CONVERSAS DE CAFÉ
Esta história tem um percurso. Há dias, António Manuel Pinho, director de uma publicação que eu desconhecia, mas que tem bem graça, um quinzenário gratuito, de nome “Conversas de Café”, telefonou para uma conversa sobre as tertúlias do Vavá, para aparecer no número de “rentrée” (a 28 de Setembro). O jornal tem 50.000 exemplares e é distribuído por cafés, nos distritos de Lisboa, Setúbal, Leiria, Santarém, Faro, Aveiro, Porto e Braga. Tem uma apresentação curiosa, quer ser um “jornal positivo e de lazer, onde as histórias más não são notícia”. Graficamente é cuidado, em 16 páginas a cores. Que seja bem-vindo, as 19 edições que tive oportunidade de folhear algumas, merecem-no.
Nessa conversa no Vavá, o António Manuel Pinho explicou-me que vai fazer sair um suplemento dedicado a um estranho Festival: o Festival do Chícharo. Decorre em Alvaiázere, uma vila ali para os lados de Leiria, nos dias 5, 6 e 7 de Outubro. Ora o que é o Chícharo? Uma leguminosa que fica a meio caminho entre o tremoço, o feijão e a lentilha, que se dá bem em terrenos arenosos, que os populares cozem com abóbora, couve miudinha e broa, para acompanhar com peixe ou carne, sardinhas, carapaus, entrecosto ou umas pataniscas de bacalhau. O chícharo "tem um sabor macio e desenfastiante", garante Piedade Marques, que não dispensa o pitéu nos seus cozinhados. Li numa reportagem do JN.
ALVAIÁZERE
A cultura do chícharo tem vindo a ser desenvolvida no concelho de Alvaiázere, que se proclama a "capital do chícharo". A Câmara apoia, Álvaro Pinto Simões, o presidente da aludida, fala "em milhares de visitantes", registados nos últimos festivais, e salienta a importância deste tipo de iniciativas para a economia e turismo do concelho, explicando que o festival "é um incentivo para os agricultores do concelho, para que estes comecem a produzir mais chícharo". Segundo a mesma fonte, que de chícharo nada sabia até ontem à noite, a divulgação deste produto "tem sido muita" e, por isso, "a procura tem aumentado". Nos restaurantes do concelho, segundo o autarca, "já existem ementas com o chícharo", leguminosas que "há muitos anos atrás servia de alimento a pessoas com mais necessidades".
“Tem um sabor muito bom. Para o cozinhar tem de se pôr de molho na véspera, como se faz com o feijão, e depois é só cozer. Se juntar com umas couvinhas e temperar, fica muito bom", diz quem sabe. Em termos de marketing turístico, “Para além de divulgar o chícharo, esta iniciativa permite uma visita ao concelho e dar também a conhecer os nossos produtos, como artesanato, o mel, os enchidos, o azeite e o vinho, entre outros. Tudo produzido aqui". O presidente da Região de Turismo do Centro afina pelo mesmo diapasão: “Esta iniciativa é muito interessante porque suscita a adesão da população. É importante para se afirmar do ponto de vista turístico, podendo ser uma bandeira do concelho".
O CHÍCHARO
Ora por simpatia do director de “Conversas de Café” ontem houve um lançamento do Festival e do Chicharo no restaurante da Fábrica da Pólvora, ali para Barcarena, para o qual fui convidado. O chefe culinário da casa prometeu dois pratos com chícharo, inventados para o efeito, e desde Otelo Saraiva de Carvalho a Arlindo de Carvalho ou a Isaltino de Morais, de Pedro Barroso a Paulo de Carvalho ou Manuela Bravo, de Manuel Cavaco a Silvestre Fonseca (mestre de guitarra clássica, que abriu o sarau com algumas interpretações de evidente virtuosismo) todos nos sentámos à volta da arredondada mesa, qual cavaleiros da Távola, para a criação feliz da Confraria do Chícharo, como bem inventou e logo anunciou o Chícharo-Mor, Pedro Barroso, homem da ideia ali mesmo solenemente ovacionada.
O Chícharo é interessante, sim senhor. Mas o mais interessante e esta criação de um movimento a partir de um produto local e, levado por esse impulso, falar de uma terra pouco conhecida. Chama-se a isto “criar eventos”, com a prata da casa. Inventar o que há e o que não há, para que passe a haver mais e melhor. Logo, Viva a Confraria! Eu que nunca fui a Alvaiázere, já estou com vontade de lá ir. Quanto ao chícharo, “é uma espécie de tremoço, mas com outro sabor”, como ontem me explicaram e eu passo a citar. Na verdade, o chícharo é chícharo.