terça-feira, maio 27, 2008

E CÁ VOU EU A CAMINHO DO FAIAL


CINEECO - 28, 29 e 30 Maio no FAIAL
Numa iniciativa da Ecoteca do Faial e do Cineclube da Horta, um conjunto de filmes e documentários que alertam e sensibilizam a população para as questões ambientais vai ser exibidos, de 28 a 30 de Maio de 2008, na Horta, no âmbito do Festival de Cinema e Vídeo de Ambiente – Cine Eco, que teve no ano passado a sua 13ª edição em Seia, na Serra da Estrela. As sessões vão decorrer no auditório da Escola Secundária Dr. Manuel de Arriaga, para a comunidade escolar, e no Auditório da Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta, para o público em geral. Esta extensão do Festival Cineeco na Horta, está integrada nos Encontros de Porto Pim 2008.
Todas as sessões têm entrada gratuita.
Na ilha do Faial, na cidade da Horta serão cerca de 20 filmes a exibir onde se destacam os vencedores do Grande Prémio do Ambiente no CINEECO 2006 – “Ainda há pastores” de Jorge Pelicano e o vencedor do mesmo galardão em 2007 “Encontro com Milton Santos” do realizador Sílvio Tendler.
A todos aqueles que a visitarem será ainda dada a possibilidade de assistirem a uma mesa redonda no dia 30 (sexta-feira) pelas 22 horas com Lauro António logo após a sessão.
Promover o debate sobre diversas temáticas ambientais, discutir a produção cinematográfica a nível regional e fomentar uma maior produção com incidência nestas temáticas são alguns dos objectivos.
Venha. Está convidado!
Posted by Ecoteca do Faial

SESSÃO DE ENCERRAMENTO
MESA REDONDA - À conversa com….. Lauro António:
Tema em debate – “ Os Media e o Ambiente: a importância do Cinema na divulgação das
temáticas ambientais”
O cinema poderá apresentar-se como um importante instrumento pedagógico, pelo facto de criar um mundo de sons, de imagens e linguagens que nos proporcionam no seu conjunto a construção de histórias e personagens capazes de, em função de um determinado contexto, das vivências e da cultura dos espectadores, despertar determinadas emoções, proporcionando por vezes tomadas de consciência sobre os nossos valores, aguçando os nossos sentidos, e até mesmo, estimulando uma mudança de atitudes!
Apoios: Secretaria Regional do Ambiente e do Mar e OMA - Observatório do Mar dos Açores

quinta-feira, maio 22, 2008

Cinema: Cartas a uma Ditadura

CARTAS A UMA DITADURA
“Cartas a uma Ditadura”, novo filme de Inês de Medeiros, é uma obra documental com interesse óbvio, mas que fica um pouco aquém do documento que poderia ter sido, sobretudo pela forma como manipula o material iconográfico colocado à sua disposição.
A ideia de base é curiosa. Vejamos então do que trata. Aqui há tempos, foi encontrada, num alfarrabista, uma caixa de cartão contendo cerca de uma centena de cartas, escritas por mulheres portuguesas em 1958, respondendo, ao que tudo leva a crer, a uma circular enviada por um desconhecido “Movimento Nacional das Mulheres Portuguesas”, o qual procurava angariar apoio feminino para Salazar e o Estado Novo, que passara recentemente por uma provação difícil, durante a campanha eleitoral para as eleições presidenciais que opusera o general Humberto Delgado ao almirante Américo Thomaz. Não se encontrou até hoje referência alguma a este “movimento”, nem à circular a que respondem as cartas, e o alfarrabista desfez-se delas pensando que eram missivas amorosas sem outro interesse especial.
Mas eram cartas de mulheres dirigidas a um ditador, umas apoiavam Salazar, e prometiam toda a ajuda, outras diziam que sim, mas que estavam muito ocupadas com a lide da casa e da família. Todas elogiavam a paz, a ordem, e enalteciam a figura do "salvador da pátria". Segundo apuraram os responsáveis pelo filme, assinavam as cartas uma costureira, muitas professoras primárias, algumas donas de casa e também várias mulheres de importantes nomes do regime.
Algumas, cinquenta anos depois, ainda vivem e foram confrontadas com as palavras que então escreverem. Umas recordam-se, outras já nem sabem o que disseram. O olhar da realizadora não é, justificadamente, de recriminação perante a acareação, o que é bonito. Todas são tratadas com dignidade e muitas com algum carinho que a idade impõe. Quase todas sabem muito pouco do que quer que seja ou fazem-se passar por isso, por ignorantes que nem distinguem a democracia da ditadura. Uma ou outra assume que não gosta desta “democracia” (o que é mais um voto na democracia que lhe permite dizer isso, ao contrário da ditadura que apoiou!), uma olimpicamente afirma-se salazarista, a maioria não sabe, não viu, desconhece. Uma diz-se mais ou menos enganada pela ditadura.
Estes eram os tempos (1958), estes continuam a ser os tempos (2008), para quem sobreviveu à História. Interessante esta viagem pelo passado, por entre névoas que nos vão permitindo vislumbrar, por detrás das nuvens, o medo, a desinformação, a solidão, o sofrimento, o alheamento. Os planos rodados na actualidade são como postais de um passado agora colorizados, por entre cenários sombrios e românticos, velhos reposteiros, vasos de flores, cadeirões antigos e olhares mortiços. Inês Medeiros consegue um enquadramento condigno, sem nunca ultrapassar a fotografia de uma memória magoada. Cada plano assemelha-se a uma fotografia de álbum antigo.
Muito mais discutível é todo o aproveitamento de algumas imagens de arquivo da RTP e de cinema, sem estarem enquadradas e sem sequer ser referido o momento histórico a que se reportam, o que torna o filme uma argamassa insignificante (ou com um significado distorcido) da realidade histórica. As imagens do Estádio Nacional, apinhado de gente, transbordante de bandeiras e estandartes, as das grandes manifestações de apoio a Salazar, mesmo as da eleição de Humberto Delgado (as únicas vagamente contextualizadas) acabam por não ter uma leitura coerente e impedem a compreensão final da obra.
De resto, mesmo para quem as saiba enquadrar historicamente, não deixam de ser perturbantes: as ruas tão depressa estão pejadas de povo a orar á Senhora da Saúde como a saudar Salazar, como a acompanhar euforicamente Humberto Delgado, tudo com tempos ridículos de intervalo. O povo parece ir para onde vai a festa, parece ser a conclusão a extrair, entendendo-se por festa o que é diferente, o que quebra a rotina. Sem nenhuma consciência crítica, sem uma finalidade ou uma orientação esclarecida.

terça-feira, maio 20, 2008

VAVADIANDO COM RIBEIRO TELLES


HUMBERTO DELGADO RECORDADO NO ISCTE


Humberto Delgado: 50 Anos Depois.
História e Memória
Colóquio Comemorativo do Cinquentenário das Eleições Presidenciais de 1958
ISCTE, Auditório Afonso de Barros - Ala Autónoma
20 de Maio de 2008
Organização: CEHCP e Fundação Humberto Delgado

«Empenhei nesta batalha a minha vida, as minhas estrelas de general
e toda a minha alma de patriota»
General Humberto Delgado, 14 de Maio de 1958

Humberto Delgado, ao regressar dos EUA, em 1957, tencionava preparar uma revolta armada contra o regime, mas foi afastado dos comandos militares e optou pelo combate político, candidatando-se à Presidência da República em 1958.
Despertou a consciência política do Povo Português ao proferir a célebre frase «Obviamente demito-o», referindo-se a Salazar. Durante a sua carismática campanha eleitoral, arrastou multidões de norte a sul e unificou toda a Oposição em redor da sua candidatura. Em 14 de Maio de 1958, a sua chegada ao Porto representou uma das maiores concentrações humanas da História de Portugal. No regresso à capital, milhares de lisboetas que o aguardavam foram vítimas da repressão policial da ditadura.
O Governo proibiu a fiscalização do acto eleitoral e atribuiu ao candidato do regime, Almirante Américo Tomás, uma vitória fraudulenta de 75,8% dos votos.

Programa do Colóquio
9H30 - Sessão de Abertura
10H00 - Eleições em Tempo de Ditadura
«As Eleições de 1958 e o seu impacto no Estado Novo», Luís Nuno Rodrigues
(CEHCP-ISCTE)
«Quem tem a tropa? Os militares e as Eleições de 58», Telmo Faria
(Historiador, Presidente da C.M. Óbidos)
«Eleições de 1958 no “Arquivo de Salazar”», Dalila Cabrita Mateus (CEHCP-ISCTE)

11H15 - Pausa
11H30 - Eleições em Tempo de Ditadura (cont.)
«Humberto Delgado teria um plano para África?», Carlos Pacheco
(Fundação Humberto Delgado)
«Eleições e oposição: o “Terramoto Delgado” visto de Espanha»,
Juan Carlos Jimenez Redondo (Univ. CEU e UNED - Madrid)
«A calma antes da tempestade. A posição internacional do Estado Novo
em finais da década de 1950», Pedro Aires de Oliveira (FCSH-UNL)

12H45 - Pausa para almoço
14H30 - Excertos de Vida em Imagens
Evocação Iconográfica de Humberto Delgado, Frederico Delgado Rosa
(Fundação Humberto Delgado)
15H00 - Memória Individual da Liberdade
Testemunhos de: António Melo (jornalista); Alcino Soutinho (arquitecto); António Brotas (professor do IST); Fernando Dacosta (escritor); José Aurélio (escultor)

16H30 - Pausa
16H15 - Memória Individual da Liberdade (cont.)
Testemunhos de: Maria Antónia Palla (jornalista); José Costa Martins
(coronel piloto aviador FAP); Lauro António (cineasta); Maria da Luz Veloso (jurista);
Silas Cerqueira (sociólogo)

18H15 – Encerramento
Paralelamente decorre no ISCTE uma exposição fotográfica intitulada
Humberto Delgado, o General sem medo
Comissão organizadora:
Dalila Cabrita Mateus Iva Delgado Maria João Vaz

Apoios:
Fundação para a Ciência e a Tecnologia Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento ISCTE

segunda-feira, maio 19, 2008

REVISTA "TAKE" COM "MEMÓRIAS"

Saiu mais um número da revista "Take" onde se recolhem mais umas páginas das minhas "Memórias à Solta". Desta vez recordo os tempos passados em Portalegre, entre os meus 8 e 15 anos, a propósito do documentário "Humberto Delgado: "Obviamente, Demito-o!". Deixo aqui apenas uma passagem, mas o melhor é mesmo ler o texto todo na revista, que merece inteiramente a visita. Magnificamente paginada, bem ordenada, escrita com entusiasmo e boa informação por um conjunto de, julgo, jovens, eis uma boa aposta. Mais de cem paginas para cinéfilos do todas as cores. O director é José Soares. Vale até a pena imprimir toda a revista para se ler com mais calma e melhor se apreciar.
Pode ser vista aqui: http://www.take.com.pt/
MEMÓRIAS DE PORTALEGRE

"(...) Foi em Portalegre que tive a minha primeira paixão por uma mulher, curiosamente uma Laura que partiu um dia da cidade e me deixou lavado em lágrimas a ver desaparecer o carro onde a família seguia rumo ao norte. O pai era Juiz, fora colocado noutra cidade, e a perca da Laura foi irremediável. Devíamos os dois andar pelos doze ou treze anos, mas foi imagem que não mais perdi (nem achei). A seguir a essa Laura, outras paixões se seguiram e me marcaram profundamente, ainda por essa cidade de ruas estreitas e serpenteantes, apesar da principal se chamar “Direita”. Colegas de liceu, houve algumas. Conservo a recordação de todas que me despertaram, nas emoções do espírito e na tentação da carne, para os prazeres do amor.
Foi também em Portalegre que comecei a escrever. Textos curtos, notícias sobre cinema, entrevistas breves, enfim, o que me ia interessando e os dois jornais da terra onde eu colaborava iam permitindo publicar. O que me apaixonava mais era “A Rabeca”, do senhor Casaca (João Diogo Casaca) velho republicano, que tinha a tipografia na rua 19 de Junho (antiga rua da Carreira). Fora na juventude actor dramático e cantor, e depois instalou-se como tipógrafo, editor e director de jornais. Foi nessa gráfica, de ambiente antigo, soturno, pesado, mesmo com o seu quê de misterioso, pejada de móveis escuros, onde se compunham jornais com letras de chumbo que se iam juntando até formarem palavras, frases, artigos, foi ai que comecei a escrever. Via os empregados a compor, com ágeis movimentos de mãos, trabalhando de pé, encostados a banquetas recheadas de gavetas de alto a baixo, com tipos de letra diferentes, e ficava fascinado com essa actividade mecânica, febril, incansável, que dava lugar a textos que se liam e transmitiam ideias, factos, pesadelos ou esperanças. Foi aí que aprendi, com dificuldade extrema, é certo, a manusear as letras de chumbo, e a compor as minhas próprias notícias sobre filmes e actrizes. Foi nas páginas de “A Rabeca” que vi as primeiras palavras escritas por mim circularem em folha de jornal. Assinava o nome que hoje uso ou as iniciais LA, ou ainda, sobretudo no outro jornal da terra, O…TAL (que era a inversão de Lató, diminutivo que reunia os meus dois nomes iniciais e pelo qual os meus pais por vezes me chamavam).
Um outro jornal da terra era “O Distrito de Portalegre” (o único desses tempos que ainda hoje se publica), ligado à diocese, onde pontificava o Cónego Anacleto, amigo da casa de meus pais. A tipografia era muito mais arejada, luminosa, ficava situada em frente à Sé Catedral. Os textos eram sobretudo de cariz religioso, e a linha do jornal era muito mais conservadora na sua orientação ideológica. Havia ainda um terceiro semanário na terra, “A Voz Portalegrense”, órgão da “União Nacional” no distrito, mas aí nunca escrevi nada, vá-se lá saber porquê. Não me puxava a mão para esses desígnios.
Escrever era já uma paixão, mas ler era compulsivo. Desde as revistas em quadradinhos, “O Papagaio”, “O Mosquito”, quando era mais novo, o “Mundo de Aventuras” e o “Cavaleiro Andante”, em meados dos anos 50, até romances de certo fôlego que ia desencantar na biblioteca dos pais, ou que eles me ofereciam, em doses massivas sobretudo pelos anos ou no Natal. Como o meu pai era pintor e se interessava muito por livros sobre arte, havia vários lá por casa que me fascinavam. Uns, de bolso, monografias sobre pintores. Outros, álbuns de certo peso. Um, sobre o “Aleijadinho”, o escultor desse fabuloso Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, obra inspirada em santuários portugueses, que se encontra em Congonhas do Campo, no Estado de Minas Gerais, impôs mesmo um desvio de rota, aquando da minha primeira viagem de férias no Brasil, tal era a admiração que me provocava desde essa altura.
Mas “Os Miseráveis”, “O Príncipe e o Pobre”, “O Romance de um Rapaz Pobre”, “A Dama das Camélias”, “Oliver Twist”, “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Os Maias”, um pouco de tudo ia passando sob os meus olhos maravilhados. E a poesia de José Régio, lida em livros autografados pelo próprio, e que ainda hoje conservo religiosamente. Por essa altura tinha jeitinho para desenhar e pintei, a lápis de cores, uma “Fuga para o Egipto” que ofereci a José Régio, tendo recebido em troca “O Príncipe das Orelhas de Burro”, autografado (“Ao Làtó, em troca duma sua pintura que representa a “Fugida para o Egipto”, sem burro, oferece o seu amigo Zé Régio, Portalegre, 1952), num volume cartonado que abre com um belíssimo desenho a cores que o romancista me ofertou também. Eu tinha dez anos.
E já gostava de futebol, nesses anos iniciais de liceu. Havia dois clubes em Portalegre, um, o “Portalegrense”, outro, o “Estrela de Portalegre”, com rivalidades óbvias. Apesar do verde ser a minha cor a nível nacional (Sporting Clube de Portugal, claro, e desde sempre e para sempre!), em Portalegre as simpatias penderam sempre mais para o azul do “Portalegrense”. Como desde miúdo fui alto, já nessa altura andaria pelo metro e oitenta, empurravam-me invariavelmente para a baliza, ignorando a minha ânsia de “meter golos”. Fui parar a guarda-redes da equipa do liceu, e ainda fiz alguns jogos nos juniores do “Portalegrense”, até que um frango monumental me afastou irremediavelmente de uma carreira gloriosa na selecção nacional, quiçá. Mas confiar no golpe de vista nunca foi apanágio de bom guarda-redes, e a bola entraria por entre as mãos despreocupadas de quem olha o esférico e pensa que ele passa por cima, e não tem em conta o movimento descendente de última hora. Nesse jogo perdeu-se um guarda-redes, marcado pela íntima ignomínia de um frango colossal. Nunca deixei, porém, de assistir aos jogos do Portalegrense, e ainda hoje procuro nas páginas dos desportivos os resultados dos clubes da terra. Infelizmente, não muito brilhantes.
Muito mais interessante foi a minha dedicação às salas de espectáculo da cidade. Quando cheguei a Portalegre, a que existia era o magnífico (enfim, assim o recordo, apesar de algo arruinado) “Teatro Portalegrense”, situado numa pequena praceta no centro da cidade. Era um teatro antigo, construído à italiana, na vertical, com plateia, frisas, camarotes e por aí acima. Havia normalmente quatro sessões semanais, às terças, quintas, sábados e domingos, e ocasionalmente teatro. As companhias de revista, de comédia ou mesmo de drama, faziam digressões pelo País e Portalegre estava inscrito no mapa. Passavam, portanto, inicialmente pelo palco do “Teatro Portalegrense”, depois pelo do “Cine Teatro Crisfal”, localizado ao cimo do Jardim da Corredoura, edifício típico dos anos 50 e da febre dos Cine Teatros que se espalharam pelo País em réplicas mais ou menos inspiradas do Cinema e Teatro Monumental de Lisboa. Assisti à inauguração do Crisfal, com uma actuação da companhia do Teatro Nacional de D. Maria II, de Amélia Rey Colaço que, para assinalar o facto, ali permaneceu uma pequena temporada com duas ou três peças do seu reportório. (...)

domingo, maio 18, 2008

A TAÇA É DO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL


A TAÇA È NOSSA!
Ninguém nos agarrou!
Depois de um Campeonato bem entregue,
uma Taça que fica com quem a ganhou com justiça.
(um obrigado a todos, as amigas e os amigos, de todas as cores,
que felicitaram o leão que há em mim!)

HUMBERTO DELGADO, MAKING OFF

O Frederico acompanhou-me durante a realização do documentário
"Humberto Delgado: "Obviamente, Demito-o!"
(emitido pela RTP-1, a 10 de Maio de 2008)
Nesses dias foi recolhendo imagens de bastidores,
que reuniu num making off, que aqui fica.
Agradecido.

sexta-feira, maio 16, 2008

FRANÇA CHINA: CULTURAS COMPARADAS

INSTITUTO CONFUCIO - UNIVERSIDADE DO MINHO

Curso "Arts de Vivre. Cultures Comparées. France et Chine"
10 e 17 Maio 7 e 14 Junho 2008

O Curso Arts de vivre: Cultures comparées: France et Chine/ Artes de Viver. Culturas comparadas: França e China situa-se na área das culturas comparadas e é uma iniciativa conjunta do Instituto Confúcio da UMinho e do Departamento de Estudos Franceses do Instituto de Letras e Ciências Humanas da UMinho.
O Curso parte da constatação de que a China e a França ocupam no imaginário colectivo o prestigiado lugar das duas culturas mais sofisticadas do mundo. Pólos civilizadores do Oriente e do Ocidente respectivamente, os dois países criaram um conjunto de bens culturais associados a sensações e prazeres altamente apreciados e valorizados e, como tal, globalmente procurados. O caso mais conhecido é certamente o da gastronomia, pois as artes culinárias chinesa e francesa souberam criar os sabores mais famosos e requintados, sem esquecer a alquimia dos chás e dos vinhos. Souberam, além disso, envolver os prazeres do gosto num elevado grau de codificação que impregna tanto as práticas culinárias como les manières de table e manifesta que nos alimentamos também de representações e de valores.
De entre os produtos criados pela cultura chinesa e pela cultura francesa para satisfação dos sentidos e do intelecto destacam-se os jardins. As diferenças na composição, na estrutura e na simbólica dos jardins clássicos franceses e chineses exprimem diferenças de mais amplo alcance entre as duas culturas, nomeadamente no que toca à atitude face à natureza.
Também o cinema e a literatura constituem um campo privilegiado para a produção e análise de fenómenos de permeabilidade intercultural, como a construção e a desconstrução dos estereótipos e lugares-comuns que compõem os ecrãs através dos quais chineses e franceses, ocidentais e orientais, se contemplam mutuamente. Os romances de Dai Sijie, escritor chinês francófono, ocupam um lugar de destaque no seio desses fenómenos de permeabilidade intercultural.
O Curso dirige-se a pessoas de todas as idades que praticam a arte de viver, que gostam do mundo e de viagens, reais e/ou imaginárias, que desejam aprofundar os seus conhecimentos em matéria de culturas e que são capazes de fazer do saber um prazer e do prazer um saber.

Dia 17 de Maio:Cinema e Literatura

Apresentação de "BALZAC E A PRINCESA CHINESA" de Dai Sijie
10,00 h: Revolução cultural e Literatura Ocidental
por Cristina Álvares
14,30 h: Apresentação do filme por Lauro António
e projecção do mesmo, seguido de debate.

BALZAC E A PRINCESA CHINESA


1. DAI SIJIE
Devo confessar a abrir que “Balzac e a Princesa Chinesa”, filme, ou “Balzac e a Costureirinha Chinesa”, romance, não me convenceram muito, apesar de encontrar em ambas as obras aspectos interessantes a merecer a atenção de leitores e espectadores, sobretudo se estes se interessarem mais pela política e a sociologia do que por literatura e cinema. Mesmo assim acho que o filme é ligeiramente mais conseguido que o romance, muito embora este tenha sido a obra revelação de um chinês a viver em Paris, Dai Sijie de seu nome.
Nascido na China em 1954, Dai Sijie parece ter tido adolescência conturbada. Filho de uma família da classe média, caída em desgraça durante o início da década de 70, em virtude da Revolução Cultural comandada pelo camarada Mao Tse Tung, “Grande Timoneiro da Revolução”, enquanto os país eram presos ele foi enviado conjuntamente com outros jovens “burgueses” e “intelectuais” para campos de re-educação onde os “pobres camponeses” lhe ensinavam a verdade revolucionária. Dai Sijie esteve na província de Sichuan entre 1971 e 1974,acabando por ter a sorte de regressar à cidade e à universidade, onde acabou um curso de história de arte. Em 1984, porém, deixou a China e viajou até Paris onde se fixou, iniciando uma carreira de escritor e realizador de cinema.
O seu primeiro filme “Chine, ma Douleur” (China, my Sorrow) (1989) despertou interesse e ganhou o Prémio Jean Vigo, seguindo-se “Le Mangeur de Lune (1994) e Tang, le Onzième (The Eleventh Child) (1998). Em 2000 escreve o seu romance de estreia, que dois anos mais tarde adapta ao cinema e dirige: “Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise” (na edição portuguesa da Terramar, “Balzac e a Costureirinha Chinesa” numa tradução de Maria Filomena Duarte, ou “Balzac and the Little Chinese Seamstress”). Continua a escrever directamente em francês “Le Complexe de Di” (Mr. Muo's Traveling Couch) (2003), que foi Prémio Femina, e se ocupa das viagens de um chinês influenciado pela psicologia francesa e aborda o “complexo de Édipo”, e ainda “Par une Nuit où la Lune ne s'est pas Levée” (On a moonless night) (2007).
Em 2006 voltou ao cinema para rodar “Les Filles du Botaniste” (“As Filhas do Botânico”, The Chinese Botanist's Daughters).
Mas vamos por partes e falemos de “Balzac e a Princesa Chinesa” (o título do filme não é o mesmo que o do romance em Portugal, como já devem estar a calcular).


3. AS FILHAS DO BOTÂNICO
“Les Filles du Botaniste” é o filme seguinte de
Dai Sijie, que também estreou em P2. BALZAC E A PRINCESA CHINESA
“Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise” é, até agora, a sua obra mais conhecida. Obteve cinco prémios literários, foi vendida para dezanove países (excepto a China, pelo menos até há pouco tempo!), com adaptação ao cinema e passagem por Cannes, tudo isto para contar a história de dois jovens chineses, apanhados nas malhas da Revolução Cultural maoista, que são enviados para um campo de “re-educação” (o que aconteceu ao próprio Dai Sijie, como já vimos). Exilado em Paris, Sijie Dai não tem o que se chama boas recordações da sua China natal. Tanto “Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise” como “Les Filles du Botaniste” comprovam-no.
Portanto, no início dos anos 70, dois rapazes de famílias "burguesas e reaccionárias" são enviados para uma distante aldeia nas montanhas chinesas onde serão “reeducados” nos princípios do maoísmo. São dois “civilizados” que é urgente disciplinar no ruralismo profundo, numa dicotomia campo-cidade, demonizando-se esta. Este é um dos temas centrais da obra, que se irá desenvolver ao longo de várias vertentes: a cidade é vista pelos jovens como a civilização, a cultura, a sofisticação o espírito, o desenvolver dos sentimentos, enquanto o campo é a ingenuidade buçal, a terra como elemento primário, o esterco como adubo, o primitivismo. O filme coloca, porém, várias outras curiosas questões. Por exemplo: nestas condições, quem reeducar quem?, sabendo-se que o chefe da aldeia e os aldeões possuem uma muito rudimentar cultura e poucos meios de defesa contra a argúcia dos jovens que se fazem valer de expedientes criativos e irónicos para ultrapassar certas regras e preconceitos, não serão os dois jovens certamente a mudar de comportamento, mas possivelmente eles a influenciarem o comportamento alheio.
Quando o chefe da aldeia desconfia da utilidade do violino e o trata como “brincadeira burguesa” que urge destruir, um dos jovens avisa-o que o violino serve para tocar e que o companheiro executa nele lindas sonatas de Mozart. Mas então quem é Mozart, esse “burguês reaccionário”? E que é isso de sonatas?
Com alguma ironia e uma certa ternura distanciada pela ignorância, um deles improvisa ao sabor da época: aquela sonata chama-se: "Mozart está a pensar no camarada Mao", o que a torna não só logo executável, como possível de ser repetida até à exaustão. O que demonstra também que por vezes um simples título tudo modifica. Sobretudo quando a ignorância é crassa e a ditadura se serve dela para se impor. O relógio que o chefe da aldeia adopta como despertador, acabará por servir quem dele sabe retirar o melhor partido: os dois jovens atrasam-no ou adiantam-no conforme querem dormir mais de manhã ou regressar a penates mais cedo, ao fim de uma encurtada jornada de trabalho.
Mas há mais: um outro re-educando, que ali está porque os pais são igualmente escritores burgueses reaccionários, sendo a mãe poetisa que gosta de clássicos escritores do Ocidente (burgueses reaccionários como Balzac, Gogol, Dostoiévski, Flaubert, Kipling, Alexandre Dumas, Victor Hugo e tantos outros) possui um tesouro escondido numa mala: vários desses livros proscritos, que os dois jovens descobrem e desviam para seu grande prazer nocturno. E como ambos amam a bela costureirinha da aldeia lêem-lhe passagens de romances que lhe vão modificar a vida. A busca da literatura proibida obedece a um curioso programa, a uma indecifrável atracão pelo proibido: não é só a literatura ocidental, é o amor, o desejo, o sexo, a cidade, a música, a beleza, o que fica longe, o inacessível (a costureirinha ouve os aviões no ar e constrói aviões para uma eminente fuga desse mundo redutor que ela pressente ser o seu).
Por isso o filme tem o título que ostenta. Mas esses romances franceses tidos por infernais pelos diabólicos censores da altura, são contados como se edificantes histórias revolucionárias se tratassem sem a mínima desconfiança. Passo a explicar melhor: como são algo letrados e como não há cinema na aldeia os dois jovens são enviados à vila vizinha para ver filmes chineses e coreanos (do Norte!) que, no regresso contam pormenorizadamente perante o extasiado público da aldeia. Da primeira vez contam o filme que viram, mas das outras exploram com requinte os romances que leram como se dos filmes se tratasse. E ninguém nota a diferença. Ou seja: através da desconstrução dos preconceitos ditos revolucionários fica-se a perceber da inoperância e da insignificância dos mesmos, que sendo esses ou os contrários, funcionam do mesmo modo. Ninguém dá pela substituição.
Ma e Luo, os dois jovens chineses, acabam mesmo por levar uma vida sem grandes provações ou sobressaltos de tratamento, longe das pesadas prisões, das grilhetas e dos dísticos pendurados ao pescoço que os pais suportaram nas grandes cidades. Têm ainda tempo para espiar belas jovens nuas a tomar banho, apesar de diariamente carregarem com baldes transbordantes de excrementos, humanos e animais, que levavam para os campos a fertilizar com esse estrume fresco. Entre a descoberta do esterco e o dealbar do desejo, deparam também com o amor, personificado aqui por uma desconcertante Zhou Xun, já a caminho de se transformar numa das mais belas e talentosas actrizes chinesas da actualidade.
Curioso acrescentar algo mais a esta ideia do aparecimento do desejo, através da leitura de clássicos franceses. O sexo obviamente existe na aldeia, pois que a reprodução (controlada, um filho por casal) acontece. Mas não existe o outro lado do sexo, o que lhe é dado pela consciência do acto, pela imaginação à deriva, pelo prazer que se explora para lá do pragmatismo da procriação. É a literatura que liberta o espírito, que ilumina a sensibilidade, que desperta a sensualidade, o prazer do jogo erótico. Por isso Luo diz: “Estes livros vão transformar a costureirinha.”
Neste período negro de uma "Revolução Cultural" sem sentido, onde os livros são proibidos e os casamentos ilegais antes dos 25 anos, Ma e Lou vão descobrir clandestinamente, com a intensidade da sua juventude, uma paixão pela literatura e pelo amor proibido... Algo que relembra a espaços, um rural “Jules et Jim” (de François Truffaut), ambientado na China. Quando a costureirinha estende as mãos aos dois amigos, todos deitados na relva, olhando o céu, num momento de tréguas e paz, é o amor que circula entre todos, um mais impulsivo e viril, que conquista a costureirinha, um mais passivo e contemplativo, ela vistosa (é a única mulher que veste vermelho na aldeia) e provocadora (é ela que toma a iniciativa de roubar a mala, essa maçã proibida de um Éden perdido nas montanhas). De resto, uma referência ao primeiro imperador homossexual da China introduz uma nota que merece ser tida em conta: há obviamente uma atmosfera de homossexualidade latente, que abre o triângulo a outras dimensões. Luo e Ma amam-se por interposta pessoa, ou como um deles diz no final, “cada um amou-a de forma diferente.”
Há muitas diferenças entre o filme e o livro, demonstrando que o adaptador e realizador tiveram a noção precisa de que se tratava de duas formas de narrativa e de duas maneiras de dialogar, comunicar com o público. O romance começa de forma súbita com a chegada dos dois jovens à aldeia e com a cena do violino, o que desde logo define um tom, e um estilo. O filme é mais explicativo no seu arranque. Há muitas cenas no livro que não são transportas para o cinema, sendo o inverso igualmente verdade: o filme desenvolve episódios que não existem no romance.
“Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise” serve-se magnificamente da paisagem e dos cenários naturais da China para criar um clima poético e humano de certa intensidade emotiva, utiliza a força da juventude dos seus personagens centrais como trampolim para chegar facilmente ao publico, e joga com a duplicidade de duas culturas que lhe estão na base, a chinesa e a francesa, para recriar uma curiosa sensação de aculturação: o melhor da secular China com a modernidade da cultura francesa. A costureirinha inventa um “soutien” para realçar as formas do peito, numa altura que na China as mulheres eram obrigadas a apagar a sua feminilidade, abafando os seios. Esse foi o principio de uma contaminação cultural que a leva a partir para a cidade com a justificação “balzaquiana” de que a beleza feminina é um bem inestimável.”
Coloca ainda uma outra interessante duplicidade: sendo um filme retirado de um romance, é ele mesmo um filme que joga com a literatura e o cinema como veículos de cultura e de crescimento comportamental, ao esmo tempo que se denunciam aspectos de miscigenação narrativa. São os romances de Balzac e outros, sobretudo franceses, que fazem crescer a costureirinha (e os próprios dois jovens e todo o público da aldeia que ouve esses romances serem contados como revolucionários filmes da Coreia do Norte!), e é ainda através de filmes, contados como se de romances se tratasse, que os aldeões se abastessem de imaginação e emoção. São os filmes contados como romances e os romances transpostos para filmes, em longas noites de vigília, que sustentam um povo em carência de um maravilhoso que o faça suportar a aspereza da realidade concreta do dia a dia.
Digamos que sem ser um romance excepcional e um filme invulgar ambos enunciam, com humor e ternura, um período de densas trevas, onde para sobreviver foi necessário um heróico sentido de resistência e também de ironia e distanciamento. Infelizmente o final do filme não está à altura do resto da obra, caindo numa banal vulgaridade que, de certa maneira, restringe o alcance do todo.
3. AS FILHAS DO BOTÂNICO
“Les Filles du Botaniste” é o filme seguinte de Dai Sijie, que também estreou em Portugal.
Estamos na década de 80, do século passado, mas o cenário e as personagens parecem evoluir numa Idade Média perigosamente real. Min, órfã desde os três anos, quando um tremor de terra lhe mata os pais, vive durante anos num orfanato. Um dia sai dali para ser estagiária de um célebre professor botânico, que mora desterrado do mundo, com An, uma abnegada filha que cuida do jardim, das plantas e sementes, e do pai. O botânico é homem austero, seco, rígido na pontualidade e na disciplina, amante das suas plantas, mas pouco dado a grandes emoções com os seus semelhantes. A estagiária traz-lhe, sem disso se aperceber, o melhor presente possível, um pássaro que não se cansa de repetir, sem ironia, “Viva o Presidente Mão!” Alias, ironia é algo que não há por aqueles lados. Nem ironia, nem sentimentos. Uma órfã de facto e uma órfã por circunstância encontram-se, acham-se atraentes (o que não é difícil, são-no mesmo) e acabam a esfregar as costas uma à outra, prosseguindo depois noutras intimidades que as deixam à beira do êxtase. Ou mesmo em plena erupção do êxtase. Compreende-se. Mas há pelo meio umas derivações que estragam o romance: Mr. Chen, o botânico, também tem um filho no exército, de nome Dan, que um dia regressa do Tibete (outra piscadela de olho) e se descobre igualmente muito agradado pela beleza de Min. Obviamente, Mr. Chen, que quer o melhor para os filhos, desde que dentro da normalidade, quer Min para Dan, e o casamento realiza-se, perante a infelicidade do elenco feminino. Em viagem de núpcias, Min queria a companhia de An, mas Dan não quer e fica furioso quando, nessa noite, descobre que Min já não é virgem. Conversa daqui, bofetada dalém, pendura Min pelos braços do tecto e regressa ao Tibete (supõe-se, onde todos são virgens!). Neste entretém, Min regressa a An, a coisa compõem-se (compõe-se até muito bem, devo dizer!), até ao dia em que Mr. Chen deixa de ter patas de pato para comer, e o jornal para ler, porque a filha anda completamente na lua. E assim, uma noite, ao procurar um medicamento para o coração, acaba por ir ter a um ataque de coração fatal, quando descobre Min e An a lavar as costas uma da outra, por entre vapores que não disfarçavam o acto. Mas Mr. Chen, antes de morrer, ainda tem tempo de acusar as amantes do crime e enviá-las para a morte, através de um “justo e sereno julgamento” das autoridades maoistas da época, que não toleravam esses amores “anti-naturais”.
Pois que a homossexualidade não era tolerada na China e era punida com a pena de morte, eis algo que é, no mínimo, interessante saber. Este caso poderia ser paradigmático, se o realizador não fosse neste filme tão retórico (o tremor de terra, o orfanato, o pai autoritário e prepotente, as raízes de Ginsen tão fálicas, as plantas carnívoras tão sexy, o militar bruto como as portas, o Tibete como referência de ocupação, etc. etc.). Dai Sijie tem medo que o espectador não perceba tudo e vai distribuindo pistas. Depois, transforma este jardim das delícias num cenário das mil e uma noites que chateia de tão rebuscado e decorativosinho. As meninas lambuzam-se ao som de uma musiquinha piegas que nunca mais acaba. Os rodriguinhos sucedem-se. O filme termina por se afundar com eles. Se o tema não fosse sério, quase apetecia gritar: “Viva o presidente Mao!” Entediante, é o termo.
BALZAC E A PRINCESA CHINESA
Titulo original: “Xiao cai feng” ou “Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise” ou “Balzac and the Little Chinese Seamstress”
Realização: Sijie Dai (França, China, 2002); Argumento: Sijie Dai, Nadine Perront; Música: Pujian Wang; Fotografia (cor): Jean-Marie Dreujou; Montagem: Luc Barnier, Julia Gregory; Direcção de produção: Didier Hoarau; Design de produção: Juiping Cão; Guarda-roupa: Huamiao Tong; Assistentes de realização: Chunlin Zhao; Som: Nicolas Naegelen, Daniel Sobrino, Lala Wu; Efeitos visuais: Stephane Bidault, Pierre Blain, Christophe Chanvin;Produção: Lise Fayolle, Bernard Lorain, Pujian Wang; Companhias de produção: Les Films de la Suane, TF1 Films Productions.
Intérpretes: Xun Zhou (costureirinha), Kun Chen (Luo), Ye Liu (Ma), Shuangbao Wang (chefe da aldeia), Zhijun Cong (velho costureiro), Hong Wei Wang (Quatro Olhos), Xiong Xiao, Zuohui Tang, Wei Chen, Tianlu Chen, Qing-yun Fan, etc.
Duração: 110 min; Distribuição em Portugal: Vitória Filmes, Prisvideo (DVD); Classificação: M/ 12 anos.
AS FILHAS DO BOTÂNICO
Titulo original: “Les Filles du Botaniste” ou “The Chinese Bothanist's Daughters”
Realização: Sijie Dai (França, Canadá, 2006); Argumento: Sijie Dai, Nadine Perront; Música: Eric Levi; Fotografia (cor): Guy Dufaux; Montagem: Dominique Fortin; Direcção de produão: Didier Hoarau; Assistentes de realização: Robin Sykes; Som: Adrien Arnaud, Daniel Sobrino; Produção: Lise Fayolle, Roger Frappier, Maurice Illouz, Mario Sotela, Luc Vandal, Luc Besson, Pierre-Ange Le Pogam.
Intérpretes: Mylène Jampanoï (Min Li), Xiao Ran Li (Cheng Na), Ling Dong Fu (Mr. Chen), Wei-chang Wang (Dan), Chu Hung, Tuo Jilin, Yang Jun, Lê Tung Linh, Nhu Quynh Nguyen, Nguyen Van Quang, etc.
Duração: 105 min; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Classificação: M/ 16 anos.

segunda-feira, maio 12, 2008

CINEMA: CORAÇÕES

CORAÇÕES, de Alain Resnais
A peça de Alan Ayckbourg, um dos dramaturgos mais encenados em Inglaterra, chama-se “Medos Privados em Lugares Públicos” (“Private fears in public spaces”) e foi o original escolhido pelo francês Alain Resnais (84 anos de idade) para adaptar ao cinema. Não é a primeira vez que ambos se encontram. Em 1993, Resnais levara ao ecran uma outra obra de Alan Ayckbourn ("Intimate Exchanges"), que traduzira por “Smoking/No Smoking” (1993). O resultado é, em ambas os casos, muito interessante, mas fiquemo-nos por agora nestes “Corações” que muita gente olha como destroços de uma sociedade onde impera a solidão e a dificuldade de comunicação (o que é uma realidade, até de um ponto de vista físico: as relações entre as pessoas são efectivamente dificultadas pela arquitectura, a decoração, o design modernos: divisões de casas cortadas ao meio por paredes e tapumes, salas de trabalho com divisórias absurdas, balcões de bares, etc.), mas que, no seu tom geral não desemboca numa visão pessimista da condição humana, mas muito pelo contrário, numa muito saudável busca de felicidade e amor. Ou seja: realmente a vida está organizada de uma forma algo asfixiante, mas as pessoas não se entregam, não desistem, não fenecem sem luta, sem procura, sem por vezes uma discreta exigência de felicidade que lhes trás momentos de alguma plenitude. Que é preciso aproveitar. Prova de optimismo, num cineasta que foi dos precursores da “Nouvelle vague”, que nos deu algumas das obras-primas definitivas do Cinema Francês e que continua a olhar-nos (e a olhar-se) de forma critica mas não totalmente desesperada. Antes com uma ironia de percurso desarmante (veja-se o caso desse “anjo libertador” que durante o dia trabalha numa agência de imobiliário e, à noite, acalenta de forma não muito ortodoxa, por entre rezas e cabedais negros, a solidão de desgraçados à beira da morte).
Três homens, três mulheres perdidos (ou achados?) em Paris: Thierry (André Dussolier) é um agente imobiliário que tenta encontrar um apartamento para Dan (Lambert Wilson) e Nicole (Laura Morante), um casal de problemáticos clientes. Na agência onde trabalha tem como colega Charlotte (Sabine Azéma), doce companheira de horas mortas que leva o seu espírito de missão até ao ponto de emprestar semanalmente ao seu vizinho de secretária cassetes gravadas de piedosas emissões de um programa de TV, “Estas canções que mudaram a minha vida”, entrevistas e variedades de teor religioso que ela não dispensa, e que deixa entrever, após o final da gravação, cenas de sado masoquismo altamente perturbadoras. Por seu turno, Thierry, vive com uma irmã mais nova, Gaelle (Isabelle Carré), mulher sedenta de amor, que procura concretizar através de encontros fortuitos em bares, onde espera pelo príncipe encantado com uma flor na lapela. No bar de um hotel de Bercy, Nicole (Pierre Arditi), barman e confidente, ouve os sucessivos fracassos, profissionais e sentimentais, de Dan, recentemente afastado da carreira militar e separado de Nicole. Depois de deixar o trabalho no bar, Lionel regressa a casa, onde cuida do pai, Artur, um velho acamado e irascível. É aí que encontra Charlotte, em serviço de apoio a idosos. É Charlotte quem funciona como elemento de ligação neste puzzle de “corações, solitários caçadores” que a neve caindo sobre Paris irmana numa mesma imagem. Diga-se que esse efeito de montagem é um dos trunfos desta obra discreta, amável, elegante, quase secreta, sussurrada, que se aproxima muito de uma miniatura de extrema sensibilidade e pudor. Alias na linha de outras obras de Alain Resnais, como “É Sempre a mesma Canção”, obra que mantém com “Corações” curiosas afinidades temáticas e de construção.
Excelentes actores franceses (e não só!) que infelizmente tão mal conhecemos (pois raros são os filmes franceses – e europeus - que se estreiam em Portugal!) ajudam a transformar “Corações” numa festa de emoções que sabe bem frequentar. Será curioso revelar um pormenor da direcção de actores segundo Resnais. Para ele, os actores precisam de conhecer toda a vida anterior (e futura) do seu personagem. Assim, antes do início da rodagem, cada actor recebeu, juntamente com o guião, um envelope lacrado, com um selo de “confidencial”!, contendo a biografia do respectivo personagem, descrevendo o que pudesse ter sido a sua vida anterior, que não é revelada no filme, mas poderá ser adivinhada. Cada figura cria assim uma densidade de comportamento inesperada, muito embora pouco se saiba realmente de cada uma delas.

CORAÇÕES
Título original: Coeurs
Realização: Alain Resnais (França, Itália, 2006); Argumento: Jean-Michel Ribes, segundo peça teatral de Alan Ayckbourn ("Private Fears in Public Places"); Música: Mark Snow; Fotografia (cor): Eric Gautier; Montagem: Hervé de Luze; Design de produção: Jacques Saulnier, Solange Zeitoun; Direcção artística: Jean-Michel Ducourty; Guarda-roupa: Jackie Budin; Maquilhagem: Sylvie Aid, José-Luis Casas, Patrick Inzerillo, Delphine Jaffart; Direcção de produção: Hervé Duhamel, Frédéric Grunenwald, Béatrice Mauduit; Assistentes de realização: Charlotte Buisson-Tissot, Dorothée Chesnot, Laurent Herbiet, Christophe Jeauffroy, Iris Wong; Departamento de arte: Jacky Hardouin, Philippe Margottin, Marc Pinquier; Som: Jean-Marie Blondel, Thomas Desjonquères; Efeitos especiais: Géraldine Banet, Pascale Butkovic, Karine Dubois, Benoît Rousselin, Stéphane Ruet; Efeitos visuais: Thibault Deloof, Stéphane Keller, Frederic Moreau, Frederic Moreau, Fred Roz; Produção: Valerio De Paolis, Bruno Pésery, Julie Salvador, Vitaliy Versace; Companhias de produção: Soudaine Compagnie, Studio Canal, France 2 Cinéma, Société Française de Production (SFP), BIM, Banque Populaire Images 6, Canal+, TPS Star, Centre National de la Cinématographie (CNC), Eurimages, Région Ile-de-France.
Intérpretes: Sabine Azéma (Charlotte), Isabelle Carré (Gaëlle), Laura Morante (Nicole), Pierre Arditi (Lionel), André Dussollier (Thierry), Lambert Wilson (Dan), Claude Rich (Arthur, voz); Françoise Gillard (entrevistadora de TV), Anne Kessler, Roger Mollien, Florence Muller, Michel Vuillermoz, etc.
Duração: 120 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/12 anos; Prémios: Melhor Realizador, Alain Resnais, e Melhor Actriz, Laura Morante, no Festival de Veneza, 2006.

terça-feira, maio 06, 2008

RTP 1: SÁBADO, 10 DE MAIO, 23,15 horas

HUMBERTO DELGADO: OBVIAMENTE, DEMITO-O!
Documentários
1958, A saga de Humberto Delgado...


No dia 10 de Maio de 2008 comemoram-se 50 anos sobre o início da Campanha Eleitoral para as eleições de 1958, protagonizada pelos candidato da oposição, General Humberto Delgado, e candidato da União Nacional, Almirante Américo Thomaz.
Evocando e reavivando não só os tempos do Estado Novo, e da ditadura de Oliveira Salazar, numa análise crítica actual e despreconceituosa, como sobretudo a personalidade vulcânica e vibrante do “General sem Medo”, como ficou conhecido na História, este documentário recorda um período particularmente quente e significativo da luta política em Portugal, que terá marcado toda a História da segunda metade do séc. XX em Portugal.
O documentário procura tornar claro, através de depoimentos e imagens de arquivo, os antecedentes das eleições, o “Estado Novo” durante os anos 30 e 40, a degradação da situação político-social de Portugal em meados dos anos 50, a génese da candidatura do General Humberto Delgado, com particular ênfase na personalidade do candidato. Serrão recuperadas imagens da Campanha que atravessou o País de Norte a Sul, do continente às colónias, documentando os aspectos mais importantes, Lisboa (Chave de Ouro), Porto (Campanhã), Lisboa (Santa Apolónia), Braga, etc. O pacto de Almada, com Arlindo Vicente, o dia das eleições, os resultados e finalmente a burla eleitoral.
Uma atenção especial será ainda conferida às consequências da campanha, as posteriores crises estudantis, operárias, militares, a morte de Humberto Delgado e o caminhar, de crise em crise, até ao 25 de Abril de 1974.
Entre dezenas de depoimentos inéditos, recolhidos expressamente para este trabalho, contam-se os de Iva Delgado, filha do General, Humberto Rosa, neto, Marcelo Rebello de Sousa, Mário Soares, Ramalho Eanes, Adriano Moreira, Fernando Dacosta, Fernando Rosas, Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Otelo Saraiva de Carvalho, António Taborda, Luís Farinha, Maria Barroso, Jaime Nogueira Pinto, Manuel Cavaco, Varela Gomes, Manuel Serra, João Mário Mascarenhas, Joaquim Vieira, Irene Pimentel, etc.


Um documentário de Lauro António
Director de fotografia Carlos Cunha e Frederico Corado assistente de realização.


RTP 1: Sábado 10 de Maio - 23:15
RTP Internacional: Domingo 18 de Maio - 21:30 (hora de Lisboa)

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