
 “A Última Legião” começa por ser um romance de Valerio Massimo Manfredi, o mesmo autor que já nos dera a trilogia dedicada a “Alexandre, o Grande” (e de quem se encontra ainda editado em Portugal um outro título, “Quimera”, todos pertença da colecção “Grandes Narrativas”, da “Presença”).
“A Última Legião” começa por ser um romance de Valerio Massimo Manfredi, o mesmo autor que já nos dera a trilogia dedicada a “Alexandre, o Grande” (e de quem se encontra ainda editado em Portugal um outro título, “Quimera”, todos pertença da colecção “Grandes Narrativas”, da “Presença”).Valerio Massimo Manfredi (nascido em Piumazzo di Castelfranco, Itália, 1943) é arqueólogo de formação, formado pela Universidade de Bolonha, com especialização em topografia do mundo antigo pela Universidade Católica del Sacro Cuore, de Milão, onde iniciou a sua actividade docente, passando ainda pelas Universidade de Veneza, Universidade Loyola de Chicago, Ecole Pratique des Hautes Etudes da Sorbone, em Paris, e finalmente pela Luigi Bocconi, em Milão.
Publicou centenas de artigos em jornais e revistas de Itália (Il Messaggero, Panorama, Archeo, Focus, etc.) e internacionais, e escreveu diversos romances históricos (cerca de seis milhões de exemplares vendidos em todo o mundo), tendo ainda trabalhado no cinema e na televisão. No canal LA7, dirige um programa de televisão, "Stargate - Linea di Confine". Em 1999 foi considerado "Man of the Year" pelo "American Biographical Institute". Carreira de sucesso para um escritor de “best sellers” de cariz histórico, com alguma propensão para o êxito mais ou menos fácil. A sua escrita é escorreita, a sua imaginação fértil, mas pouco dada a voos de inspiração, os seus romances são longas descrições de fantasiosas intrigas de aventura, tendo por cenário um fundo histórico, entretecido com referências míticas e, quando estas não chegam, com extravagantes lucubrações sobre hipóteses muito pouco prováveis (como acontece neste caso de “A Última Legião”).
Devo reconhecer que tanto a trilogia sobre “Alexandre o Grande” como este “A Última Legião” os li mais na diagonal, do que na horizontal. A escrita não me prende, os pormenores históricos não me seduzem, tão emaranhados estão numa teia de aventura primária, com rodriguinhos de fácil manejo. Por exemplo, neste “A Última Legião”, confessadamente escrito a pensar numa provável adaptação ao cinema, o aparecimento de uma guerreira de nome Lívia, que ali se encontra unicamente para propiciar o “romance”, começa desde logo por indispor contra a obra e a sua seriedade. A partir desta cena começamos logo a pensar mais num “peplum” popularucho do que numa reconstituição histórica de seriedade assegurada. Acontece, porém, que o “peplum”, de vasta e honrosa tradição no cinema italiano (e que dá origem, depois de “Cabíria” e “Os Últimos Dias de Pompeia”, ainda no mudo, a uma torrente de obras divertidas e de assegurado entretenimento, nas suas limitadas e honradas intenções: honradas porque nunca pretendem ser mais do que são, e assim mesmo se apresentam), tem carta de nobreza no cinema e pouca credibilidade na literatura. Talvez por isso o filme seja suportável, ainda que relativamente medíocre, e o livro não tenha justificado leitura atenta.
Desta maneira chegamos ao filme de Doug Lefler, um antigo assistente de Sam Raimi, que aqui assina a sua segunda obra como realizador de longa metragens, depois de “Dragonheart: A New Beginning” (2000), e após longa passagem pela televisão, em séries de aventuras fantásticas, e vasta experiência no campo da direcção artística e na animação. Percebe-se o seu gosto por um imaginário de aventuras predominantemente popular. As cenas de guerra e de duelos apontam nesse sentido: nenhuma necessidade de credibilidade, apenas de espectáculo: um herói sozinho chega para dizimar uma companhia de inimigos, tanto mais que só defronta um de cada vez, quanto muito dois, enquanto os outros ficam a ver no que param as modas. Então se o herói for uma heroína, indiana, ex-Miss Mundo, lindíssima, estrela de Bollywood de nome Aishwarya Rai, com um corpo escultural, uns olhos faiscantes e uma desenvoltura notável, quem não fica a olhar até sofrer o golpe fatal? Ficam os companheiros e os adversários, neste caso os ingleses Colin Firth e Ben Kingsley, e os escoceses John Hannah e Peter Mullan, entre muitos outros.
A história conta-se rápido. Estamos em Roma, corre o ano de 476 d.C. O Império Romano está à beira da queda, sobretudo o Império Ocidental. No dia em que Rómulo Augusto (Thomas Sangster), um puto de 13 anos, é coroado Imperador, na presença dos pais, de Ambrosinus (Ben Kingsley), seu mentor e tutor, e de Aurélio (Colin Firth), comandante da quarta legião, ordenado guarda pessoal de Rómulo, o godo Odoacro e o seu exército invadem Roma e, após uma batalha devastadora, conquista a cidade, mata os pais do Imperador, captura Rómulo e Ambrosinus, que são mandados prisioneiros para a fortaleza da ilha de Capri. Aurélio consegue sobreviver e reunir um grupo de leais guerreiros, a que se acrescenta uma não menos leal Mira (a Lívia do romance) para tentar libertar o jovem Rómulo Augusto. O que se faz num ápice. Depois, como os únicos aliados são a Nona Legião que se encontra na Britânia, é para lá que vão, perseguidos por Wulfila, o vilão de serviço, de quem nem o seu general Odoacro gosta (corta-lhe um dedo a sangue frio). Em terras britânicas a saga continua, pois Ambrosinus tinha umas contas antigas a ajustar com um tal Vortgyn, de máscara dourada e muita maldade por detrás. Mais batalhas e cercos a castelos, a virtude triunfa e, no final, sabemos que Ambrosinus também é conhecido por Merlin, e o puto que consegue erguer a espada de César que estava reservada a um único libertador, vai talvez erguer também Excalibur, ligando-se assim os últimos dias da queda do Império Romano à lenda do rei Artur, de Excalibur, dos Cavaleiros da Távola Redonda e de Camelot. Uma tentativa que já fora ensaiada com maior credibilidade em “King Arthur”, filme de Antoine Fuqua.
Quanto aos actores, além da beleza exótica já referida da indiana Aishwarya Rai, há ainda a salientar a presença de Colin Firth, a quem a aguerrida indiana se atira por todas as formas conhecidas, do arco e flecha até literalmente para a cama, nunca parece deixar de pensar: “o que é que eu faço com isto?”, já que, obviamente, não está dentro do “seu” filme. Ben Kingsley, a quem convidaram a vestir uma batina branca de sacerdote para realizar esta “visita de estudo” pelos locais da História, lá vai passeando de varapau. Thomas Sangster, o puto César, é muito simpático. Irrequieto e ladino, mesmo assim é daqueles que apetece ter em casa. Já o mesmo não se dirá dos maus da fita, Peter Mullan (Odoacro), Kevin McKidd (Wulfila), ou Harry Van Gorkum (Vortgyn).
 
 Título original: The Last Legion ou La Dernière Légion ou L’ Ultima Legione
Director: Doug Lefler (EUA, Inglaterra, França, Eslováquia, Itália, 2007); Argumento: Jez Butterworth, Tom Butterworth, Carlo Carlei, Peter Rader, seundo romance de Valerio Massimo Manfredi; Música: Patrick Doyle; Fotografia (cor): Marco Pontecorvo; Montagem: Simon Cozens; Casting: Lucy Bevan, Lenka Stefankovicova; Design de produção: Carmelo Agate; Direcção artística: Roberto Caruso, Viera Dandova, Elio Luciano, Ján Svoboda; Decoração: Francesco Postiglione, Alberto Tosto; Guarda-ropa: Paolo Scalabrino; Maquilhagem: Jana Carboni, Giannetto De Rossi, Lorella De Rossi, Mirella De Rossi, Anna De Santis, Blazena Dollingerova, Alessandro Durante, Katka Horska; Direcção de produção: Amel Becharnia, Aziz Ben Chaabane, Viliam Richter, Piergiuseppe Serra, Stefano Spadoni, Milan Stanisic, Simona Vescovi; Assistentes de realização: Senda Anane, Moez Ben Hassen, Gerry Gavigan, Steve Griffin, Sallie Anne Hard, Peter Palka, Gemma Powley, Emma Stokes, Gareth Tandy, Paul Taylor, Paula Turnbull; Departamento de arte: Ron Downing, Giorgio Postiglione, Terry Royce, Fero Turna; Som: Andy Kennedy; Efeitos Especiais: Simon Cockren, Stefano Pepin, Trevor Wood; Efeitos visuais: Alain Carsoux, Séverine De Wever, Hamery Laurent, Jeremie Leroux, Rossi Sébastien; Produção: Tarak Ben Ammar, Dino De Laurentiis, James Clayton, Chris Curling, Martha De Laurentiis, Raffaella De Laurentiis, Lorenzo De Maio, Hester Hargett, Salvatore Morello, Duncan Reid, Phil Robertson, Lucio Trentini, Harvey Weinstein; Companhias de produção: Dino De Laurentiis Company, Ingenious Film Partners, Quinta Communications, Zephyr Films Ltd.
Intérpretes: Colin Firth (Aurelius), Ben Kingsley (Ambrosinus/Merlin), Aishwarya Rai (Mira), Peter Mullan (Odoacro), Kevin McKidd (Wulfila), John Hannah (Nestor), Iain Glen (Orestes), Thomas Sangster (Romulus Augustus), Rupert Friend (Demetrius), Nonso Anozie (Batiatus), Owen Teale (Vatrenus), Alexander Siddig (Theodorus Andronikos), Robert Pugh (Kustennin), James Cosmo (Hrothgar), Harry Van Gorkum (Vortgyn), Beata Ben Ammar (Flavia), Murray McArthur, Ferdinand Kingsley, Rory James, Lee Ingleby, Andrew Westfield, Alexandra Thomas-Davies, Zarrouk Brahim, Robert Brazil, Ouerghi Chedly, Kathleen Segal, Tasha Bertram, Igor De Laurentiis, Vladimir 'Furdo' Furdik, Trevor Lovell, Mark Sangster, etc.
Duração: 110 minutos; Distribuição em Portugal: LNK; Locais de filmagem: castelo de Cerveny, Pezinok, Eslováquia, Tunísia; Data de estreia: 17 de Agosto de 2007 (EUA); 15 de Agosto de 2007 (Portugal); Classificação etária: M/12 anos;

 
 

 
  



 Resta dizer que fui procurar a edição, o número 49 da magnífica “Colecção Miniatura” dos “Livros do Brasil” (que devorei quase toda, à medida que ia sendo publicada). Ia agrupando “As grandes obras em pequenos volumes” e “Pequenas jóias literárias dos maiores autores” (era verdade, não era “publicidade enganosa”!), e foi nessa colecção, que tinha primorosas capas desenhadas pelo Bernardo Marques, que li, pela primeira vez, Hemingway, Bernard Shaw, Maugham, André Gide, Virgínia Woolf, Huxley, Roman Roland, Erskine Caldwell, Steinbeck, Pratolini, e tantos outros. Ao abrir o muito manuseado livrinho, descobri uma dedicatória que me lançou numa peregrinação pelo tempo cheia dos bons cheiros da memória. Iz assim a dedicatória: “Do pai muito amigo, Para o Lató, com um grande abraço de parabéns pelo dia de hoje, 18 de Agosto de 1955. ERICEIRA” (Lató, era a forma como os meus pais me chamavam em miúdo, contracção de La(uro)(An)tó(nio)). Descobri pois que lera “Um Gosto e Seis Vinténs” na Ericeira, corria o ano de 1955, acabara de fazer 13 anos. Veio-me à memória a praia, o passeio nocturno pela estrada, as esplanadas, as Arribas, e lembro-me de meu pai a pintar várias telas, uma das quais ainda retenho na minha casa, com a praia dos pescadores, numa perspectiva “picada” (vista cá de cima).
Resta dizer que fui procurar a edição, o número 49 da magnífica “Colecção Miniatura” dos “Livros do Brasil” (que devorei quase toda, à medida que ia sendo publicada). Ia agrupando “As grandes obras em pequenos volumes” e “Pequenas jóias literárias dos maiores autores” (era verdade, não era “publicidade enganosa”!), e foi nessa colecção, que tinha primorosas capas desenhadas pelo Bernardo Marques, que li, pela primeira vez, Hemingway, Bernard Shaw, Maugham, André Gide, Virgínia Woolf, Huxley, Roman Roland, Erskine Caldwell, Steinbeck, Pratolini, e tantos outros. Ao abrir o muito manuseado livrinho, descobri uma dedicatória que me lançou numa peregrinação pelo tempo cheia dos bons cheiros da memória. Iz assim a dedicatória: “Do pai muito amigo, Para o Lató, com um grande abraço de parabéns pelo dia de hoje, 18 de Agosto de 1955. ERICEIRA” (Lató, era a forma como os meus pais me chamavam em miúdo, contracção de La(uro)(An)tó(nio)). Descobri pois que lera “Um Gosto e Seis Vinténs” na Ericeira, corria o ano de 1955, acabara de fazer 13 anos. Veio-me à memória a praia, o passeio nocturno pela estrada, as esplanadas, as Arribas, e lembro-me de meu pai a pintar várias telas, uma das quais ainda retenho na minha casa, com a praia dos pescadores, numa perspectiva “picada” (vista cá de cima).  Julgo que nunca tinha visto este filme, apesar de George Sanders ser um actor de minha muito particular estima. Depois de o ver, pego no livrinho e releio-o de um fôlego. Primeira conclusão a retirar: ao ver o filme senti-o muito palavroso, demasiado dependente de uma vez off, a do narrador, isto é a do escritor. Relendo o romance percebe-se o escrúpulo do adaptador, Albert Lewin, que também realizou o filme. Seguiu à letra o romance, em peripécias e em palavras, o que raras vezes resulta bem. Albert Lewin foi um realizador que fez dois ou três filmes muito interessantes, depois de um período como assistente de realização de alguns cineastas de mérito e de filmes que permanecem vivos. Começou a sua carreira de realizador precisamente com este “The Moon and Sixpence” (que em português recebeu o título, imaginem só, “Mesmo Assim, Elas Amavam-no”!), e continuando sempre nos domínios da literatura prossegui-a com “The Picture of Dorian Gray” (1945), “The Private Affairs of Bel Ami” (1947) e, finalmente, com “Pandora and the Flying Dutchman” (1951). Obras muito interessantes, dirigidas por um cineasta de sólida formação cultural e artística, com visíveis influências das vanguardas artísticas dos anos 20 e, sobretudo, dos surrealistas.
Julgo que nunca tinha visto este filme, apesar de George Sanders ser um actor de minha muito particular estima. Depois de o ver, pego no livrinho e releio-o de um fôlego. Primeira conclusão a retirar: ao ver o filme senti-o muito palavroso, demasiado dependente de uma vez off, a do narrador, isto é a do escritor. Relendo o romance percebe-se o escrúpulo do adaptador, Albert Lewin, que também realizou o filme. Seguiu à letra o romance, em peripécias e em palavras, o que raras vezes resulta bem. Albert Lewin foi um realizador que fez dois ou três filmes muito interessantes, depois de um período como assistente de realização de alguns cineastas de mérito e de filmes que permanecem vivos. Começou a sua carreira de realizador precisamente com este “The Moon and Sixpence” (que em português recebeu o título, imaginem só, “Mesmo Assim, Elas Amavam-no”!), e continuando sempre nos domínios da literatura prossegui-a com “The Picture of Dorian Gray” (1945), “The Private Affairs of Bel Ami” (1947) e, finalmente, com “Pandora and the Flying Dutchman” (1951). Obras muito interessantes, dirigidas por um cineasta de sólida formação cultural e artística, com visíveis influências das vanguardas artísticas dos anos 20 e, sobretudo, dos surrealistas. 
 










 
  
  
 



 
 







 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

