terça-feira, fevereiro 27, 2007

1º ENCONTRO NACIONAL DE BLOGUES



"Entre Inimigos" e "Match Point"
foram eleitos os melhores filmes de 2006
para os blogues portugueses de cinema.


1º ENCONTRO NACIONAL
DE BLOGUES PORTUGUESES
DE CINEMA E DE CULTURA

Aviso aos participantes:
necessita-se confirmação
de presença no Encontro
a realizar entre 16 e 18 de Março.
Por favor, confirmar
com a maior brevidade
para este blogue.

Durante o Encontro,
work shop sobre
"Vanguardas nos anos 20 e 30"

Entrega de Diplomas:
cinema:
2 melhores blogues de 2006
(ex-eaquo)
4 menções honrosas
cultura:
2 melhores blogues de 2006
(ex-eaquo)
5 menções honrosas

TEATRO MODERNO DE LISBOA








TEATRO MODERNO DE LISBOA

EM EXPOSIÇÃO E EM VÍDEO

Quem tem menos de 50 anos terá muitas vantagens na vida (oh, se não têm!), mas algumas desvantagens também. Nunca viu, por exemplo, nada da Companhia do Teatro Moderno de Lisboa, que, entre 1961 e 1965, actuou no Cinema Império, em sessões às 18 horas, com salas a transbordar (mais de 800 lugares, sabem o que é, em teatro?), e provocando um entusiasmo enorme na malta nova, no público universitário, mas igualmente em todo o espectador ávido de cultura, de novidades, de algo que lhe recordasse a liberdade e a resistência ao sistema. Desde “O Tinteiro” até ao “Render dos Heróis” foi uma actividade magnífica, desenvolvida por uma sociedade de actores que pretendia acima de tudo rumar contra o marasmo, abrir horizontes, rasgar janelas. Foi o que fez. Todos nós lhe devemos muito. Sobretudo a descoberta do amor pelo teatro, que então ali ia nascendo (ao lado de outras companhias que é justo igualmente não esquecer).
Cármen Dolores, Rogério Paulo, Ruy de Carvalho, Armando Caldas, Fernando Gusmão, Clara Joana, Fernanda Alves, Rui Mendes, Armando Cortez, Morais e Castro, entre tantos outros, povoaram de sonhos as nossas vidas por essa altura.
São agora recordados no Museu do Teatro (Estrada do Lumiar, 10, Lisboa), numa Exposição evocativa do Teatro Moderno de Lisboa, que será acompanhada de um vídeo (realizado pelo cá da casa Frederico Corado), e de um livro, a ser lançado brevemente, da autoria de Tito Lívio. A exposição e o vídeo são abertos ao público hoje ás 18,00 horas. Não percam, que vale a pena. O Teatro Moderno de Lisboa merece isto e muito mais.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

CINEMA - As Bandeiras de Nossos Pais e Cartas de Iwo Jima

AS BANDEIRAS DE NOSSOS PAIS

CARTAS DE IWO JIMA

(...) Em cinema, quando se filma uma conversa, focando primeiro um dos intervenientes, depois, do ângulo inverso, o outro interveniente, chama-se a este processo “Campo/Contra-campo.” É esse o princípio de Clint Eastwood. Estabelecer um campo / contra-campo histórico. Num filme vê-se a perspectiva norte-americana, no outro, a perspectiva nipónica. Filmados ambos ao mesmo tempo, montados em separado, nada de um existe no outro, embora o cenário seja o mesmo. Mas os actores são diferentes, os cenários quase sempre diferentes. Por vezes o campo / contra-campo é absoluto. Num filme vê-se um soldado a direccionar o lança-chamas para o interior de uma gruta, no outro assiste-se à entrada da labareda que chacina os soldados. Num filme vê-se um soldado americano a ser torturado por soldados japoneses, e não se percebe como ele é apanhado no interior de uma gruta, no outro descobre-se a maneira como os nipónicos o capturam. Em “As Bandeiras” os americanos entram num dos canais cavados na rocha e descobrem corpos esfrangalhados de militares, em “Cartas” assiste-se ao suicídio colectivo com granadas. E poderíamos continuar a enumerar cenas e planos que se integram plenamente nesta dinâmica de montagem de campo / contra-campo. (...)
excerto do artigo "Iwo Jima: Campo / Contra-Campo" a aparecer na revista "História", de Março de 2007.

domingo, fevereiro 25, 2007

Fotografia: concurso

O Valter Hugo Mãe anuncia no seu blogue CASA DE OSSO
o primeiro concurso imperdível casadeosso
e explica:
eis o primeiro dia do primeiro concurso imperdível do casadeosso
quem pode concorrer:
podem concorrer todas as pessoas maiores e menores de idade, portuguesas e estrangeiras, brancas ou pretas ou às risquinhas, com marido ou mulher, dinheiro ou nada disso, bonitas ou feias ou mais ou menos.
como:
serão aceites a concurso fotografias originais. isso mesmo. quero receber as mais bonitas, estranhas, inusitadas, surpreendentes, certinhas ou todas erradas, fotografias que possam tirar.
publicarei todas as fotografias enviadas (contando não receber um milhão) e escolherei impiedosamente a vencedora.
atenção, uma fotografia por pessoa.
haverá, no entanto, uma atenção especial dada às fotografias tiradas com telemóvel que resultará no seguinte: se a fotografia vencedora em absoluto for tirada por telemóvel, a questão está resolvida, se não o for, haverá uma segunda vencedora, escolhida exclusivamente entre as «telefotos», que receberá um prémio surpresa arrebatador e lindo. podem crer. isto para acabar de vez com as polémicas geradas por quem tem ou não tem um telefone com câmara.
prazo:
recebo imagens até ao dia 15 de março. a 16 mostro a vencedora.
prémio (sim, porque isto está tudo muito bem pensado):
um exemplar do meu último livro «pornografia erudita» assinado e desenhado por mim. farei um esforço para que se torne num objecto único, preenchido por pequenos desenhos que aludam ao universo dos poemas ali inclusos; um exemplar de cada um destes livros da minha autoria: «a cobrição das filhas», «três minutos antes de a maré encher», «útero»; um exemplar do esgotado e já impossível de adquirir livro «exercício do bom amor» que contém poemas meus e ilustrações do esgar acelerado - a edição foi de apenas cem exemplares; um cd pirata com as músicas que, neste início de 2007, são as que uso para sonorizar a minha vida.
agora, é convosco. fico curioso. ganhem coragem e digam coisas. este é o email:
nemporisso@portugalmail.pt

Pelo que já vi por lá publicado, não há muitas hipóteses de brilhar (já há por lá muitos brilhantes). Mas é sempre bom concorrer.
Leitores meus, com pretensões a fotógrafos: não percam. Visitem o site e concorram. Eu vou pensar no assunto. Vontade não falta.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

HOJE VAVA.DIANDO COM RAUL SOLNADO


RAUL SOLNADO
HOJE JANTAR NO VÁVÁ



Ser actor! Comunicar. Ser humorista! Criticar. Ser pessoa! Amar o próximo, mesmo quando dele se discorda, mesmo quando se critica. Raul Solnado é, possivelmente, o maior actor cómico português vivo. Sublinho o português. É ele quem melhor encarna, ainda hoje, nas suas composições, o que de melhor (e de pior) existe no português típico. O melhor, essa ternura do pobre diabo do desenrascanso crónico, esse amoroso cultivo da banalidade e da vitimização, esse olhar cândido do “arrebenta” que solta a imaginação, quando não pode soltar mais nada. O pior? O mesmo, sem a ternura, sem o amoroso, sem o olhar cândido.
Solnado descobriu o Malmequer lusitano. Cantou-o, imortalizou-o. Todos somos Malmequeres do seu canteiro. Ele é o Malmequer deste jardim à beira mar plantado. Quando se quiser saber o que somos, o que fomos, para onde vamos, basta colocar o disco a girar e recordar Solnado nas suas/nossas representações. Para o melhor e o pior somos aquelas figuras. Para o melhor, fica-nos a certeza de termos sido interpretados pelo génio de um grande actor, e, sobretudo, pela generosidade de um grande homem.



SOBRE TERTÚLIAS

No seu livro “Máscaras de Salazar”, Fernando Dacosta, recordando a vida dos cafés lisboetas durante a época do Estado Novo, conta:
“A ronda dos cafés tornara-se-nos um circuito de aconchego, de revitalização. Montecarlo, Monumental, Grã-fina, Vá-Vá, Mourisca, Smart, Paraíso, Pilar, Coimbra, Paulistana, Alsaciana, Cister, Tentadora, Veneza, Paladium, Nicola, Suíça, Garrett, Brasileira, eram rituais tertúlicos de encontros, de conhecimentos, de convívios, de afirmações, de oposições – prolongados, madrugada fora, pelo Estábulo, pelo Rei Mar, pelo Z, pelo Snob, pelo Botequim. “ (pág. 194).
Tertúlias era isso: um local de encontro onde se cruzavam caminhos e desejos. O Vá-Vá foi um deles, durante muitos anos, e, apesar das transformações, e muito por causa dos seus fiéis clientes, ainda continua a ser uma casa de aconchegos, de afectos, de amores e desamores, de amizades que se prolongam. (...)
Continua Aqui

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

BRASIL, CARNAVAL, 2007


CARNAVAL 2007


O Carnaval não me diz muito, não gosto de me divertir em dias certos, mas no Brasil é uma festa. Deste ano ficam aqui apenas algumas imagem da imaginação e da criatividade brasileiras, com referências políticas muito directas a Mandela, Che e Einstein. Um delírio de cor e de luz. E de algo mais.


FAMAFEST 2007: CONCURSO

FILMES A CONCURSO (por ordem alfabética):

BORBOLETAS ESTÃO APENAS UM PASSO ATRÁS, AS, de Mohammad Ibraihim Moaiery (Irão, 2005) 80
BRECHT – A ARTE DE VIVER, de Joachim Lang (Alemanha, 2006) 60
CAIXA DE BRINQUEDOS DE VITRUVIUS, A, de Dennis Michael Iannuzzi (EUA, 2005) 7
CAMINHO DE “LA RECHERCHE”, O, de Giorgio Treves (Itália, 2006) 55
CARLOS OSWALD, O POETA DA LUZ, de Regis Faria (Brasil, 2006) 98
CONDUTOR DE PALAVRAS, O, de Jean-Paul Thaens (França, 2006) 83
CONOCLASTA, de Mariko Saga (Polónia, 2006), 17
CONTOS, de Mehdi Jafari (Irão, 2003) 60
DEBAIXO DO SOL, de Baran Von Odar (Alemanha, 2006) 60
DONO DA PENA, O, de Cláudia Nunes (Brasil, 2005) 10
EHNI, de Jean-Luc Bouvret (França, 2006) 55
ELES PRESERVARAM TUDO O QUE LHES ERA QUERIDO, de Galina Evtushenko (Rússia, 2006) 52
ENSAIO SOBRE O TEATRO, de Rui Simões (Portugal, 2006) 90
ENTRE AFEIÇÕES E AFECTOS, de Rosa Berardo (Brasil, 2006) 32
ENTRE O PARAISO E BRASÍLIA, de Alvarina Sousa Silva (Brasil, 2006) 70
ESCRITOR PRODIGIOSO, O, de Joana Pontes (Portugal, 2006) 62
FECHADO, de Albert Radl (Alemanha, 2006) 3
FEDRA, de Salvo Bitonti (Itália, 2006) 30
FELTRINELLI, de Alessandro Rosetto (Itália, Suiça, Alemanha, 2006) 81
FESTIVAL, O, de Dhananjoy Mandal (Índia, 2005) 75
GESTURE DOWN (NÂO CANTO), de Cedar Sherbert (EUA, México, 2006) 10
GOMBRO EM BERLIM, de Wieslaw Saniewski (Polónia, 2006) 60
HELEN A/B + DAS MEER, de Sabine Marte (Áustria, 2006) 12
HOMEM DA LUA, O, de Elissalde Serge (França, 2006) 18
IDEAIS, OS, de Sven Jakob (Alemanha, 2006) 7
JARDIM QUE SE AFASTOU A FLUTUAR, O, de Ruth Walk (Israel, 2006) 57
LADRÕES DE NÉSPERAS, de Fernando Lopes Amaral (Portugal, 2006) 12
LOUCO, O CORAÇÃO E O OLHO, O, de Anney Juna (Alemanha, 2006) 8
MARINHEIROS E MÚSICOS, de Steven Lippman (EUA, 2006) 24
MAURITÂNIA: ANTIGAS BIBLIOTECAS NO DESERTO, de Rossetta Piccinno (Itália, 2006) 55
MEU PAI, HUMBERTO DELGADO, de Francisco Manso (Portugal, 2006) 52
MILKAN, de Mino Kiani (Irão, 2005) 30
MUITA GENTE, POUCO TEMPO, de Andrzej Baranski (Polónia, 2006) 109
OUTRO ROSINOL, O, de Monti (Espanha, 2006) 53
PELE, de Fernando Vendrel (Portugal, 2006) 102
PENUMBRA, de Gwynne McElueen (Irlanda, 2006) 58
PEQUENOS TOMENTOS DA VIDA, de Fabiano Sousa e Gilson Vargas (Brasil, 2006) 20
PORTO ALEGRE DE QUINTANA, de Gustavo Spolidoro (Brasil, 2006) 26
PORTUGAL DE MIGUEL ESTEVES CARDOSO, O, de Fernando Ávila (Portugal, 2006) 57
RADOSC PISANIA, A ALEGRIA DE ESCREVER, de Antoni Krauze (Polónia, 2006) 53
RILKE E RODIN, UM REENCONTRO, de Bernard Malaterre (França, 2006) 55
ROXANA, de Moze Mossanen (Canadá, 2006) 52
SANGUE NEGRO, O, de Peter Kassovitz (França, 2006) 103
SÓ QUERIA VIVER, de Mimmo Calopresti (Itália, Suiça, 2006) 75
SONHO DO LOBO, O, de Maria-Anna Rimpfl (Alemanha, 2006) 15
TRÊS PEÇAS, de Hubert Siedecki (Áustria, 2006) 10
VIAGEM NO SEU PRÓPRIO QUARTO, de Bernard Braunstein e David Gross (Áustria, 2004) 57



47 OBRAS A CONCURSO

19 Países concorrentes:

Alemanha
Áustria
Brasil
Canadá
Colômbia
Eslováquia
Espanha
EUA
França
Índia
Irão
Irlanda
Israel
Itália
México
Polónia
Portugal
Rússia
Suiça

terça-feira, fevereiro 20, 2007

IX FAMAFEST

1º ENCONTRO NACIONAL DE BLOGUES DE CINEMA
ÚLTIMAS!

Durante o último festival de Cinema e Ambiente de Seia, o Cine Eco, que terminou no fim de Outubro, lancei a ideia de um Encontro Nacional de Blogues de Cinema (e mais genericamente de Cultura, que tenham uma forte componente Cinematográfica). Estavam presentes vários autores de Blogues, e a iniciativa pareceu despertar muito interessante, tendo em conta vários aspectos:
- A crescente importância dos Blogues na comunicação social contemporânea;
- A decisiva influência que os blogues podem ter na criação de uma verdadeira cultura cinematográfica – os blogues são locais privilegiados de criação crítica, de debate de ideias, com a característica de o serem de forma imediata e sem qualquer tipo de edição prévia, de censura, de manipulação;
- Os blogues podem, e devem, ter uma função informativa e divulgadora, com uma capacidade de interferência no real absolutamente única – uma notícia pode atingir milhares de leitores em minutos;

Posto isto, e tudo o mais que se poderá debater num Encontro Nacional, aberto a todos quantos queiram aparecer, começámos a idealizar um tempo e um espaço, e tudo se conjugou para que o I Encontro Nacional de Blogues de Cinema viesse a ter lugar em Famalicão, durante IX Famafest, entre 16 e 24 de Março (o Encontro ocupará sexta, sábado e domingo, 16, 17 e 18). Os participantes terão direito a um livre transito para todo o festival, se assim pretenderem, e a organização do festival providenciou, junto de hotéis, residenciais e restaurantes para obter “preços módicos” para os inscritos. Para lá das sessões de trabalho e debate, o festival organizou sessões especiais com obras particularmente dedicadas ao evento.

A reunião terá apenas um propósito: debater ideias e criar condições de uma maior eficácia de comunicação. Não será aceite qualquer tipo de condicionante, quer tenha a ver com sexo, idade, raça, credo político, religioso, estético, cinematográfico. Não será tolerada qualquer tipo de tentativa de manipulação dirigista. Uma voz, um blogue, uma possibilidade de expor as suas ideias. Não será tolerada qualquer tentativa de coarctar a liberdade individual, a não ser aquela que reponha a liberdade dos restantes, se ela estiver ameaçada. Nesta perspectiva, poderá sair deste primeiro encontro uma Associação Portuguesa de Blogues de Cinema (e afins), cuja regra número um terá de ser o escrupuloso respeito pela liberdade de pensar e de se expressar de cada associado.
Sugerimos na altura através da blogosfera:
Caros amigos, bloguistas de cinema (e afins): comecem a pensar na ideia e dar sugestões. Por exemplo: sugestões de temas a debater nos quatro painéis que se anunciam.
Bloguistas de cinema: divulguem esta iniciativa entre amigos e outros bloguistas. Passem palavra e link este post para possível correspondência. Ao trabalho que Março já está ali, ao dobrar da esquina.

Pela reacção de muitos blogues que responderam à chamada, quer em comentários no meu blogue, “Lauro António Apresenta”, quer em notícias publicadas nos seus próprios blogues, ampliando a ressonância desta ideia, quer por outros que se manifestaram por email, parece que o 1º Encontro Nacional de Blogues de Cinema, encontrou boa recepção e aderência.

UM “WORK SHOP”:
VANGUARDAS

Para esses três dias, e para lá da programação própria do Festival, pensou-se então organizar um “work shop”, aberto a todo o público, mas dirigido preferencialmente aos bloquistas presentes. Sendo jovens a grande maioria destes, com dificuldade de acesso a obras clássicas, sobretudo do período mudo, e dada a importância desta época, propuseram-se três temas, todos eles profusamente ilustrados por obras a serem projectadas:

1º DAVID W. GRIFFITH E O NASCIMENTO DA LINGUAGEM AUDIOVISUAL.

2º O EXPRESSIONISMO, HISTÓRIA E PERMANÊNCIA.

3º AS VANGUARDAS NAS DÉCADAS DE 20 A 40.

Aguardámos a votação de bloguistas. Podiam fazê-la, um por autor de blogue (blogues colectivos podem votar os vários autores). Atendendo a várias sugestões, e como já antes havia sido sugerido, o Encontro será aberto a blogues de cultura, com forte componente cinematográfica, mas também a bloguistas de outras áreas da cultura que queiram ter um depoimento sobre o cinema e a blogosfera.

Recolhidos os votos, o resultado final foi o seguinte:

22 votos
AS VANGUARDAS NAS DÉCADAS DE 20 A 40.
20 votos:
EXPRESSIONISMO, HISTÓRIA E PERMANÊNCIA
4 votos:
DAVID W. GRIFFITH E O NASCIMENTO DA LINGUAGEM AUDIOVISUAL.

Durante o fim-de-semana de 16 a 18 de Março, iremos assim dedicar três sessões do Famafest a “As Vanguardas Cinematográficas nas Décadas de 20 a 40”, facultando dados históricos e indicações estéticas e projectando um importante conjunto de obras de autores tão decisivos quanto o foram Buñuel, Ray, Duchamp, Leger, Richter, Florey, Eisenstein, Dulac, Ivens, Strand, Welles, etc.

MELHOR BLOGUE

PORTUGUÊS DE CINEMA

Ainda no quadro do I Encontro Nacional de Blogues de Cinema, decidiu-se eleger os Melhores Blogues Portugueses de Cinema e de Cultura.
Os blogues mais votados serão premiados durante o Famafest, 2007
Para votar, nada mais fácil:

Regras:
1. Cada autor de blogue dispõe de dois votos por categoria(dois para cinema, dois para cultura);
2. Cada blogue só pode votar uma vez(deve fazê-lo neste blogue, em comentário);
3. Cada blogue não pode votar em si(ninguém pode votar neste blogue organizador);
4. Votação vai decorrer até final do ano(os resultados serão públicos no início de 2007,
e os blogues premiados receberão o prémio na Sessão de Abertura do 1º Encontro Nacional de Blogues de Cinema (e afins).
5. Só se aceitam votos de blogues existentes à data do início desta votação (por causa das confusões!).
Entretanto, com a ajuda de vários outros blogues, estabeleceu-se uma lista (provisória e incompleta, obviamente) dos blogues portugueses de cinema:

100 th Window
180 minutos
A Bomba
A casa encantada
A Mulher do Aviador
A vida não é um sonho
Afílmico
Amarcord
Anime-Comic
Antestreia
Anti2ra
Artes e Factos
As Aranhas
Axasteoquê?!?
Babugem
Bateman’s critics
Black Spot
Bloco de notas
Brain-mixer
Brain-poster
Burkinacine
Cantinho das Artes
Chroniques de Lisbonne
Cine Addiction
Cine Sphere
Cine Zone
Cine7
Cinearte
Cine-Asia
Cine-Australopitecus
Cineblog
Cinecultura
Cinefilosofia
Cinejornal
Cinejrb
Cinema
Cinema Dungeon
Cinema Existencial
Cinema Notebook
Cinema Panteonesco
Cinema Paraíso
Cinema Xunga
Cinémania
Cinemania
Cinemania77
Cinematecos
Cinemundo
Cinept
Cinerama
CineXplod
Citizen Kane
Claquete
Contracampo
Cool 2 Ra
Devaneios
Duelo ao Sol
DVD
Escrever Cinema
Escrever e Ver Cinema
Espigas ao vento
Estreias Online
Eternal Sunshine
Eu adoro Cinema
Fábrica Lumiére
Fans Harry Potter
Festroiablog.com
Fila do Meio
Film ou Movie
Filmes de culto
Gonn 1000
Grande Ecrã
Grindhouse
Hollywood
House of the blue leaves
Imagens Perdidas
It´s Only Tuesday
Je t´aime moi non plus
Jeu de massacre
Jump Cut
Keyzer Soze's Place
La Saraghina
Let´s look at the Trailer
Lord of the Movies
Lorfat Lines
Lost in translation
Magacine
Manual dos Inquisidores
Matiné
Miguel Galrinho
Mise en Abyme
MovieSpace
Movies Universe
Mulholland Dr.
My Asian Movies
Nakamura´s place
Noite Americana
Not_alone
Núcleo de Programação Cinematográfica
O charme discreto da bloguesia
O que eu vejo daqui
O terceiro homem
O tronco da teia
O vício da Arte
O Zombie
Os espelhos velados
Os filmes k bi
Pasmos Filtrados
Pepsi e Pipocas
Pipoca Rasca
Plano 9
Play it again
Port Moresby
Pouco sobre muito
Realizador Vs Cinema
Reservoir Movies
Rollcamera
Royale with Cheese
Scarymovies
Série B
Sokotai View
SOS Cinema Europa
Spider
Take 2
Take a break
Teia do Cinema
The Big Screen
The Light of Cinema
The Tracker
Thing´s i´ll never say
Trailers Blog
Três Cinéfilos em conflito
Tv-child
Uma semana um filme
Vertigo 451
Viciado em Cinema e TV
Viciado em Cinema e TV (A sequela)
Violência e Paixão
Viver contra o Tempo
Wasted blues
Wildstrawberries
Zona Negra
Zoom


E fomos a votos. Os blogues citados foram:

BLOGUES PORTUGUESES DE CINEMA
Os Melhores de 2006

o Acossado
Ainda não começámos a pensar
Amarcord
As Aranhas
Brain-mixer
Cineásia
Cineblog
De que raio é que ele está a falar?
Estado Civil
Fila do meio
Filmes de Culto
Grindhouse
Hollywood
Imagens Perdidas
Last Picture Show
Mise en Abyme
Mulholand Drive
Obscuridades da 7º Arte
Pasmos Filtrados
Plano 9
Play It Againt
Royale With Cheese
Viver contra o tempo
Wasted Blues
Zona Negra

BLOGUES PORTUGUESES DE CULTURA
Os Melhores de 2006

A a Z
Amor atrevido, Um
Amor e ócio
Arrastão
A Arte da fuga
Aspirina b
Bandida
Big Blog is watching You (Merdinhas)
Blasfémias
Cidadesurpreendente
Contraculturalmente
Da literatura
Divas e Contrabaixos
Erotismo na cidade
Espaço de Crítica Artística
Fadista Valéria Mendez
Foram-se os anéis
Grande Loja do Queijo Limiano
Guilhermina suggia
Hoje há conquilhas
Indústrias Culturais
O Insurgente
Indústrias Culturais
O Intruso
Kontratempos
Lápis Exilis
Luminescências
O Melhor Anjo
Mouco
Miniscente
Miss Pearls
A Origem das Espécies
Passado/Presente
Passengers
Piano
Portugal dos Pequeninos
Raim
Republica e Laicidade
Saudades do futuro
Sem Pénis nem Inveja
A Senhora Sócrates
O Sentido das Palavras
Volto Num Segundo

Na sessão de abertura do I Encontro Nacional de Blogues de Cinema vai ser anunciado qual o Blogue Nacional de Cinema que conquistou, entre os seus pares, o título de “O Melhor Blogue de Cinema de 2006”, e também o de “O Melhor Blogue Português de Cultura.” A cada um será atribuído um Diploma autenticado pelo Famafest. Podemos adiantar que há um ex-eaquo no primeiro lugar dos blogues de cinema (mesmo número de votos para dois blogues) e quatro Menções Honrosas (para quatro blogues com igual número de votos logo a seguir). Quanto a “Blogues Portugueses de Cultura” repete-se o ex-aequo para dois blogues e as Menções Honrosas sobem para cinco.
As votações para blogues de cinema foram, no entanto, em muito maior número que as para blogues de cultura.

“OS MELHORES FILMES ESTREADOS

EM PORTUGAL EM 2006”
1) Atendendo a que vai haver um “Encontro Nacional de Blogues” durante o “Famafest 2007” – IX Festival Internacional de Cinema e Vídeo (Cinema e Literatura), de Famalicão;
2) atendendo a que se estava a proceder à votação do tema de um “Work Shop” para acompanhar o “Encontro”;
3) atendendo a que se estava igualmente a eleger “O Melhor Blogue de Cinema de 2006”;
4) resolveu-se instituir o galardão “Os Melhores Filmes de 2006” para premiar os filmes estreados em Portugal, durante o ano de 2006, e mais votados pelos blogues de cinema (e afins, ou seja: blogues de cultura com presença forte de cinema);
Para tanto, convocaram-se os autores de blogues portugueses a enviarem ao blogue “Lauro António Apresenta” uma lista de “Os 10 Melhores Filmes estreados em Portugal em 2006”.
Cada autor de blogue só podia enviar uma lista de “Os 10 Melhores Filmes estreados em Portugal em 2006”.
A votação estendeu-se até 31 de Janeiro de 2007.
Foi colocada á disposição dos votantes uma lista de filmes estreados em Portugal durante o ano de 2006, constituindo assim uma base de trabalho;
Na contagem final, os 10 títulos que forem mais votados terão direito a um diploma a ser atribuído durante o “Encontro”. O mais votado de todos terá direito a um diploma especial, referente ao “Melhor Filme estreado em Portugal em 2006”.

Os filmes votados foram:

007 - Casino Royale
Amants Réguliers, Les
Babel
A Bittersweet Life
The Black Dahlia
Breakfast On Pluto
Brokeback Mountain
Caché
Capote
Cars
Children of Men
El Cielo Gira
Clerks
Coisa Ruim
Colour Me Kubrick
The Da Vinci Code
Dans Paris
Departed, The: Entre Inimigos
The Descent
The Devil's Rejects
L' Enfant
The Fast and the Furious: Tokyo Drift
Good Night, and Good Luck.
The Hills Have Eyes
A History of Violence
An Inconvenient Truth
Inside Man
Irresistíble
Jarhead
Juventude em Marcha
Kiss Kiss Bang Bang
Lady in the Water
Lisboetas
Little Miss Sunshine
Marie Antoinette
Mary
The Matador
Match Point
Miami Vice
Munich
New World
Nobody knows
Paradise Now
A Prairie Home Companion
The Prestig
Profissão: Repórter
The Proposition
Rapace
La Science des Rêves
Superman Returns
Syriana
A Tale Of Two Sisters
Le Temps Qui Reste
That Thing You Do
Two for the Money
United 93
V for Vendetta
Volver
Walk the Line
Water
World Trade Center

Encerradas as votações, os resultados foram os seguintes:

Os Melhores
(ex-aequo, igual número de votos)
The Departed: Entre Inimigos
Match Point

Menções Honrosas
(restantes oito mais votados):
Babel
A History of Violence
Lady in the Water
Little Miss Sunshine
Marie Antoinette
Munich
The New World
Volver
Uma boa votação: parabéns.
ENCONTRO:
Agradecia a todos os interessados que muito rapidamente confirmassem para este blogue, ou por email, o interesse, agora definitivo, em estarem presentes, enquanto autores de blogues, no Encontro.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

FAMAFEST 2007: novidades


O silêncio dos inocentes

“Eles” sabem tudo da minha vida e não perdoam. Devem ter-me perseguido ontem durante a noite. Souberam do jantar fora e da ida ao Casino. Souberam da calma com que eu saboreei uma sopa de legumes, um bocadinho espessa demais, e quentíssima, mas com um pouco de água gelada ficou óptima, souberam da carne assada de cebolada, da bica, e devem visto também a discreta colherada no pudim da Leonor, souberam depois do meu confronto com a Cleópatra do primeiro andar, ela a sorver as notas, eu a arriscar, o doce prazer masoquista de estar a perder até quase às 3 da madrugada, para recuperar tudo, até ao último cêntimo e voltar para casa feliz e divertido por não ter perdido nada e o chinês ainda ter “pago” o táxi (uma vez não são vezes, mas sabe bem!). Vieram atrás de mim até casa, viram-me através dos vidros das janelas, primeiro a escrever até quase às 5 da matina, depois viram-me tomar o cházinho quentinho e o c-gripe, viram-me deitar a ler o James Ellroy, viram que adormeci às 6, viram de certeza, não tenho dúvidas, e hoje às 9 (menos uns pozinhos, hein, faz toda a diferença!) atacaram. Como é segunda-feira de Carnaval, um dia que não é carne nem peixe, não é feriado, mas está no meio de dois dias livres, atacaram a sério.

sábado, fevereiro 17, 2007

LIVROS - Serpentes e Piercings



SERPENTES E PIERCINGS


Devo dizer-vos que o li de um fôlego. São só 120 páginas, é verdade. Mas a escrita é escorreita e o clima que cria algo assustador. Durante a noite, julguei ter febre, o que seria fácil, dado estar com uma carga de gripe tremenda. Mas não era febre dessa, era febre provocada pela leitura.
O livro chama-se “Serpentes e Piercings” e é escrito por uma jovem japonesa, Hitomi Kanehara. Fixem o nome, vale a pena. Saiu de casa adolescente, aos 11 anos deixou a escola, viveu como quis, começou a escrever e a enviar por mail ao pai o que ia escrevendo. Este, que era tradutor de profissão, foi dando conselhos e burilando ao longe a escrita. Aos 22 anos escreveu “Serpentes e Piercings” que ganhou o prémio literário mais importante do Japão. Traduzido em 20 línguas, vendendo milhões, dizem que se trata de um livro de culto. Não sei. Sei que o li e me marcou profundamente. 120 páginas de permanente angústia, mas de uma angústia que se distância muito da nossa ocidental angústia. Aqui há uma corrida para o abismo, mas uma corrida que se passa nos "bas fonds" de Tóquio, por entre desempregadas e "gangsters", entre "barbies" e "punks", mas com uma elegância de comportamento que por vezes surpreende. A violência física e psicológica é a maior, mas nada se passa sem um toque de elegância. Elegância, será o termo? Faz-me lembrar os filmes da minha infância, Fu Manchu e quejandos, que matavam e torturavam com as mãos sobre o peito e um sorriso mefistofélico nos olhos. Aí havia ironia, aqui há apenas desespero. Acredito que rapidamente passe a cinema: a escrita é altamente visual, pede imagens.
Lui tem dezanove anos, trabalha esporadicamente como “acompanhante”, é profundamente rigorosa e cumpridora no seu trabalho, mas nada a entusiasma na vida. É considerada uma “barbie”, até encontrar Ama, um jovem feio e magro, num bar "punk". Ele tem a língua bifurcada, e tatuagens no corpo. Um dragão. Ela fica seduzida por esse rapaz e vai com ele. Para a cama e para a casa de Shiba, que a prepara para ter igualmente a língua bifurcada. Mas Shiba leva-a também para a cama, e para relações sadomasoquistas que têm a dor e a morte como horizonte. Lui deixa quase de comer e bebe. Bebe sem parar. São jovens a que a normalidade da vida pouco diz e que só no diálogo com a dor mais intensa se sentem vivos. Esta relação a três tem rápido desfecho mas revela-se traumática. Para os protagonistas desta aventura de vida sobre o fio da navalha, mas também para nós, simples leitores. O romance de Hitomi Kenehara não nos larga a cabeça e a incomodidade é total. Mas a escrita é realmente fascinante, límpida, na sua transparência, suave, na forma como desliza, forte e intensa, na imaginação ou vivência que destila, mas elegante e ágil no estilo. Ruy Murakami disse: “Uma interpretação radical do nosso tempo.” É verdade. Mas que tempo é este?

Dois excertos de “Serpentes e Piercings”:

(..) Peguei na mala para me vir embora e depois Shiba-san virou-se subitamente para mim. Parei.
- O que foi?
- Acho que sou capaz de ser um filho de Deus - disse ele sem mudar de expressão.
- Filho de Deus? Isso não é o nome de um filme reles de série B?
- Não. Pensa nisso. Deus só pode ser um sádico, para ter dado vida às pessoas.
- Então estás a dizer que a Maria era masoquista.
- Sim, acho que sim - murmurou Shiba-san, e voltou-se de novo para a prateleira. Peguei na mala e saí de trás do balcão.
- Queres comer alguma coisa antes de ires?
- Não, o Ama deve estar a chegar a casa.
- Está bem. Então depois falamos - deu-me uma palmadinha na cabeça. Eu segurei-lhe no braço direito e acariciei o Kirin.
- Vou fazer-te um desenho fixe - disse ele.
Sorri, acenei e saí. Lá fora, o Sol estava a pôr-se
e o ar era tão fresco que quase sufoquei. Apanhei o comboio até casa de Ama. O passeio de lojas, da estação até casa, estava demasiado cheio de famílias. Na verdade, o som de todas aquelas vozes deu-me von­tade de vomitar. Uma criança embateu contra mim e a mãe fingiu não reparar. Mas eu fitei o miúdo, até que ele ergueu os olhos e me viu. Quando o nosso olhar se cruzou, juro que ele estava quase a chorar, por isso limitei-me a abanar a cabeça num gesto de desaprovação e continuei a andar. Não queria viver neste universo. Queria viver temerariamente e não deixar para trás nada a não ser cinzas, neste mundo sombrio e monótono.

(…) Afinal de contas, não fazia sentido estar à espera de uma solução quando nem sequer tinha um proble­ma. A vida parecia-me vazia, mais nada. Acordava de manhã, despedia-me de Ama, depois voltava a adormecer, praticamente todos os dias. De vez em quando, saía e trabalhava um pouco, às vezes ia fazer sexo com Shiba-san ou encontrava-me com amigos, mas, fizesse o que fizesse, acabava sempre por me sentir em baixo. Quando Ama chegava a casa, à noite, saíamos para jantar e partilhávamos uma travessa de qualquer coisa, regada com várias bebidas. Depois voltávamos para casa e continuávamos a beber. Pen­sei se estaria a tornar-me alcoólica. Ama também estava preocupado comigo. Andava sempre de roda de mim e fazia o que podia para tentar animar-me, falando excitadamente sobre várias coisas. Depois, quando via que não resultava, desatava a chorar, per­guntando «Porquê? Porquê?» e dizendo uma e outra vez que se sentia magoado e zangado.
Vê-lo assim dava-me vontade de corresponder aos sentimentos dele, mas, sempre que uma peque­na semente de esperança ganhava raízes dentro de mim e começava a crescer, era esmagada por uma forte descarga de auto-desprezo. Em suma, não havia simplesmente luz. A minha vida e o meu futuro eram negros como breu e eu não conseguia ver nada ao fundo do túnel. Não que antes disso esperasse gran­des coisas para mim, simplesmente agora conseguia imaginar-me claramente a aparecer morta numa sar­jeta qualquer, e nem sequer tinha energia para me rir destes pensamentos. Pelo menos, antes de conhe­cer Ama, sempre estivera preparada para vender o meu corpo se as coisas chegassem a esse ponto. Mas agora não conseguia forçar-me a fazer mais nada senão dormir e comer. Na verdade, acho que prefe­ria morrer do que sair com homens de meia-idade nojentos. Não sei o que seria melhor - trabalhar como prostituta para viver, ou morrer para não ter de trabalhar como prostituta? Diria que esta última alternativa seria a escolhida por uma mente saudá­vel, mas, por outro lado, estar morto não tem nada de saudável. Seja como for, dizem que as mulheres sexualmente activas têm melhor pele. Não que eu me ralasse muito com a minha saúde.
No dia em que alarguei o buraco na língua para um calibre quatro, deitei muito sangue e não conse­guia forçar-me a comer, portanto bebi apenas cer­veja. Ama disse-me que eu estava a apressar dema­siado o buraco, mas não me importei - eu estava com pressa. Claro, não estava propriamente a tentar cum­prir um prazo, nem tinha nenhuma doença termi­nal. Simplesmente tinha a sensação de que o tempo estava a esgotar-se. Talvez haja alturas na vida em que as coisas têm de ser apressadas.
- Alguma vez sentes que queres morrer? – perguntou Ama do nada, uma noite, quando voltávamos para casa depois de jantar.
- Constantemente – respondi.

“Serpentes e Piercings”, de Hitomi Kanehara, Ed. Caderno.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

DO AMOR

Jack Vetriano

DOIS POEMAS DE AMOR

I
abro-te o sexo húmido de gozo
como-te a saliva da devassidão
rasgo-te o desejo dos seios à boca
sinto-te inundada de prazer
exposta ao estertor
que cavalga profundo no meu eixo
continua, amor, continua
e deixa-me perdido no teu ventre
até amanhecer para lá da janela
e os pássaros se ouvirem no despertar do dia

II

só para ti:
na colcha escarlate,
o borrão húmido
de amor feito-desfeito
eternamente

Permanência de Salazar

26. Permanência de Salazar
Há quase três semanas que não durmo ou durmo mal. A coisa vem piorando, agravando-se de dia para dia, à medida que parece institucionalizar-se, tornar-se regular, criar hábitos. Antes não dormia durante o período em que se ouvia toda a descarga sonora da manifestação, e que vai impreterivelmente das 9 da manhã até cerca das 17, 18 horas da tarde. Mas agora a coisa refinou-se. Já não durmo durante a noite, mesmo nas noites em que me deito mais cedo, porque permaneço acordado à espera que “o concerto” se inicie.
Continua aqui.

HOJE HÁ BUAL?

No Hoje Há Conquilhas, Tomás Vasques não só foi, como sempre, amigo, como também provocador. Lançou-me o desafio de descobrir quem era o autor do belo quadro da sua colecção particular (que inveja! Gente Fina é Outra Coisa!) que ali reproduz. Eu, que adorei o quadro, e como não se pode responder no seu blogue (bela desculpa!), resolvi trazer tudo para aqui, e aqui mesmo tentar solucionar a questão. Pois parece-me Bual. Entre o figurativo e o gestualista, também poderia arriscar Pomar, mas fico-me pelo Artur Bual. Será?

Seja de quem for, é lindissimo. (também tenho um Bual na minha colecção particular. pequenino, mas muito bonito)

Aqui fica também o texto (amigo) do Tomás Vasques:

O Lauro António, durante uns dias (os que antecederam a votação de Domingo), mostrou cinco imagens das que fazem o meu "Até amanhã". Lançou também um desafio para identificar cada obra e cada autor. Hoje, finalmente, explicou a motivo do seu post: uma homenagem à mulher e porque era importante votar pela liberdade.

Bem-haja Lauro António e até uma das próximas tertúlias no Vá-Vá.
(Lauro: qual é o autor desta obra? Acrílico sobre tela 1.30x90 e o original pertence à minha colecção).
Publicado por tomas vasques em
13.2.07

TERTÚLIA VÁVÁ.DIANDO

Sobre a Tertúlia no VáVá: a próxima (e primeira) é a 22 do corrente, jantar às 20,00 "Conversa sobre Humor, depois do Carnaval", com Raul Solnado. Apareça!

Já estão marcadas as duas próximas, de Março e Abril.

Aqui ficam as revelações:

dia 28 de Março: com Fernando Dacosta, "As Máscaras de Salazar"

dia 11 de Abril, com Nuno Júdice: "Amor/Poesia/Amor"

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

ATÉ AMANHÃ...

ATÉ AMANHÃ...
(mas para já foi até ontem, esta homenagem à mulher,
e ao seu corpo, e ao seu espírito)
Era importante votar pela liberdade. Votou-se.
Agora é importante lutar pela dignificação da vida.
Das mulheres (e dos homens) e da sua liberdade.
Dos filhos desejados e amados
(e que nascem desters corpos que são não só um hino à vida,
como à beleza da vida).
Obrigado ao Tomás Vasques
(a quem roubei as belas imagens!).






Meu Caro Tomás Vasques,
Já me apeteceu fazer um blogue só com os seus "Até Amanhã!"
Sim, porque "Hoje Há Conquilhas, Amanhã não se sabe."
(julgo que estas são todas suas - salvo seja! - ,
mas há uma que fui roubar a outro blogue
e não me lembro qual!).
Já agora uma curiosidade: sabem identificar cada obra e cada autor?
A S. avança com nomes:
Eider Astrain
Rosário Andrade
Diego Velasquez
Elihu Vedder
Catherine Abel

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

CINEMA - O Terceiro Passo

O TERCEIRO PASSO




“O Terceiro Passo” (The Prestige, no original), baseia-se num romance homónimo de Christopher Priest, que o realizador Christopher Nolan (e o irmão Jonathan Nolan) adaptaram ao cinema.
Esta é uma adaptação não muito convencional, alterando bastante a estrutura da obra donde parte e de que se afasta consideravelmente, sendo no entanto que o resultado final se nos afigura não só muito próximo das intenções do escritor, como também bastante inteligente e coerente em relação ao novo meio de expressão.
O romance de Christopher Priest inicia-se na actualidade (1995, data em que o livro é escrito, tendo conquistado vários prémios, entre eles o “James Tait Black Memorial Prize for Fiction”, 1995, e o “World Fantasy Award”, 1996), com uma personagem que desaparece totalmente no filme, Andrew Westley, jornalista que recebe do pai um embrulho com um manuscrito de um tal Alfred Borden, chamado “Métodos Secretos de Magia”. Vem a saber-se depois que o livro, escrito em 1901, fora enviado por Kate Angier, que queria estabelecer contacto com Andrew Westley para este a ajudar a tentar resolver um enigma que a atormentava: quem fora Alfred Borden e o seu rival, igualmente mágico, Rupert Angier (obviamente da família de Kate).
Grande parte do romance (que se estende ao longo de cinco capítulos de dimensão muito variável) passa-se na actualidade, com conversas entre Andrew Westley e Kate Angier. São, no entanto, os capítulos dedicados a Alfred Borden (a transcrição do seu livro) e a Rupert Angier (a transcrição do seu diário) que irão constituir a base da adaptação do romance ao cinema, dado que todo o filme se passa numa Londres vitoriana de fins do século XIX. Mas também aqui as coisas não resultam simples e lineares, pois se o filme parte dos diários de dois mágicos que mantém carreiras simultâneas e uma competição feroz pelo título de melhor mágico do mundo, as idas ao passado (os flashbacks) são constantes e a estrutura da obra é igualmente complexa e organizada em forma de puzzle que se vai reconstruindo à medida que a acção se desenrola.
O tema de toda a obra é, pois, este despique brutal entre dois mágicos que fizeram carreiras nos teatros londrinos no final do século XIX e nos primeiros anos de 1900 (mas também por toda a província inglesa e em palcos mundiais, sobretudo Robert Angier que atinge grande notoriedade na América do Norte). Mas se esse confronto é a base da estrutura narrativa, o “segredo” que os mágicos prometem cumprir ao longo das suas vidas é a obsessão que os guia até final. Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) criam uma rivalidade só igual ao seu sucesso. Um episódio antigo (Borden introduz-se numa casa particular onde Angier se prepara para efectuar uma sessão de espiritismo, invocando a memória de uma mulher recentemente falecida, e acaba por estragar toda a montagem e magoar a mulher de Angier e sua assistente) está na base desta obsessão. Não lhes interessa somente terem os melhores “números”, os mais perfeitos, os mais admirados pelo público, como sobretudo terem um “número” melhor que o do rival, e fazer fracassar o competidor sempre que possível. Não acompanham a carreira um do outro à distância das notícias dos jornais ou das informações que terceiros fornecem. Não. Vão muito mais longe. Mascaram-se, disfarçam-se e aparecem nas sessões de cada um dispostos a servirem de ajuda “espontânea” e assim frustrarem as exibições, estragando efeitos, denunciando truques, atacando-se, ferindo-se, se possível matando-se. Esta insana rivalidade é o centro deste filme sobre homens obcecados pela destruição dos seus iguais. Uma rivalidade que, à força de tão explorada e alongada no tempo e no espaço, se transforma numa metáfora que julgo ir muito além dos indivíduos em causa e se poder ler a nível planetário, rivalidade entre países, entre religiões, entre culturas. O filme de Christopher Nolan mostra-nos como a obsessão do poder nos pode levar à destruição do “outro”, mas também de nós próprios, funcionando como loucura desmedida. Irracional. Incontrolável.
A obra de Nolan, servindo-se da leitura dos dois diários e intercalando-os, acaba por dar a palavra a ambos os contendores, oferecendo dos dois a leitura parcial desta disputa que se torna particularmente rica para o espectador, obrigando-o a tomar partido ou, no mínimo, a “ouvir” ambos os lados e a construir a sua própria interpretação. Na realidade, o público confronta-se com mais um truque dos dois mágicos, com pontos de vista diferentes e contraditórios, e cada um deles, escondendo o seu “segredo”, procura expor o “segredo” do adversário. Enganando assim o espectador, tal como o faziam durante as suas actuações.
Depois de “Memento”, “Insónia”, “Batman Begins” ou “Amnésia”, com “O Terceiro Passo”, Christopher Nolan mantém-se fiel a um universo muito próprio, onde o tempo real e o tempo ficcional ocupam lugares destacados, onde a obsessão se torna uma presença viva, onde o caminho de alguém até ao fim em vista se torna um trajecto inadiável que se tem de cumprir quaisquer que sejam os perigos e os sacrifícios. Em “O Terceiro Passo” há momentos em que tanto Angier como Borden parecem querer pôr termo a esta louca corrida para o suicídio, a imporem umas tréguas a esta viagem para o abismo, mas ambos se sentem como que manietados por um destino que os não liberta dessa corrida para a fatalidade. Uma impulsividade irracional para a destruição. Muitas vezes o sucesso obriga-os caprichosamente a ouvirem os aplausos escondidos por detrás do pano de boca do teatro. O sucesso é seu, mas é o duplo que o recebe em palco (ainda que, no silêncio do seu recolhimento, o mágico os possa sentir e agradecer).
No calor do número mais desejado, “O Homem Transportado” ou “Num Relâmpago”, a ambiguidade atinge o seu ponto mais alto. Este é obviamente um filme sobre o “Eu” e o meu “Duplo”. Angier e Borden são duplos um do outro, cada um tem o seu número de “Duplo”, existem sósias e gémeos, mulheres que ambos amam, e que trocam entre si, homens que se reproduzem até ao infinito (quando um aparece, outro é morto, quem é quem afinal, quem sobrevive?) e, no final, bem se pode falar de uma obra sobre a identidade. Afinal quem é quem neste filme onde ninguém é quem aparenta ser.
A mulher de Borden pergunta-lhe: “Amas-me?” Ao que ele responde, com sinceridade: “Uns dias sim, outros dias não.” Nada mais certo, tanto mais que, nuns dias é ele, noutros o seu duplo, o que faz com que não se chegue a saber também afinal quem se deita com quem, quem é o pai, quem é o amante ou o esposo amantíssimo. Ambos pretendem possuir o poder total, ambos olham o rival como aquele que o impede de ser “único”. Enquanto um se serve de (chamemos-lhes) sósias (Borden e o misterioso engenheiro Fallon), outro, Angier, cria clones de si próprio, através da colaboração com Tesla. Mas Angier tem ainda outro segredo a resguardar. Ele “sempre foi igualmente Lorde Caldlow”, o que encobre, primeiro para não envolver a família na sua vida pouco ortodoxa, mas depois para não misturara estatutos.
Curiosamente, o filme reflecte ainda uma outra rivalidade, também em forma de duplicidade, esta histórica, a que existiu entre Thomas Edison e Nikola Tesla (David Bowie, numa composição brilhante), com disputas científicas e comerciais que ficaram lendárias, com base na invenção e na melhor utilização da electricidade.
Excelente filme, magníficos actores (para lá dos já citados há ainda Michael Caine (Cutter) e Scarlett Johansson (Olivia Wenscombe), entre muitos outros), uma notável fotografia e brilhante direcção artística.

O TERCEIRO PASSO
Título original: The Prestige
Realização: Christopher Nolan (Inglaterra, EUA, 2006); Argumento: Jonathan Nolan e Christopher Nolan, segundo romance de Christopher Priest (com colaboração de Steve Gehrke, Peter Madamba, Rebecca Edelson); Música: David Julyan; Fotografia (cor): Wally Pfister; Montagem: Lee Smith; Casting: John Papsidera; Design de produção: Nathan Crowley; Direcção artística: Kevin Kavanaugh; Decoração: Julie Ochipinti; Guarda-roupa; Joan Bergin; Maquilhagem: Janice Alexander, Maggie Fung, Kenny Myers, Peter Robb-King, Mariko Sakata; Direcção de produção: Teresa Kelly, Mark Scoon, Cristen Carr Strubbe; Assistentes de realização: Alan B. Curtiss, Jody Spilkoman, Lynn Struiksma; Departamento de arte: Jory Alvarado, Phillis Lehmer, Sally Thornton; Som: Richard King; Efeitos especiais: David Blitstein; Efeitos visuais: Giacun Caduff, Janek Sirrs; Conselheiro: David Copperfield; Produção: Christopher Ball, Valerie Dean, Jordan Goldberg, Christopher Nolan, Aaron Ryder, Charles J.D. Schlissel, Emma Thomas, William Tyrer.
Intérpretes: Hugh Jackman (Robert Angier), Christian Bale (Alfred Borden), Michael Caine (Cutter); Piper Perabo (Julia Angier), Rebecca Hall (Sarah Borden), Scarlett Johansson (Olivia Wenscombe), Samantha Mahurin (Jess Borden), David Bowie (Nikola Tesla), Andy Serkis (Alley), Daniel Davis (Juiz), Jim Piddock, Christopher Neame, Mark Ryan, Roger Rees, Jamie Harris, Monty Stuart, Ron Perkins, Ricky Jay, J. Paul Moore, Anthony De Marco, Chao Li Chi, Gregory Humphreys, John B. Crye, William Morgan Sheppard, Sean Howse, Julie Sanford, Ezra Buzzington, James Lancaster, Olivia Merg, Zoe Merg, Johnny Liska, Russ Fega, Kevin Will, Edward Hibbert, Christopher Judges, James Otis, Sam Menning, Brian Tahash, Scott Davis, Jodi Bianca Wise, Nikki Glick, Enn Reitel, Clive Kennedy, Rob Arbogast, Chris Cleveland, etc.
Duração: 128 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia; Classificação etária: M/12 anos;

Como era o amor há 5.000 anos


A Reuter informa, em notícia proveniente de Roma: “Esqueletos de casal são encontrados num abraço eterno.”
A notícia, que se pode ler na página inicial do MSN Brasil, diz assim (em português do Brasil): “Pode chamar de abraço eterno. Arqueólogos na Itália descobriram um casal abraçado enterrado entre 5.000 e 6.000 anos atrás.
"É um caso extraordinário", disse Elena Menotti, que liderou a equipe nas escavações perto da cidade de Mantova, norte do país. "Não foi descoberto um enterro de casal do período Neolítico, muito menos duas pessoas se abraçando -- e ambos estão realmente se abraçando". Menotti disse acreditar que os dois, quase certamente um homem e uma mulher, embora ainda não tenha sido confirmado, morreram jovens, porque suas arcadas dentárias estavam quase inteiramente intactas e não estavam gastas. "Devo dizer que quando nós os descobrimos ficamos muito entusiasmados. Tenho este emprego há 25 anos. Fiz escavações em Pompéia, todos os sítios famosos", disse ela a Reuters. "Mas eu nunca fiquei tão comovida assim, porque esta é a descoberta de algo especial". Um laboratório tentará determinar a idade do casal à época da morte e há quanto tempo estão enterrados.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

LIVROS - Christopher Priest


Christopher Priest, o autor de “O Prestigio”, é bem conhecido dos portugueses, pois várias obras suas foram editadas em Portugal, país que frequenta habitualmente. Encontrei-o, e ouvi-o, em Cascais, na década de 90, quando esteve num dos Encontros organizados pela Simetria. Em 2006 voltou, agora ao Fantasporto.
Romancista, contista e editor, é actualmente um dos mais famosos escritores britânicos de ficção científica, tendo-se notabilizado por uma série de romances que publicou nos anos 80 e 90, assim como colectâneas de contos, antologias e trabalhos fora do campo da ficção como “The Book on the Edge of Forever”. Vencedor de vários prémios (World Fantasy Award, prémio BSFA e o Arthur C. Clarke), os seus romances combinam frequentemente ficção científica com história alternativa. Entre eles, destacam-se “The Glamour”, “The Prestige” e “The Separation”. Em Portugal a editora Caminho publicou “A Afirmação”, assim como a colectânea “Um Verão Infinito”, e, na Planeta Editora, foi lançado o romance “Os Extremos”. Em 2006, foi nomeado vice-presidente da H. G. Wells Society, autor que assume como forte influência na sua obra. Site oficial de Christopher Priest.





Excertos de "O Terceiro Passo", sobre "o segredo" para o mágico:




(...) Sendo assim, é justo que, desde o início, eu tente esclarecer esses assuntos intimamente ligados: o Segredo, e a Apreciação do Segredo.
Aqui vai um exemplo.
Durante o exercício da minha profissão existe invariavelmente um momento em que o ilusionista parecerá fazer uma pausa. Avançará para a frente do palco, e sob a luz do projector enfrentará directamente a assistência. Dirá, ou, se o número for silencioso, parecerá dizer: “Olhem para as minhas mãos. Não tenho nada escondido.” Depois exibirá as palmas das mãos para que a assistência as veja, afastando os dedos para provar que não tem nada preso entre eles. Com as mãos assim erguidas irá rodá-las, para mostrar a parte de trás à assistência, e fica estabelecido que, de facto, as mãos estão o mais vazias possível. Para que não haja a mínima suspeita, irá provavelmente puxar ligeiramente os punhos do casaco, expondo os pulsos para mostrar que também não tem nada escondido ali. Depois realiza o truque, durante o qual, momentos depois desta incontestável prova de mãos vazias, faz surgir algo de dentro das mãos: um leque, uma pomba ou um coelho vivos, um ramo de flores de papel, por vezes até um pavio em chama. É um paradoxo, uma impossibilidade! A assistência fica maravilhada com este mistério e aplaude entusiasticamente. Como é isto possível?
O mágico e a assistência entraram naquilo que chamo de Pacto de Magia Aquiescente. Não o identificam como tal, e na verdade a assistência não está muito ciente de que tal pacto existe, mas é assim que acontece.
Claro que o artista não é nenhum mágico, mas um actor que interpreta o papel de um mágico e que deseja que a assistência acredite, mesmo que temporariamente, que ele contacta com poderes mais obscuros. Entretanto a assistência sabe que o que vê não é verdadeira magia, mas suprime o conhecimento e aquiesce ao mesmíssimo desejo do artista. Quanto maior for a habilidade do artista em manter a ilusão, melhor o julgarão nesta magia ilusória.
O acto de mostrar que as mãos estão vazias, antes de revelar que, apesar das aparências, não podiam ter estado, é ele próprio um componente do Pacto. O Pacto implica que estão em vigor condições especiais. Por exemplo, no normal relacionamento social, quantas vezes tem uma pessoa de provar que tem as mãos vazias? E pensem nisto: se o mágico fizesse aparecer subitamente um vaso de flores sem antes sugerir à assistência que tal seria impossível, não pareceria truque nenhum. Ninguém aplaudiria.
Isto Ilustra então o meu método
Deixem-me estabelecer o Pacto de Aquiescência sob o qual escrevo estas palavras, para que os que as lerem se apercebam que o que se segue não é magia, mas a Ilusão desta,
Primeiro deixem me, por assim dizer, mostrar vos as mãos, palmas
para a frente, dedos afastados, e eu dir-vos-ei (frisando bem): “Todas as palavras neste caderno de apontamentos que descrevem a minha vida e trabalho são verdadeiras, honestas e exactas nos detalhes.”
Agora viro as mãos para que possam ver as costas, e digo: “Muito do que está aqui pode ser verificado em registos concretos. A minha carreira está anotada em arquivos de jornal, o meu nome aparece em livros de referência biográfica.”
Finalmente puxo os punhos do casaco para mostrar os pulsos e digo: “Afinal, o que teria eu a ganhar em escrever um relato falso, quando não está destinado aos olhos de ninguém a não ser os meus, talvez aos dos meus familiares mais directos e aos dos membros de uma posteridade que nunca conhecerei?”
Realmente, o que teria eu a ganhar?
Mas como mostrei as mãos vazias, devem agora pensar não só que se seguirá uma ilusão mas que a aceitarão.
E assim, sem ter escrito uma única falsidade, já iniciei a ilusão que é a minha vida. A mentira está contida nestas palavras, até mesmo nas primeiras. É a estrutura de tudo o que se segue, muito embora não seja aparente em lado nenhum.
Orientei-vos erradamente com a conversa da verdade, registos concretos e motivos. Assim como acontece quando mostro que as mãos estão vazias omiti a informação significativa, e agora estão a olhar para o sítio errado.
Como qualquer ilusionista bem sabe, há alguns que ficarão perplexos com isto, uns que declararão conhecer o segredo, e outros, a feliz maioria que simplesmente aceitará a ilusão como verdadeira e desfrutará a magia por simples entretenimento.
Mas há sempre um ou dois que levarão consigo o segredo e que matutarão sobre ele sem nunca chegar perto de o solucionar. (...)

(...) Ching era um homem em boa forma física e possuidor de uma grande força, e carregar o aquário es­tava assim bastante dentro das suas possibilidades. No entanto o tamanho e formato do aquário faziam-no arrastar-se como um mandarim quando caminhava. Isto ameaçava o segredo pois atraía as atenções para a forma como se deslocava, por isso para proteger o segredo ele arrastou-se durante toda a vida. A qualquer altura, em casa ou na rua, de dia ou de noite, ele ja­mais caminhava normalmente, para evitar que o segredo fosse descoberto.
É essa a natureza de um homem que desempenha o papel de mági­co.
As assistências sabem bem que um mágico pratica as suas ilusões durante anos e ensaia cuidadosamente cada actuação, mas poucas pessoas percebem a extensão do desejo do prestidigitador em iludir, a forma como o aparente desafio das leis naturais se torna uma obsessão que rege todos os momentos da sua vida.
Ching Ling Foo tinha a sua patranha obsessiva, e agora que leram a minha anedota sobre ele podem correctamente assumir que eu tenha a minha. A minha patranha rege a minha vida, informa todas as decisões que tomo, regula todos os meus movimentos. Neste preciso momento em que embarco na escrita desta autobiografia, ela controla o que eu posso ou não escrever. Comparei o meu método com o apresentar de mãos aparen­temente vazias, mas na realidade tudo nesta narrativa representa o andar arrastado de um homem em boa forma. (...)

(...) Há alguns anos, um mágico (acho que foi o Sr. David Devant) foi citado como tendo dito: «Os mágicos protegem os seus segredos não porque os segredos sejam grandes e importantes, mas porque são tão pequenos e tri­viais. Os efeitos maravilhosos criados em palco são muitas vezes o resultado de um segredo tão absurdo que o mágico teria vergonha de admitir que era assim que era feito.»
Ali está, em poucas palavras, o paradoxo do mágico de palco.
O facto de um truque ficar «estragado» se o seu segredo for revela­do é do conhecimento geral, não só dos mágicos mas da assistência que entretém. A maior parte das pessoas gosta da sensação de mistério criada pela performance, e não deseja arruiná-la, por mais curiosa que se sinta em relação ao que parece ter testemunhado.
O mágico deseja naturalmente preservar os seus segredos, para poder continuar a ganhar a vida com eles, e isto é amplamente reconhecido. No entanto, torna-se uma vítima do seu próprio segredo. Quanto mais tempo um determinado truque fizer parte do seu repertório, e quanto mais vezes for executado com sucesso, e, por definição, mais pessoas tiver enganado com ele, então mais lhe parece essencial preservar o segredo desse truque.
O efeito atinge proporções maiores. É visto por muitos espectado­res, outros mágicos copiam-no ou adaptam-no, o próprio mágico deixa-o evoluir, e a apresentação altera-se ao longo dos anos fazendo o truque pare­cer mais complicado e impossível de explicar. Durante tudo isto o segredo mantém-se. E mantém-se também pequeno e trivial, e à medida que o efei­to cresce a trivialidade parece mais ameaçadora à sua reputação. O segredo torna-se obsessivo.
Passemos então ao cerne da questão.
Passei a vida a guardar o meu segredo parecendo manquejar (estou a fazer alusão a Ching Ling Foo, e não, como é óbvio, a escrever literalmen­te). Já atingi uma idade e, sinceramente, uma prosperidade, onde actuar em palco perdeu o seu encanto. Terei então que coxear, em sentido figu­rado, pelo resto da vida para preservar um segredo que poucos sabem que existe, e com que menos ainda se importam? (...)

(...) Uma ilusão tem três fases.
Primeiro há a preparação, em que a natureza daquilo que poderá ser tentado é sugestionada ou explicada. O equipamento é vistoriado. Voluntá­rios da assistência participam por vezes na preparação. Enquanto o truque está a ser preparado, o mágico fará todo o uso possível da orientação ilu­sória.
A execução é onde a experiência do mágico e a sua habilidade ineren­te como executante se conjugam para produzir a ilusão.
A terceira fase é por vezes chamada o efeito, ou o prestígio, e é o pro­duto das artes mágicas. Se um coelho é retirado de dentro de uma cartola, o coelho, que aparentemente não existia antes do truque ser efectuado, pode ser visto como o prestígio desse truque.
O Novo Homem Transportado é bastante invulgar entre as ilusões pelo facto de a preparação e execução serem o que mais intriga o público, crítica e colegas ilusionistas, enquanto que para mim, o executante, o pres­tígio é a principal preocupação.
As ilusões encaixam em seis categorias ou tipos diferentes (pondo de parte o campo especialista da ilusão mental). Qualquer truque que tenha alguma vez sido executado cai dentro de uma ou mais das seguintes cate­gorias:
Produção: a criação mágica de alguém ou de alguma coisa a par­tir do nada;
Desaparecimento: o desaparecimento de alguém ou de alguma coisa no ar;
Transformação: a aparente transformação de uma coisa noutra;
Transposição: a aparente alteração de lugar de dois ou mais objec­tos;
Desafio das Leis Naturais: por exemplo, aparente domínio sobre a gravidade, fazer parecer que um objecto sólido atravessa outro, fazer surgir um grande número de objectos ou pessoas de uma origem aparentemente demasiado pequena para os conter;
O Poder da Força Secreta: fazer com que objectos pareçam mover-se por moto próprio, tal como fazer uma carta escolhida elevar-se misteriosamente do baralho.
O Novo Homem Transportado não é totalmente típico, porque utiliza pelo menos quatro das categorias supracitadas. A maioria das ilusões em palco depende apenas de uma ou duas. Vi uma vez um efeito elaborado no Continente onde eram empregues cinco das categorias.
Finalmente, existem as técnicas de magia.
Os métodos disponíveis aos mágicos não podem ser tão bem catego­rizados como os outros elementos, porque quando toca à técnica um bom mágico não desdenha nada. A técnica de magia pode ser tão simples como colocar um objecto atrás de outro para que não possa ser visto pela assistên­cia, e pode ser tão complexa que exija uma preparação adiantada no teatro e o conluio de um grupo de assistentes e paus-mandados.
O mágico pode escolher a partir de um inventário de técnicas tra­dicionais. As cartas de jogo que tenham sido «encantadas» para que uma ou duas se tornem mais evidentes, o cativante pano negro que permite que muita coisa necessária ao truque ocorra de forma despercebida, a mesa ou suporte pintados a preto que a assistência não consegue ver correctamen­te, manequins, duplos, paus-mandados, substitutos e vendas. E um mágico criativo abraçará a novidade. Qualquer aparelho ou boneco ou invenção nova que apareça deverá provocar o pensamento: Como poderei fazer um truque novo com isto? Assim, no passado recente temos assistido a novos truques que empregam o motor de movimento alternativo, o telefone, elec­tricidade, e um efeito espantoso memoravelmente criado com a bomba de fumo do Dr. Warble.
A magia não tem qualquer mistério para os mágicos. Trabalhamos variações de métodos padrão. O que poderá parecer novo ou enigmático a uma assistência, é simplesmente um desafio técnico para os outros profis­sionais. Se se desenvolve uma ilusão inovadora, é apenas uma questão de tempo antes de o efeito ser reproduzido por outros.
Todas as ilusões podem ser explicadas, seja através do uso de um compartimento secreto, de um espelho astutamente posicionado, de um assistente colocado no meio da assistência para fazer de «voluntário», ou da simples orientação ilusória da atenção do público.
Agora estendo as mãos perante vós, dedos abertos para que vejam que não tenho nada escondido, e digo: O Novo Homem Transportado é uma ilusão como qualquer outra, e pode ser explicada. Mas através da com­binação de um pequeno segredo que tem sido bem guardado, muitos anos de prática, uma certa dose de orientação ilusória da assistência e o uso de técnicas convencionais de magia tornou-se a base fundamental da minha actuação e da minha carreira.
E tem também desafiado todos os esforços de Angier para penetrar no seu mistério, como em breve registarei.(...)


in "O Terceiro Passo", de Christopher Priest, Ed. Saída de Emergência. Parede, 20006

EROS E THANATOS

Novos blogues vão aparecendo todos os dias, aos milhares por esse mundo fora. Mas alguns dizem-nos mais respeito. Sentimo-nos mesmo responsáveis por, de alguma forma, nascerem um pouco do nosso próprio entusiasmo, compartilhado com amigos. Já referi o blogue da Sofia (SPS). Agora saliento o de Ana Paula, mais virado para a Filosofia e a Poesia, com um titulo de óbvia homenagem à (nossa comum) paixão por Paul Auster: "Música do Acaso".

Nos primeiros posts deste novo blogue, uma alegoria a Eros e Thanatos, através de duas belas reproduções que não consigo deixar de "roubar" para aqui.

Nu reclinado de Modigliani: EROS

Ofélia de Millais: THANATOS