AS
VOTAÇÕES DE ONTEM:
LEITURA DE RESULTADOS
O PSD perdeu. Derrota estrondosa, em muitas frentes. Ganhou
ou aguentou-se nalguns concelhos mercê de personalidades e perdeu noutros, de
forma catastrófica, por demérito vergonhoso da sua actual direcção nacional que
escolheu mal os candidatos (Gaia, Sintra, Porto, etc.). Claro que Passos
Coelhos não retira lição nenhuma dos factos. Ele não sabe retirar lições de
nada. Já se sabia. Mas o PSD teve uma clara vitória. Chama-se Rui Rio. Fica
como capital de esperança, num partido que oferece poucas.
O PS ganhou, mas não ganhou o que devia, tendo no governo do
País quem lá está. Ganhou em Lisboa de forma categórica, mas o mérito é todo de
António Costa, e António José Seguro passa por entre os
pingos da chuva sem se molhar, é certo. O País mais moderado votou no PS contra
o governo. O PS mais radical votou PCP contra o governo. O País real não votou
BE, porque o achou dispensável. Deviam-se retirar ilações de tudo isto.
O PCP ganhou. Reforçou-se autarquicamente a sul do Tejo.
Reforçou o seu voto de protesto, que vai sair para as ruas com mais fragor.
No meio da confusão geral, o CDS ganhou algumas câmaras e
Paulo Portas pode respirar de alívio. Afinal a “sua” crise não terá corrido mal
de todo para o partido.
Rui Moreira é outro dos grandes vencedores desta noite
eleitoral. Mostrou que os independentes que não são contra os partidos, mas que
se colocam à margem do actual estado de alguns partidos, têm toda a razão para
existirem. Venceu em grande no Porto, numa campanha que reuniu à sua volta
gente de todas as cores.
Os independentes e os “independentes” dissidentes estão de
parabéns. Estes movimentos de cidadania só podem ser bem-vindos. São um cartão
amarelo aos partidos que bem precisam deles, assim como a democracia precisa de
bons partidos. Saudáveis.
Já nos “dinossauros” aconteceu o que eu previa. Os que
tinham obra positiva atrás de si ganharam, os outros perderam. Eu julgo que a
lei dos três mandatos é uma inutilidade sem sentido. Não impede a corrupção,
impede apenas alguns bons profissionais de continuarem a sua obra. Não é
preciso esta lei para nada. Basta haver uma boa e eficaz fiscalização e os
prevaricadores serem efectivamente condenados.
Em Oeiras, Paulo Vistas ganhou e esta vitória tem algumas
leituras curiosas. Não sou dos que acham que este resultado seja uma afronta à
democracia. Afronta à democracia é Isaltino estar preso e andarem por aí à
solta, com coleiras e sem coleiras, tantos outros que mereciam muito mais estar
lá dentro. O voto de Oeiras também tem de ser interpretado como uma crítica
neste sentido, tanto mais que a obra do antigo autarca é absolutamente notável
no domínio do seu município.
A Madeira deixou de ser um “jardim”. O que mostra que em
democracia há sempre forma de contornar os obstáculos. Os Açores passam a ser
“rosa”, o que deve querer dizer também alguma coisa.
De resto há outras ilações a retirar desta votação. A
maioridade política e democrática dos eleitores portugueses, que apesar de tudo,
foram votar em grande número, premiando e punindo quem achavam que o merecia. A
abstenção foi um pouco acima da média, mas “normal”, sobretudo tendo em conta
os mortos que constam dos cadernos eleitorais e obviamente se abstiveram. Não
houve desacatos significativos (uma ou duas urnas pelo ar até dão cor ao
ambiente) e os cartões amarelos e vermelhos que havia que distribuir foram
disseminados tranquilamente por quem de direito. Pelkos partidos, pela
abstenção, pelos votos nulos (mais de 7%!).
Agora que vem aí o “orçamento” para 2014, é altura de mais
um 15 de Setembro sem partidos nem fantochadas. Apenas uma manifestação
nacional, não dirigida por forças sindicais ou partidárias encapotadas, sem
palermices que lhe retirem força e significado. Uma “arruada” de pesado
silêncio contra quem quer destruir a democracia, o estado social, a liberdade.
Um novo levantar de olhos contra os que viveram, e continuam a viver, “acima
das suas possibilidades”, às costas daqueles que o poder financeiro
internacional disse estarem “a viver acima das suas possibilidades”. É
conveniente que a tróica e os que são “mais do que a própria tróica” percebam
que há muita gente, muita mesmo, farta de os ouvir e de os sentir na pele.