excursão que regressou a Lisboa por estradas de um Portugal profundo, deu certamente por bem empregue esta fuga à rotina, esta viagem ao outro lado do espelhos destes citadinos empedernidos que, todavia, não se cansam de procurar “Alices” um pouco por todo o lado, mesmo “sem titulo”, quiçá mesmo sem títulos para melhor a compreenderem e adoptarem.
Assim foi, e ficam algumas fotos para o documentar.

Casa da Cultura do Cartaxo. Ex. Noite

Fotos de MEC, LA e S.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

TEATRO MODERNO DE LISBOA








TEATRO MODERNO DE LISBOA

EM EXPOSIÇÃO E EM VÍDEO

Quem tem menos de 50 anos terá muitas vantagens na vida (oh, se não têm!), mas algumas desvantagens também. Nunca viu, por exemplo, nada da Companhia do Teatro Moderno de Lisboa, que, entre 1961 e 1965, actuou no Cinema Império, em sessões às 18 horas, com salas a transbordar (mais de 800 lugares, sabem o que é, em teatro?), e provocando um entusiasmo enorme na malta nova, no público universitário, mas igualmente em todo o espectador ávido de cultura, de novidades, de algo que lhe recordasse a liberdade e a resistência ao sistema. Desde “O Tinteiro” até ao “Render dos Heróis” foi uma actividade magnífica, desenvolvida por uma sociedade de actores que pretendia acima de tudo rumar contra o marasmo, abrir horizontes, rasgar janelas. Foi o que fez. Todos nós lhe devemos muito. Sobretudo a descoberta do amor pelo teatro, que então ali ia nascendo (ao lado de outras companhias que é justo igualmente não esquecer).
Cármen Dolores, Rogério Paulo, Ruy de Carvalho, Armando Caldas, Fernando Gusmão, Clara Joana, Fernanda Alves, Rui Mendes, Armando Cortez, Morais e Castro, entre tantos outros, povoaram de sonhos as nossas vidas por essa altura.
São agora recordados no Museu do Teatro (Estrada do Lumiar, 10, Lisboa), numa Exposição evocativa do Teatro Moderno de Lisboa, que será acompanhada de um vídeo (realizado pelo cá da casa Frederico Corado), e de um livro, a ser lançado brevemente, da autoria de Tito Lívio. A exposição e o vídeo são abertos ao público hoje ás 18,00 horas. Não percam, que vale a pena. O Teatro Moderno de Lisboa merece isto e muito mais.