segunda-feira, dezembro 31, 2007

UM ÓPTIMO 2008


TCHIM!, TCHIM!
Aos Familiares e Amigos
(e a todos os outros!)
Um ANO NOVO
cheio de coisas boas!
Que 2008 traga Paz (é difícil, eu sei!),
Amor (há que guardar bem quem o sente!),
Amizade (da autêntica!),
Saúde (que melhore e não vá para pior!),
Felicidade (hip, hip, hurra!)
e uns Euritos para se gastarem
(no que nos der a real gana!)!

sábado, dezembro 29, 2007

16ª VAVADIANDO


Clique na imagem para ampliar e ler em pormenor.

8 RAZÕES PARA VISITAR A WEST COAST










Aqui estão 8 razões para visitar uma terra chamada "West Coast".
Alguém acredita que alguém se desloca a Portugal
porque o Cristianao Ronaldo e o Mourinho são portugueses?
Alguém sabe (fora de portas) quem são a Joana Vasconcelos,
o Miguel Câncio Martins e a Maria do Carmo Fonseca
(que para nós são glórias nacionais, não discuto)
para lá de meia dúzia de interessados nas suas carreiras?
Alguém sabe para que serve esta campanha?
Ninguém sabe, no Turismo de Portugal,
que o que vende o nosso País lá fora
são as questões patrimoniais,
a saber, monumentos, paisagens, gastronomia, arte, cultura,
desporto, a simpatia dos autóctones, etc.?
Alguém me explica porque é que um senhor chamado Nick Knight
tirou estas fotos (que são jeitosas, sim senhor!)
e não um qualquer mediano fotógrafo português?
(pelo que se vê nem era preciso um dos melhores!)
Alguém me consegue explicar a razão desta snobeira nacional
e deste provincianismo que já cheira mal?
Parece que há por aí uns senhores que se sentem mal
neste País com História, Geografia, Cultura, Tradição, Arte, Etnografia próprias...
Querem um Pais "moderno", muito "West Coast",
muito "light", muito "tecno", muito...
Um País com uma bandeira diferente, menos "berrante",
com um hino diferente, menos estridente,
com pessoas diferentes, menos "populares",
com paisagem californianas, se calhar...
Se há uns "meninos" que se sentem mal neste País, porque não se vão embora?
Porque não vão fazer "coisas" destas para outras bandas?
Se calhar, porque lá, nessas outras bandas,
eles não conseguiam sequer fazer uns graffittis na rua...
Mas nós temos de aturar estes "novos ricos" da publicidade e do turismo
e pagar-lhes, e bem!, ainda por cima!

quinta-feira, dezembro 27, 2007

SÓ COM UM PANO ENCHARCADO!

O texto que se (devia) ler no fundo verde é:
“Agora já não precisas de estar em casa para poderes assistir aos teus programas favoritos, sejam eles novelas, noticiários, programas de música, futebol, reality shows, séries ou filmes. Entra no Portal Optimus Zone e selecciona Mobile TV. Os programas da seca têm os seus dias contados.
1º Mês Grátis no Pacote Plus.”
Vista a imagem e lido o texto, apetece perguntar:
E não há ninguém que corra com um pano encharcado na cara os administradores das empresas promotoras que aceitaram o anúncio, os publicitários que conceberam este aborto e os responsáveis nacionais que permitem que um anúncio destes circule? Já não há vergonha na cara?


domingo, dezembro 23, 2007

NATAL DE 2007



NATAL DE 2007

Quando eu era pequeno, “fazer o presépio” era participar de um conto de fadas, aprender um passe de magia, ouvir uma lição de amor e humildade que nos poderia inspirar pela vida fora.
Era sobretudo uma festa e uma festa com um mistério muito especial. Arrancava-se o musgo das pedras da paisagem para levar para casa e cobrir o chão, imaginando-se montanhas e vales, e rios de prata azulada. Construía-se a cabana com troncos e palhinhas, colocava-se com delicadeza o menino de barro na improvisada manjedoura, São José e Maria eram a projecção do amor de pai e mãe que ali se arrumavam para velarem por nós. E vinha ainda lá do fim dos tempos o calor da vaca e do burrinho, e os Reis Magos que chegavam conduzidos pela Estrela que anunciava a Boa Nova. E surgiam, como por encanto, figurinhas de populares, com ofertas simples, pastores com ovelhas, a samaritana com o cântaro à cabeça, ao lado do poço da água gelada daquela noite de Dezembro…
Era assim o presépio quando eu era pequeno. Uma excitação que nos arregalava os olhos de magia. Algo que não se compreendia bem, que estava para lá do nosso entendimento, mas que nos aquecia o coração, que se prolongava pelos dias, até chegar a tal noite onde, em redor da camilha, com uma braseira aos pés, se comia a consoada e se esperavam algumas prendas. Livros, sobretudo livros, era a minha esperança, sempre concretizada.
Fui feliz, muito feliz, envolvido pelo calor do pai e da mãe, alguns anos depois também ao lado da irmã. Era uma família aquecida da noite fria. Havia problemas como em todo o lado, mas era feliz. Coisa bonita de se dizer, mas sobretudo de se sentir.
Nunca soube, nem sei, se haverá algo de divino neste entremez, anualmente repetido, mas do que não duvido é da sua poderosa força magnética. O Natal fazia-me sentir bem. Quando eu era pequeno. Era frio e era quente, era gelado e tórrido, uma mistura magnifica que nunca esquecei.
Fui mantendo a tradição abnegadamente. Sem esforço. Com prazer. Ano após ano. O presépio nunca deixou de estar presente, ali no canto da sala, e sempre amorosamente retocado. A árvore de Natal, o Pai Natal, as filhozes, os bilharacos (sempre com a receita do pai), a consoada, o sacrificado peru, e o bacalhau da tradição… As crianças fazem-se homens, os filhos fazem-se pais, os pais vão ficando pelo caminho, mas o Natal continua marcando a esperança em algo de imutável. Será assim?
O olhar dos homens vai mudando. A magia vai cedendo a insinuações cada vez mais constantes. E torpes. Arrancam-nos a inocência dia a dia. É preciso desconfiar de tudo.
Olha-se agora o presépio e percebe-se que as figurinhas foram compradas numa loja de 300, já não feitas à mão, mas reproduzidas em moldes made in China. As decorações foram mesmo compradas numa outra loja chinesa e são o reflexo de trabalho escravo infantil. Olha-se a cabana em baclite e, lá atrás, dois políticos discutem se aquele é ou não terreno de Israel ou da Palestina. Como não conseguem chegar a um acordo, ameaçam, e cumprem a ameaça, com bombas que reinvidicam o território. E assassinam milhares.
Os três Reis Magos entregam ouro, incenso e mirra, mas nenhum deles chegou desinteressadamente por montes e vales, conduzidos por uma estrela. Todos vieram em jactos particulares e saíram das suas tendas oficiais há coisa de minutos. Os camelos são o exotismo que vende. É tudo uma montagem, uma encenação para impressionar os espectadores das dezenas de cadeias de televisão que cobrem o acontecimento.
Uma delas tentou o exclusivo, ofereceu milhares de dólares, euros ou rublos, mas não conseguiu. Aliás, esta cimeira destina-se a incrementar sobretudo os negócios. São homens de negócio que acodem ao chamamento. Disputam mercados e influências políticas e estratégicas.
O único pastor que por ali anda, balouça na mão direita um leitor de CDs e ouve Quim Barreiros. Um dos Reis, ditos Magos, publicita uma afamada marca de champanhe que se consome muito nesta quadra. O outro, tenta vender com soberba o seu petróleo, e ao terceiro descobriram olhares maliciosos e lúbricos, que levaram alguns a chamar-lhe pedófilo. Disfarçado.
A estrela? Não há estrela nenhuma, mas apenas um cintilante e pouco discreto satélite norte-americano que vai fotografando o evento. A CIA desconfia de armas nucleares.
Um grupo de senhoras, de uma qualquer organização dita moralista, parodia a um canto, sonoramente, o facto de Maria ter concebido sem pecado, e discorrem sobre situações várias, donde, em nenhuma delas, São José sai beneficiado.
A vaca é louca, afirmam as autoridades sanitárias, e o burro é mesmo burro, se não, não se prestaria a tal preparo. Tão burro que dois oficiais das finanças se preparam para o penhorar como veículo de transporte prioritário.
Num letreiro avisa-se: “É proibido fumar.”
Nem o menino está a salvo das iras de um grupo de jovens ecologistas que grita que o milho é trangénico e quer incendiar as palhinhas. Maria socorre-o e ampara-o no seu colo.
Esquecia-me do anjo. Que faz ali pespegado de asas abertas? “O que é um anjo?”, pergunta a criança à mãe que atende o telemóvel? E esta responde: “Alguém que nos guia na vida.” “Assim uma espécie de GPS?”, conclui a miúda.
Afasto de mim esta imagem e persisto no meu Natal de criança. Será ainda possível? Quero a inocência do musgo arrancado das rochas da montanha com uma faca da cozinha levada de casa. Quero o frio e o calor que sabem bem. Quero a minha infância de volta, quero essa idade aberta à esperança. Quero-a para mim e para as outras crianças. Quero que elas não percam a magia que me conduziu até aqui. Quero lá saber que as figurinhas tenham sido compradas numa loja de 300 e já não sejam de barro cozido à mão. O que eu queria sobretudo era acabar com o trabalho infantil escravo. Que existia há 2000 anos e permanece, apesar das prescrições da ASAE. O que eu desejava era que as crianças nascessem livres e iguais em direitos. E deveres. E fossem homens, e fossem velhos (velhos, sim!, não seniores ou da terceira idade) e fossem dignos. Para consigo e para com os outros. E houvesse Natal, todos os anos. E o espírito do Natal se estendesse por todos os dias dos anos. E que o Natal, divino ou não, fosse sobretudo humano.

Lauro António / Dezembro de 2007

(com votos de um Feliz Natal para os amigos bloguistas

e os leitores que por aqui passarem.)

imagens de Madonas de Tipolo, Perugino, Botticelli e Rafael.

Quero agradecer emocionado as transcrições

da Bandida, Sony Hary, Branco e Azul e Alexandra,

e as palavras que tenho recebido sobre este texto.

Obrigado a todas/os.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

VAVADIANDO DE NATAL

VÁ.VÁ.DIANDO
15 º J A N T A R DA TE R T Ú L I A

O VAVADIANDO DESEJA
UM FELIZ NATAL
E UM ÓPTIMO 2008

22.12’07: 20H
R E S T A U R A N T E - C A F É V Á V Á

CONVIDADOS ESPECIAIS:
OS PARTICIPANTES

DEPOIS DE RAÚL SOLNADO, FERNANDO DACOSTA, NUNO JÚDICE, TEOLINDA GERSÃO, IVA DELGADO, LÍDIA JORGE, MARIA DO CÉU GUERRA, EURICO GONÇALVES, PAULO PORTAS, LAURO ANTÓNIO, ROGÉRIO SAMORA, CARLOS DO CARMO, CELINA PEREIRA E OTELO SARAIVA DE CARVALHO, CONTINUAM OS JANTARES-ENCONTROS NA MELHOR TRADIÇÃO DAS TERTÚLIAS DO CAFÉ-RESTAURANTE VÁVÁ.

UM JANTAR APENAS DE AMIZADE E CONFRATERNIZAÇÃO
SEM PRENDAS. A PRENDA É A PRESENÇA DE CADA UM


TODOS ESTÃO CONVIDADOS MEDIANTE O PAGAMENTO DE UMA SIMBÓLICA QUANTIA: 12,5 EUROS POR PESSOA. COM DIREITO A SOPA, UM PRATO DO DIA, PEIXE OU CARNE, SOBREMESA, BEBIDA (VINHO É O DA CASA!) E CAFÉ. EXTRAS POR CONTA DO FREGUÊS.
PRATOS DO DIA: ARROZ DE TAMBORIL OU BORREGO ESTUFADO COM BATATA
RECUPEREM O BOM GOSTO DE UM SABOROSO JANTAR E DE UMA RECONFORTANTE CONVERSA À RODA DA MESA.
[ LOTAÇÃO LIMITADA A 50 CADEIRAS. ACEITAM-SE INSCRIÇÕES NO BALCÃO DO VÁVÁ. PAGAMENTO ANTECIPADO]

Para informações:
LAURO ANTÓNIO / [Blogue Va.Va.diando (
http://vava-diando.blogspot.com/ ] [ mail: laproducine@gmail.com ]

marcações de lugares:
RESTAURANTE - CAFÉ VÁVÁ AV. EUA, Nº 100 - 1700-179 – LISBOA (TELF 21.7966761)

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sitio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira


História Antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga


É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

Falavam-me de amor

Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.

Natália Correia

VAVA.DIANDO DE NATAL
TRAGA CONSIGO
UM POEMA,
UMA CANÇÂO,
UMA FRASE
A SUA MÃO…

quarta-feira, dezembro 19, 2007

DIA 18.12.2007 - RODAGEM EM PORTALEGRE















DIA DE RODAGEM EM PORTALEGRE
(muito frio, alguma chuva...)

Para despistar, hoje sem cadeira
Quem tinha todas as certezas fica sem elas...
As fotos continuam a ser do Frederico, assistente.
O Carlos Cunha e o João trataram das imagens.
Entrámos em férias...
durante uns dias.
Pausa para assimilar o já rodado.



domingo, dezembro 16, 2007

CINEMA: PROMESSAS PERIGOSAS

PROMESSAS PERIGOSAS

O cinema de David Cronenberg já se sabe as linhas com que se coze: não dá tréguas ao espectador, é violento, sórdido, poético, penetra nos ambientes mais devastadores, dá-nos da Humanidade um retrato nada optimista no seu geral, mas atravessado sempre por uma linha de redenção e de esperança. Ele é incontestavelmente um dos mestres do cinema fantástico contemporâneo, mas ultimamente nem precisa de sair de um certo realismo de observação do quotidiano para nos surpreender com o mais tremendo “terror”. “Uma História de Violência” e agora este “Promessas Perigosas” são disso bom exemplo. O que quererá dizer que a realidade é de tal forma violenta que não necessita de ser re-inventada para nos sufocar as consciências.
“Eastern Promises” movimenta-se num universo impressionante, o das Mafias de Leste, russas, ucranianas, romenas, chechenas, e por aí fora. Ao pé destas, a Máfia italiana parece coisa religiosa, cheia de rituais e códigos de ética. E não será por acaso que se fala das Máfia Italiana, pois o filme de Cronenberg estabelece com a saga “O Padrinho”, de Francis Ford Coppola, óbvios contactos. Desta feita o cenário não é a Nova Iorque mas sim Londres, e não são emigrantes italianos os protagonistas, mas sim russos.
O filme começa com duas cenas decorrendo em paralelo: de um lado, numa barbearia londrina, um cliente é assassinado barbaramente; numa rua qualquer, Tatiana, uma russa de catorze anos, esvai-se em sangue e desmaia, precipitando um parto que irá terminal de forma fatal para a mãe. O bebé salva-se, é recolhido por uma enfermeira igualmente russa de um hospital de Trafalgar, Anna (Naomi Watts), que descobre entre os pertences de Tatiana um diário escrito em russo que irá tentar decifrar, para conseguir entregar a criança à família. Mas o que encontra é algo de monstruoso que a coloca no seio de uma tenebrosa “família” de russos: Tatiana é apenas uma de muitos milhares de crianças e mulheres de Leste que procuram melhor vida no Ocidente e acabam em regime de perfeita escravatura nas teias de prostituição (e da droga, da venda de armas, do comércio licito e tudo o mais que se possa imaginar e dê lucro imediato), estabelecidas por bandos organizados que as exploram sexualmente e as tratam abaixo de tudo o que é humanamente permitido. Tatiana é um caso mais, mas que traz a assinatura (que o ADN irá provar) de Semyon (Armin Mueller-Stahl), o chefe de uma poderosa “família” que tem no seu filho Kirill (Vincent Cassel) e no motorista da casa, Nikolai (Viggo Mortensen), dois importantes pilares.O ambiente em que decorre o filme é realmente depressivo e angustiante. Tudo nele concorre para este clima absolutamente deprimente, desde a fotografia em tons carregados e asfixiantes, até à direcção artística e à própria interpretação da maioria dos actores, que ronda a impassibilidade total perante a dor nuns casos e a histeria compulsiva noutros. Estamos nos domínios de uma violência que foge a qualquer juízo premeditado. Não há sentimentos, há acção. Disseca-se um cadáver sem um estremecer de olhar. Cortam-se os dedos e esvaziam-se os olhos meticulosamente. Não há nenhuma diferença entre estas acções e os cortes cirúrgicos de um talho. Não há nada de divino, sequer de humano, nestes gestos. Atinge-se o grau zero da neutralidade. O homem passou a ser um fardo que se acarreta, como uma caixa de garrafas, ou como se estabelece o enchimento mecânico de um balão. O que importa são as notas recolhidas no interior de um envelope, euros, dólares ou libras. Esse o motivo, o móbil para agir.
O filme de Cronenberg parte todo ele de uma estrutura e de uma narrativa admiráveis, mas tem momentos particularmente brilhantes. Há que referir a iniciação de Nikolai para “vory v zachone” ou cena passada nos banhos turcos, onde explode uma violência satânica, para oferecer só dois exemplos, mas toda a obra merece citação especial. Passando-se em Londres, fica-se quase por um relato “de câmara”, cingindo-se a um bairro, um diminuto grupo de pessoas, uma tragédia descrita em miniatura, mas que se expande com o fragor de uma bomba atómica. O filme não se atém apenas às actividades das Máfias russas, mas vai mais longe, insinuando de forma inteligência a perenidade do KGB, apenas com outra designação, e indiciando que muito do que se passa no exterior da Rússia lá de dentro é comandado. Algo que nos leva a pensar que o desabar do Muro de Berlim fez explodir uma caixa de Pandora no Leste Europeu de que dificilmente se avaliam as consequências actuais e futuras (ou muito nos enganamos ou toda a recente violência da noite, no Porto, tem causas semelhantes).
Falando dos actores, as personagens são indicadas e interpretadas de forma brilhante, com um exemplar rigor, como é o caso de Viggo Mortensen ou de Armin Mueller-Stahl, ou uma inebriada esquizofrenia, veja-se o trabalho de Vincent Cassell. No intervalo, as figuras mais “normais” de Anna (Naomi Watts), de sua mãe (Sinéad Cusack) e do seu tio (Jerzy Skolimowski), estabelecem confrontos e sugerem esperanças. Em todos os casos citados há uma cuidada linguagem corporal que é desenvolvida até à exaustão.
Esta obra de David Cronenberg não se fica por ser mais um filme de gangsters, melhor ou pior concebido (excepcionalmente concebido, diga-se!). O seu olhar, distante e frio, indica paradoxalmente uma visão ética e empenhada. Uma mundovisão de acentuado cunho trágico. Mais do que um filme de acção sobre Máfias em movimento, “Promessas Perigosas” é uma tragédia do nosso quotidiano. Um grande filme, do melhor Cronenberg, que estará seguramente disputando muitas e justas estatuetas no inicio de 2008.


PROMESSAS PERIGOSAS
Título original. Eastern Promises
Realização: David Cronenberg (Inglaterra, Canadá, EUA, 2007); Argumento: Steven Knight; Música: Howard Shore; Fotografia (cor): Peter Suschitzky; Montagem: Ronald Sanders; Casting: Deirdre Bowen, Nina Gold; Design de produção: Carol Spier; Direcção artística: Rebecca Holmes; Decoração: Judy Farr; Guarda-roupa: Denise Cronenberg; Maquilhagem: Stephan Dupuis, Mary-Lou Green-Benvenuti, Waldo Mason, Paul Mooney; Direcção de produção: Lisa Parker, Bobby Prince, Lori A. Waters; Assistentes de realização: Jeremy Angel, Walter Gasparovic, Ben Howard, Andrew Mannion, Candy Marlowe; Departamento de arte: Robert J. Dugdale, Helen Koutas, Nick Palmer; Som: Christian T. Cooke, Wayne Griffin, Michael O'Farrell; Efeitos especiais: Michael Dawson, Manex Efrem; Efeitos Visuais: Dan Carnegie, Annu Gulati, Victoria Holt, Mai-Ling Lee, Christa Tazzeo, Aaron Weintraub, Fiona Campbell Westgate; Produção: Stephen Garrett, Robert Lantos, Tracey Seaward, Kahli Small, Paul Webster; Companhias de Produção: Serendipity Point Films, BBC Films, Focus Features, Kudos Film and Television, Scion Films Limited.
Intérpretes: Naomi Watts (Anna), Viggo Mortensen (Nikolai), Vincent Cassel (Kirill), Jerzy Skolimowski (Stepan), Armin Mueller-Stahl (Semyon), Josef Altin (Ekrem), Mina E. Mina (Azim), Mia Soteriou (mulher de Azim), Aleksandar Mikic (Soyka), Sarah-Jeanne Labrosse (Tatiana), Tatiana Maslany (voz de Tatiana), Lalita Ahmed, Badi Uzzaman, Doña Croll, Raza Jaffrey (Doutor Aziz), Sinéad Cusack (Helen), Shannon-Fleur Roux (Maria), Lillibet Langley, Radoslaw Kaim, Donald Sumpter (Yuri), Rhodri Wyn Miles, Tereza Srbova (Kirilenko), Elisa Lasowski, Cristina Catalina, Alice Henley, Faton Gerbeshi, David Papava, Tamer Hassan, Gergo Danka, Michael Sarne (Valery), Boris Isarov, Yuri Klimov, Andrzej Borkowski, Olegar Fedoro, etc.
Duração: 100 minutos; Classificação etária: M/16 anos: Distribuição em Portugal: Ecofilmes; Data de estreia: 29 de Novembro de 2007 (Portugal); Locais de filmagem: Broadway Market, Hackney, Londres, Inglaterra.




sexta-feira, dezembro 14, 2007

TEATRO: HIP-HOP'ARQUE

VOLTEI AO PARQUE MAYER
Voltei ao Parque, voltei ao Maria Vitória, voltei à Revista. À portuguesa.
Devo dizer que gosto muito de Revista, desde sempre. Durante muitos anos não perdia uma. Eu sei que a música não é Verdi, o bailado não é Pina Bausch, o texto não é Gil Vicente. Quase nunca o foi. Por vezes há mesmo um certo miserabilismo nos cenários, os bailarinos são trôpegos, os actores em fim de estação, as coristas da loja de trezentos, enfim… a revista pode ser uma desgraça, mas é difícil não ter o seu encanto. O encanto de uma devoção a um género que persiste em não morrer. A sedução de algo que consegue ser verdadeiramente popular, numa mistura de luzes e cores que tanto desemboca na alegria hilariante como na dolorosa nostalgia de um certo “fado lusitano”. A Revista raras vezes foi “pimba”, falsamente popular. Era (e continua a ser nalguns casos) artesanato popular autêntico recriado em cima do palco. Bordalo das Caldas, garrido e certeiro na crítica e no manguito. Foi muitas vezes pobrezinha mas honrada. Depois deixou de ser honrada, vendeu-se à pimbalhada do popularucho falso, quis ganhar dinheiro à pressa, e quase matou a galinha dos ovos de oiro. Gritar grosserias e dizer tudo quanto vem à cabeça contra quem quer que seja, culpado ou inocente, só para os papalvos comerem rápido e pagarem célere, não surte efeito. Mas esta época parece estar a desaparecer. Graças!
Caem os prédios à volta dos Teatros, desaparecem restaurantes e cafés, já não se compram livros em segunda mão num carrinho no meio do largo, não há vedetas internacionais em plumas e lantejoulas, já não se anunciam as “águas que dançam” ou outras novidades tecnológicas de arregalar o olho, mas há homens e mulheres que persistem em lutar por um tipo de espectáculo único.
Compreendo quem não aprecie, nem nunca apreciou. Há gostos para tudo. Respeito. A revista tem de ter o “seu” público. Não é diferenciado nem por classes ou idades. É-o por emoção. Há quem a sinta e quem não a sinta. Eu sinto-a desde miúdo. Por ali vi e convivi com grandes actores e actrizes, encenadores e músicos, por ali ri da crítica que me fazia pensar nos males do antigo regime, por ali catrapisquei vedetas que eram lindas e sedutoras, mesmo quando as meias de rede já ostentavam buracos. Sempre me senti bem no Parque Mayer, mesmo quando começou a ruir. Sempre esperei que mais dia, menos dia, aquele espaço readquirisse a dignidade de outras épocas. Por lá filmei muitos dos 16 episódios de uma série para a RTP dedicada a grandes actores de revista e comédia, “A Paródia”. Filmei a Ivone Silva e a Marina Mota, o Carlos Cunha e o Salvador no Maria Vitória na noite anterior ao incêndio que o arrasou. Não esqueço a peregrinação com o Camacho Costa, a Eduarda e o Frederico ao ABC em rescaldo de chamas. O Parque sempre foi fácil de incendiar. Palcos e corações. Eu gosto do Parque, já perceberam. Eu gosto da Revista, já deu para entender.
Por isso voltei ontem ao Parque, ao Maria Vitória e gostei de voltar. ‘Hip Hop’arque’ é o título desta nova produção conjunta de Hélder F. Costa e da actriz, e aqui também encenadora, Marina Mota, que conta no elenco com Carlos Cunha, João Baião e Ana Brito e Cunha (na sua estreia no género).
Começo por dizer que os actores são excelentes. Marina Mota nunca devia ter abandonado a Revista, onde foi Princesa e hoje é Rainha. (Há anos chamei-lhe o Futre da Nova Geração da Revista e cumpriu as esperanças). Carlos Cunha respira a Revista. É a sua casa natural. Movimenta-se com a elegância de Salvador. João Baião adapta-se na perfeição e desdobra-se com talento. Ana Brito e Cunha é uma revelação nesta sua estreia. Rui de Sá excelente. Paulo Vasco divertidíssimo. Os cenários e figurinos de Helena Reis são muito bonitos, por vezes invulgares. A coreografia de Marco de Camillis evita a pobreza franciscana habitual. A música ouve-se bem. O texto tem coisas boas e outras já muito vistas e revistas – é mesmo a pecha maior, que os actores salvam com a sua verve e improvisação (quase sempre muito mais engraçada que o texto original).
Deve dizer-se sobre a maior parte dos textos das Revistas depois de 1974 que estes pioraram muito depois do fim da censura. É dramático dizê-lo, mas é verdade. Antigamente fazia-se crítica velada, codificada, cheia de piscares de olhos. Os autores escreviam para espectadores inteligentes que tinham que compreender as insinuações. Hoje é um fartar vilanagem que não convence ninguém, a não ser os mais primários. Apetece quase solicitar superiormente que se crie uma censurazinha só para a Revista para ver se os autores passam a cuidar mais da forma de criticar. Mas o melhor mesmo, que a Liberdade é preciosa!, é aprenderem a escrever em Liberdade.
Mesmo assim saí muito satisfeito do Maria Vitória. Nos camarins era um corrupio de gente a abraçar os resistentes e muito merecidamente. O regresso da Marina e do Carlos é um sucesso brilhante. Eles fazem falta à Revista. E há “números” para entrarem directamente na História do género. O Arrumado, a Escola do Grito, o Milho Verde mostram um Carlos Cunha em grande. No Calor da Noite, o Dr. House, o cirurgião estético fazem justiça ao talento de João Baião. A Provadora da Revista é uma ideia magnífica que podia ter sido desenvolvida, na linha de um Diácono Remédios, e que Ana Brito e Cunha merecia. O “quadro de rua” tem momentos divertidíssimos, com os Agentes CSIs Galinheiras, Tretas e Tetas. Um Rui de Sá em bom plano, como ajudante. Paulo Vasco é um “Lobo” e um sacristão impagáveis. E Marina Mota não falha uma intervenção, mostra talento de sobra, mesmo quando o texto não a ajuda. Ela representa, canta e leva-nos a todos na sua marchinha.
A uma publicação afirmou: “Não há falta de talento na Revista. Há bons autores, bons actores, bons cantores. Mas é preciso melhores infra-estruturas, ou seja, maiores e melhores espaços, salas bem equipadas e com condições dignas de acolhimento do público. E isso depende da boa vontade dos nossos governantes, que só se lembram do Parque quando é preciso caçar votos”. Concordo e assino por baixo, com um grande abraço para toda a equipa.

DIA 12.12.07 - DIA 5 DE GRAVAÇÃO

5º Dia de gravações
Prolonga-se o mistério... Ou talvez não.
Há quem se aproxime..
Mas continuam a aparecer e a sentarem-se na cadeira.
Novas imagens, sempre inéditas,
da "cadeira"
e dos seus ocupantes.
No dia 12 sentaram-se na cadeira
Maria Barroso
Adriano Moreira
Varela Gomes
Manuel Serra
As fotos continuam a ser do Frederico Corado
Colaborou toda a equipa
A continuar...

quarta-feira, dezembro 12, 2007

99 ANOS DE MANOEL DE OLIVEIRA

Manoel de Oliveira - 99 anos
Manoel de Oliveira, que completou 99 anos, disse à agência Lusa que está determinado a realizar todos os filmes que ainda tem em projecto: "Continuo enquanto me deixarem e enquanto tiver saúde", disse Manoel de Oliveira, garantindo que quer realizar todos os projectos que tem, sem dar prioridade a nenhum em especial.
«Não quero chegar a parte nenhuma, [o cinema] foi só a minha paixão, foi quase que instintivo», afirmou o cineasta. Escusou-se a falar sobre o seu passado, sublinhando que está concentrado apenas nos planos para o futuro: "Não olho para os filmes que fiz", frisou.
Manoel de Oliveira nasceu no Porto em 11 de Dezembro de 1908, mas foi registado como se tivesse nascido no dia seguinte. Com 76 anos de cineasta e 99 de idade, Manoel de Oliveira é o mais velho realizador de cinema do mundo em actividade e o mais premiado do cinema português. «Douro, Faina Fluvial» (1931), «Aniki Bobó» (1942), «Benilde ou a Virgem Mãe» (1974), «Amor de Perdição» (1979), «Francisca» (1981), «Le Soulier de Satin» (1985), «Os Canibais» (1988), «Vale Abraão» (1993) e «O Quinto Império» (2004) são alguns dos mais de 40 filmes que realizou. «Belle Toujours» e «Cristóvão Colombo - O Enigma» (com estreia marcada para 10 de Janeiro) são as obras mais recentes de Manoel de Oliveira, que tem em projecto «O estranho caso de Angélica» e a adaptação para cinema do conto de Eça de Queiroz «Singularidades de uma rapariga loira». Estas foram as palavras recolhidas em "Diário Digital / Lusa".

De pessoal vai o meu maior abraço de profunda amizade para este homem que nos enche de orgulho, não direi só como portugueses, mas como "pessoas".
(esta semana estreia-se o seu último filme: "Cristovão colombo - O Enigma").

domingo, dezembro 09, 2007

À PROCURA...(5)


Marisa, "Gente da Minha Terra"

NOTA:

a partir de agora novidades sobre este projecto em:

1958 - Notas de Rodagem

À PROCURA... (2)



Amália Rodrigues, "Gaivota", Bélgica, 1973

À PROCURA...


Amália Rodrigues canta "Libertação"

sexta-feira, dezembro 07, 2007

DIA 6.12.07 - DIA 4 DE GRAVAÇÃO

4º Dia de gravações
Prolonga-se o mistério...
Sentados na cadeira recordam passado?
Olham o futuro?
Que nos vêm contar?
Novas imagens, inéditas,
da "cadeira" e dos seus ocupantes.








As fotos continuam a ser do meu assistente Frederico Corado
Hoje sentaram-se na cadeira
Ramalho Eanes
Pezarat Correia
Joaquim Vieira
João Mário Mascarenhas
Colaborou toda a equipa
A continuar...
lá para meados da ´próxima semana