sábado, agosto 28, 2010

AVEIRO, 27.8.2010

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EXPOSIÇÃO LAURO CORADO
AVEIRO: GALERIA DA CAPITANIA
Fotografias MEC e LA

PORTO, 26.8.2010

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INVICTA FILMES:
TERMINA CICLO ORSON WELLES

Na Biblioteca Almeida Garrett, encerramento do ciclo dedicado a Orson Welles, integrado na iniciativa Invicta Filmes.
Anuncia-se igualmente um novo ciclo dedicado a David W. Griffith (início a 1 de Setembro, com "Nascimento de Uma Nação").
Contra todas as espectatiovas, durante o mês de Agosto, casas cheias, com cerca de 200 espectadores cada sessão. Um verdadeiro êxito, a demonstrar que as pessoas gostam do que é bom, quando lho proporcionam.

quarta-feira, agosto 25, 2010

MORREU MARIA DULCE

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Foto e autógrafo de Maria Dulce - Portalegre, 1957.
MARIA DULCE

Morreu Maria Dulce. Morreu só, numa casa onde habitava ocasionalmente, em Bucelas. Só. A notícia era lacónica, como a sua despedida: “A atriz Maria Dulce, 73 anos, morreu hoje na sua casa em Bucelas (Loures), disse à Lusa fonte do Dramax -- Centro de Artes de Oeiras Box. A atriz estava ensaiar a peça "Sabina Freire", de Manuel Teixeira Gomes, encenada por Celso Cleto, com estreia prevista para 5 de Outubro no auditório Eunice Munoz, em Oeiras. "A atriz apareceu morta hoje em casa, em Bucelas. O corpo seguiu para o Instituto Medicina Legal", disse a mesma fonte. "Estamos também à procura de familiares da Maria Dulce, pois ela vivia sozinha e não temos quaisquer contactos", disse.” (Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico, acrescenta a nota colhida no Sapo, via Lusa).
Maria Dulce, capa da revista "Plateia".
Aqui há dois ou três anos, Luciano Reis (honra lhe seja feita!) escreveu uma curta biografia sobre a actriz, que foi publicada com o título “Maria Dulce a Verdade a que tem Direito”. Luciano Reis soube que eu tinha uma particular estima pela actriz e pediu-me um prefácio, que escrevi com todo o gosto. Rezava assim:

PARA A MARIA DULCE COM AMOR

Durante alguns anos da minha adolescência vivi em Portalegre. Meu pai era professor e fora colocado nessa bela cidade do Alto Alentejo para se efectivar. Em finais dos anos 50, não sei precisar o ano, mas recordo que era um puto de 13 ou 14 anos que já tinha escolhido as paixões que me iriam acompanhar ao longo da vida. Uma delas era o cinema, outra a escrita, a leitura, os jornais, outra o SCP, outra as mulheres. Entre estas últimas, que na altura não eram ainda mulheres mas meninas mais ou menos da minha idade, encontrava-se a Maria Dulce, a Maria de Noronha, do “Frei Luís de Sousa”, filme de 1950. Devo ter visto o filme no ecrã do Teatro Portalegrense ou no cinema ao ar livre da Cine Parque, uma esplanada que funcionava durante o Verão.
Ainda me lembro hoje como era bonita a gaiata loura de catorze anos, com os cabelos encaracolados, que tinha pouco mais anos idade que eu, e cintilava brilhantemente nesse filme de António Lopes Ribeiro. Não sei mesmo o que mais me impressionou na altura – se o dramático “Ninguém!” do Romeiro, se a presença da bela Maria Dulce. Já se sabe que todos os putos têm sonhos, um dos meus sonhos era a Maria Dulce. Linda de morrer (ou não estivesse no “Frei Luís de Sousa”!) e, ainda por cima, actriz, e de cinema. Era tudo o que eu podia desejar. Em sonhos… para quem vivia em Portalegre, nos anos 50. Sabem o que era isso? Perdido junto à fronteira com a Espanha, a muitas horas de Lisboa, longe de tudo... ainda sem televisão. Só revistas de cinema, jornais diários, jornais regionais, um ou outro filme português no cinema da terra.
Existia, todavia, uma prática saudável. Rara, mas mesmo assim salutar: de tempos a tempos aparecia em digressão pela província uma companhia teatral, normalmente uma revista ou comédia de sucesso garantido, uma vez por outra algo de mais substancial. Havia também a Companhia de Teatro Itinerante Rafael de Oliveira, e outros espectáculos musicais.
Pois não querem então lá ver que um dia apareceu anunciada a presença de Maria Dulce em Portalegre! Integrada em que projecto (como hoje se diz), já não me lembro. Mas não devia ser grande coisa, uma revista montada para consumo na província ou um “sarau para trabalhadores”, daqueles que a FNAT promovia para “Alegria no Trabalho”. Mas eu queria lá saber da qualidade do “projecto”. O que me interessava era a Maria Dulce em Portalegre, e esse episódio não o esqueci mais. Por varias razões: por ver a Maria Dulce, “ao vivo e a cores”, diriam os putos de hoje; porque era teatro, ou algo semelhante, e tudo o que mexesse num palco, valia a pena, mas sobretudo por um acontecimento que ocorreu e que me marcou profundamente.
Passo a contar, para ficar registado para a História: anunciado o espectáculo para a noite do dia tal, calculei que a Maria Dulce e todo o elenco chegariam de véspera e ficariam instalados na Pensão Vinte e Um, a única então existente em Portalegre, onde todas as noites se podia ver a jantar o poeta José Régio, amigo da minha família, o que me fazia um frequentador assíduo da pensão. Consegui saber com facilidade quando chegava a comitiva, quantos dias iam ficar, introduzindo-me assim no segredo dos deuses.
Mal a Maria Dulce pôs o pé em Portalegre, já estava eu no seu encalço. Chegámos portanto à fala, à porta da Pensão Vinte e Um. Como já por essa altura escrevia umas “notícias” sobre espectáculos para os jornais da terra, pedi-lhe descaradamente uma borla para o espectáculo da noite. Eu e uns colegas de liceu que me acompanhavam. A Maria Dulce, com uma simpatia que rondava a sedução (mas o que não rondaria a sedução nela?), disse-me que deixaria bilhetes para nós na porta do Teatro, à hora do espectáculo. Assim foi. Às 21 horas, lá estava eu e os amigos a recolher a oferta: uma magnífica frisa para os atrevidos putos do liceu de Portalegre.
Nessa noite, cada palavra de Maria Dulce fazia aumentar a minha paixão. Que perdura até hoje, apesar dela não saber. Desencontros da vida.
Ao longo da tempos fui acompanhando a sua carreira, sempre com um interesse particular (um amor de adolescência não se esquece!). Uma ou outra vez tropecei em filmes medíocres (ela não voltou a ter muita sorte com os filmes, mas naquele tempo, quem tinha?), mas nunca por culpa dela, que tentava defender personagens banais em argumentos sem garra e realizações sem nada que as recomendassem. Em Espanha foi vedeta, mas também aí os filmes do período franquista não eram particularmente brilhantes. No teatro, porém, construiu uma carreira sólida, onde brilhou o seu enorme talento e dedicação à arte, sempre que havia oportunidade para o conseguir (Portugal é, todavia, madrasto para os seus artistas, já se sabe). Na revista obteve êxitos inesquecíveis. Na televisão, sobretudo ultimamente em séries e telenovelas, foi mantendo um registo de qualidade e de exigência para consigo própria e para com o seu público. Hoje é uma das presenças mais respeitadas e queridas do nosso espectáculo.
Já não tem os caracóis louros. Pois não. Vamos obviamente envelhecendo. “Os cabelos branqueando”, como dizia um nosso comum amigo, José Viana. Mas há dias, numa aula de História do Cinema Português, projectei o “Frei Luís de Sousa” e tudo voltou ao que era: eu adolescente, ela adolescente, a frisa no Teatro Portalegrense, Portalegre, à porta da Pensão Central, o autocarro com a companhia, pronto para regressar a Lisboa, eu a despedir-me de Maria Dulce, com o coração destroçado. Coisas de miúdos.
Um beijo para ti, Maria Dulce, do teu Lauro António.

Há coisa de ano e meio, recebi um telefonema de Maria Dulce. Estava sem trabalho, morava em Mora, no Alentejo, sozinha, tinha uma pensão miserável, passava por dificuldades, ia neste ano de 2010 comemorar 60 anos de carreira (tinha-se estreado ao treze, em “Frei Luís de Sousa”) e perguntava-me, a medo, se eu quereria integrar um projecto que ela tinha. Queria comemorar os seus 60 anos de carreira, havia um grupo de admiradores que propunha uma festa de homenagem, e ela, que tinha assistido a um festa idêntica, realizada em Oeiras por mim, em relação a José Viana, dizia-me que só aceitava que fosse eu a organizar os festejos. Uma festa, e se possível um vídeo sobre a sua vida e obra. Se eu aceitava? Claro que aceitava. E logo nessa altura a convidei a integrar o Júri de um festival que se realizaria em Maio, em Portel. Até uns dias antes do certame, contei com ela, teríamos alguns dias para falar do projecto. Mas, na altura do festival, ela fora convidada por Celso Cleto (honra lhe seja feita!) para integrar o elenco da peça "Hedda Gabler", de Henrik Ibsen, produzida pelo Dramax, com a qual se apresentou em vários palcos nacionais e no Círculo de Bellas Artes, em Madrid. Não pôde estar no Festival, mas combinámos para mais tarde continuar a nossa conversa. Depois ela andou em tournée, durante vários meses, e eu fui parar ao hospital durante uma semana que deixou algum rasto. Voltámos a falar e a adiar o encontro, ela tinha um outro projecto, andava um pouco mais animada.
Hoje telefonaram-me a dar conta da triste notícia.
Lamento, Maria Dulce, que os tempos tenham sido de novo madrastos para projectos conjuntos. Mas acredita que teria tido o maior prazer em organizar a tal festa de homenagem e dirigir o documentário sobre a tua vida e obra. Bem os merecias. Bem os mereces. Beleza e talento não te faltaram. Apenas alguma sorte, neste tão triste final de vida.
E continuo a despedir-me, como o fiz no prefácio ao livro: “Um beijo para ti, Maria Dulce, do teu Lauro António”. As paixões da meninice nunca se esquecem.

Em "Frei Luis de Sousa", de António Lopes Ribeiro

Maria Dulce com Laura Alves, Vasco Morgado, Henrique Mendes, etc.

NA TELEVISÃO
(2005) "Dei - te Quase Tudo" - Firmina Águas
(2004) "Baía das Mulheres" - Piedade Barão
(2001) "Anjo Selvagem" - Madre superiora
(2000) "Alves dos Reis" - Isaura
(1999) "A Lenda da Garça" - Benvinda Matos
(1998) "Os Lobos" - Laurinda
(1993) "A Banqueira do Povo" - Empregada dos Gonçalves

NO CINEMA
Como Actriz
Frei Luís de Sousa (1950), de António Lopes Ribeiro
O Homem do Dia (1958), de Henrique Campos
A Luz Vem do Alto (1959), de Henrique Campos
Encontro com a Vida (1960), de Arthur Duarte
Amor de Perdição (1979), de Manoel de Oliveira

Como Produtora
A Luz Vem do Alto (1959), de Henrique Campos

domingo, agosto 22, 2010

LAURO CORADO - EXPOSIÇÃO EM AVEIRO

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Autoretrato, Madrid, 1947
EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE LAURO CORADO
NA GALERIA DA CAPITANIA

Ria de Aveiro
A Câmara Municipal de Aveiro informa que, entre os dias 21 de Agosto e 12 de Setembro, estará patente ao público a exposição de pintura a óleo de Lauro Corado, na Galeria da Capitania (sede da Assembleia Municipal de Aveiro).
Esta exposição é composta por obras do pintor que constituem o acervo municipal e pode ser visitada, gratuitamente, de terça a sexta-feira das 14.00 às 18.00 horas, aos sábados das 15.00 às 19.00 horas e das 21.00 às 23.30 horas, e aos domingos entre as 15.00 e as 19.00 horas.

Biografia de Lauro Corado

Lauro da Silva Corado - Professor e artista plástico, nasceu em Aveiro em 1908 e morreu em Lisboa a 1 de Setembro de 1977. Estudou na sua cidade natal (Escola Industrial de Fernando Caldeira) e depois na Escola Superior de Belas Artes do Porto onde concluiu o Curso Superior de Pintura. Foi discípulo de António Carneiro e de Joaquim Lopes. Fez concurso de provas públicas para professor de Pintura da Escola Superior de Belas Artes, tendo ficado aprovado em «mérito absoluto» (1933).
Nesse ano partiu para Itália, França e Espanha como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura, regressando em 1945 a Espanha patrocinado pelo mesmo Instituto.
Como professor começa a leccionar na Escola Industrial e Comercial Infante D. Henrique (Porto), e, a partir de 1941, na Escola Industrial e Comercial Dr. Azevedo Neves (Viseu). Em 1942 transfere-se para a Escola António Arroio. Em 1949 faz Exame de Estado para professor efectivo do Ensino Técnico, instalando-se no ano seguinte em Portalegre, onde lecciona até 1958 na Escola Industrial e Comercial local. Aí conviveu com José Régio, colaborou em A Rabeca e expôs diversas vezes: 1955, Escola da Corredoura; 1958, Salão Nobre do Governo Civil.
De regresso a Lisboa, em 1958, é colocado na Escola Técnica Elementar Nuno Gonçalves e depois na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde se encontrava à data da sua morte.
A sua primeira exposição individual efectuou-se na Associação Comercial de Aveiro, a que se seguiu uma segunda no Salão Silva Porto (Porto). Concorreu a inúmeras exposições individuais e colectivas no país e no estrangeiro, obtendo 1.ª e 2ª medalhas da S.N.B.A. de Lisboa, os 1.º e 2.º prémios e Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, o prémio José Malhoa e o 1.º prémio da Exposição Antoniana do Estoril. Encontra-se representado em museus e colecções particulares de Portalegre, Espanha, Brasil, Canadá, EUA e Alemanha.
Retrato do filho Lauro António, 1949

Infelizmente não pude estar presente nesta exposição da obra de meu Pai, pois fui apenas informado, por mão amiga, que me endereçou este comunicado de imprensa dirigido à comunicação social pela CMA. Lamento que a Câmara Municipal de Aveiro não tenha informado os filhos do pintor desta sua iniciativa.

sábado, agosto 14, 2010

FADO, NO CASINO DO ESTORIL

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Fado - História de um Povo
Pela primeira vez no Casino Estoril como encenador de um espectáculo, Filipe La Féria assina “Fado - História de um Povo”, que procura traçar uma história do fado, desde as suas origens até à actualidade. Um espectáculo de casino tem as suas especificidades próprias e não se deve pensar ir encontrar aqui uma história erudita do fado, nem sequer um musical, na linha de “Amália”. O fado é aqui cruzado com o musical, é certo, mas igualmente com o circo, o bailado, a revista, o vídeo, as novas tecnologias, mas sobretudo também com o “music hall”. O resultado é certamente do agrado do público que vai ao Casino do Estoril, mas deixa um travo de alguma decepção em quem gosta de fado e de musicais, pois ao que se assiste é a um espectáculo híbrido. Não se ouve uma história do fado, através do fado (ainda que surjam muitos dos mais célebres fados de sempre, mas poucos para os incondicionais da canção nacional), nem se assiste a um musical estruturado enquanto tal.
Feita esta primeira ressalva, que tem a ver com a própria concepção do espectáculo, que enveredou deliberadamente por esta estrutura um pouco fragmentada em “números” que se sucedem, organizada em termos quase puramente espectaculares que procuram seduzir o espectador precisamente por este lado ligeiro e festivo, o que fica então?
Claro que desde logo o gosto e o saber de La Féria, que arranca momentos muito bons, como a entrada, com o aparecimento da caravela, e a evocação de que o fado nasceu no mar alto, na voz de um marinheiro. Depois de uma recordação da Severa e dos trágicos amores com o Conde de Vimioso, dado a touros e cavalos (o que permite um efeito de grande espectáculo, com um cavalo a descer do tecto do Casino), temos um dos momentos altos, possivelmente o mais conseguido, o enterro da Severa. Depois passamos pelo fado de Coimbra, cantado numa lua de belo efeito, e acompanhado por dois pífios bailarinos que evoluem no espaço, passamos pelas hortas onde o fado vadio se cantava aos domingos, passamos por Calafate e Setúbal, por Maria Cesária, pelos cafés de camareiras e pelas casas de prostituição em finais do século XIX, onde se ouvia o fado, que também era aristocrata, na corte de D. Carlos.
Depois, assiste-se à implantação da República, outro bom momento, com quase todo o elenco no palco, e à entrada na I Guerra Mundial. E vem Salazar e as marchas Populares, o Estado Novo e o aproveitamento dos 3 fs. Surgem gigantes como Alfredo Marceneiro e Hermínia Silva, e o fado vadio pelas tabernas da noite, nas ruelas de Lisboa. Durante a II Guerra Mundial, a capital recebe refugiados e influências, cita-se o Tango, e homenageia-se Fernando Maurício. Mostra-se como fado e folclore cruzaram tendências, e ainda antes de 25 de Abril não se esquece Carlos Ramos. Depois, de Maria Teresa de Noronha, “a aristocrata do Norte”, às aristocracias do fado de Lisboa, chega-se a Fernando Farinha, José Carlos Ary dos Santos, Carlos do Carmo, para se culminar em Amália. Pena não se sublinhar a verdadeira actualidade do fado, povoado por dezenas e dezenas de vozes novas e raras, que redescobrem os tons e as tonalidades desta canção que nos embala a todos e nos faz sentir a estranha sensação de comprovarmos a existência de uma voz portuguesa, uma toada, um canto, uma emoção.
Acrobatas a descerem do céu ou touros a dançar em pontas, demónios e anjos (demasiados anjos, é verdade, um momento, o primeiro, chegava para o efeito e não o banalizava), marchas e folclore, entre tudo isto oscila “Fado - História de um Povo”, entre o muito bom e o não muito conseguido, tal como as vozes que enfermam da mesma ambiguidade, ou são de fado ou de musical, e nem sempre cooperam harmoniosamente.
Com música de fados célebres, em novos arranjos, e partituras originais de Filipe La Féria, Paulo Valentim e Artur Guimarães, o espectáculo abre com a ressonância vocal de Alexandra (que tão bem fora “Amália”, no musical), e é continuado, com oscilações diversas, por Henrique Feist, Liana, Gonçalo Salgueiro, Paula Sá, Inês Santos, Luís Matos, Elsa Casanova, Luís Caeiro, Flávio Gil ou Jorge Silva, num elenco de várias dezenas de intervenientes.
O Casino tem um espectáculo à altura das suas credenciais? Claro que tem. Dado o intercâmbio que existe entre vários casinos internacionais, acho mesmo que é chegada a altura de casino do Estoril começar a exportar os seus shows e este, aprimorado aqui e ali, é um bom estandarte da canção nacional. Mas eu, como amante de fado, gostaria de algo mais castiço e mais genuíno, mais fado-fado. Outras oportunidades virão, espero.

CINEMA: WERNER HERZOG 1

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MEU FILHO, OLHA O QUE FIZESTE!

Mark Yavorsky foi um excelente aluno, um bom basquetebolista na Universidade de San Diego, um promissor estudante de arte dramática na UCSD, um actor com futuro no Old Globe Theatre, e houve professores que asseguraram que escrevia brilhantemente e se expressava de forma poética muito acima da média. Chegou a ensaiar Ésquilo, o trágico grego, tendo-lhe sido atribuído o papel central de Orestes, em “A Trilogia de Orestes” ou “Oresteia” (458 A.C.), composta por “Agamemnon”, “Coéfora” e “Euménides”.
Esta tragédia baseia-se na mitologia grega e parte da lenda de uma maldição familiar: Agamemnon mata a filha Efigénia em sacrifício aos deuses, e a mulher, Clitemnestra, como represália e de colaboração com o amante, Egisto, assassina o marido, quando ele volta, triunfante, da guerra de Tróia. Na segunda parte da trilogia, Orestes, filho de Agamemnon e de Clitemnestra, vinga a morte do pai, assassinando por sua vez a mãe, sendo por isso “enlouquecido pelas Fúrias”. Na terceira parte, “Euménides”, Orestes é julgado pelo seu acto e absolvido pela acção de Atena, a deusa da sabedoria e da razão, que procura assim pôr fim a esta interminável espiral de vingança.
Mark Yavorsky, porém, duas semanas antes da estreia da peça, no Old Globe Theatre, abandona o papel e precipita-se num processo psicótico extremo. No dia 10 de Junho de 1979, Mark Yavorsky, então com 34 anos, atravessa com a mãe (Mary Wathan, 65 anos) a rua onde se encontra a casa onde ambos habitavam, em Point Loma, Pacific Beach, San Diego, e vai tomar um café com duas vizinhas que moram em frente. Não aceita a chávena que lhe põem na frente, e volta a casa para buscar a sua chávena de estimação.
Regressa, toma o café, vai ao carro estacionado em frente, buscar uma espada antiga e desfere três golpes mortais na mãe. Preso, julgado, condenado, é considerado inimputável, e passa vários anos no Patton State Hospital em San Bernardino County. Libertado sob vigilância anos mais tarde, tem um percurso caótico de internado e fugitivo, até que morre em 2003.
Trinta anos depois da tragédia, o argumentista Herbert Golder descobre esta perturbante história de loucura, que mescla realidade e ficção, tragédia e lenda, escreve-a para cinema e passa-a ao seu amigo Werner Herzog, que encontra nela todos os ingredientes, temas e obsessões da sua carreira. Michael Shannon, que se tornara notado como um actor brilhante em “Revolutionary Road”, é convidado para interpretar o papel de Mark Yavorsky, agora sob o nome de Brad McCullum, acompanhado por um elenco de actores de culto (Willem Dafoe, Chloë Sevigny, Brad Dourif, Loretta Devine, Michael Peña ou Udo Kier). David Lynch produz (os bons espíritos encontram-se!) e o filme chama-se, muito apropriadamente, tendo em conta a sua influência da tragédia grega, “My Son, My Son, What Have Ye Done”.
O filme de Herzog é, como sempre neste realizador, uma obra estranha, consumida por uma obsessão patológica, por um anti-herói que cruza religiosidade e paranóia, que entrelaça ficção e realidade, e onde, como o cartaz anuncia, “não interessa tanto saber quem, mas como”, ou seja, não importa muito conhecer a personagem, descobrir o criminoso, mas sobretudo perceber o porquê dos actos. Isto é: um estudo das condicionantes que levam personalidades especiais a praticarem certos actos. Neste particular, o filme constrói-se a diversos níveis, o que aponta para variadas razões que, interligadas, explicam (ou ajudam a explicar) o “porque fizeste isto!”
A investigação policial não deixa desde logo qualquer dúvida sobre o que mobiliza o realizador. Desde o princípio se sabe quem é o criminoso e qual o crime. A vítima jaz, facilmente identificada, no chão de uma casa, a arma está a seu lado, houve testemunhas que contam o ocorrido, e o criminoso está entrincheirado na casa ao lado. Não há dúvidas sobre os factos. Há perplexidades sobre o porquê.
Brad McCullum vive só com a mãe, o pai morreu quando ele era muito criança, praticamente nunca o conheceu. A mãe é possessiva e dominadora, mas o filho coopera, aceita. Uma matriarca insuportável. Que o filho segue religiosamente. Ela controla cada um dos seus passos. Sabemo-lo pelo relato de duas pessoas que são chamadas ao local do crime pelo próprio Brad McCullum: a namorada e o encenador de teatro que o dirigiu no papel de Orestes. Duas personagens essenciais, obviamente, pelo seu relacionamento íntimo com o acusado pelo matricídio. A namorada Ingrid porque, de alguma forma, representa para a mãe o perigo de Brad McCullum se emancipar e se furtar ao seu domínio. Lee Meyers por uma razão algo diversa, dado que acabou por assumir esse papel transgressor de violento libertador: foi ele quem afinal acabou por “ensiná-lo”, armar-lhe o braço, encenando-lhe a morte da mãe em palco. Ambos vão intercalando “flashbacks” que des-obscurecem, desocultam momentos de uma relação funesta.
Mas há, como referimos, várias camadas de ficção que se sobrepõem: a realidade do dia a dia opressivo da existência de Brad e da mãe, o texto da tragédia de Ésquilo, a investigação levada a cabo pelo detective Hank Havenhurst, os depoimentos de Ingrid e Lee Meyers, os testemunhos das vizinhas que presenciaram o crime, e outros aspectos ainda, não factuais, mas obviamente importantes, como o cenário onde decorre a acção, desde a pacata rua de uma pacífica cidade costeira, até à delirante decoração da casa de Brad, assombrada por imagens de flamingos e um “kitsch” surrealizante. Há ainda a impetuosa representação de Michael Shannon, que intercala momentos de aparente lucidez com outros de total insanidade, o “flashback” que recorda a viagem de Brad McCullum ao Peru, onde, depois de “ter ouvido vozes”, se recusa a integrar uma expedição suicida que irá tentar dominar o rio Urubamba, no Peru (local onde Herzog já havia rodado, em 1972, "Fitzcarraldo”). Depois há as fascinantes e intrigantes imagens que se assemelham as fotografias, estáticas, com os intervenientes olhando directamente a câmara, e também as referências obsidiantes ao universo muito pessoal de Herzog, os animais, os vidros, os anões, as personagens obsessivas, os heróis que transpõem obstáculos que parecem exceder todas as suas possibilidades, o gosto por ambientes exóticos, expressionistas, o deslumbramento pela América Latina, a súbita deriva por uma feira rural na Mongólia (ou noutro local muito semelhante), tudo isto induzindo uma atmosfera de estranheza e trágico onirismo.
Não são tanto os factos que interessam, mas o clima. Aqui a arte de Herzog é completa. O seu domínio perfeito. A angústia desenrola-se, a cada plano. A fronteira entre a “normalidade” e a insanidade estreita-se. O que pode a fragilidade da condição humana contra o destino traçado pelas “fúrias”? Em plena presença da tragédia humana, grega ou americana, Herzog movimenta-se sem artifícios, logrando um fortíssimo documento de insuspeitada ressonância social.

MEU FILHO, OLHA O QUE FIZESTE!
Título original: My Son, My Son, What Have Ye Done
Realização: Werner Herzog (EUA, Alemanha, 2009); Argumento: Herbert Golder, Werner Herzog; Produção: David Lynch, Jimmy Balodimas, Eric Bassett, Bingo Gubelmann, Benji Kohn, Giulia Marletta, Ken Meyer, Julius Morck, Stian Morck, Chris Papavasiliou, Jeff Rice, Ali Rounaghi, Jack Sojka, Rick Spalla, Austin Stark, Omar Veytia; Música: Ernst Reijseger; Fotografia (cor): Peter Zeitlinger; Montagem: Joe Bini, Omar Daher; Casting: Jenny Jue, Johanna Ray; Direcção artística: Danny Caldwell; Guarda-roupa: Mikel Padilla; Maquilhagem: James Lacey; Design de produção: Jack Sojka, Christopher Francis Woods; Assistentes de realização: Ian Calip, John T. Churchill, Anneke Scott, Frank Tignini; Departamento de arte: Tyson Estes, Tim Ott; Som: Ronald Eng; Efeitos visuais: Jason Michael Zimmerman; Companhias de produção: Defilm, Industrial Entertainment, Paper Street Films; Intérpretes: Michael Shannon (Brad McCullum), Willem Dafoe (Detective Hank Havenhurst), Chloë Sevigny (Ingrid), Brad Dourif (Tio Ted), Loretta Devine (Miss Roberts), Michael Peña (Detective Vargas), Udo Kier (Lee Meyers), Grace Zabriskie (Mrs. McCullum), Irma P. Hall (Mrs. Roberts), James C. Burns (comandante Brown dos Swat), Gabriel Pimentel, Candice Coke, Jenn Liu, Braden Lynch, Noel Arthur, Brian Sounalath, Julius Morck, James Lacey, Stefan Cap, Stephen Tompkins, Frank C. Wells, Reed Willard, etc. Duração: 91 minutos; Distribuição em Portugal: Prisvídeo - Edições Videográficas / Vitória Filmes; Classificação etária: M/ 16 anos; Estreia em Portugal: 8 de Julho de 2010.

terça-feira, agosto 10, 2010

O FUTEBOL DE REGRESSO

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VEM AÍ A LIGA!!!
Sexta-feira começa a doer. O Braga recebe o Portimonense. Depois o Paços de Ferreira apadrinha a estreia do “novo” Sporting e a Naval a do Porto. O Benfica, aparentemente mais calmo, recebe a Académica, e ainda há Marítimo - V.Setúbal, Rio Ave – Nacional, Olhanense - V.Guimarães e, finalmente, o regressado Beira-Mar (o clube da terra do meu pai, que para ele desenhou uma das suas primeiras camisolas) tenta fazê-lo em beleza frente ao Leiria.
Acompanhei mais ou menos a pré época dos ditos “grandes” e julgo o Benfica mais fraco, o Porto mais forte, o Sporting mais equilibrado, o Braga na surpreendente continuidade da época anterior.
Por miúdos: gostei do Benfica-Porto, foi quase sempre um bom jogo de futebol, em que o Porto jogou à bola e ganhou muitíssimo bem (poderia e deveria ter acrescentado mais um ou dois golos ao score) e o Benfica também praticou karaté, perante a complacência de um árbitro que criou uma nova forma de dirigir um encontro, à lambada. Inacreditável a forma como alguns jogadores do Benfica distribuíram sarrafada, impunemente. Parece que os campeões não sabem perder, mas vão ter de se habituar, sobretudo com aquela pérola de guarda-redes que foram desencantar a Espanha.
Os jogos de preparação são o que são e contam pouco. Os a sério já dão indicações mais precisas e, neste aspecto, o Braga frente ao Celtic demonstrou querer e personalidade, além de bom futebol, o Marítimo destroçou uns galeses sem classe, e o Sporting passou, sem brilhantismo, diante de uns dinamarqueses de quinta categoria. Gostei de alguns momentos dos jogos de preparação, mas como disse esses jogos contam muito pouco, pelas suas próprias características. A verdade é que, quando chamado a dois jogos a doer, se viu muita inquietação, muito jogo tremido, muitos passes transviados, muita bola para o lado e para trás, muito pouca pontaria. Há reforços que são verdadeiros reforços, há o adeus a outros, há os “suspeitos do costume”, como, por exemplo, o Pongole, que se arrisca a ser o Roberto do Sporting. Espero ardentemente que o “novo” Sporting apareça em Paços de Ferreira, se mantenha em Alvalade frente ao Marítimo, e ultrapasse os dinamarqueses do Brondy. Se ganhar estes desafios, com maior ou menor dificuldade, aí sim, acredito que algo mudou e se lançou na Liga e na Europa. Se não, vai ser a modorra a que tristemente nos habituámos na temporada passada. Espero que não.

POSTERS: TOY STORY 3

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Uma boa colecção de posters para um excelente filme de animação. O terceiro da série.
Em 3D como se vê.

CINEMA: TOY STORY 3

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TOY STORY 3
Depois de “Toy Story”, 1 e 2, o terceiro episódio da série parece que a dá por terminada. De modo feliz, pois não desmerece em nada dos anteriores, se não for mesmo superior a ambos. Os brinquedos fazem parte do imaginário colectivo de públicos de todas as idades, desde os que os têm agora, aos que já os tiveram na infância e certamente deles se recordam com nostálgico agradecimento pelos belos momentos de diversão que proporcionaram. Depois, há brinquedos para todos os gostos e alguns desgostos. Aqui se relembra "Quebra-Nozes", que adultos e crianças gostam de ver e rever. “Toy Story 3” é o "Quebra-Nozes" da actualidade, em 3D e tudo. Mudam as tecnologias, mas não muda a condição humana, nem as emoções.
Andy era um miudinho que tinha brinquedos que se animavam. Andy cresceu, vai para a faculdade, alguns brinquedos continuam miraculosamente imaculados, uns vão para um saco preto que se pensa arrumar no sótão, e o fiel Woody, o "cow-boy", será levado pelo dono. Mas Andy põe e os argumentistas da Pixar dispõem: o cow boy vai para junto dos restantes brinquedos e o saco é trocado e ruma a um infantário, onde, ao lado de criancinhas saídas de um filme de terror e possuídas pelo demónio da Tasmânia, se encontram muitos outros brinquedos traumatizados por vidas desgraçadas que resolvem, em uníssono, não dar tréguas aos recém chegados. Claro que o filme adquire uma tonalidade de terror psicológico, que fará certamente as delícias do seu público-alvo. Quem, em criança, não chorou como uma Madalena com “Bambi”, quem não sofreu baba e ranho com “Branca de Neve” e a feiticeira, quem não sucumbiu à tristeza de “ET”? E cá estamos todos, mais ou menos traumatizados, mas sobretudo com as monstruosidades do dia a dia no telejornal, e não tanto pela fantasia da ficção cinematográfica ou literária (lembram-se de Hans Christian Andersen ou dos Irmãos Grimm?).
Pois bem, os brinquedos de Andy sofrem a bom sofrer, e nós com eles, até à grande evasão final, a que só falta Steve McQueen ou Pele. Altura para alguns se assoarem e outros assobiarem em francês na plateia, enquanto limpam os óculos de 3D. O final será happy, claro, mas a felicidade vem sobretudo do facto de ser ter assistido a um excelente filme de animação, de técnica impecável, com boas ideias de argumento e de realização, e sem cair na pecha muito vulgar de tratar as crianças como atrasadinhos mentais. A dobragem é magnífica, a portuguesa também, e o resultado final não será o melhor filme de 2010, mas sim uma das melhores animações dos últimos anos.
De resto há momentos de antologia, como a passagem de modelos de Ken, frente a Barbie, ou o destempero do espacial Buzz Lightyear que, descontrolado, entra numa de mexicano imparável. Também gosto da boneca zarolha, que só por si merecia um título à parte, mas para “adultos de sólida formação moral”. Ela e o urso maléfico fariam um casal de “freaks” de “cult movie”. Mas também há delicadas criaturas, como essa ternurenta Jessie, que nos faz desfazer de um afecto bem divertido.

TOY STORY 3
Título original: Toy Story 3
Realização: Lee Unkrich (EUA, 2010); Argumento: John Lasseter, Andrew Stanton, Lee Unkrich, Michael Arndt; Produção: Darla K. Anderson, John Lasseter; Música: Randy Newman; Montagem: Ken Schretzmann; Departamento de arte: Marty Baumann, Mark Cordell Holmes, Bud Luckey, Juliet Pokorny, Belinda van Valkenburg, etc. Som: Tom Myers; Animação: Andrew Cadelago, Tom Gately, David Park, James Reinhart Robertson, Christian Roman, Max Sachar, Michael Stocker, etc. Casting: Holly Dorff, Mickie McGowan; Companhias de produção: Pixar Animation Studios, Walt Disney Pictures; Intérpretes (vozes originais): Tom Hanks (Woody), Tim Allen (Buzz Lightyear), Joan Cusack (Jessie), Ned Beatty (Lotso), Don Rickles (Mr. Potato Head), Michael Keaton (Ken), Wallace Shawn (Rex), John Ratzenberger, Estelle Harris, John Morris, Jodi Benson, Emily Hahn, Laurie Metcalf, Blake Clark, Teddy Newton, Bud Luckey, Beatrice Miller, Javier Fernandez Pena, Timothy Dalton, Lori Alan, Charlie Bright, Kristen Schaal, Whoopi Goldberg, etc. Duração: 103 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 6 anos; Estreia em Portugal: 29 de Julho de 2010.

segunda-feira, agosto 09, 2010

CINEMA VISTO EM DVD

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GREEN ZONE, COMBATE PELA VERDADE
“Green Zone” prolonga a trajectória de Paul Greengrass e fá-lo de forma muito inteligente, sem perder o brilho de um filme de acção bem conduzido. Inglês que apareceu na longa-metragem em inícios da década de 90, Greengrass começou a dar que falar, sobretudo, a partir de 2002, com “Domingo Sangrento” (Bloody Sunday), a que se seguiram três obras que o impuseram internacionalmente. “Voo 93” (2006), sobre o célebre voo do United 93, um dos aviões sequestrados no fatídico 11 de Setembro de 2001, que se despenhou junto de Shanksville, na Pensilvânia, depois de abortadas as intenções dos terroristas pelo corajoso empenhamento dos passageiros, e “Supremacia” (The Bourne Supremacy, 2004) e “Ultimato” (The Bourne Ultimatum, 2007), ambos incluídos na trilogia de Jason Bourne, partindo de romances de espionagem de Robert Ludlum. Encontra-se nesta altura em fase de pré-produção o seu próximo trabalho, “They Marched Into Sunlight”, cuja estreia está prevista para 2013. O argumento parte de um premiado romance de David Maraniss, que descreve a batalha de Ong Thanh, ocorrida em 17 de Outubro de 1967, durante a Guerra do Vietname, na qual os soldados do 2º Batalhão da 28ª Infantaria dos EUA foram emboscados e dizimados pelo exército vietcongue.
Como se pode ver, Paul Greengrass tem uma carreira particularmente coerente, desenvolvendo um tipo de projectos que conciliam o cinema político, de discussão de ideias e de factos directamente relacionados com a realidade política, e um cinema espectáculo, de acção envolvente e de garantido “suspense”. Os resultados até agora têm sido bastante positivos, agradando ao grande público e não criando bolsas de resistência entre as plateias mais exigentes, que se sentem estimuladas por este cinema simultaneamente popular e de inteligente debate.
“Green Zone” é isso mesmo. Continuação de “Voo 93”, agora em território do Iraque invadido por Bush depois de 11 de Setembro, e das intrigas de espionagem internacional de Jason Bourne (até o protagonista é o mesmo, Matt Damon).
Iniciada a invasão do Iraque para deposição do regime de Saddam Hussein, sob o pretexto de que este detinha no seu território “armas de destruição maciça”, as forças armadas norte-americanas percorrem o Iraque em busca das tão apregoadas armas, nada encontrando. Há mesmo uma unidade especial, destacada com esse fim, de que faz parte o sargento Roy Miller (Matt Damon), que, depois de, por diversas vezes, pôr em risco os efectivos da sua unidade, sem qualquer utilidade prática, resolve investigar por conta própria o que realmente se passou e que terá levado a esta situação absolutamente traumatizante para a consciência colectiva de um povo e criminosa para a população do Iraque e para as próprias tropas dos EUA.
De indício em indício, Roy Miller descobre que o Pentágono sempre esteve particularmente interessado em invadir o Iraque e depor o ditador, e tinha encontrado um pretexto no 11 de Setembro. Um político mais arrivista e um “yes man” de Bush, Clark Poundstone (Greg Kinnear), fará parte do jogo sujo inicial, encontrando-se com o general Al Rawi, um oficial iraquiano do governo de Hussein (precisamente “a terceira carta” do baralho que então circulava), a quem terá perguntado sobre a existência de armas de destruição em massa. Este terá negado essa realidade, mas o que se propagou pela imprensa norte-americana e internacional foi precisamente o contrário. Isto é, a versão enganosa e manipulada, que lançava a ameaça de armas nucleares e bacteriológicas. Uma jornalista, Lawrie Dayne (Amy Ryan), que teve acesso às engendradas e infundadas informações fornecidas por Poundstone, resolve publicá-las sem anteriormente se ter certificado da sua veracidade e intoxica assim a opinião pública. Esta jornalista, que, apesar de tudo, começa a ter problemas de consciência e se preocupa em repor a verdade, não andará muito longe do retrato de uma outra jornalista, esta não de ficção, mas bem real, e premiada com o Pulitzer pelo seu trabalho sujo, Judith Miller, do “New York Times”. Jornalista que enfrentou vários casos “estranhos” e foi acusada de ser veículo privilegiado da direita dita falcão e do grupo de George W. Bush, Condoleezza Rice, Dick Cheney, Colin Powell e Donald Rumsfeld.
Mas o filme vai mais longe e mostra também como os EUA tentam colocar no poder no Iraque um homem da sua confiança, mas de total desconfiança dos iraquianos, desenvolvendo discretas aproximações a este tema, bem assim como à presença do petróleo no Iraque, na verdade a grande causa da guerra. Esta referência quase não é dita, mas fica explícita quando, no final do filme, Roy Miller, regressando a casa, passa por refinarias que vai deixando para trás, e que afinal terão sido a grande razão para mais esta aventura norte-americana. Muito curiosa é ainda a introdução de um iraquiano que coopera com americanos, não como traidor ao seu povo, mas como alguém que luta por um ideal de libertação do seu país. Curiosamente, quase no final do filme, ele dirá: “Não são os americanos que vêm ao nosso país dizer o que nós, iraquianos, devemos fazer.”
Partindo de uma obra de Rajiv Chandrasekaran (“Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq’s Green Zone”), o argumento de Brian Helgeland (que escreveu igualmente o recente “Robin Hood”, 2010, mas já nos dera inúmeros trabalhos muito interessantes, entre os quais justo será destacar “Homem em Fúria”, 2004, “Mystic River”, 2003, “Teoria da Conspiração”, 1997, ou “Los Angeles Confidencial”, 1997), é bastante bem desenvolvido, nunca deixando de ter em conta que é um filme de acção e “suspense”, que tem de prender os espectadores ao seu desenrolar, mas jamais permitindo igualmente que o lado espectacular ponha em causa a sua credibilidade política e as ideias que defende e procura expor, debater e tornar perceptíveis. Matt Damon é muito bom, na sua sobriedade e vigor contido, e Brendan Gleeson, no papel de um tradicional e desconfiado agente da CIA, que trabalha segundo uma linha de eficácia que o leva a aceitar colaborar com um antigo coronel de Saddam Hussein, mas não aceita os métodos dos tecnocratas que não olham a meios para conseguirem os fins, é igualmente excelente. O próprio Greg Kinnear, no odioso Clark Poundstone, nos surpreende pela pouca visibilidade que tem tido nos últimos anos, ele que é um actor de tão bons recursos. Excelente é também Khalid Abdalla, um estropiado Freddy, que simboliza todo um povo.
Barry Ackroyd, que já havia assinado a fotografia de “Estrado de Guerra”, de Kathryn Bigelow, volta a arrancar uma imagem densa e suja, excelente retrato de uma guerra de mentiras e ciladas, que a obscuridade e as sombras fomentam. A utilização da câmara à mão, de que Greengrass tanto gosta, permite um estilo livre e espontâneo que se acerca da acção que entontece sem, todavia, funcionar como um factor narcotizante para o público. Outro aspecto a referir é a plausibilidade dos cenários naturais que tudo leva a crer serem filmados nos locais assinalados e, no entanto, o foram em Marrocos, em Espanha ou Inglaterra.

GREEN ZONE, COMBATE PELA VERDADE
Título original: Green Zone
Realização: Paul Greengrass (EUA, França, Inglaterra, Espanha, 2010); Argumento: Brian Helgeland, segundo obra de Rajiv Chandrasekaran ("Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq's Green Zone"); Produção: Mairi Bett, Tim Bevan, Michael Bronner, Jo Burn, Liza Chasin, Eric Fellner, Paul Greengrass, Debra Hayward, Lloyd Levin, Alvaro Ron, Christopher Rouse, Kate Solomon, Tadeo Villalba hijo; Música: John Powell; Fotografia (cor): Barry Ackroyd; Montagem: Christopher Rouse; Casting: Daniel Hubbard, John Hubbard, Amanda Mackey Johnson, Cathy Sandrich; Design de produção: Dominic Watkins; Decoração: Lee Sandales; Guarda-roupa: Sammy Sheldon; Maquilhagem: Francesco Alberico, Helen Barrett, Zineb Bendoula, Tricia Cameron, Julie Dartnell, Kay Georgiou, Loulia Sheppard, Direcção de Produção: Yousaf Bokhari, David Campbell-Bell, Sasha Harris, Mark Mostyn, Nerea Orce, Michael Solinger, Michelle Wright; Assistentes de realização: Chris Forster, Carlos Gil, Robert Grayson, Amine Louadni, Mounir Saguia, etc. Departamento de arte: Mark Bartholomew, Laura Dishington, Sarah Robinson, Mark Swain; Som: James Boyle, Xavier Horan, Eddy Joseph, Oliver Tarney, Mark Taylor, etc. Efeitos especiais: Michael Dawson, Paul Anthony Dimmer, Jess Lewington, Joss Williams; Efeitos visuais: Mikael Brosset, Peter Chiang, Antonella Ferrari, Federico Frassinelli, Peter Olliff, Rob Shears; Companhias de produção: Universal Pictures, Studio Canal, Relativity Media, Working Title Films, Antena 3 Films; Intérpretes: Matt Damon (Miller), Greg Kinnear (Clark Poundstone), Brendan Gleeson (Martin Brown), Amy Ryan (Lawrie Dayne), Khalid Abdalla (Freddy), Yigal Naor (General Al Rawi), Said Faraj, Faycal Attougui, Aymen Hamdouchi, Nicoye Banks, Jerry Della Salla, Sean Huze, Michael J. Dwyer, Edouard H.R. Gluck, Brian Siefkes, Adam Wendling, Abdul Henderson, Paul Karsko, Robert Miller, Eugene Cherry, Alexander Drum, Brian VanRiper, Matthew Knott, Nathan Lewis, John Roberson, Troy Brown, Raad Rawi, Bijan Daneshmand, Bryan Reents, Michael Judge, Michael O'Neill, Patrick St. Esprit, Allen Vaught, Paul Rieckhoff, Martin McDougall, Antoni Corone, Timothy Ahern, Ben Sliney, Whitley Bruner, Intishal Al Timimi, Driss Roukhe, Mohamed Kafi, George W. Bush (imagem de arquivo), etc. Duração: 115 min minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 8 de Abril de 2010; Locais de filmagem: Academia San Javier, Fuente Álamo, Los Alcázares, Murcia, (exteriores de Iraque), Albacete, Castilla-La Mancha; Ciudad de la Luz, Alicante, Comunidad Valenciana, todos em Espanha; Freemason's Hall, Great Queen Street, Covent Garden, Londres, Longcross Studios, Chobham Lane, Longcross, Surrey, Sandown Park Racecourse, Esher, Surrey, Longcross, Surrey, Updown Court, Windlesham, Surrey, Millenium Mills, London Docklands, Renaissance London Heathrow Hotel, Hounslow, todos em Inglaterra; Kenitra, Rabat, Sale, todos Marrocos.

quinta-feira, agosto 05, 2010

CINEMA: O ESCRITOR FANTASMA

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O ESCRITOR FANTASMA
Aparentemente trata-se de um “thriller”, um filme de “suspense”, com crimes misteriosos e alguma espionagem. Não um “suspense” qualquer, mas daqueles que tem uma herança pesada: por aqui passa a sombra de Hitchcock e a sua pesada e lúgubre densidade. Mórbida por vezes. Um “suspense” que atravessa o lado mais negro da condição humana e que se expressa por formas de uma angustiosa solidão e de tremenda perplexidade: afinal quem é quem neste jogo de máscaras?
Como se vê rapidamente, não estamos na presença de “mais um filme de acção e violência”, mas frente a uma obra de um dos maiores cineastas contemporâneos, um artista que reflecte sobre cada imagem e em cada imagem espelha o seu mundo e o mundo que o rodeia. Um autor, portanto. Um realizador que não permite imagens insignificantes, mas que as trabalha estilisticamente de forma a criar com elas um clima, um significado, uma orientação. Que interroga, que inquieta, que se insinua.
O título indica desde logo um caminho: o escritor fantasma. O que é um escritor fantasma? Alguém muito presente na actualidade dos mídias mas que, curiosamente, nunca se vê, não aparece. O seu talento maior é ser alguém que, existindo, e cumprindo funções chave, mantenha deliberadamente a invisibilidade, a troco de um bom pecúlio. Alguém que escreva as memórias de um primeiro-ministro, de um artista de cinema ou um cantor de sucesso, de um futebolista sensação ou da ex-amante de um dirigente desportivo. Alguém que é pago, bem pago, para não ser visto, nem citado, com óbvios e obscuros propósitos. O pagamento pode não ser em numerário, mas em dividendos políticos, económicos, ou outros com estes relacionados.
“O Escritor Fantasma” parte de um “best seller” de Robert Harris que o adaptou a cinema com a conivência do próprio cineasta, Roman Polanski. É expressa a referência a certos aspectos da vida política do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que foi um dos arautos da invasão do Iraque, e que, posteriormente, foi acusado de ser cúmplice de atentados graves à dignidade humana, permitindo extradições e torturas ilegais à luz do direito internacional.
Mas onde “The Ghost Writer” começa a ter verdadeiro interesse é na forma como Polanski manipula material estritamente cinematográfico para, através dele, nos oferecer uma inquietante e perturbadora visão do mundo actual. Nesse particular, “O Escritor Fantasma” inicia-se de forma brilhante, introduzindo de imediato no espectador um invulgar clima de insegurança e desconfiança: num “ferry boat” que liga ao continente americano a ilha onde se refugia o ex-primero-ministro inglês, acabada a viagem, depois de saírem todos os carros e passageiros, um automóvel permanece, imóvel, sem tripulante. Não nos é dada nenhuma explicação, mas o facto de o carro ser puxado para fora do barco e colocado no cais, sob investigação policial, deixa prever as piores suspeitas. Sabe-se depois que este é o carro de alguém que trabalhava numa pseudo autobiografia de Adam Lang, antigo primeiro-ministro britânico (Pierce Brosnan), e que desapareceu, sendo posteriormente encontrado cadáver, numa praia próxima. Acidente? Suicídio? Estas são apenas as duas hipóteses colocadas, quando a editora encarregue de publicar o livro procura novo “ghost writer” para terminar a obra deixada inacabada. É aí que aparece um novo “escritor fantasma”, de que criteriosamente nunca se sabe o nome (o actor é Ewan McGregor), que toma em mãos o projecto. Tem um mês para terminar a tarefa, e um bom cheque para receber no final. Iniciada a empreitada, em sessões que se sucedem, no apalaçado bunker construído sobre a praia, com periódicas interrupções provocadas por viagens entre os EUA e Inglaterra, o novo “escritor fantasma” vai-se deparando com algumas dúvidas, mistérios, coincidências, segredos, imprecisões e sobretudo dificuldades de comunicação com o seu biografado, quando este começa a ser publicamente acusado de ser um “criminoso de guerra” e ameaçado de julgamento internacional pelo seu comportamento durante a guerra do Iraque. O próprio ministro dos negócios estrangeiros, ex-colaborador de Adam, se insurge contra o seu anterior primeiro-ministro. Manifestações de rua, algumas das quais à porta da sua própria residência na ilha, tornam a existência de todos muito mais conflituosa e o trabalho do escritor penoso, sobretudo por que tudo o que lê no anterior esboço da biografia se lhe afigura cada vez mais duvidoso.
Da janela do quarto onde trabalha, através de uma rasgada vidraça que funciona no filme como um ecrã dentro do próprio ecrã, o “escritor fantasma” assiste a passeios da mulher de Adam, às vigílias dos guarda-costas, à espinhosa tarefa do jardineiro, ao tentar varrer e recolher do chão as folhas das árvores que explodem em várias direcções, impelidas por um forte temporal. É difícil executar certas tarefas, percebe-se. Assim como é difícil reunir folhas de uma biografia encomendada com fins políticos evidentes. E estas folhas também se arriscam a voar sem destino certo. Levadas aqui pelo vento da História, escrita quase sempre pelos vencedores.
Um biografado, um “escritor fantasma” desaparecido, descobre-se depois que assassinado por ser “um homem que sabia demais”, um novo “escritor fantasma”, ou seja, as máscaras vão-se sobrepondo, como o intuito de se re-descrever a História. Re-descrever a História, ou não atingir a verdade. O que o leitor, o espectador, o cidadão conhece é o que lhe chega de uma realidade manipulada. Nada é o que parece, nada parece o que é. Quem escreve, não assina, quem assina não escreve. O que se lê não é a verdade. No interior do esboço desenvolvido pelo primeiro “escritor fantasma” encontra-se um código secreto que remete para um segredo bem guardado. O manuscrito que entregam na editora ao novo “escritor fantasma”, e que logo a seguir lhe roubam na rua, não é o que parece ser, mas um isco. Um eminente professor universitário será apenas isso? Quem é, na verdade, Adam Lang? Quem é a mulher deste, que silêncios se encerram nesta dupla vida de casal de uma aparente harmonia? Quais as intenções do ministro dos negócios estrangeiros, ao vir à televisão desolidarizar-se com o passado de Adam, e quais os seus intentos ao elogiá-lo, no final do filme?
Alguma vez o cidadão eleitor sabe em quem vota quando deposita o seu desejo na urna eleitoral? Que sociedade é esta onde impera a aparência e a máscara? Ao crime responde-se com o crime? Qual será então a legitimidade de uma democracia que devia cumprir escrupulosamente as regras definidas na Constituição e as subverte? Poderíamos fazer muitas mais perguntas, mas aí iremos estragar o prazer do espectador, entrando por pormenores da intriga que se impõe preservar. Mas pode referir-se que o ambiente é sinistramente glacial e que a arte de Polanski é total ao trabalhar os planos para nos transmitir essa inquietação progressiva, esse “suspense” em crescendo, que nos recorda muitas vezes o melhor de Hitchcock.
Com um classicismo de narrativa esmerado, enquadramentos soberbos, que remetem para a mais profunda solidão e angústia (um hotel perdido num cais, uma praia deserta, um macilento quarto de hotel, bares inóspitos…), uma progressão dramática invulgarmente bem conseguida e sustentada no limite da ansiedade mais opressiva, “The Ghost Writer” é não só um brilhante exercício de estilo, como uma meditação extremada sobre a sociedade moderna e os seus vícios. A fotografia de Pawel Edelman associa-se para a criação dessa atmosfera melancólica e fantasmática, mantendo a ameaça de conspiração que paira desde o primeiro instante até à última sequência. As interpretações de Ewan McGregor (o “escritor fantasma”), Pierce Brosnan (Adam Lang), Olivia Williams (Ruth Lang), Kim Cattrall (Amelia Bly), Tom Wilkinson (Paul Emmett), Eli Wallach (um velho na praia), entre outros, são notáveis de rigor e contenção, de frieza e interioridade.
O ESCRITOR FANTASMA
Título original: The Ghost Writer
Realização: Roman Polanski (Inglaterra, França, Alemanha, 2010); Argumento: Roman Polanski, Robert Harris, segundo romance deste último ("The Ghost"); Produção: Robert Benmussa, Timothy Burrill, Christoph Fisser, Oliver Lüer, Henning Molfenter, Roman Polanski, Alain Sarde, Charlie Woebcken; Música: Alexandre Desplat; Fotografia (cor):Pawel Edelman; Montagem: Hervé de Luze; Casting: Fiona Weir; Design de produção: Albrecht Konrad; Direcção artística: Cornelia Ott, David Scheunemann, Steve Summersgill; Decoração: Katharina Birkenfeld, Bernhard Henrich; Guarda-roupa: Dinah Collin; Maquilhagem: Didier Lavergne, Kyra Panchenko; Direcção de Produção: Daniel Champagnon, Guy Courtecuisse, Gabriele Lins, Joan Meister, Jane Robertson; Assistentes de realização: Joe Barlow, Ola Czarniecka, Sophie Le Guénédal, Felix Enno Ludewig, Allan Rafael, Ralph Remstedt, Caroline Veyssière; Departamento de arte: Henning Brehm, Michael Fissneider; Som: Thomas Desjonquères, Guillaume D'Ham, Michel Monier, Sandy Notarianni; Efeitos especiais: Roland Tropp, Lutz Zeidler; Efeitos visuais: Denis Behnke, Olivier Debert, Jens Dunkel, Carine Gillet, Thierry Grizard, Frederic Moreau; Companhias de produção: R.P. Productions, France 2 Cinéma, Elfte Babelsberg Film, Runteam; Intérpretes: Ewan McGregor (escritor fantasma), Jon Bernthal (Rick Ricardelli), Kim Cattrall (Amelia Bly), Pierce Brosnan (Adam Lang), Olivia Williams (Ruth Lang), Timothy Hutton (Sidney Kroll), Tim Preece (Roy), James Belushi (John Maddox), Tom Wilkinson (Paul Emmett), Anna Botting, Yvonne Tomlinson, Eli Wallach, Milton Welch, Tim Faraday, Alister Mazzotti, Marianne Graffam, Kate Copeland, Soogi Kang, Lee Hong Thay, John Keogh, Jaymes Butler, Hans-Peter Sussner, Stuart Austen, Morgane Polanski, Andy Güting, Robert Wallhöfer, Glenn Conroy, Robert Seeliger, David Rintoul, Clayton Nemrow, Julia Kratz, Nyasha Hatendi, Daphne Alexander, Angelique Fernandez, Anne Wittman, Robert Pugh, Michael S. Ruscheinsky, Mo Asumang, Sylke Ferber, Desirée Erasmus, Errol Shaker, Errol Trotman-Harewood, Talin Lopez, Joel Kirby, Regine Hentschel, Jeff Burrell, Daniel Sutton, Eben Young, etc. Duração: 128 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 15 de Julho de 2010.