sexta-feira, janeiro 30, 2009

FAMAFEST 2009

A abrir, dia 14 de Março, 21,30 horas:


CARLOS DO CARMO

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A fechar, dia 21 de Março, 21, 30 horas



CORVOS


COMO É BOM LER TEXTOS INTELIGENTES!

E se Obama fosse africano?
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

Mia Couto (com a devida vénia), in Jornal "SAVANA" – 14 de Novembro de 2008

quinta-feira, janeiro 29, 2009

CINEMA: FROST/NIXON

FROST/NIXON
“Frost/Nixon” assemelha-se muito a um combate de boxe entre duas personagens com real existência física: o apresentador de televisão David Paradine Frost (nascido a 7 de Abril de 1939), que ainda há pouco mantinha na televisão inglesa um programa de entrevistas, “Frost Over The World”, na “Al Jazeera English”, e Richard Milhous Nixon (nascido em Yorba Linda, Califórnia, a 9 de Janeiro de 1913 e falecido a 12 de Abril de 1994), que foi o 37º Presidente dos Estados Unidos da América, entre 1969 e 1974, ano em que resignou, depois de se ver envolvido no caso Watergate. Nixon foi o único Presidente dos EUA até hoje a ser obrigado a afastar-se do cargo, em virtude de ter cometido graves irregularidades durante a sua administração. Republicano, tinha atrás de si uma carreira repleta de duvidosos casos políticos, desde a sua activa e decisiva contribuição para o período da “Caça às Bruxas”, durante o Machartismo, tendo depois sido Vice-presidente de Dwight D. Eisenhower (entre 1953 e 1961). Em 1960 perdeu as eleições presidenciais para John F. Kennedy, e em 1962 para governador da Califórnia. Mas, em 1968, seria eleito Presidente e reeleito em 1972. A sua Presidência seria tumultuosa, com graves questões internas e externas (guerra do Vietname, a que curiosamente pôs termo, depois de uma escalada fatídica, e de ter a aceite uma má dissimulada rendição, relações com a China e a URSS, com as quais logrou alguma contenção, guerra com o Cambodja, o Laos, crise económica e caos social nos EUA). A 14 de Agosto de 1974 demitia-se de Presidente, com uma curta declaração, e o seu sucessor, Gerald Ford, anunciava, pouco depois, um perdão para todos os “crimes federais” por si cometidos. Assim se retirou para a sua residência “La Casa Pacifica”, em San Clemente, Califórnia, onde escreveu, em 1978, as mil páginas “The Memoirs of Richard Nixon”, a que se seguiram nove outros volumes (todos muito bem remunerados).
Anteriormente, porém, em 1977, Nixon pretendeu organizar um regresso à vida pública, procurando de alguma forma recuperar a imagem perdida. Foi por isso que aceitou encontrar-se com David Frost, apresentador de shows de variedades e entrevistador de celebridades mediáticas, que tivera alguns programas de certo sucesso em Inglaterra, mas que caíra em desgraça e se encontrava então na Austrália. Forst e Nixon eram por esse tempo “anjos caídos” que viviam tempos de exílio forçado. Ambos combatentes de têmpera, ambos pretendiam um regresso em grande. As seis entrevistas que ficaram combinadas (por um chorudo pagamento de 600 mil dólares, quase todos saídos do bolso de Frost) seriam, portanto, um combate público em que só poderia “haver um vencedor”. Ou um “combate combinado” que assim teria dois vencedores, o que também chegou a ser ventilado nesse momento. As primeiras gravações das entrevistas não foram brilhantes para Frost, que se mostrava demasiado retraído, dando todos os pontos a Nixon, mas, quando chegou a ocasião de abordar o caso Watergate, tudo mudou de figura. Nixon acabaria por confessar publicamente alguns erros e ilegalidades (que, quando cometidas por um presidente, “não eram ilegalidades”, explicou perante a incredibilidade do país). As entrevistas que até aí não tinham motivado grande interesse por parte das cadeias de tv americanas, acabaram por ser um sucesso televisivo, com mais de 45 milhões (há quem fale em 50 milhões) de espectadores em todo o mundo, o que as tornou no maior êxito de sempre no campo das entrevistas políticas televisionadas. Enquadrado historicamente o acontecimento, e o seu inequívoco interesse, cremos não andar muito longe da verdade se dissermos que o verdadeiro protagonista deste filme de Ron Howard é, no entanto, George W. Bush. E porquê? Porque muitas vezes ouvimos Frost, no filme, fazer perguntas a Nixon e quem ouvimos a responder é Bush, tal a sobreposição de questões. De certa forma as entrevistas de Frost constituíram uma espécie de julgamento público de um presidente que levou os EUA para a guerra com falsas questões, com mentiras organizadas a seu favor, acabando por desencadear uma das piores crises militares, políticas, económicas, financeiras e sociais da história daquele país e do mundo. Estamos portanto a ouvir perguntas que poderiam ser endereçadas a George W. Bush, e a julgá-lo publicamente por interposta pessoa. O resultado é confrangedor para um e outro. O filme adquire o estatuto de requisitório indiscutível.
Mas o filme pode (e deve) ser visto ainda sob outros pontos de vista, nomeadamente o das relações entre os meios de comunicação social e o poder instituído. Nixon era pessoa que, a bem ou a mal, “sabia” tratar com a comunicação social. Os seus processos eram quase sempre mafiosos, mas o filme relembra como “as coisas” se podem estruturar. A começar desde logo pelo próprio caso Watergate, que, na base, tem precisamente este problema: como calar certas vozes incómodas da oposição nos jornais? Foi para saber como que colaboradores da Casa Branca resolveram entrar em instalações do Partido Democrata para recolher informações. Ao serem descobertos, desbloquearam toda a tramóia que haveria de liquidar Nixon. Ao olharmos, porém, para estes dois homens em confronto, não nos restam muitas dúvidas de que ambos se equivalem. O duelo é de morte, mas o que está em causa será a reposição da verdade e o julgamento público de um Presidente crápula? Ou será antes os 600 mil dólares que fascinaram Nixon e saíram do bolso de Frost? Ou será o futuro profissional de cada um deles e da rede de colaboradores que os mantêm em exercício? Há algum quixotismo em Frost? Há algum arrependimento em Nixon? Não estarão ambos a investir ao mais alto nível nos seus futuros? Um a querer regressar à ribalta da TV de Inglaterra, outro a querer rentabilizar, o melhor possível, as suas memórias, impondo a comiseração por um lado e o branqueamento, limitado é certo, da sua imagem pública? Afinal o resultado foi o julgamento de Nixon, é uma realidade, mas com um perdão para todos os “crimes federais” e a nova imagem do homem que, apesar dos crimes cometidos, se tinha humilhado, confessando num acto de contrição que todo o país (e o mundo) iria compreender (e perdoar), continuando a comprar “as memórias” que iria futuramente publicar e tanto jeito lhe fariam à contabilidade pessoal.
A forma como a televisão (e toda a comunicação social por arrasto) dialoga com o poder é outra questão delicada que o filme aborda, com alguma subtileza, mas mostrando bem o jogo de influências, sobretudo quando se apostam fortunas numa transmissão e se arriscam carreiras. O início da obra é esclarecedor, desvendando os mecanismos que estão na base dos projectos e como os mesmos se montam ou desmontam. Claro que Ron Howard, não sendo um cineasta particularmente criativo e um “autor” de primeiro plano, é um realizador atento e eficaz. O filme movimenta-se bem em interiores cerrados, as cenas das entrevistas conseguem justificar o tom de quase “thriller” psicológico, adensando o clímax com habilidade. Há um momento, absolutamente ficcionado no filme, que funciona muito bem, quando Nixon, embriagado (apenas um plano de copos e garrafa, anterior, prenuncia o desenlace), telefona a meio da noite a Frost. No dia seguinte, Frost evoca esse telefonema a Nixon, este não o recorda, mas essa confidência do entrevistador irá retirar ao ex-presidente toda a segurança, fragilizá-lo e viabilizar a confissão. Também aqui as comparações com Bush não deixam de se estabelecer.
Retirado de uma peça de teatro de Peter Morgan, que também a adaptou a cinema, “Frost/Nixon” não perde esse intimismo de “filme de câmara”, conseguindo sustentar o confronto (“aproxima-te mais dele, para o intimidares, olha-o nos olhos, interrompe-o para o enervares, não o deixes monologar sobre o que quer”, aconselham os colaboradores de Frost ao apresentador, que até aí garantia a Nixon muito à vontade). A adaptação é por isso boa, mantendo certamente as virtualidades da peça que foi sucesso em Londres e na Broadway, procurando novos valores narrativos, sem desvirtuar o essencial. Informação adicional: Frank Langela e Michael Sheen também interpretavam os mesmos papéis no teatro que agora recriam no cinema. Vamos, pois, e finalmente, ao diálogo de actores. Frank Langella (Richard Nixon) e Michael Sheen (David Frost) são dois bons actores, particularmente o primeiro. Deve sublinhar-se o trabalho de ambos, na assimilação de características e de pormenores de gestos, olhares, entoações, mas se o desempenho é minucioso, e por vezes brilhante, há algo que nos afasta dos verdadeiros protagonistas. Percebe-se que a intenção não foi mimar ao extremo o físico de Nixon ou Frost, mas construir essas figuras sobre a aparência física dos actores que lhe acrescentaram apenas certos tiques ou particularidades. O resultado, não afectando demasiado o filme, acaba por nos distanciar. Não sabemos mesmo se não haverá algo de propositado neste distanciamento (um Nixon que não é totalmente o Nixon das actualidades e dos telejornais da época, para o filme se centrar mais na figura de um Presidente dos EUA, pouco escrupuloso, dado à bebida, prepotente e ardiloso, populista e atávico – será só Nixon que corresponde ao retrato, quando o filme de Ron Howard se estreia em plena campanha de Barack Obama?).
Resumindo: não será o grande cinema norte americano, mas é definitivamente o cinema norte americano liberal, que investiga, que denuncia, que tenta clarificar, tomar partido, defender causas, e mostrar que, no final, numa democracia, por muitos erros que se cometam, há sempre mecanismos que permitem de alguma forma remediar o mal. Claro que para quem não acredita nas democracias representativas, este filme não faz mais do que salvar a face. Aceitamos até a crítica, desde que nos mostrem alternativas, e alternativas viáveis. Mas não serão certamente exemplos do passado, carregados de prepotência, tortura e morte, que nos irão fazer mudar de ideias. Por isso achamos este filme um bom exemplo do que o cinema pode fazer para interferir na realidade e ajudá-la a mudar, para melhor.





Curiosidade suplementar; parece que este projecto antes de ser entregue a Ron Howard passou por várias mãos que o cobiçavam: Martin Scorsese, Mike Nichols, George Clooney, Sam Mendes ou Bennett Miller foram alguns.

FROST/NIXON
Título original: Frost/Nixon
Realização: Ron Howard (EUA, França, Inglaterra, 2008); Argumento: Peter Morgan, segundo peça de teatro de sua autoria; Produção: Tim Bevan, William M. Connor, Eric Fellner, Brian Grazer, Todd Hallowell, Ron Howard, Kathleen McGill, Peter Morgan, Louisa Velis; Música: Hans Zimmer; Fotografia (cor): Salvatore Totino; Montagem: Daniel P. Hanley, Mike Hill; Casting: Janet Hirshenson, Jane Jenkins; Design de produção: Michael Corenblith; Direcção artística: Brian O'Hara, Gregory Van Horn; Decoração: Susan Benjamin; Guarda-roupa: Daniel Orlandi; Maquilhagem: Colleen Callaghan, Edouard F. Henriques, Elizabeth Hoel, Karyn Huston, Sabine Roller, Justin Stafford; Direcção de Produção: Kathleen McGill; Assistentes de realização: William M. Connor, Todd Hallowell, Scott R. Meyers, Kristen Ploucha, Scott Schaeffer; Departamento de arte: Lorrie Campbell, Chad S. Frey; Som: Anthony J. Ciccolini III, Teri E. Dorman, Gary A. Hecker, Solange S. Schwalbe; Efeitos especiais: Chad Baalbergen, Jeff Miller; Efeitos visuais: Eric J. Robertson; Companhias de produção: Imagine Entertainment, Relativity Media, Studio Canal, Working Title Films; Intérpretes: Frank Langella (Richard Nixon), Michael Sheen (David Frost), Sam Rockwell (James Reston, Jr.), Kevin Bacon (Jack Brennan), Matthew Macfadyen (John Birt), Oliver Platt (Bob Zelnick), Rebecca Hall (Caroline Cushing), Toby Jones (Swifty Lazar), Andy Milder (Frank Gannon), Kate Jennings Grant (Diane Sawyer), Gabriel Jarret (Ken Khachigian), Jim Meskimen (Ray Price), Patty McCormack (Pat Nixon), Geoffrey Blake, Clint Howard, Rance Howard, Gavin Grazer, Simon James, Eloy Casados, Jay White, Wil Albert, Keith MacKechnie, Penny L. Moore, Janneke Arent, David Ross Paterson, Jennifer Hanley, Robert Pastoriza, Louie Mejia, Kevin P. Kearns, David Kelsey, James Ritz, Pete Rockwell, Ned Vaughn, Simone Kessell, Ben Pauley, Noah Craft, Talley Singer, Kaine Bennett Charleston, Gregory Alpert, Kimberly Robin, Michelle Manhart, Steve Kehela, Antony Acker, Jenn Gotzon, Googy Gress, Marc McClure, Joe Spano, etc. Duração: 122 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 22 de Janeiro de 2009.

NIXON E FROST, OS AUTÊNTICOS

DOIS VIDEOS SOBRE A DEMISSÃO DE NIXON DE PRESIDENTE





FOTOS DOS VERDADEIROS INTERVENIENTES, FROST E NIXON

quarta-feira, janeiro 28, 2009

UM DISCURSO MEMORÁVEL

Sobre Religião, Democracia, Inteligência e Direitos Individuais

CINEMA: VICKY CRISTINA BARCELONA

VICKY CRISTINA BARCELONA
Duas jovens americanas aterram em Barcelona para umas férias de Verão. Vicky (Rebecca Hall) vem estudar a cultura catalã e a arte de Gaudi, por que se apaixonara aos 14 anos, e está noiva de um executivo norte-americano, tendo o casamento aprazado para daí a meses; Cristina (Scarlett Johansson) parece ser o inverso da “bem comportada” amiga, inquieta e instável, quer sorver a vida sofregamente, a goles de paixões que se sucedem. Instalam-se em casa de amigos que as convidaram e, numa inauguração de uma galeria de arte, conhecem Juan Antonio Gonzalo (Javier Bardem) que as convida, na primeira conversa que mantêm, para uma visita a Oviedo, um jantar e uma cena de amor a três. Claro que Vicky, chocada, protesta o seu puritanismo e invoca o próximo casamento, enquanto Cristina acaba por levar todos até Oviedo, onde tudo se passa ao contrário do que se poderia pensar. Cristina vai ao quarto de Juan António, mas acaba doente, a sopas e descanso, sozinha no “seu” quarto, e a preconceituosa Vicky, secretamente, e sem dar conhecimento do caso a ninguém, nem à melhor amiga (nem, sobretudo, ao namorado, futuro marido), dá livre curso à sua libido desenfreada. Nem tudo o que parece é, e as mais sonsas são as que mais prevaricam, já se sabe. Nomeadamente as que mais invocam a sua incorruptível moralidade. Este o início de “Vicky Cristina Barcelona”, uma deliciosa comédia de costumes que Woody Allen escreveu e foi rodar a Barcelona, cidade que se afirma igualmente como personagem nesta trama de amores lícitos e ilícitos. O mais divertido neste filme é que parece que estamos a assistir a uma obra concebida a quatro mãos: Vicky e Cristina são personagens de Woody Allen; José António e a sua fogosa e fatal ex-mulher Maria Elena (Penélope Cruz) são personagens de Almodóvar; o diálogo tem o brilhantismo próprio de um certo humor judeu nova-iorquino, que Woody Allen tão bem desenvolve, numa ironia fina e numa inequívoca ternura pelos seres humanos, as suas fraquezas e as suas forças, mas o cenário, de Barcelona a Oviedo, parece o “décor” de uma obra de Almodóvar.
Filme sobre a imponderabilidade da vida e os caprichos do amor, rodado numa Barcelona de cores doces e voluptuosas, cuja arquitectura de Gaudi ajuda a moldar numa perspectiva arrevesada e tortuosa, “Vicky Cristina Barcelona” é mais uma daquelas obras onde o confronto de duas civilizações, e de dois comportamentos quase inconciliáveis cria o conflito e mantém a expectativa. De um lado, os americanos planificados, pragmáticos e algo puritanos, por muito que afirmem que “não julgam ninguém”. Por outro lado, a vida boémia e libertina dos artistas europeus, herdeiros de um contexto histórico muito diferente, e que exerceu sempre um enorme fascínio nos companheiros do outro lado do Atlântico (veja-se por exemplo, a dita “geração perdida” dos anos 20, que emigrou quase toda para o Velho Continente, por longas temporadas, em busca de inspiração e vivência intensa). Cristina é um caso desses, americana como Vicky, mas sequiosa de novidades e pronta a entregar-se aos mais díspares triângulos e duetos amorosos. A sua franqueza irá talvez fazê-la sofrer mais, cada nova paixão equivale a um novo desgosto, mas, para quem assim vive, a dor é o equivalente ao prazer e tudo vale a pena se a vida não é pequena. Inteligentemente escrito, na narrativa em off, bem como nos diálogos, inventivo nas situações, subtil no humor, magnificamente encenado em cenários que percorrem os lugares essenciais de Barcelona, sem cair no rodriguinho do bilhete postal turístico, “Vicky Cristina Barcelona” impõe-se ainda pela qualidade do trabalho dos actores Javiem Bardem é o fulgurante artista romântico por excelência (a ex-mulher tem a teoria, quem sabe se certa?, de que só são românticos os amores impossíveis ou condenados ao fracasso, no caso dela, aos sucessivos fracassos, porque volta sempre ao lugar do crime, repetindo a dose); Penélope Cruz, é uma espanhola que gosta de “touros de morte” e avança de faca ou pistola em punho para qualquer ajuste de contas emocional; Scarlett Johansson mantém o nível a que nos habituou ultimamente, mas continua a desiludir um pouco, e Rebecca Hall torna-se a grande surpresa do filme, ela que se impõe nos últimos anos de título em título (em exibição igualmente em “Frost/Nixon”).
Vicky Cristina Barcelona
Título original: Vicky Cristina Barcelona
Realização: Woody Allen (EUA, Espanha, 2008); Argumento: Woody Allen; Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum, Gareth Wiley, Bernat Elias, Charles H. Joffe, Javier Méndez, Helen Robin, Jack Rollins, Jaume Roures; Fotografia (cor): Javier Aguirresarobe; Montagem: Alisa Lepselter; Casting: Patricia Kerrigan DiCerto, Juliet Taylor; Design de produção: Alain Bainée; Direcção artística: Iñigo Navarro; Guarda-roupa: Sonia Grande; Maquilhagem: Robert Fama, Manolo García, Ana Lozano, Jesús Martos, Eva Quilez; Direcção de Produção: Bernat Elias, Oriol Marcos; Assistentes de realização: Daniela Forn, Murphy Occhino, Richard Patrick, Anna Rua; Departamento de arte: Marina Pozanco; Som: Robert Hein; Efeitos visuais: Randall Balsmeyer, J. John Corbett; Companhias de produção: Mediapro, Gravier Productions, Antena 3 Films, Antena 3 Televisión; Intérpretes: Rebecca Hall (Vicky), Scarlett Johansson (Cristina), Javier Bardem (Juan Antonio Gonzalo), Penélope Cruz (Maria Elena), Christopher Evan Welch (Narrador), Chris Messina (Doug), Patricia Clarkson (Judy Nash), Kevin Dunn (Mark Nash), Julio Perillán (Charles), Juan Quesada (Guitarista), Richard Salom, Manel Barceló, Josep Maria Domènech, Emilio de Benito, Maurice Sonnenberg, Lloll Bertran, Joel Joan, Sílvia Sabaté, Jaume Montané, Pablo Schreiber, Carrie Preston, Zak Orth, Abel Folk, Jordi Basté, Michael Bennett, Paco Mir, Rodrigo Rojas, etc. Duração: 96 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 22 de Janeiro de 2009;

terça-feira, janeiro 27, 2009

CRISES: 1929 - 2009

o crash de 1929...
APRENDER, OU NÃO, COM O PASSADO

A situação mundial agrava-se a olhos vistos. Preocupante nos seus actuais contornos sociais, mas sobretudo preocupante no desenho que ameaça esboçar-se no futuro. No entanto, há no passado suficientes razões para se ter aprendido um pouco com o que aconteceu e não permitir que o futuro repita erros. Acontece que tudo parece evoluir numa mesma direcção, como se nada se tivesse assimilado.
O que está a acontecer agora, com base na América, assemelha-se em muito ao que aconteceu a partir de 1929, com origem na mesma América. O crash bolsista, a crise financeira, a derrocada económica, o desregramento social, o desemprego, o aumento de criminalidade, o extremar dos campos políticos, com extrema esquerda e extrema direita a tentarem aproveitar o caos, para destruírem a democracia e implantarem regimes totalitários, tudo isso aí está outra vez, com algumas nuances, mas muito pouco de novo.
A crise resulta obviamente de uma desregularização capitalista, que teve como base a inconcebível administração Bush. Não há dúvidas possíveis. Escandaloso apoio a mafiosos banqueiros, proteccionismo aos mais fortes, despesismo acima do legítimo, endividamento, crédito mal parado, guerras estúpidas, mentiras, isolamento internacional, enfim, o retrato já foi revelado e não adianta muito estar a enunciar tudo, a não ser para se reflectir nos erros (inclusive os que permitem que um completo incompetente tenha ascendido ao mais alto posto político mundial) e procurar antídotos. Não se pode voltar atrás, só se pode prever o futuro, ou fazer alguma coisa para isso.
Tal como em 1929, o que veio a seguir foi muito pior do que a funesta crise. O que veio a seguir foram as ditaduras por todo o mundo e a II Guerra Mundial. Agora, em 2009, tudo se pode repetir e existem muitos elementos que nos permitem dizer que se está já a repetir. Acontece que o mundo evoluiu, a globalização é um facto (por vezes negativo, mas também pode ser positivo, se bem aproveitado) e as sociedades podem e devem encontrar dentro de si os antibióticos certos para combater o bacilo. Mas o que se vai vendo, com raras excepções, não é isso.
O que se vai vendo é as democracias a suicidarem-se às mãos dos seus inimigos tradicionais. É sabido que há regulares fontes de intoxicação, à direita e à esquerda, que só procuram a instalação do caos social para terem a veleidade de chegar ao poder que de outra forma nunca atingiriam (em períodos de lucidez social). Mas as crises económicas e políticas trazem consigo a desordem social e sobretudo a desordem mental. O cidadão comum, que normalmente até pensa, parece prescindir desse dom e deixa-se levar na mais baixa demagogia, deixa-se instrumentalizar pela manipulação mais reles, grita como um louco, gesticula, e no fim acaba manietado numa ditadura que ajudou a criar e vai bater com os costados numa qualquer guerra que depois afirma não saber como aconteceu e de que afinal, desculpabiliza-se, não teve responsabilidade nenhuma. Falso: teve-a toda, se tivesse pensado a tempo e agido de acordo.
Mas o que se vê é assumpção da idiotia, nos meios de comunicação social, na política, nas instâncias oficiais, nos partidos, na opinião pública (leiam-se os blogues, os posts que proliferam, os comentários bacocos, levianos e irresponsáveis). Veja-se as filosofices baratas de aprendizes de feiticeiros que ressuscitam teorias da prepotência para condicionar o exercício da inteligência. Veja-se a forma nada subtil como se tenta denegrir tudo e todos para se impor o deserto das ideias. Os políticos são todos uns corruptos, as instituições de um legal exercício do poder são torpedeadas, as opiniões dos intelectuais e dos pensadores em geral são minimizadas (cambada de gajos que se alimenta, que até ganha dinheiro para escrever o que pensa), o opinião pessoal é desprezada, em favor de uma opinião pública que se sabe como se manipula facilmente. O que se vê é o que se viu antes do nazismo, do fascismo, do estalinismo terem assentado arrais pelo mundo. A morte da inteligência, o suicídio da tolerância e do diálogo, a apologia do confronto, do extremar de posições, o apelo da guerra. Um ligeiro arremedo pode desencadear o tsunami. Uma faísca causa o incêndio.
A América em 1929 teve Roosevelt para arrumar a casa. Pode ter Obama em 2009. Mas entre 39-45 a guerra foi sobretudo na Europa. Em 2000 e não sei quantos voltará a ser na Europa, se não tivermos juízo. E o juízo deve vir dos políticos, dos intelectuais, dos quadros, mas sobretudo de nós todos, da “arraia miúda” de que falava Fernão Lopes, que não se pode deixar levar mais por mensageiros da desgraça e da catástrofe, que tudo fazem para colocar os seus interesses e o seu poder ditatorial acima do interesse geral. Campos de extermínio na Alemanha ou na Sibéria outra vez, não obrigado. Nem em nome da raça ariana, nem em nome do “homem novo”. Viver com dignidade em liberdade é quanto basta. Se houver que fazer sacrifícios para as manter, que se façam, mas não se peçam paraísos na terra, quando o que se sabe que vem depois são infernos devastadores.

...acabou assim.

domingo, janeiro 25, 2009

CINEMA: O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON

O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON

Em relação a este filme, arrume-se de início o caso da “influência” de F. Scott Fitzgerald. Este foi, sem margem para grandes dúvidas, um dos maiores escritores americanos da primeira metade do século XX, um autor pertencente à “geração perdida” (Ernest Hemingway, John Dos Passos, Ezra Pound, Sherwood Anderson, Waldo Peirce, Dorothy Parker,T. S. Eliot, ou Gertrud Stein, que, dizem criou o termo, depois vulgarizado por Hemingway), que se afirmou durante os “loucos anos 20” ou os “roaring twenties”, e que consolidou a sua celebridade, sobretudo com dois ou três romances que ajudaram a construir a moderna narrativa norte-americana, como “O Grande Gatsby", “Terna é a Noite” ou “Este Lado do Paraíso” (os seus romances são “This Side of Paradise”, 1920; “The Beautiful and Damned”, 1922; “The Great Gatsby, 1925; “Tender is the Night”, 1934 e “The Last Tycoon”, 1940). Mas F. Scott Fitzgerald cultivou igualmente o conto, sobretudo como forma de sustento diário, publicando-o em revistas literárias e depois reunindo-os em antologias várias. “Flappers and Philosophers” (1920), “Tales of the Jazz Age” (1922), “All the Sad Young Men” (1926) e “Taps at Reveille” (1935) são as principais, agrupadas em 1989 num volume, "The Short Stories of F. Scott Fitzgerald". “The Curious Case of Benjamin Button” aparece incluído na antologia de 1922, “Tales of the Jazz Age”, e é um divertimento muito saboroso, extremamente bem escrito, numa linguagem solta e livre, que dá muito bem o tom da época, e que, segundo confissão do próprio Scott Fitzgerald, parece ter sido sugerido por uma frase, ou um pensamento, de Mark Twain que se lamentava que “os melhores tempos de uma vida fossem no início e os piores quando se chega ao fim, na velhice.” Pegando nesta sugestão, F. Scott Fitzgerald construiu uma metáfora curiosa, sobre as idades da vida e a possibilidade da sua intermutação: assim Benjamin Button nasce encarquilhado e às portas da morte com setenta anos e inicia a sua cavalgada para a maturidade, depois a adolescência, até chegar a bebé e finar-se durante o sono. A perspectiva não é tanto metafísica ou filosófica, afirmando-se mais como uma diversão escrita com o sabor algo snobe e diletante de um frequentador do “jet-set” nova-iorquino, do champanhe embriagador da Hollywood da altura ou da boémia de Paris ou de Saint Tropez. Finou-se, apenas com 44 anos, e um coração arrasado pelo álcool, os amores, o stress emocional e uma propensão evidente para o suicídio, igualmente muito em moda nesses tempos de vida intensa e morte súbita. Foi este citado conto que serviu de base ao filme de David Fincher com igual nome, mas falar de inspiração é já dizer muito. Quase nada do conto de F. Scott Fitzgerald passa para o filme a não ser a ideia central de nascer velho e morrer bebé. Esta inversão de ciclo de vida, que já viera de Mark Twain, passara por F. Scott Fitzgerald, toma nova forma no filme de David Fincher, que se afasta do cinema que até agora o caracterizara para se entregar a uma obra que, se continua a ser extremamente pessoal, não deixa de representar uma ruptura com o estilo de filmes da sua anterior filmografia (onde sobressaem títulos como “Alien 3, a Desforra”, “7 Pecados Mortais”, “Clube de Combate”, “O Jogo”, “Sala de Pânico” ou “Zodíaco”). Este universo “negro” que penetra no mais profundo da alma humana e também no que de mais sinistro nela existe parece afastar-se de uma obra aparentemente romântica e com alguma esperança no futuro, como temos visto por aí escrito. Mas será que é assim? Um dos aspectos que me deixa algo confuso em relação a “O Estranho Caso de Benjamin Button”, é precisamente a opacidade da obra que não se deixa penetrar tão facilmente quanto se pensa. Há uma leitura extremamente críptica e cerrada do filme que parece escapar a uma primeira leitura. A mais óbvia é tão evidente e pueril que não pode ser só isso. David Fincher não ia realizar um filme sobre um homem que nasce velho e morre bebé sem ter por detrás uma interpretação metafórica para este facto inusitado. O que se pode desde logo concluir é que os homens estão condenados, qualquer que seja a cronologia da sua vida, quer nasçam bebés quer nasçam velhos, o ciclo é idêntico e intermutável. Tanto se morre novo como velho. Mas a verdade é que o ciclo não é semelhante. Senão vejamos.
No conto de F. Scott Fitzgerald a narrativa inicia-se no “longínquo ano de 1860”. Os pais da criança chamam-se Button e tinham aderido ao "fascinante velho costume de ter bebés", mas, em vez de os ter em casa, a mãe vai pari-lo no "Hospital Particular de Maryland para Damas e Cavalheiros", onde, no dia certo, dá a luz um velho de barbas, que provoca a indisposição em todo o hospital e a ira do médico assistente: "Peço-lhe que vá e veja com os seus olhos. Escandaloso! (...) Imagina que um caso como este beneficia a minha reputação profissional? Outro igual arruinar-me-ia... arruinaria qualquer um. (...) Não, não se trata de trigémeos. Sabe que mais? Vá e veja com os seus olhos. E arranje outro médico. Trouxe-o a este mundo, meu rapaz, e há quarenta anos que sou médico da sua família, mas agora acabou-se! Estou farto. Não quero voltar a vê-lo nunca mais, nem a si, nem a nenhum dos seus familiares! Passe bem." Em lugar de depositar o bebé envelhecido à porta de um lar de idosos, o que acontece no filme, o pai vai “à baixa comprar roupa” para o velho que lhe apareceu no berçário. “E uma bengala, não se esqueça, pai. Preciso de uma bengala!”, relembra o rebento ao senhor Button. Óbvio que estamos no domínio da farsa. No conto. No filme o tom, ainda que aqui e ali permita um sorriso, é mais pesado. Um bebé (mais ou menos parecido com Brad Pitt quando ele tiver 80 anos) é depositado na escadaria de um lar de terceira idade, dirigido por uma generosa negra de nome Queenie. Ela irá adoptá-lo, tratá-lo como um filho que se habitua a ver regredir na idade. Enquanto os velhos do lar vão murchando e morrendo, Benjamin vai transformando-se num ser cada vez mais novo. Ainda velhote descobre uma miúda, Daisy, que se irá tornar o grande amor da sua vida. Aqui ocorre o grande paradoxo do filme: no ciclo habitual da vida, Benjamin e Daisy nunca se encontrariam como casal normal. Ele tinha 60 anos, ela 9, quando ela tivesse 18 ele teria 69, coisa estranha para um casal (ainda que não de todo impossível, já se sabe, ele há casos). E se ele vivesse até aos cem anos (o que não é normal, mas todos nós sabemos muito possível) poderiam coexistir apaixonados ainda 31 anos. Uma pequena vida, muito pouco provável, mas possível.
Mas se acontecer o ciclo inverso da vida, que o filme de David Fincher documenta, se ele tiver 60 e ela 9 quando se encontram pela vez primeira, irão reencontrar-se um dia com a mesma idade (qualquer coisa como ele 35, ela 34). Não é um encontro que permita uma vida “tranquila” de mais vinte anos sequer (quando ela tiver 54, ele tem 15!). Quando se vive lado a lado, no mesmo sentido dos ponteiros de um relógio que ande para a frente, o que vemos é futuro. Quando o ponteiro do relógio desanda para o passado num dos parceiros, o resultado não é um encontro com futuro, mas um quase desencontro. Por isso, a tese que alguns apontam para o filme não me parece certa: viva-se de início para o fim ou do termo para o princípio, o importante é viver bem a vida e aproveitar o que fica no meio, isto é os anos de vida plena. Esta interpretação pode ser correcta para o conto. Mas não é exacta no filme, que, aliás, o exemplifica. Benjamin afasta-se do seu grande amor, afasta-se da filha que será perfilhada por outro, quando se aproxima da adolescência. A existência que se vive em comum, e que em comum evolui num mesmo sentido, permite o usufruto conjunto do amor, do nascimento dos filhos, do progressivo envelhecimento, da fruição dos netos… Em Benjamin Button nada disso acontece. O que parece apontar a intenção do filme numa outra direcção: aproveitem bem o que têm, pois, como aqui vêem demonstrado por absurdo, se fosse de outra maneira não seria tão agradável. Aliás, a corroborar esta interpretação está o facto de Benjamin viver a sua “velha meninice” num lar de velhos onde tudo acontece com uma absoluta calma e nenhuma intranquilidade. Ali se cumpre a última etapa da vida, aceitando-a com uma certa bonomia e sem grande tragédia. Como quem diz: “A vida é assim, nasce-se e morre-se e não há nada a fazer em contrário, senão aceitar o destino e aproveitar este instante de existência para se ser feliz”.
Mas “O Estranho Caso de Benjamin Button” vai mais longe nas suas implicações. O filme inicia-se num hospital de Nova Orleans em véspera do furacão Katrina (29 de Agosto de 2005). Uma velha senhora, às portas da morte, pede à filha que esta lhe leia um misterioso diário que ela conserva religiosamente guardado até aquele dia. A filha inicia a leitura que recorda a invulgar vida de Benjamin Button, desde o seu nascimento. A leitura evoca o passado e introduz um “flashback” (“regresso ao passado” em “gíria” cinematográfica) e a imagem da filha lendo este diário à mãe transforma-se num refrão que regularmente interrompe a narrativa. Cada nova leitura reintegra uma nova fase da vida de Benjamin. É muito curioso este processo num filme que trabalha sobretudo com o tempo, a passagem do tempo, as intermitências do tempo, o aparecimento do tempo (o nascimento), a paragem no tempo (a morte) ou a História como a dilatação do tempo (interessante comparar este filme com “Forrest Gump”, também ele escrito pelo mesmo argumentista, Eric Roth). Se se analisar bem a obra, esta estrutura-se como um encadeado de “flashbacks” (na actualidade, a filha lê o diário; no interior do diário existem novos “flashbacks” e bizarras anomalias de tempo, como o episódio em que Daisy é atropelada, onde se assinalam os artifícios do acaso com uma sequência rodada cronologicamente, que é depois invertida e relançada de novo, mas agora obedecendo a uma lei de imponderabilidade na existência humana). De resto, estas “evocações” da vida de Benjamin são pretexto para invocações mais amplas de momentos da História da América e da Humanidade (a II Guerra Mundial, o Flower Power e os Beatnicks, etc.). Ao ver “O Estranho Caso de Benjamin Button” é quase impossível não estabelecer algumas comparações com a obra de um escritor como Paul Auster, onde o acaso e as coincidências ocupam igualmente um importante lugar no decorrer da vida das suas personagens. Este “trabalhar do tempo” no cinema remeta para outras obras cinematográficas, como por exemplo “Intolerância”, de David W. Griffith, na qual uma mãe vai cantando e embalando o berço onde se encontra a filha, enquanto vários episódios da eclosão da intolerância ao longa da História do homem vão sendo ilustrados. Aqui invertem-se os papéis, é a filha que lê à mãe moribunda (inversão total: filha - mãe, nascimento – morte), mas o efeito é idêntico (ainda que superior em Griffith, mais contido, sendo talvez excessivo em Fincher – há demasiadas interferências deste refrão no decorrer da obra). Mas o tempo é um fascínio para o cinema, com as suas viagens (os vários “Regressos ao Futuro”, de Rober Zemeckis; “O Efeito Borboleta”, de Eric Bress e J. Mackye Gruber, “Deja Vu”, de Tony Scott, “Donnie Darko”, de Richard Kelly, “The Final Countdown”, de Don Taylor, “Groundhog Day”, de Harold Ramis, “It's A Wonderful Life”, de Frank Capra, “Je t'aime, je t'aime”, de Alain Resnais, “Melinda and Melinda”, de Woody Allen, “Peggy Sue Got Married” , de Francis Ford Coppola, “The Philadelphia Experiment”, de Stewart Raffill, “Planet of the Apes” de Franklin J. Schnaffner ou de Tim Burton, “Slaughterhouse Five”, de George Roy Hill, “Time After Time”, de Nicholas Meyers, “Time Bandits”, de Terry Gilliam, “Timeline 2003”, de Richard Donner, “The Time Machine”, de Pal George ou “Time Machine”, de Simon Wells, para só citar alguns dos casos mais evidentes e mais interessantes.
"Contar-vos-ei o que aconteceu e deixar-vos-ei ajuizar por vós próprios”, afirma F. Scott Fitzgerald no início do seu conto. David Fincher, numa outra perspectiva, parece deixar igualmente ao espectador essa tarefa, sem impor uma leitura unívoca. Sem ser um filme que nos apaixone particularmente, “O Estranho Caso de Benjamin Button” possui, todavia, motivos bastantes para se situar entre os títulos importantes do fim de 2008 (nos EUA) e do início de 2009 (em Portugal). As treze nomeações para Oscars não nos espantam, sobretudo porque muitas delas se situam em domínios onde o filme é particularmente brilhante (a fotografia de Claudio Miranda é especialmente notável, pelas variações de estilo que ostenta, sempre perfeita, até quando copia o filme mudo nessas deliciosas cenas do velho que recorda os sete raios que o atingiram ao longo da vida; a direcção artística de Donald Graham Burt e o guarda-roupa, de Jacqueline Westé, são igualmente extraordinários, pela forma como vão captando o tom das épocas por onde vai passando o filme; a partitura musical de Alexandre Desplat é admiravelmente evocativa; o trabalho da equipa de caracterização é também excelente). Já nos parece muito duvidoso que as nomeações principais se cumpram realmente em Oscars. A realização, os actores principais e adaptação do argumento não nos parecem merecer os prémios, apenas justificam as nomeações. São realmente bons, mas sem deslumbrarem. Caso muito diverso é o de Taraji P. Henson, na figura de Queenie, inteiramente à altura do Oscar. Resumindo, se o filme regressar com quatro ou cinco estatuetas intermédias, já será um bom resultado.
O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON
Título original: The Curious Case of Benjamin Button
Realização: David Fincher (EUA, 2008); Argumento: Eric Roth, Robin Swicord; Produção: Ceán Chaffin, Jim Davidson, Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Marykay Powell; Música: Alexandre Desplat; Fotografia (cor): Claudio Miranda; Montagem: Kirk Baxter, Angus Wall; Casting: Laray Mayfield; Design de produção: Donald Graham Burt; Direcção artística: Kelly Curley, Tom Reta; Decoração: Victor J. Zolfo; Guarda-roupa: Jacqueline West; Maquilhagem: Colleen Callaghan, Brian Sipe; Direcção de Produção: Manon Bougie, Marc A. Hammer, Peter Mavromates, Daniel M. Stillman; Assistentes de realização: Carl Kouri, Allen Kupetsky, Steve Lonano, Maria Mantia, Bob Wagner, Pete Waterman; Departamento de arte: Lorrie Campbell, Tammy S. Lee, Masako Masuda, Clint Wallace, Randall D. Wilkins; Som: Ren Klyce; Efeitos especiais: Ted Allen, Burt Dalton, Liah Saldaña; Efeitos visuais: Eric Barba, Charlie Bolwell, Atsushi Imamura, Chris McLeod, James Pastorius, Wendy Pirotte, Steve Preeg, David Pritchard, Kyle Ware, Kyle Ware, Daniel Warom; Animação: Jonah Austin; Anthony Rizzo; Companhias de produção: The Kennedy/Marshall Company, Paramount Pictures, Warner Bros. Pictures; Intérpretes: Brad Pitt (Benjamin Button), Cate Blanchett (Daisy), Julia Ormond (Caroline), Tilda Swinton (Elizabeth Abbott), Elias Koteas (Monsieur Gateau), Taraji P. Henson (Queenie), Jason Flemyng (Thomas Button), Faune A. Chambers (Dorothy Baker), Donna DuPlantier (Blanche Devereux), Jacob Tolano (Martin Gateau), Earl Maddox, Ed Metzger (Teddy Roosevelt), Danny Vinson, David Jensen, Joeanna Sayler (Caroline Button), Mahershalalhashbaz Ali (Tizzy), Fiona Hale, Patrick Thomas O'Brien, Danny Nelson, Marion Zinser, Peter Donald Badalamenti II, Paula Gray, Lance E. Nichols, Rampai Mohadi, Troi Bechet, Phyllis Somerville, Elle Fanning, Ted Manson, Clay Cullen, Edith Ivey, Robert Towers, Jared Harris, Sonya Leslie-Shepherd, Yasmine Abriel, Madisen Beaty, Tom Everett, Don Creech, Joshua DesRoches, Christopher Maxwell, Richmond Arquette, Josh Stewart, Ilia Volok, David Ross Paterson, Taren Cunningham, Myrton Running Wolf, Stephen Taylor, Devyn A. Tyler, Adrian Armas, Wilbur Fitzgerald, Ashley Nolan, Louis Herthum, Katta Hules, Rus Blackwell, Joel Bissonnette, Deneen Tyler, Spencer Daniels, Chandler Canterbury, Charles Henry Wyson, Jessica Cropper, Katherine Crockett, etc. Duração: 166 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Warner; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 15 de Janeiro de 2009.

25 DE JANEIRO DE 2009

mal-me-quer, bem-me-quer!

sexta-feira, janeiro 23, 2009

PRÉMIOS DE TEATRO EM PORTUGAL


Votações abertas para os Prémios de Teatro Guia dos Teatros 2008!

Como aconteceu o ano passado, o Guia dos Teatros vai atribuir os Prémios de Teatro Guia dos Teatros, desta feita referentes ao ano de 2008 e que serão entregues em Maio de 2009. Todos os leitores interessados em votar devem fazer o download do boletim de voto (que encontram aqui) e fazer o envio das suas nomeações para o mail entrarempalco@entrar-em-palco.pt referentes às categorias a concurso.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

OSCARS 2009 - NOMEAÇÕES


Já sairam as nomeações para os Oscars.
"O Estranho Caso de Benjamin Button" lidera as nomações, com 13.
Mas podem ser vistas todas AQUI.

CINEMA: SECOND LIFE

SECOND LIFE
Antestreia no CCB – 21 de Janeiro

A meio do filme, Pedro Lima grita, num acto de suprema lucidez: - “Foda-se! Foda-se! Foda-se!”
Tem razão. Foram as mais penosas três horas a que assisti do mais recente cinema português! (O quê, o filme só tem 82 minutos? Estranho, julgava que tinha 3 horas”).
Alguém disse à abrir que era “O filme do Ano!” e que “iria transformar o cinema português!” Acredito, mas não pelas razões invocadas. Pelas inversas.
Um gajo faz anos e reúne meia dúzia de amigos numa casa com piscina. Ao princípio da noite, já quando duas meninas se lambuzam na cama uma à outra para animar a malta, ouve-se um baque, correm todos para a piscina e o gajo aniversariante bóia de barriga para baixo. Olham todos, numa rígida marcação, incluindo a mulher da vítima. Um deles faz o gesto de despir o casaco, mas outro atira-se, volta o corpo, e deixa-o ficar a boiar, agora de barriga para cima. É noite. Na manhã seguinte, estão todos mais ou menos nas rígidas marcações e aparece um guarda nacional republicano que pergunta: Está na piscina desde ontem à noite? Porque não o retiraram?” Respondem: “Estava morto!” Réplica do GNR: “Bem, se não estivesse, agora já está!” (esta é a melhor piada do filme).
"Second Life" conta igualmente com a participação de Piotr Adamczyk, Lúcia Moniz, José Wallenstein, Ruy de Carvalho, Nicolau Breyner, Tiago Rodrigues, Ricardo Pereira, Sofia Grilo, Cláudia Vieira, Pedro Lima, Paulo Pires, Pepê Rapazote, Paulo Rocha, Liliana Santos, Sandra Cóias, ainda dos apresentadores de televisão Fátima Lopes, José Carlos Malato, Luís Filipe Borges e Rita Andrade, e de Luís Figo. Ok. Muitos modelos, apresentadores de TV e um futebolista. Costuma dizer-se que os modelos não vão bem nos filmes portugueses. Aqui não vão mal, porque o filme é feito todo para eles: trata-se de uma passagem de modelos, que vai evoluindo ao sabor das atracções turísticas (o Algarve que financia a fita) e dos “product placements” (que entram com algum como publicidade mais ou menos encapotada), e das cenas mais ou menos eróticas (mais menos do que mais mais). Eles passeiam-se e param. O filme também, ao sabor de uma história que um dia alguém me há-de contar (se estiver sóbrio!).
Há dias, o produtor Alexandre Valente (o mesmo de “Corrupção” e de “O Crime do Padre Amaro”) disse à Lusa que "o filme é uma selecção de vida, é sobre como seria se tivéssemos hipótese de viver uma segunda vez." É possível. Não sei bem. Vi o polaco ter várias vidas, várias mulheres, e duas mortes, e ainda ser entrevistado por um psicanalista. Andar de balão, cair na piscina, cambalear de bêbado, ser entrevistado por uma jornalista acompanhado pelo movimento de câmara mais enjoativo da história do cinema, e repetir tudo. Há ainda uma menina que não resiste a uma mulher ou um homem, desde que tenham duas pernas. Por isso, oferece-se de 5 em 5 minutos a quem lhe passa por perto, o que num filme com três horas é obra de resistência! (O quê, o filme só tem 82 minutos? Estranho, julgava que tinha 3 horas”).
Curioso. Este é dos piores filmes que vi de há uns anos a esta parte, e consegue ter uma fotografia excelente (de Acácio de Almeida), uma música excelente (de Bernardo Sassetti), e aparições boas de quase todos os actores que, tal como os modelos e os apresentadores, à falta de personagens “passam” muito bem na passerelle. Já o argumento não existe, a organização dramática não existe, qualquer ligação entre personagens não existe (pois se não há personagens, como se podem ligar?).
Parece que o filme era para ser realizado por Nicolau Breyner e Miguel Gaudêncio, aparece assinado pelo último e pelo produtor e argumentista Alexandre Cebrian Valente. O que aconteceu, não sei. Mas o mesmo produtor já assinara o filme realizado por João Botelho, “Corrupção”.
José Carlos Malato aparece na pele de um polícia (julgo). Esperamos sempre que ele indique aos suspeitos que avancem e carreguem no botão. Helás. Não acontece. Permanecem nas suas rígidas posições, até que descobrem que o polaco sofria do coração (tem os comprimidos guardados numa velha lata de filme, vá-se lá saber porquê!) e nesse momento o GNR, num assomo de clarividência divina, larga o suspeito e afirma que tudo foi desvendado. Mau sintoma para a justiça portuguesa.
O fabuloso Luís Figo, que nos encanta nos campos de futebol, aparece aqui na pele de uma realizador de cinema a fazer um teste à ninfomaníaca de serviço, que se roça por ele de alto a baixo. Figo, volta para o Inter! Ou vem fazer uma perninha no SCP.
"Second Life" viaja pelo Algarve, a Herdade da Malhadinhas, em Beja, Caldas da Rainha, Óbidos, Lisboa e Itália (Roma, a famosa Fonte de Trevi, onde Fellini rodou “A Doce Vida”), segundo informação do produtor. Parece uma excursão de finalistas, é verdade. Mas podia ser um “turístico” mais rápido. Três horas é muito tempo. (O quê, o filme só tem 82 minutos? Estranho, julgava que tinha 3 horas”). Bem e antes da acabar, a ninfomaníaca passa pelo GNR e quer levá-lo a “almoçar” (mas “com a farda”). Que coisa: “Ó rapariga, põe-te calma!”.

Ah, falta ainda uma observação: o filme é falado indistintamente em inglês e português. Por quê? Mas por que razão haveria uma lógica para este aspecto, se não há para tudo o mais? Ok. Tá certo!

terça-feira, janeiro 20, 2009

MEU CARO BARACK OBAMA,

MEU CARO BARACK OBAMA: BOA SORTE!
Meu Caro Barack Obama,
Vai tomar hoje posse como novo Presidente dos EUA. Não é um acontecimento mais. É “o” acontecimento. Não vale a pena ignorar: os EUA são uma potência mundial cujas acções se repercutem por todo o globo. Não é necessário invocar exemplos. Todos os conhecemos.

O Senhor, Barack Obama, personifica a esperança numa mudança na América, é certo, mas igualmente uma mudança no mundo. Ouvindo-o, vendo-o e lendo-o, daqui de longe, ficamos com a expectativa de que muita coisa pode fazer para melhorar o que está péssimo ou mau (os conflitos armados, o descontrole económico e financeiro, o flagelo do desemprego, a insegurança pessoal, a ameaça ambiental, a educação, a saúde…), sem acreditarmos na utopia que tudo ficará um paraíso terrestre. Todo o homem tem os seus limites e muitas vezes outros homens impõem-lhe limites. Não basta ter boa vontade e empenho. É preciso receber respostas igualmente de boa vontade e empenho. De resto, não penso que a mudança de política que vai certamente operar, vá no sentido do suicídio da América, sequer da sua demissão. O Senhor vai defender a política americana, o que achamos muito bem, é o seu dever. Esperamos que não o faça contra os outros, mas com os outros.
A sua presidência vai estar sob vigilância aturada de todos os puritanos e trafulhas de todos os states, quer sejam americanos ou não. Por isso, cuidado com senhoras casadas ou as estagiárias, cuidado com o uso dado aos charutos, cuidado com a corrupção de colaboradores e senadores próximos, cuidado com a defesa pessoal, muito cuidado sobretudo com a defesa pessoal. Na América quem tenta fazer reformas muitas vezes acaba violentamente reformado. Porque acreditamos em si, esperamos uma vida longa e isenta de escândalos (por mim estou-me nas tintas para as estagiarias e os charutos, desde que governe bem, mas há muitos americanos que se pelam pelos “impeachment” com base em charutos indevidamente colocados). Esperamos o melhor para si, para a América, enquanto exemplo de democracia (não enquanto exemplo desta bandalheira sem nome que foram os últimos anos), para o mundo. Se conseguir, de alguma forma, um bocadinho de melhoria para este cantinho à beira mar plantado, também se agradece. Mas, sobretudo, acabe com as guerras (as justas e as injustas, que nenhuma guerra é boa), e com as negociatas sem escrúpulos dos ladrões de cartola.

Estes os votos deste seu apoiante português. Se fosse no teatro ou no cinema, desejava-lhe “muita merda”, mas como o seu predecessor Bush já fez bastante, demasiada até, fiquemo-nos pela “Boa Sorte!”
PS. Já tive outros Presidentes dos EUA no coração, casos de Kennedy e Clinton, mas nunca lhes escrevi. Veja lá não me desiluda agora. Abraço de admiração e amizade.

OPINIÃO, OPINIÕES

OPINIÕES
Ana Paula, no blogue “Catharsis”, repegou um tema várias vezes abordado aqui (veja-se, por exemplo, “Várias opiniões para o mesmo filme?”), num texto que julgo de todo o interesse ser debatido. Refiro-me ao valor da opinião própria. Este “Momento Filosófico” (cuja leitura recomendo) suscitou-me novas considerações a saber:
A invocação de autores do passado como Platão, que “considerava a opinião (doxa) um domínio inferior do conhecimento relativamente à ciência (episteme)”, não é, neste caso, acho eu, uma invocação inteiramente válida, dado que tanto a noção de “opinião” como a de “ciência” mudaram muito, desde então, apesar de ter sido a Grécia a criar a democracia baseada no voto do “cidadão”, isto é, na “opinião” do cidadão. Mas o conceito de “doxo” evoluiu muito de então até hoje. Se naquele tempo “doxo” se referia à opinião popular que criava a “ortodoxia”, hoje o termo opinião pode querer dizer mesmo o contrário. Assim, quando falo, por exemplo, em “opinião”, o que julgo essencial é chamar a atenção para a necessidade de cada pessoa ter uma opinião cada vez mais fundamentada sobre a vida social onde se inscreve. Quer seja para votar a política nacional, ou a política educacional, ou ajuizar o interesse de um filme, é preciso ter “opinião”. Eu sei que tecnicamente a “opinião” não pode ser valorizada do mesmo modo. Mas democraticamente todas as opiniões valem o mesmo.
Agarre-se num tema de actualidade escaldante. Falando das manifestações dos professores, por exemplo, se fossemos a ter em conta somente a opinião dos técnicos, o Ministério teria toda a razão contra as “opiniões” dos professores, que são variadas e contraditórias. Mas a verdade é que, por vezes, podem existir opiniões fora das instituições sociais mais estimulantes que as das próprias instituições, por isso é bom ouvir todas as “opiniões” o melhor fundamentadas possível e livres (assim se devem combater as “opiniões” daqueles que acham que o melhor é ir atrás das opiniões de outros, que, sabedores disso, tentam manipular o melhor que sabem e podem aqueles que não querem ter opinião e a delegam).
É obvio que se sabe que a opinião de A pode não valer tanto como a opinião de B, mas nunca estarei de acordo com a tese de que, por vezes, o melhor é não ter opinião. Até porque toda a gente tem opinião, quanto mais não seja a opinião de que o melhor é não ter opinião. Todos os totalitarismos se baseiam na anulação da opinião que não seja a dos mentores e ideólogos dessas ditaduras. Desacreditar a opinião do cidadão, é não acreditar na democracia, uma opinião de que discordo inteiramente.
O esforço maior daqueles que acreditam na democracia deverá ser inteiramente contrário, o de transformar a sociedade num todo de opiniões bem fundamentadas, mesmo que contraditórias. Por isso digo que viver em liberdade é difícil, mas o mais estimulante dos modos de viver em sociedade, pois implica ter opinião, procurar que essa opinião seja o mais bem fundada possível, impondo um trabalho pessoal de informação que nunca termina, e obrigando igualmente a respeitar as outras opiniões e a usar o direito do contraditório. Mas como diz a própria Ana Paula “não é certamente avanço oferecer opiniões desinformadas e de compromisso. É que uma opinião fundamentada não é nada fácil. Porque já se afasta do domínio do subjectivo e procura ascender ao patamar do rigor e da seriedade... Uma empreitada! Se calhar, não vale a pena viver sem a experimentar.”
Eu por mim acho mesmo que vale a pena experimentá-la, e mais do que isso, deve-se persegui-la como um valor. Tanto mais que não se sabe muito bem, hoje em dia, o que são opiniões tecnicamente correctas, nem se “há saberes que conferem autoridade em determinadas matérias”. É verdade que há. Mas também é verdade o inverso. Por isso temos de formar a nossa opinião em relação aos que possuem, ou julgam possuir, “autoridade em determinadas matérias”. Eram tecnicamente correctas as opiniões que colocaram Fernando Pessoa em segundo lugar num prémio literário ganho por um hoje desconhecido? Seria tecnicamente correcta a opinião de críticos que recusaram Van Gogh? John Ford, Howard Hawks, Alfred Hitchcock eram, nos anos 40, tidos como meros técnicos competentes, hoje são considerados autores dos maiores da história do cinema. Tudo julgamentos de “técnicos” a quem foi conferido “autoridade em determinadas matérias” na altura e que afinal pouco valiam ao lado de outras “opiniões” que apontavam para o futuro.
Posto isto, leitor/a, a minha opinião só pode ser uma: se quiser saber como comportar-se, e se é, por exemplo, professor/a, estude bem o que está em causa, tente ver para lá do fumo passageiro, e tenha opinião, deixe de ir atrás das opiniões alheias (tantas vezes comprometidas politicamente, ou de outra forma ainda mais grave). Se quiser votar no próximo governo, ouça o que dizem uns e outros, e o que prometem, leia, compare, avalie, veja a obra feita e não feita, estimule a sua inteligência e a argúcia, e vote finalmente de acordo com a sua consciência. Se acha que aquele filme pode ser interessante, vá vê-lo e depois julgue por si, apesar de haver um crítico que o arrasa e outro que o coloca nos píncaros da lua (no “Público”, “Austrália” vai das 5 estrelas à 1 estrela, quem terá razão?).
Nem a ciência é certa hoje em dia. Nem a medicina é constante. Às vezes o se prescreve hoje para certa cura, amanhã é desaconselhado. O que esteticamente hoje domina, amanhã passou à história (com h pequeno). E a sua “opinião” afinal é a melhor forma de se exteriorizar, de se afirmar, de se “ser”. Não deixe que os outros sejam por si. Afirme-se e afirme-se com a melhor argumentação possível. Esta é uma aposta total no cidadão, em alguém que quer efectivamente ser responsável, afirmar-se como um ser pensante, alguém com direito à palavra. Já dizia Frank Capra: “Peço a Palavra!”
(esta a minha "opinião", com um beijo para a Ana Paula. A imagem foi retirada do seu blogue.)

segunda-feira, janeiro 19, 2009

CINEMA: A VALSA COM BASHIR

A VALSA COM BASHIR
Um cão corre para a objectiva, o mesmo é dizer que corre em direcção ao público. Vem bem de frente, olhos nos olhos do espectador. Olhos raiados de sangue, dentes afiados, boca a espumar de raiva e ódio. Um segundo cão junta-se-lhe, um terceiro, um vigésimo, um vigésimo sexto. O desenho (de Yoni Goodman , excelente!) é duro, agressivo, as cores limpas, azuis de noite, amarelos dourados de luzes, os transeuntes afastam-se à passagem da matilha, cadeiras de esplanadas derrubadas, uma mãe que puxa para si o filho que tem ao colo, a corrida é impressionante de vigor até que tudo se suspende: os cães olham uma janela no cimo de um prédio, onde um homem os olha igualmente e se interroga. É esse homem que procura, num bar perdido na noite, Ari Folman, um realizador (o realizador de “A Valsa com Bashir”), e lhe conta o sonho obsessivo que o não deixa dormir: vinte e seis cães que o perseguem, tal como a memória de uma guerra passada, onde interveio vinte anos antes. Assim começa “A Valsa com Bashir”, um longa-metragem de animação, dirigida de forma totalmente inesperada por um israelita, abordando o conflito que opõe judeus e árabes, há largos anos, no Médio Oriente. Esse amigo confessa a Ari Folman que não percebe o significado dos cães com que sonha e não recorda nada da guerra. Ari Folman também não se lembra da guerra por onde passara há vinte anos atrás e que ficou conhecida como Guerra do Líbano. O filme será uma procura dessa memória, invocando testemunhos de outros combatentes que tinham estado ao lado de Ari nesse conflito, sobretudo quando as tropas israelitas invadiram o Líbano e chegaram a Beirute, passando de caminho pelos massacres de Sabra e Chatila, que se tornaram tristemente célebres na altura e agora serviram de base de apoio para esta magnífica película de animação (que não é para crianças, mas sim “para adultos”, sem que a designação contenha qualquer referência a “sexo explicito”).
Convém, no entanto, recuar um pouco e situar historicamente os acontecimentos de que falamos. O Líbano tinha-se tornado, a partir de 1948, um país em constante estado de guerra civil, dado que possuía uma população muito heterogénea, composta por cristãos maronitas e muçulmanos, com entrada no conflito de países como a Síria ou Israel e a OLP, de Yasser Arafat. Cada um com ideias definidas sobre quem devia governar, e com os palestinianos furiosos pela sua expulsão da Jordânia, às ordens de Hussein. As alianças faziam-se e desfaziam-se, tão depressa era a Síria a aliada, como Israel, e no meio desta onda de violência descontrolada, que causava massacres de inocentes dos dois lados das barricadas, o próprio país se viu dividido em áreas de influência delimitadas. A luta levou a que a OLP se instalasse no sul do Líbano. Pode considerar-se que a guerra teve quatro momentos decisivos: entre 1975 e 1977, com combates e massacres entre as comunidades religiosas, e uma intervenção síria, a pedido do Parlamento Libanês; entre 1977 e 1982, caracterizada por uma intervenção de Israel no sul do Líbano, através do que ficou conhecido como “Operação Litani”; entre 1982 e 1984, com a invasão de Israel, a tomada de Beirute e a posterior intervenção das Nações Unidas; e entre 1984 e 1990, culminando com os Acordos de Taif, assinados na Arábia Saudita, onde foram criadas condições para o cessar-fogo em 1990. Massacres de católicos e de muçulmanos foi acontecimento que se tornou infelizmente banal, e poucos sabem quem começou esta guerra de guerrilha e de terrorismo insano. Cada facção aponta o inimigo como principal culpado e um observador isento tem dificuldade em julgar. Mas isso pouco importa para a análise do filme de Ari Folman, que é sobretudo um olhar retrospectivo sobre a entrada das tropas israelitas no Líbano, em 1982, e os massacres do sul da capital libanesa, entre 16 e 18 de Setembro. O massacre de Sabra e Shatila imolou centenas ou milhares (os números vão de 300 a 3.500, consoante o quadrante) de refugiados civis palestinos, numa acção perpetrada por milicianos cristãos maronitas, nos campos de Sabra e Shatila, então sob protecção de Israel. A opinião mundial voltou-se mais uma vez contra Israel e culpou o então ministro da defesa, Ariel Sharon, de ser pessoalmente responsável pela chacina, tendo falhado na protecção aos refugiados.
Sharon, quando candidato a Primeiro-ministro de Israel, lamentou as mortes e negou qualquer responsabilidade. A repercussão do massacre, entretanto, fez com que fosse demitido do cargo de Ministro da Defesa, na época.
Ari Folman foi um dos soldados israelitas que interveio na ocupação do Líbano, um dos que penetrou nas ruas da cidade, um dos que olhou o horror dos massacres, um dos que conheceu o pesadelo da guerra. A ele, como a milhões de outros soldados de qualquer guerra em qualquer parte do mundo, a memória acudiu para que a vida posterior fosse possível, e abafou as imagens do sofrimento. Chama-se a isso memória selectiva, a que enterra em zonas do subconsciente as recordações que ferem a existência do dia a dia. Há quem diga (muitos filmes o reafirmam continuadamente) que os soldados quando regressam a casa não sossegam em função das memórias traumáticas da guerra que viveram. Outros, como Ari Folman, comportam-se de maneira inversa: é a falta de recordações que os leva à inquietação e à procura desesperada do passado. De conversa em conversa com antigos camaradas de armas, o realizador vai recuperando as imagens perdidas, que figuram no filme como “flashbacks” de um puzzle que lentamente vai tomando forma. Ari Folman não vive obcecado pelas recordações, mas pela ausência delas. Diz: “Acho que é uma coisa muito pessoal. Acho que a maioria das pessoas suprime memórias dessa natureza por ser uma solução muito eficaz para a existência.” Aqui é a ausência dessas imagens que provoca a falha de consciência, o que é traumático. “Neste filme, sim. Mas apesar de tudo, as pessoas sobreviveram ao Holocausto. O que é que nós passámos em comparação com elas? Não é nada mau suprimir as imagens traumáticas. Mas quando vem tudo ao de cima, é preciso conseguir lidar com isso.”
Neste processo de recuperação de memória, Ari Folman, conhecido documentarista israelita, entrevista nove pessoas, sete das quais aceitam dar a cara, sendo que as duas restantes deram os seus depoimentos a ler a actores. A animação parte então da imagem real, trabalhada como desenho por uma equipa de técnicos de animação. Há quem precipitadamente afirme que se trata de um documentário em animação. Nada de mais errado, não pela técnica, mas pela pesquisa que o filme encerra. Não há nada de mais subjectivo do que a memória, logo não há nada que possa ser mais ficcionado do que esta obra. O que vemos e ouvimos são recordações traumáticas, muitas vezes recalcadas, logo possivelmente distorcidas, de experiências pessoais que não têm nada de comum e de objectivo. Esse possivelmente um os fascínios desta experiência, essa procura de uma objectividade possível, esse ressuscitar da história pessoal num quadro de História colectiva que se processa através de depoimentos que nem sempre coincidem, mas que lentamente se vão ajustando na memória de Ari Folman. A memória deste homem é reavivada por testemunhos exteriores a si, filtrados por experiências privadas diversas, que ele, todavia, vai de certa forma assimilando, fazendo suas. A recordação da chegada a uma praia, por exemplo, num oceano juncado de cadáveres, vai sendo progressivamente reavivada. Mas nada nos diz que se trate de uma reconstituição histórica correcta, mas sim de um puzzle cujas peças se vão ajustando com base em palavras ouvidas que encontram eco no subconsciente de Ari Folman. Nada de mais pessoal e intimista, nada de menos documental. Mas esse é seguramente um dos aspectos mais estimulantes desta pesquisa. Sobre essa cena da praia, que funciona como um “leit motiv”, o próprio realizador afirmou (ao “Sight & Sound”): "It should be hallucinatory but also realistic," e mais adiante, "We wanted to make a realistic scene in a very dreamy way, so that you would be confused until the very end about whether it really happened." "Waltz With Bashir'" é, por isso mesmo, um trágico documento “pessoal” sobre o horror da guerra, que um israelita assume com invulgar coragem e desassombro. Coragem que vai até final, quando, na derradeira sequência, a animação cede perante as imagens reais do brutal massacre. Da incansável procura do passado ressurge finalmente o passado. Um belíssimo filme de uma actualidade gritante. Quem nos dera que os palestinianos tivessem do seu lado a oportunidade, ou o desejo, de criarem obra idêntica. Razões não lhes faltarão certamente. E só da assunção das culpas por ambas as partes se poderá chegar a um entendimento possível, que reponha a paz na região. Que o cinema pode ser uma arma, “Valsa com Bashir” atesta-o.
A VALSA COM BASHIR
Título original: Vals Im Bashir ou Valse avec Bachir ou Waltz with Bashir
Realização: Ari Folman (Israel, Alemanha, França, EUA, 2008); Argumento: Ari Folman; Produção: Ari Folman, Serge Lalou, Gerhard Meixner, Yael Nahlieli, Roman Paul; Música: Max Richter; Montagem: Feller Nili; Direcção artística: David Polonsky; Direcção de Produção: David Berdah, Verona Meier; Departamento de arte: Ya'ara Buchman, Michael Faust, Asaf Hanuka, Tomer Hanuka; Som: Aviv Aldema; Efeitos visuais: Feller Eran, Nitzan Roiy; Animação: Yoni Goodman; Companhias de produção: Bridgit Folman Film Gang, Les Films d'Ici, Razor Film Produktion GmbH, Arte France, Hot Telecommunication, ITVS, Israel Film Fund, Medienboard Berlin-Brandenburg, New Israeli Foundation for Cinema and Television, Noga Communication - Channel 8; Intérpretes (vozes): Ron Ben-Yishai, Ronny Dayag, Ari Folman, Dror Harazi, Yehezkel Lazarov, Mickey Leon, Ori Sivan, Zahava Solomon, etc. Duração: 90 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 1 de Janeiro de 2009; Estreia mundial: 12 de Junho de 2008.