segunda-feira, abril 30, 2007

"O CASTELO EM IMAGENS" EM PORTEL

V FESTIVAL
DE CINEMA E VÍDEO
IV CONCURSO
NACIONAL ESCOLAR
Entre 7 e 12 de Maio, em Portel,
V Festival de Cinema e Vídeo,
"O Castelo em Imagens".
Em simultaneo,
4º Concurso Nacional Escolar,
"O Castelo em Imagens".
Toda a informação AQUI

domingo, abril 29, 2007

COIMBRA: PENEDO DA SAUDADE. FOTOS

Interior do café de Santa Cruz
A companhia por terras do Mondego

Subindo, subindo a Calçada do Quebra Costas
A Sé Velha
A casa onde viveu o poeta
Edmundo Bettencout
A rua...
... e a casa onde viveu Zeca Afonso

A descida para...
... o Jardim da Manga
A Eduarda...
No Jardim da Manga
No Penedo da Saudade
Teatro Gil Vicente - entrega do Prémio de Carreira.
(As fotos são do autor, quando este não está presente,
e, nos outros casos, da Eduarda)

COIMBRA: PENEDO DA SAUDADE



Incursão rápida por Coimbra. Rápida mas intensa, saboreando memórias, recordando locais de estimação. Uma paragem na rua da Sofia, para comprar os jornais da terra, um café no belo Café de Santa Cruz, com o seu austero interior de madeira trabalhada e a sua esplanada sobre a praça. Sempre que passo por Coimbra, este local impõe-se, há muitos anos.
Passeio pelas ruas centrais e subida (sim, subida!), da Calçada de Quebra Costas, escadinhas e rampas repletas de apetecíveis livros usados, bijutarias várias, “recuerdos” turísticos, velhos discos de vinil ou cds actuais de Zeca Afonso e outros cantores coimbrões. Ouve-se o fado de Coimbra, por debaixo dos arcos, do Arco de Almedina. Subida que nos leva à Sé Velha, numa tarde de sol que nos recorda noites de serenatas. As casas onde viveram Zeca Afonso e Edmundo Bettencout. Em frente, em frente, depois descendo até ao Jardim da Manga.
De carro, passa-se já ao longo dos Arcos do Jardim e do Jardim Botânico e termina-se no Penedo da Saudade, com Coimbra aos pés.
Passa-se pelo Teatro Gil Vicente, para levantar bilhetes para a festa de encerramento dos Caminhos do Cinema Português, logo à noite. O jantar está marcado para o tradicional restaurante “Pharmacia”. Ali se encontra a organização e os convidados da XIV edição destes “Encontros” que relançam durante uma semana toda a produção portuguesa, das longas às curtas, da imagem real à animação.
Acabado o jantar, atravessamos a “Feira do Livro”, onde se canta Lopes Graça. No Gil Vicente entregam-se os prémios do ano. (*) Depois, Henrique Espírito Santos sobe ao palco e faz o meu elogio. É estranho ouvir alguém falar de nós, ouvirmo-nos como se fossemos “outro”, o “outro”. Trata-se do prémio Ardenter Imagine, que reconhece uma “Carreira” ao serviço do cinema. Agradeci comovido por se tratar dos “Caminhos do Cinema Português”, por se tratar de Coimbra, epor vir de uma organização de jovens estudantes universitários. Se era para reconhecer uma paixão expressa ao longo de uma carreira, acho justo. Julgo merecê-la. Assim tem sido efectivamente. Na medida das minhas possibilidades.
Entrevistas à saída, autógrafos, simpatias várias. A Alexandra fica em Coimbra, eu, a Eduarda e a Ana voltamos a Lisboa. Auto-estrada Porto-Lisboa. Noite.

(*) relação dos premiados:
JÚRI OFICIAL
Grande Prémio do Festival – “Transe”, de Teresa Villaverde
Melhor Longa – “Atrás das Nuvens”, de Jorge Queiroga
Melhor Curta – “Cântico das Criaturas”, de Miguel Gomes
Menção Honrosa – “História Desgraçada”, de Elsa Bruxelas
Melhor Animação – “Stuart”, de Zepe
Menção Honrosa – “Jantar em Lisboa”, de André Carrilho
Melhor Documentário – “Logo Existo”, de Graça Castanheira
Menção Honrosa – “Humanos A Vida em Variações”, de António Ferreira
Prémio Revelação – Hugo Vieira da Silva
JÚRI FICC
“A Minha Aldeia Já Não Mora Aqui”, de Catarina Mourão
JÚRI IMPRENSA
“Ainda há Pastores?”, de Jorge Pelicano
Menção Honrosa – “Operário em Construção”, de Pedro Canotilho e Eduardo Nascimento PRÉMIO DO PÚBLICO
Suicídio Encomendado de Artur Serra Araujo
PRÉMIO ARDENTER IMAGINE
Lauro António

sábado, abril 28, 2007

GRAMATICA

Recebido, via mail, da minha prima Cição:
Redacção feita por uma aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.


"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, ilábica, um pouco à tona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro. Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento. Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo. Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula. Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo.
É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros. Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular. Ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele
hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus. Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que, as condições eram estas. Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história.
Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva."

BLOGUES QUE FAZEM PENSAR

BLOGUES QUE FAZEM PENSAR

Os blogues “Bandida”, “Música do Acaso” e “NonBlog” nomearam este meu blogue na corrente dos “Blogues que fazem Pensar”. Agradeço a todas a nomeação, que se fica a dever mais à amizade do que a outro critério qualquer. Nestas “correntes”, como em outras votações da blogosfera, não está em causa o merecimento, mas a proximidade física e emocional. O que até se compreende. Por estes lados, "como na vida", vão-se criando “aldeias” de vizinhos, blogues que se visitam uns aos outros e que ficam a falar entre si nas soleiras das portas, e confirmam ou criam laços de amizade – ou de outros sentimentos, todos eles legítimos, e alguns bem saborosos! Posto isto, não me escandaliza nada que se vote por amizade, amor ou outra forma de proximidade. Vota-se no que se gosta, porque se conhece. Vota-se no que se conhece, porque se gosta. Também se pode votar porque se quer conhecer. E esta, hei?
Já o motivo desta votação me desagrada: “Blogues que me fazem pensar”? Que é isso? Acho que ninguém “Bloga, logo pensa”. Todos “Pensamos, logo blogamos”. Ou seja, eu penso antes de blogar ou ler blogues. Eles não me fazem pensar. Ou então “todos” me fazem pensar, o que anula o significado da pergunta. Um blogue particularmente idiota faz-me pensar. Às vezes muito, se calhar mais do que um blogue “muito intelectual”, daqueles a armar ao pingarelho.
Os blogues podem votar-se por que gosta do seu autor, porque se é amigo de longa data (e é-se amigo porque existe uma proximidade, logo uma cumplicidade), porque simplesmente se simpatiza com alguém que até não conhecemos, enfim, até porque se acha o blogue interessante ou excelente. Todas as razões são legítimas. O contrário também o é: ignorar acintosamente alguém, porque se quer mostrar publicamente isso mesmo, que o ignoramos, por muito interessante, ou não, que seja o seu trabalho.
Posto isto, estas três nomeações de verdadeiras amigas “obrigam-me” a entrar na corrente, coisa que detesto. Detesto sentir-me obrigado por “correntes”. Mas quando as correntes são de amigas, nada a fazer: não posso fugir, lá terei que nomear cinco "blogues que me fazem pensar". Mas como disse, todos os blogues que frequento me fazem pensar, e não será sequer por virtudes de muitos deles. Também os há que me fazem pensar por defeito. E há ainda os que me fazem pensar, mas eu não nomeio, porque “amor com amor se paga”.
Seguindo a batota que já vi ser praticada em blogues que visito (e me fazem pensar!), dado que fui nomeado três vezes, posso nomear quinze blogues (um dos meus problemas é que gostaria de nomear todos os blogues que tenho na minha lista pessoal, aqui ao lado, e alguns outros de que muito gostei nas rondas diárias pela blogosfera, e que perdi a referência).

Vamos então a votos:
1.
NÃO HÁ NADA COMO O REALMENTE
DETESTO SOPA
MÚSICA DO ACASO
BANDIDA
NONBLOG
2.
A a Z
CADERNO DE CAMPO
DA LITERATURA
HOJE HÁ CONQUILHAS
PIANO
3.
AMARCORD
CINERAMA
AS IMAGENS PRIMEIRO
PASMOS FILTRADOS
WASTEDBLUES

Nota: se voltar a ser votado, ainda tenho mais blogues para votar. Contando com votos futuros neste meu blogue, antecipo votos meus noutros blogues:
BRANCO AZUL
CASA DE OSSO
ENCANDESCENTE
INOMINÁVEL
INTRUSO
LAPIS EXILIS
LETRAS DE BABEL
LILACDAYS
MINISCENTE
REPÚBLICA E LAICIDADE
SULBURDIO
TALVEZ TE ESCREVA
A TRADUÇÃO DA MEMÓRIA

E tenho ainda a citar…

(O quê? Estou a subverter as regras da “corrente”? Pois, eu sabia, detesto “correntes”! Se quiserem assim, leiam, não se não quiserem, passem à frente… mas ele há tantos blogues que me fazem pensar… ainda só ia na primeira metade… mas está bem… um dia continuo… por hoje, fico por aqui. Beijinhos e abraços aos nomeados: todos me fazem pensar, o que não é uma virtude deles. Mas a todos prezo muito, pela amizade e o prazer que me dão ao lê-los, isto já é uma virtude deles).
Nota: os links para os blogues votados estão aqui ao lado, na minha lista de preferidos.

sexta-feira, abril 27, 2007

OS GRANDES PORTUGUESES, VERSÃO "INTRUSO"





O "Intruso" é um blog magnífico. Agora anda numa de re-descobrir "Os Grandes Portugueses". Uma charge executada com enorme perícia e talento e um espantoso sentido de humor. (Atentem bem nos pormenores!). Já lá estão 5 dos "maiores portugueses", que eu não resisti a "roubar". Gosto de os ter aqui, junto de mim. Esperemos por mais. Entretanto, não percam todo o blogue.

O FICA ANUNCIA CONCORRENTES

O FICA ANUNCIA SELECÇÃO PARA 2007
“AINDA HÁ PASTORES” SELECCIONADO
CINE ECO CONVIDADO A PARTICIPAR DE NOVO

Lisa França, Linda Monteiro e João Batista de Andrade

A Lisa França enviou e eu registo. Notícia do “Popular”, de Goiania. Título: “Hora da disputa”, e Rodrigo Alves esclarece: “Júri de pré-seleção anuncia a lista dos escolhidos da mostra competitiva do 9º Fica, que será realizado de 12 a 17 de Junho.”
Vem a matéria da notícia, logo a seguir:
“Trinta e um filmes foram selecionados pelo júri de pré-seleção da 9ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (Fica), que será realizado de 12 a 17 junho, na cidade de Goiás. Os nomes das obras que participarão da mostra competitiva foram divulgados ontem, depois da seleção de um total de 522 inscritos (pouco mais de 60% deles estrangeiros), que durou cerca de 25 dias. O festival vai premiar os sete primeiros colocados, com um total de R$ 240 mil, além de troféus e menções honrosas.
Ao todo somam-se 7 longas-metragens, 8 médias, 15 curtas e 2 séries televisivas (veja quadro). São 11 produções brasileiras, entre elas cinco de Goiás, e 20 produções vindas de 15 países diferentes, como os sempre presentes Estados Unidos e Alemanha e poucos conhecidos do público do festival como Quênia e Albânia. As 200 obras brasileiras vieram de 18 Estados. A escolha é baseada na adequação ao tema, originalidade na abordagem, qualidade técnica e inovação na linguagem.
Segundo a coordenadora do júri de pré-seleção, a professora e jornalista Lisa França, neste ano predominam produções digitais. “Temos produções com profundidade e qualidade técnica. Foi pena porque tivemos que deixar bons filmes de fora”, diz. Ela destaca também produções que trazem sérias denúncias e questões difíceis tratadas de forma poética. Completaram o júri o psicanalista Roberto Mello, a jornalista Soraya Viana, a mestre em Comunicação e Semiótica Maria Aparecida Borges e o professor Luiz Alberto de Miranda, doutor em literatura.
Padrão
A presidente da Agência Goiana de Cultura (Agepel), Linda Monteiro, e o coordenador-geral do festival, o cineasta João Batista de Andrade, anunciaram também na coletiva de imprensa que a edição deste ano deve manter praticamente a mesma dinâmica dos anos anteriores. “O Fica já tem um padrão, que deve ser mantido. Mas é claro que a cada ano surgem pequenas inovações, feitas de acordo com a coordenação”, enfatiza a presidente.
Mudanças como o show feito no último dia, domingo, que irá para o sábado, não devem mexer com a estrutura conhecida do festival. “No domingo haverá programação forte com vencedores e grandes debates”, informa João Batista Andrade. Com um orçamento de R$ 2,4 milhões, os organizadores do Fica pretendem também promover uma ação continuada durante todo o ano, como exibições em colégios. “Queremos manter uma continuidade do festival”, explica Linda Monteiro. “
Explique-se que 2.4 milhões de reais equivalem mais ou menos a 800.000 euros (qualquer cioisa como 160 mil contos antigos).


Entretanto, no “Diário da Manhã” (27/4/2007), também de Goiania (capital do Estado de Goiás), pode ler-se mais sobre o assunto, com matéria assinada por Itamar Sandoval e Fellipe Fernandes, pode saber-se mais:

“Depois de 25 dias de trabalho intenso na seleção dos filmes que concorrerão ao IX Festival Internacional de Cinema Vídeo e Ambiental (Fica), programado para o período de 12 a 16 de junho, o júri de pré-seleção, liderado pela jornalista e professora da Universidade Federal de Goiás Lisa França, anunciou ontem o nome das 31 produções que disputarão os prêmios do festival.
Do total de 522 inscritos de 62 países diferentes, os selecionados para a mostra competitiva representam apenas uma amostra do nível de filmes que entraram na disputa por uma vaga neste ano. “São temas muito interessantes, que foram tratados de uma maneira muito literária”, explica Lisa. No festival deste ano, os espectadores poderão entrar em contato com títulos que tratam de temas como aquecimento global, guerra química, transgênicos, entre outros.
Lisa ainda ressalta que, diante dos trabalhos, é até mesmo injusto descartar tantas obras boas. “O que o júri faz é, além de ter como foco a questão ambiental, ver o valor cinematográfico de cada um dos inscritos”, diz a presidente do júri de pré-seleção. “Espero que os que não estão nesta lista de competidores possam fazer belas carreiras por onde passarem.”
O coordenador-geral do festival, cineasta João Batista de Andrade – diretor de filmes como “O Tronco”, “Veias e Vinhos”, “Doramundo”, entre outros –, disse que o Fica é um momento privilegiado e que os selecionados deste ano mostram essa condição. “Cada um deles mostra o encontro de duas formas de pensar. Isto é, além de tratar da questão ambiental, mostram a sensibilidade do artista em retratá-la”, acredita.
Os 31 selecionados concorrem aos R$ 240 mil em prêmios, distribuídos nas categorias de longa, média e curta-metragens. Entre os selecionados, estão cinco produções goianas que, segundo a presidente do júri de pré-seleção, concorrem em pé-de-igualdade com as demais obras. “Este ano tivemos um aumento significativo de qualidade”, acrescenta.”
Veja-se agora a lista de concorrentes anunciada (onde se destaca o português “Ainda Há Pastores, de Jorge Pelicano (Grande Prémio da Lusofonia no Cine Eco, 2006, depois de ter sido recusado no “Doc Lisboa.” Há ainda vários outros filmes conhecidos dos portugueses (de alguns portugueses) que os viram na edição do passado ano em Seia:
Longas-metragens
Gambit - de Sabine Gisiger (Suíça/Alemanha. Documentário, 2005)
Ainda há Pastores? - de Jorge Pelicano (Portugal. Documentário, 2006)
Khadak - de Peter Brosens e Jéssica Woodworth (Alemanha/Bélgica. Ficção, 2006)
Pirinop, Meu Primeiro Contato - de Mari Corrêa e Kanaré Ikpeng (Brasil/Pernambuco. Documentário, 2007)
King Corn - de Aaron Woolf (EUA. Documentário, 2006)
Tambogrande Mangos, Muerte, Minería - de Ernesto Cabellos e Sephanie Boyd (Peru. Documentário, 2007)

Médias-metragens
Wide is the Sea or... A Time to Get Stones Together - de Nikolai Makarov (Rússia. Documentário, 2005)
Radiophobia - de Julio Soto (Espanha. Documentário, 2005)
V Seru Ticha - de Josef Císarovsky (Rep. Tcheca. Documentário, 2006)
Quando a Ecologia Chegou - de Pedro Novaes (Brasil/Goiás. Documentário, 2006)
Mizoga - de Martin Munyua (Quênia. Ficção, 2006)
Losing Tomorrow - de Patrick Rouxel (França. Documentário, 2005)
The Tiger and The Monk - de Harald Pokieser (Áustria/Alemanha. Documentário, 2006) )
Tabac, La Conspiration - de Nadia Collot (Canadá. Documentário, 2005)

Curtas-metragens
Carpa Diem - de Sergio Cannella (Itália. Ficção, 2006)
Puffing Away - de Isaac King (Canadá. Animação, 2006)
Always Coca-Cola - de Inge Altemeier e Reinhard Hornung (Alemanha. Documentário, 2006)
Lesson from Bam - de Alizera Ghanie (Áustria. Documentário, 2005)
Tree Robot - de Young-Min Park e Moon-Saeng Kim (Coréia do Sul. Animação, 2005)
Neuneinhald: Klimawandel - de Tvision Gmbh (Alemanha. Documentário, 2005)
The Fan and the Flower - de Bill Plympton (EUA. Animação, 2005)
Pra que te Quero? - de Leonardo Costa Ribeiro (Brasil/Goiás. Ficção, 2007)
Lamento - de Kin-Ir-Sem (Brasil/Goiás. Documentário, 2007)
Rapsódia do Absurdo - de Cláudia Nunes (Brasil/Goiás. Documentário, 2006)
Além dos Outdoors - de Caio Henrique Salgado e Paulo Henrique dos Santos (Brasil/Goiás. Documentário, 2006

Um beijo para a Lisa que me telefonou a dar a boa nova de “Ainda Há Pastores” Parabéns Jorge Pelicano!
Entretanto, o novo director do Festival, o cineasta João Batista de Andrade, já convidou o Cine-Eco a estar presente na corrente edição. Se tudo correr bem até lá, traremos notícias (e certamente alguns dos melhores filmes para o Cine Eco 2007, em Outubro, em Seia).

VáVá.diando, com Teolinda Gersão

TEOLINDA GERSÃO


NO VÁVÁ, EM TERTÚLIA


Um dia peguei num livro, um romance com um título que me cativou, “A Casa da Cabeça de Cavalo”, trouxe-o para casa e li-o de um fôlego. Tão impressionado fiquei que, não conhecendo eu pessoalmente a escritora, maneira arranjei para lhe telefonar a dizer o quanto gostara do livro e o muito que desejaria de o fazer também meu, adaptando-o a cinema.
O livro foi para mim a descoberta de uma voz nova no espaço da literatura portuguesa, mais uma vez a voz de uma mulher, mais uma vez uma descoberta inesperada por diversas razões. Já sabia da admiração de Vergílio Ferreira por Teolinda Gersão. Sabida a minha paixão por Vergílio Ferreira, fácil seria supor que Teolinda me deveria prender. Mas sou pessoa de só reagir por experiência própria – a leitura do romance, confirmou completamente as recomendações de Vergílio Ferreira.
A conversa com Teolinda fez crescer ainda mais a minha admiração pela romancista, mas também pela mulher: a voz macia e doce, o olhar terno, a delicadeza dos gestos, e por trás de tudo isso o vislumbre de uma vontade destemida, uma força com algo de telúrico que o sorriso apenas escondia, mas que qualquer bom observador pressente. Se gostara desse romance desde que comecei a sua leitura, gostei da autora desde que a conheci. Creio que passámos a gostar um do outro desde esse dia, e algumas vezes mais nos encontramos ao longo dos anos. Nomeadamente no Famafest, de que foi membro de Júri Internacional já por duas vezes. Encontros, no entanto, demasiados espaçados para colmatarem a alegria de estar com ela, de a ouvir discretamente discorrer sobre a vida, com a mesma discrição que escreve os seus romances e contos.
Um dos aspectos mais interessantes da escrita e do estilo de Teolinda Gersão, será o facto da autora nos habituar a relatos de quotidiano, envolvidos numa delicada sensibilidade, onde as palavras vulgares do dia a dia se bastam, pela mestria com que são usados, para nos descrever emoções e paixões, mesmo em violento e nervoso confronto. Teolinda nunca abandona a suavidade da escrita, mesmo quando por detrás dela perpassam os mais violentos dramas, as tragédias mais extremadas. Esta aparente discrepância entre a tensão interna dos conflitos e das personagens e a “normalidade” das palavras que os descrevem tornam ainda mais grave e insuportáveis certas situações narradas. Neste aspecto, “A Casa da Cabeça de Cavalo” é um exemplo magnífico do que pretendo dizer, ao desenhar a existência de uma família, apalaçada e senhorial, em finais do século XIX, no Norte de Portugal, mas perpassa por toda a sua obra, agora reconfirmado com o excelente volume de contos a que deu o título de “A Mulher que Prendeu a Chuva”, onde me volteia apaixonar por um conto, que não digo qual, pois quando falo de projectos antes destes estarem concretizados, ficam pelo caminho. A ver vamos se com secretismo se concretizam.

quarta-feira, abril 25, 2007

TEOLINDA GERSÃO; HOJE

Hoje, dia 26 de Abril, pelas 20,00 horas

no Café-Restaurante VáVá, em Lisboa,

mais um jantar-tertúlia, desta vez com a presença de

Teolinda Gersão, escritora

(autora do recente "A Mulher que prendeu a Chuva",

e de João Rodrigues, editor (Sudoeste Editora).

TEOLINDA GERSÃO


DADOS BIOGRÁFICOS

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra, Tuebingen e Berlim, foi Leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, docente na Faculdade de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada até 1995.A partir dessa data passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Além da permanência de três anos na Alemanha viveu dois anos em São Paulo, Brasil, (reflexos dessa estada surgem em alguns textos de Os Guarda-Chuvas Cintilantes,1984), e conheceu Moçambique, cuja capital, então Lourenço Marques, é o lugar onde decorre o romance de 1997 A Árvore das Palavras.
Escritora residente na Universidade de Berkeley em Fevereiro e Março de 2004.

BREVE COMENTÁRIO SOBRE A OBRA:
Os seus livros retratam aspectos da sociedade contemporânea,mesmo quando a acção é transposta para uma época diferente. A problemática das relações humanas,a dificuldade de comunicar, o amor e a morte,opressão e liberdade,identidade,resistência, criatividade,são alguns dos temas focados.Outro aspecto central é a atenção dada ao tempo : quer se trate do tratamento do tempo na própria estrutura narrativa,quer seja o tempo histórico em que a acção decorre : a ditadura de Salazar em Paisagem com Mulher e Mar ao Fundo, os anos vinte em O Cavalo de Sol,o século XIX em A Casa da Cabeça de Cavalo, os anos cinquenta e sessenta em Lourenço Marques em A Árvore das Palavras. Os factos históricos são todavia encarados numa perspectiva que transcende a sua época e os situa em ligação com a actualidade.

LIVROS PUBLICADOS:
O SILÊNCIO (Romance), 1981, 4ª edição 1995
PAISAGEM COM MULHER E MAR AO FUNDO (Romance), 1992,4ª edição 1996.
HISTÓRIA DO HOMEM NA GAIOLA E DO PÁSSARO ENCARNADO (literatura infantil), 1982 (esgotado)
OS GUARDA-CHUVAS CINTILANTES (Diário Ficcional) 1984,2ªedição 1997
O CAVALO DE SOL (Romance),1989 ; edição Dom Quixote-Planeta 2001
A CASA DA CABEÇA DE CAVALO (Romance),1995,2ª edição 1996 ;
edição em Braille,1999
A ÁRVORE DAS PALAVRAS (Romance),1997
edição especial,com 50 ilustrações de Maia, 2000 ; 2ª edição, 2001
edição Dom Quixote- Círculo de Leitores 2001
edição Dom Quixote-Visão 2003
OS TECLADOS (Narrativa),1999 ,2ªedição 2001;edição em Braille,2003
OS ANJOS (Narrativa) , 1ª e 2ª edição 2000
HISTÓRIAS DE VER E ANDAR (contos) ,1ª e 2ª edição 2002
O MENSAGEIRO E OUTRAS HISTÓRIAS COM ANJOS (contos) 2003
Uma versão teatral de OS TECLADOS foi representada no Centro Cultural de Belém em 2001,com encenação de encenação de Jorge Listopad.
Uma versão teatral de OS ANJOS foi representada em 2003 pelo grupo de teatro O Bando,com encenação de João Brites.
Uma versão teatral em língua romena de A CASA DA CABEÇA DE CAVALO vai ser representada em Bucareste em Abril de 2004.
A MULHER QUE PRENDEU A CHUVA (Contos), 2007, Ed. Sudoeste Editora.

PRÉMIOS LITERÁRIOS:
O SILÊNCIO – Prémio de Ficção do Pen Club,1981
O CAVALO DE SOL- Prémio de Ficção do Pen Club,1989
A CASA DA CABEÇA DE CAVALO – Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores,1995.
“shortlisted” para o Prémio Europeu de Romance Aristeion em 1996
OS TECLADOS – Prémio da Crítica da Association Internationale des Critiques Littéraires, 1999.
Prémio Fernando Namora,1999
HISTÓRIAS DE VER E ANDAR – Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco,2002.

25 DE ABRIL DE 1974



Para que não se esqueça!

25 DE ABRIL: ZECA AFONSO, SEMPRE!



Entrar o 25 de Abril a ouvir Zeca Afonso!
Sempre!

sexta-feira, abril 20, 2007

"LA LYS"

"LA LYS" EM PROJECTO
O meu filho, Frederico Corado, prepara um absorvente e fascinante projecto, que se chamará La Lys e nos fala do “Soldado desconhecido.” Fazer um filme em Portugal sobre a célebre batalha da I Guerra Mundial é obra. Arrojada. Para já ainda está nos preparativos, mas muito avançados. Visitem o blogue e contribuam com algum depoimento inédito ou algo que tenha acontecido com um vosso antepassado que por lá tenha passado e tenha deixado história pessoal.

FUTEBOL: "GERIR O RESULTADO"

GERIR O RESULTADO

E MATAR O ESPECTÁCULO



O futebol é um espectáculo, antes de tudo o mais.
Um espectáculo a que o público assiste nos estádios, pagando bilhetes caros, ou que assiste em casa, pela televisão, na maior partes dos casos em canais codificados, pagos, e que não são baratos.
Tal como outro espectáculo qualquer tem um tempo de duração delimitado: normalmente 90 minutos, podendo por vezes ir até aos 120, ou mesmo mais, se há lugar à marcação de grandes penalidades.
Começa a ser prática corrente, no entanto, de há uns anos a esta parte, comentadores opinarem, treinadores, jogadores e directores explicarem o porquê do espectáculo não ter a duração inicialmente anunciada: após 20 minutos de muito bom futebol, a equipa Y “geriu o resultado”, “economizou esforços”, “deixou passar o tempo”, e etc. Sim, porque no próximo fim de semana “se avizinha um jogo difícil”, “porque jogaram duas vezes na mesma semana”, porque “o plantel é reduzido e há que compensá-lo”, etc.
Ora bem, o espectador paga um bilhete para ver um jogo com 90 minutos de espectáculo, não para ver 20 minutos do bom futebol e 70 de ronceirice. Há dois dias vi o meu Sporting, à semelhança de outros jogos seus, e de muitos outros jogos de outras equipas, oferecer-me 20 minutos de muito bom futebol, que arrasou o Beira Mar, e depois prolongar o sofrimento por mais 70 minutos de “faz de conta que estou aqui”. Estava entusiasmado de início, adormeci a meio, e no final roía as unhas na perspectiva de uma catástrofe. Não pode ser!
Vamos lá analisar o problema:
1º Os jogadores são muito bem pagos porque têm uma vida profissional curta e intensa: certo!
2º Os bilhetes são caros, porque tudo é dispendioso nesta indústria: certo!
3º Os espectadores querem bons espectáculos, ou afastam-se dos estádios (não falando já das ordinarices das claques e da violência dos energúmenos, o que motivaria um outro comentário): certo!
4º Por que jogam as equipas duas vezes na semana? Por abaixo-assinado do público e porque o futebol é uma indústria cara, que necessita cada vez mais de receitas? Obviamente que a resposta é a segunda: certo!
5º Se jogam duas vezes por semana é para os clubes terem mais receitas para poderem comprar e pagar melhores jogadores, com melhores contratos e ordenados, para poderem dar melhores espectáculos e conquistarem títulos. Ora só uma equipa pode ganhar o campeonato, mas todas devem dar o máximo como espectáculo: certo!
6º O que sucede é uma perversidade enorme que coloca do avesso toda a lógica de um espectáculo: “hoje só jogamos 20 minutos no máximo das nossas possibilidades, para que o senhor espectador nos venha ver no próximo fim-de-semana dar outra vez 20 minutos (ou o que for) do nosso máximo.” E o senhor espectador volta a pagar um bilhete para ver um espectáculo de que só vê uma parte. Algo como ir ao cinema assistir ao anunciado “Miami Vice” e ver uma excelente curta-metragem sobre Miami e o Vice, e depois passarem a restante hora e meia a projectar publicidade. Ou como comprar bilhete para uma peça de teatro, ou um concerto, e o actor principal, ou o cantor, dar meia hora ao seu melhor e depois deixar o palco solitário ou o concerto entregue à orquestra: o actor ou o cantor “foram descansar que amanhã tem outro concerto! De grande responsabilidade!” O público que compreenda, não se pode estar sempre a cem por cento: errado!
Enfim, algo que não entra na cabeça de ninguém!
Apetece dizer: se não podem jogar ao sábado e à quarta, que optem por jogar apenas um dia por semana, mas que o façam com total profissionalismo. Não têm tantas receitas? Pois não, mas não enganam tanto o público.
Os estádios estão cada vez mais vazios. Não percebem porquê? A questão não será tanto baixar o preço dos bilhetes (o que ajudava), mas subir a qualidade geral do espectáculo: conforto nas bancadas, segurança, desportivismo na convivência, e profissionalismo no desempenho.
Última nota: para cúmulo, acho que não são os jogadores que têm a culpa maior. Mas todo este circo que anda à volta deles, a estimular esta forma de vida. “Estranha forma de vida”.
Quanto ao meu Sporting, se não tivesse economizado esforços nalguns jogos, “gerindo os primeiros 45 minutos” na ideia de que “somos melhores e havemos de lá chegar”, hoje estavam com o campeonato na mão. Mas perder com Paços de Ferreira e empatar com Aves, em casa, não pode acontecer, nem com a ajuda da mão de Deus e seja lá de que jogador e de que árbitro complacente.
Ontem dormi meia hora a ver futebol, a ver o meu Sporting, e acordei rabugento, é a verdade! Futebol sudorífero, francamente!, era só o que faltava!

quinta-feira, abril 19, 2007

CINEMA - 300

300 ESPARTANOS

“Estrangeiro, vai contar aos Lacedemónios que jazemos
aqui, por obedecermos às suas normas.”
- Simónides de Céos

“Estrangeiro que passas, diz a Esparta teres-nos visto aqui jacentes,
obedecendo às santas leis da Pátria.”
- Cícero

“Aqui combateram um dia, contra três milhões, quatro mil homens do
Peloponeso.”
- Simónides de Céos

“Ou quem, com quatro mil Lacedemónios,
O passo de Termópilas defende [...]”
- Luís Vaz de Camões

“[...] Earth! render back from out thy breast
A remnant of our Spartan dead!
Of the three hundred grant but three,
To make a new Thermopylæ!”
- Lord Byron, The Islands of Greece


Quadro de Jacques Louis David, "Batalha das Termópilas" (1814)

“300”, de Zack Snyder, é uma produção norte-americana de 2007 que aborda um acontecimento de relevo no constante confronto entre Ocidentais e Orientais, no Médio Oriente. Esse episódio bélico ficou conhecido pela designação de batalha das Termópilas e integra-se obviamente num contexto mais vasto das Guerras Médicas, ou Persas, que opuseram durante muitos anos Persas e Gregos.

(...) A resposta das cidades-estado gregas, perante a ameaça, foi colocar de lado as habituais divergências e reunirem-se numa conferência pan-helénica no Istmo de Corinto (481 a.C.). Quase todas aderiram à confederação, com excepção de Argos, inimiga de Esparta, Cirenaica, Massália ou Siracusa. A Leónidas, rei de Esparta, estado militarista por excelência, onde todos os cidadãos eram soldados profissionais, sendo exclusivamente educados para a vida militar, foi entregue a defesa da Grécia. Em finais de 481 a.C., Xerxes avança sobre a Grécia, iniciando a II Guerra Médica, dominando a Macedónia, a Calcídica e a Tessália, na qual fixou as suas bases, rumando de seguida para o centro da península helénica, onde se irá travar a batalha das Termópilas. Quem vai contar esta façanha heróica é Heródoto, obviamente sob um olhar e uma perspectiva parciais, descrevendo este conflito entre o Ocidente e o Oriente, entre os Cidadãos, habitantes das democracias gregas, e os Bárbaros, nome por que eram, depreciativamente, conhecidos os persas, entre europeus e asiáticos. Pela primeira vez na História da Humanidade, julga-se, há uma verdadeira consciência da distinção entre duas culturas e duas civilizações, separadas por dois continentes. Aqui se jogou também o destino da Civilização Ocidental. Mas Heródoto de Halicarnasso, e também Esquilo, em “Os Persas”, mais não fazem do que seguir os estereótipos da época, convocando uma tradição que remonta à “Ilíada”, de Homero, onde o Oeste (os aqueus) e o Leste (os troianos) já se chocavam entre si. Segundo a descrição de Heródoto (que viveu a guerra pessoalmente, segundo uns, que teria apenas quatro ou cinco anos nessa data, segundo outros), no Verão de 480 a.C., no desfiladeiro das Termópilas, na Grécia Central, 300 espartanos, sob o comando de Leónidas, acompanhados por pouco mais de 7 000 aliados de outras cidades-estado helénicas, enfrentaram “milhões de persas” (uma enormidade: julga-se que não iriam além de 160.000 homens, no máximo) chefiados por Xerxes. 300 ou sete mil, a desproporção era fantástica. Mas não deixa de ser curiosa a referência a 300 espartanos, pois só estes eram soldados profissionais e só estes eram considerados cidadãos da mítica cidade guerreira. Quando morreram foram os únicos a serem celebrados. A “ralé” que os acompanhou, não contava, nem em número. Por outro lado, celebrar 300 espartanos era erigir uma lenda à coragem de um povo e de uma cidade. Era lançar na História um mito que se celebra até hoje.
Quanto ao desfiladeiro das Termópilas era uma estreita língua de terra entre o Golfo de Mália e os Montes Eta e Calídromo. Perfilava-se como uma zona montanhosa, seleccionada de forma notável de um ponto de vista estratégico, longe de Atenas, que ficava preservada, longe da Tessália, base de apoio de Xerxes. Este rei observou do alto do seu trono dourado a resistência dos Gregos. Primeiro esperou que fossem estes a atacar. Durou cinco dias a espera. Depois resolveu-se a atacar. Impossibilitado de lançar a cavalaria, mandou avançar homens armados somente com um pequeno escudo e uma lança. Ao tentarem penetrar no desfiladeiro, foram completamente rechaçados. Lamentava-se Xerxes, segundo Heródoto, de ter “muitos homens, mas poucos soldados”, o que era verdade. Do lado espartano também era verdade. A seguir, choveram do céu milhões de flechas, que os gregos receberam protegidos pelos seus escudos. Conta-se que um soldado terá dito a Leonidas que “as flechas eram tantas que tapavam o Sol”, ao que este terá respondido: “Melhor assim. Se os persas taparem o Sol, combateremos à sombra”. Mas há outras tiradas célebres relativas a essa batalha, toda ela mítica. Diz-se que Xerxes procurou evitar o confronto e que teria enviado mensageiros a Leónidas pedindo a este para depor armas e que se juntasse aos persas, ao que Leónidas teria respondido simplesmente: “Vinde buscá-las!”.

Ao fim do segundo dia de batalha, apareceu no acampamento dos persas um tal Efialtes, dirigindo-se a Xerxes na esperança de obter uma compensação pecuniária a troco da traição: revelar um caminho secreto que conduzia à retaguarda das Termópilas, através da montanha. Foi assim que os espartanos foram derrotados, apanhados entre dois fogos, não sem antes venderem cara a derrota. Leónidas mandou retirar quem o quisesse fazer, e aguentou firme até à morte com os seus 300 bravos (e mais uma centenas de outros bravos que também ficaram, mas dos quais não reza a História, pelo menos a mítica). Diz a História recente que terão morrido na batalha cerca de 2000 gregos e mais de 30000 persas. Este tempo que pausa no avanço de Xerxes permitiu a Atenas evacuar a cidade, que seria pilhada, e reorganizar a defesa ao longo do Istmo de Corinto. Tempos mais tarde, a pesada armada persa foi obrigada a penetrar no estreito de Salamina, onde foi massacrada pelas ágeis embarcações atenienses. No ano seguinte, viria a derrota final, que acontece em Plateias. A Pérsia desiste então de invadir a Grécia continental. A paz é decretada em 449 a.C., com a assinatura da Paz de Cálias. Mais tarde, Alexandre, o Grande, invadiu o Próximo Oriente e conquistou o império de Dario III. Mas isso já pertence a outro filme…

Foi com base neste episódio que Frank Miller, autor norte-americano de banda desenhada, escreveu e desenhou “300”, em 1999, agora adaptada a cinema por Zack Snyder. Já em 1962, um polaco, Rudolph Maté, dirigira em Itália, “The 300 Spartans”. Sobre a sua actividade, Frank Miller contou: “O meu trabalho são as histórias em quadradinhos. Já escrevi e desenhei histórias para personagens clássicas, como “Homem-Aranha”, “Batman”, “Elektra” e “Demolidor”, sempre com um estilo mais sombrio. A minha primeira BD individual, “Sin City”, foi fielmente adaptada para o cinema e fez muito sucesso. Agora, está em cartaz mais um filme baseado numa história minha: “300”. Sempre me interessei por História e guerras, por isso me inspirei na verdadeira Batalha de Termópilas, ocorrida na Grécia, para escrever essa BD que mostra a saga dos 300 soldados de Esparta.”
A BD é uma coisa, o filme surgido em 2007 uma outra. O universo de Frank Miller é já de si um universo de violência machista, que Robert Rodriguez, em “Sin City” transpôs para o cinema com alguma ironia e uma excelente “adaptação” de linguagens. No caso do filme de Zack Snyder fia tudo muito mais fino. O filme é plasticamente muito bonito, criando uma notável equivalência entre os quadros da BD e as imagens de cinema. Deve dizer-se que mais uma vez as novas tecnologias digitais se mostram à altura para conseguir resultados brilhantes, desta feita como que interligando desenho e pintura e fotografia e imagem em movimento. Cada imagem do filme pode muito bem funcionar isolada, como um quadro, a fotografia é fabulosa, com predominância de ocres, castanhos avermelhados e cinzas azulados, conferindo ambientes de tonalidades românticas que a obra justifica amplamente.
Este é obviamente um filme de acção, onde não interessam tanto as explorações psicológicas ou os estudos sociológicos, o que se entende. O desenvolvimento da acção prevalece e a violência explode em várias cenas rodadas em câmara lenta (à boa maneira de Sam Peckinpah!), fazendo explodir o sangue e como que suspendendo no tempo alguns actos particularmente sádicos (cortes de cabeças, de membros, etc.). Tudo isso se pode apreciar como uma forma de fazer render o espectáculo com resultados plásticos de bom efeito.
É por demais óbvio que o filme se quer militarista, aguerridamente bélico, defensor do homem como animal belicoso por excelência. Os espartanos que vão para a guerra, e que são preparados desde a infância para esta actividade, são os bons da fita, morrem pela Pátria e por altos valores de coragem e sacrifício. Nada a opor. Morrem lado a lado, homens brancos e sadios (os estropiados, deformados e outros que tais são anulados à nascença, o que dá uma boa ideia de métodos pré-nazis de depuração da raça branca!), numa confraternização muito musculada que tem algo de homossexualidade à mistura (por muito que sejam os próprios espartanos a brincar com o gosto ateniense por efebos!). Mas homossexualidade era comum entre gregos de todas as cidades estados e não só de Atenas. Passemos, portanto, ainda que cautelosamente, por cima de tudo isto, desta mentalidade guerreira militarista, para-homossexual. Nada a opor.
Que nos reserva ainda “300” para comentarmos?
Pois o mais discutível de tudo, a apologia da guerra, a apologia da guerra Ocidente-Oriente, onde curiosamente os persas são o inimigo, persas que hoje em dia se chamam iranianos, e ficam por ali perto do Afeganistão e Iraque. Não será estranho aparecer agora um filme que defende o heroísmo de uns tais ocidentais, ditos muito democráticos (mas que vivem rodeados de escravos, que utilizam também para adestrar a espada nas suas aulas de guerra – Leonidas exercita-se a matar escravos, não lobos!), que defendem a Liberdade e a Democracia contra persas tirânicos? Creio que não nos foi dado ver até hoje filme mais abertamente pró-Bush do que este.

texto integral pode ser lido na revista "História", de Maio de 2007.

sábado, abril 14, 2007

JOSÉ SOCRATES E A DEMOCRACIA

Esta história do “engenheiro” já enjoa, e devo dizer que não tenho uma especial simpatia pessoal pelo engenheiro Sócrates. Nem antipatia também. Acho, todavia, que está a cumprir uma função e a está a cumprir o melhor que sabe, no caso até acho que a está a cumprir bem, a fazer o que nenhum outro até agora tinha tido poder ou coragem para o fazer.
É obvio que esta trapalhada da Universidade Independente e dos títulos académicos que o PM possui ou não possui legitimamente daria muito pano para muitas mangas, mas ninguém me tira da cabeça que a relação OPA falhada de Belmiro de Azevedo e o facto do “Público” (jornal de Belmiro de Azevedo) ter puxado pelo assunto é uma coincidência dos diabos. O que retira a toda esta questão qualquer consistência honesta e a atira para o pior que há da baixa política. Já tivemos tentativas de assassinato político desse senhor pelo menos por duas vezes, e quem saiu tostado foi quem levantou as questões da sua inclinação sexual, de uma vez, e de um caso de possível compadrio na zona protegida da Arrábida, ao que me lembro. Em ambos os casos, Sócrates saiu por cima. A baixa política por baixo. Mas a missão dos boatos venceu porque fica sempre no ar a dúvida.
Depois, quero lá saber se Sócrates é engenheiro ou não. Não está a construir casas, está a governar o País. Dizem-me: pois mas não é isso que está em causa, mas sim o facto de a licenciatura do senhor poder ser uma aldrabice e isso definir uma personalidade e um modo de agir. Nada de mais enganoso. Se houve anomalias na atribuição do grau académico, isso tem a ver com o funcionamento das universidades, não com os alunos. Já viram o que seria da classe política portuguesa se se fosse examinar “a passagem administrativa” de tantos e tantos? Todos os que passaram pelo ensino superior entre 1974 e 1980, e até mais tarde, podem ter esse labelo colado às costas. Ora bem, passaram, fizeram os cursos, desempenham actividades profissionais, o que há a fazer é saber se o fazem bem ou não. No campo onde se encontram.
Esta história do “Senhor Engenheiro” ser ou não ser “Engenheiro” enfim releva do maior provincianismo português e da mais descarada hipocrisia política. Podem crer que diria o mesmo, qualquer que fosse a cor partidária do “Engenheiro”. Já viram o que seria pedir o título universitário a José Saramago, para poder receber o Prémio Nobel?
Mas este caso levanta muitas outras questões, algumas delas essenciais para a vida política portuguesa. E não só. Também para o que se entende que deva ser a democracia. A democracia está em crise há muito. Em crise em virtude das suas próprias características e virtudes.
A democracia vive da liberdade. Liberdade de expressão, liberdade política, liberdade jurídica, liberdade económica. A liberdade de expressão assegura a liberdade a todos, inclusive aos que atentam contra a liberdade. Quem propõe uma ditadura exprime-se livremente em democracia. Em ditadura quem defende a liberdade de expressão é preso, perseguido, mesmo morto.
Ora o que se assiste de algum tempo a esta parte é não a uma tentativa de derrube da democracia, mas a um sistemático ataque às virtudes da democracia, para a desacreditar. Hoje é difícil impor na Europa ditaduras como as que existiram no mundo na primeira metade do século XX. A ditadura de hoje, muito mais sofisticada, é simplesmente económica, não tem ideologia, exerce-se nas multinacionais sem rosto, que tudo controlam em nome do lucro e que não têm pátria. Nem regime político. Veja-se o caso da China: diz-se comunista, mas é um mercado tremendo, logo serve os interesses. Por isso não só se fazem todos os negócios com a China, como se dá possibilidade ao regime de sobreviver, aceitando que invada mercados com os seus preços baixos e a sua mão-de-obra quase escrava. Não há nem moral, nem política que pare o interesse económico.
Nos países democráticos (não é só em Portugal, é a nível planetário!), a liberdade de expressão permite algo de perfeitamente perverso: destruir a democracia por dentro, ir corroendo lentamente as personagens e as instituições, até a opinião pública não acreditar em nada e se afastar do que considera a “politica”. A “porca política”.
Os meios de comunicação social tradicional estão hoje em dia todos na mão do capitalismo. Jornais como “A República” ou “O Diário de Lisboa” de há uns anos atrás, realmente desalinhados em relação ao sistema, são impossíveis de conceber presentemente. Todos se norteiam pelas tiragens, o lucro. Precisam de altas tiragens (que raros têm) e para as conseguir procuram o que vende. O que vende é a coscuvilhice no jet set, a certos níveis, e na política, nesses e noutros níveis. O que vende são os sucessivos “namorados” da Elsa Raposo ou a corrupção política. Logo, vamos a isso, e se não existirem casos reais significativos, inventam-se alguns ou descobrem-se miudezas para alimentar os tablóides. O que se disse de Sá Carneiro, o que se disse de Mário Soares, o que se disse de Paulo Portas, o que se disse de Guterres, o que se disse de Santana Lopes, o que se disse de José Sócrates, com e sem razão! Para só falar de alguns, porque dizer-se, disse-se de todos.
Que alguns anónimos da blogosfera espalhem boatos e digam o que lhes apetece sob o disfarce do nickname, compreende-se. Que se sirvam dessa cobardia perfidamente assassina para passar a jornais, rádios e televisões, isso já fia mais fino. Que se ataquem impunemente pessoas sem provas provadas do que se afirma ou se insinua é algo que não só pode “assassinar” civicamente o visado, como vai matando lentamente a democracia.
Este é um trabalho sistemático, planificado, organizado. A ideia final é demonstrar que toda a gente é corrupta, toda a gente só se serve a si próprio. O que incute no cidadão normal a ideia de que ninguém “serve o interesse comum”, todos “se servem”, logo o melhor é eu fazer o mesmo. Donde essa geração de tecnocratas sem alma que visa o proveito pessoal e nada mais. Logo cada vez mais essa sensação de total desencanto que só pode levar ao alheamento da política. Logo a instalação de uma terra de ninguém, onde o poder económico se instala sem critica e sem controlo. Logo essa ditadura sem rosto que actua a seu belo prazer, duplamente legitimada: se todos procuram o lucro, para quê criticar aqueles que vivem do lucro? Vivendo do lucro, conseguido de forma selvática, a ditadura económica não encontra oposição credível, pois esta foi destruída previamente. E ainda vai lucrando uns pozinhos com a comunicação social que detém e que a serve, beneficiando também duplamente com os escândalos: vendem papel e conseguem audiências, por um lado, e minam oposições, por outro. Para quê arranjar ditadores de outro género, se esta situação serve perfeitamente e ainda por cima dá a ilusão de se viver numa perfeita democracia? Em que ninguém está acima do poder controlador da comunicação social.
Ora bem, com todos os seus vícios, a democracia é ainda o melhor sistema político que conheço. Se não fosse ela não estava aqui a escrever o que escrevo, nem vocês aí a lerem-se, se for o caso. Mas para que isso aconteça, a democracia e a liberdade têm de encontrar os seus próprios mecanismos de defesa.
Mas isso ficará para um próximo texto.
Adenda:
Caros leitores deste blogue: Por norma sou totalmente contra comentários críticos, anónimos e que não estejam ligados a um blogue. É obvio que há comentários anónimos que não rejeito, sobretudo quando ligados a blogues, e se o tema do comentário não ofende ninguém. Quanto a comentários insultuosos para comigo, ou para com terceiros, não são publicados seguramente. Mesmo quando os temas são polémicos se exige alguma compostura.
É evidente que a blogosfera está infestada de energúmenos que a coberto de anonimato dizem o que entendem, sem respeito por nada nem ninguém. É óbvio que só idiotas, e idiotas mal intencionados, podem acreditar que esta forma de expressão é o que se chama “liberdade de expressão” ou qualquer forma de exercício da democracia. A essa vil forma de “expressão”, cobarde e sem carácter, nada mais se poderá chamar do que velhaca calúnia, qualquer que seja a sua justificação. Quem quer ataca e criticar que o faça a descoberto, usando o seu nome e o seu rosto. Quem não tiver coragem para o fazer assim, que se cale. Neste blogue não há lugar para cobardes.

quarta-feira, abril 11, 2007

POESIA, NUNO JUDICE, HOJE

NUNO JÚDICE

Falar de Nuno Júdice é difícil. Falar de Poetas é sempre difícil. Há elementos factuais que se podem dizer.
Nasceu em 1949, em Mexilhoeira Grande (Algarve). Formou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e é Professor Associado da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval.
Tem publicado estudos sobre teoria da literatura e literatura portuguesa. Publicou antologias, como a da Poesia do Futurismo português, edições críticas como a dos Sonetos de Antero de Quental e tem uma colaboração regular em jornais e revistas com críticas de livros e crónicas.
Colaborou em acções de divulgação cultural, como as "Letras Francesas" (1989), com uma apresentação de autores franceses contemporâneos, e organizou a "Semana Europeia de Poesia" no âmbito de Lisboa Capital Europeia da Cultura (1994).
Foi o comissário para a área da Literatura de "Portugal como país-tema da 49ª Feira do Livro de Frankfurt", em 1997.
O seu primeiro livro de poesia data de 1972. Daí para cá tem publicados mais de quarenta títulos, entre poesia, ficção, teatro, ensaísmo.
Recebeu os mais importantes prémios de poesia portugueses: P.E.N. Clube, em 1985; D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus, em 1990; da Associação Portuguesa de Escritores, em 1994, este com o livro "Meditação sobre ruínas".
Em 1999 arrecadou o prémio Bordalo da Casa da Imprensa com o romance «Por todos os séculos».
Em 2001 recebeu o Prémio da Crítica, da Associação Portuguesa dos Críticos Literários.
Em 2002 obteve o prémio Ana Hatherly com o livro «O estado dos campos».
Está representado em numerosas antologias, tendo participado nos mais importantes festivais de poesia, como o de Roterdão e o de Medellin.
Dirigiu a revista "Tabacaria" da Casa Fernando Pessoa até ao número 8, publicado em 1999.
Foi nomeado em 1997 Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal e Director do Instituto Camões, em Paris, cargos que exerceu até Fevereiro de 2004.
É um dos responsáveis pelos Seminários colectivos de tradução de poesia, que se realizam duas vezes por ano no Palácio de Mateus, no Norte de Portugal, e membro permanente do júri do Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus.
É autor de uma peça de teatro, «Flores de estufa», representada no Porto e em Lisboa, tendo traduzido as peças «Sertório» (representada pelo Teatro da Cornucópia com encenação de Luís Miguel Cintra), «A Ilusão Cómica», (representada no Teatro nacional S. João com encenação de Nuno Carinhas) e «O Cerco» de Armand Gatti (representado no festival de teatro de Almada com encenação de Michel Simonot).
Em 2007, a Câmara Municipal de Aveiro criou o Prémio de Poesia Nuno Júdice.
Enumerados os elementos biográficos, fica quase tudo por dizer. Fica pelo menos o mais importante. Eu que o julgo um dos maiores poetas portugueses de sempre, um dos mais importantes poetas líricos da nossa História, na linha de um Camões e de um David Mourão Ferreira, e ficam muito poucos por citar da mesma grandeza, acho que o melhor mesmo é ouvir a sua poesia.

Dois exemplos:

ATÉ AO FIM

Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.

PRINCÍPIOS

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice, in “Pedro, Lembrando Inês”, ERD. Dom Quixote, 2001

Ouvidos os poemas, julgo que nos aproximámos do essencial do poeta: os mistérios da vida e da morte, a obsessão do amor, que é espírito e carne, a construção do poema. Estes são temas constantes da sua obra, desde os tempos mais formalistas da génese da sua obra até ao momento actual, em que as emoções se articulam harmoniosamente com a construção do poema.
Mas chega de aproximações, quando temos connosco o poeta.

(Hoje, no Vává.diando, pelas 20,00 horas).

MÚSICA: ELINA GARANCA, 2

Elina Garanca
Afinal a menina é mesmo só bonita.
Aproveitam-se da sua beleza para distribuirem MUPIS apelativos.
Na hora da verdade, nâo canta nada. Mas mesmo NADA.
O concerto foi cancelado.
(Óbvio que estou a brincar. A senhora, infelizmente, adoeceu).
Fiquei sem a minha prenda de Pásoa.
Era uma coelhinha cantora.
- Estimo as melhoras, Elina.
E tente aparecer por cá um dia destes.


segunda-feira, abril 09, 2007

OUTRAS PÁSCOAS

Descida da Cruz- Rubens

Corre na televisão “Quo Vadis”. A imagem inesquecível de Peter Ustinov, de polegar virado para baixo, na figura do louco imperador romano, faz-me recordar as Páscoas da minha infância e adolescência.
Antes ainda de mergulhar nas recordações de infância, esta exibição evoca-me Semanas Santas passadas em salas de cinema, nos anos 50 e 60, e ainda na década de 70, onde devorava filmes bíblicos, de “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. De Mille, a “Ben-Hur”, de William Wyller, deste mesmo “Quo Vadis” a “A Maior História de Todos os Tempos”, de George Stevens, de “O Rei dos Reis”, de Nicholas Ray, até “O Evangelho segundo São Mateus”, de Pier Paolo Pasolini, passando por outros que tocavam ao de leve a vida de Cristo, mas se ocupavam de outras personagens laterais à sua história, como “A Túnica”, por exemplo, mas também “Demétrio, o Gladiador”, “Barrabás” e tantos outros.
Depois, as salas de cinema deram lugar aos ecrãs de televisão, onde, por esta altura do ano, se atropelavam filmes bíblicos e séries, como o “Jesus de Nazaré”, de Zeffirelli. Devo dizer que me sabia muito bem ter a certeza de que, por esta altura do ano em que se ouvia falar mais do “Carneiro de Deus, que tira os pecados do mundo”, eu podia sempre ver nos canais de televisão obras que já sabia de cor nalguns casos, outras que descobria com ansiedade, algumas ainda que se estreavam com estridência. A competição entre canais retirou-nos essas certezas, na Páscoa e no Natal, e não nos trouxe infelizmente nenhuma outra compensação à altura. Muitos dos nossos prazeres são repetir prazeres já experimentados. Que interessa saber que já tínhamos visto vezes sem conta Nuno Salvação Barreto a pegar o touro na arena de Roma, se a repetição do olhar nos proporcionava um duplo prazer, o de rever algo de que gostámos e o de recordar esse outro prazer de anos atrás? Se não fosse legítimo esse prazer ninguém leria duas vezes o mesmo livro, todos se escusavam a ouvir duas vezes a mesma ópera ou sinfonia, ninguém olharia duas vezes para o mesmo quadro. O prazer da re-descoberta, o gosto de saber que algo vai acontecer no momento já esperado, é algo que não se deve perder. Que a maioria dos humanos aprecia, e que o gosto pela novidade não deve destruir. O equilíbrio entre o já visto e o novo pode, e julgo deve, coexistir.

Dez Mandamentos, de Cecil B. De Mille

Tenho, todavia, que me interrogar sobre este gosto pelo filme bíblico. Sempre gostei de História, é certo, e não foi contrariado que cursei História, em Letras, na Universidade de Lisboa. Fi-lo por gosto. Não sei mesmo, se, havendo na altura um curso de Cinema (que não havia!), não teria, à mesma, preferido História, ainda que não seguisse profissionalmente essa estrada. Mas o curso de História permitiu-me privar com grandes professores e obter uma base humanista e metodológica preciosa, inclusive para o que pretendia fazer em cinema. Sempre achei que o mais importante era desenvolver (e possuir) capacidades intelectuais, que as tecnológicas logo viriam, ou não, por acréscimo. Por isso frequentei História, por isso sempre gostei de História. Quem gosta de História gosta de histórias, de enigmas, de mistérios a decifrar. Deverá ser por essa via que me advém o gosto pela vida de Cristo, aliado aos mistérios da Sua Paixão.
A verdade é que numa sala de cinema ou no dia a dia, a Páscoa me tocou sempre fundo. A minha família não seria de católicos assumidamente praticantes, daqueles que vão à missa todas as semanas, mas tive pai e mãe que não descoravam os ensinamentos da Santa Madre Igreja e me procuraram incutir o que de melhor havia na moral. Foi talvez a educação que me aproximou da religião e dos seus grandes mistérios, mas algo em mim sempre me fez sentir fascínio por duas épocas muito particulares, o Natal, em primeiro lugar, que sinto sobretudo como uma grande festa de família, a Páscoa, logo a seguir, por razões que se devem prender a muitos aspectos. Por ser, de certa forma, a festa da ressurreição, o mesmo é dizer da primavera, mas por ser também um período de quase terror a envolver as igrejas, o cerimonial religioso, o luto. Nestes dias a proximidade do mistério da morte é muito maior, o que para uma criança é algo que aterroriza, mas igualmente fascina, pelas interrogações que provoca.
Da Páscoa mais recuada que me lembro, situo-a em Portalegre, na década de 50. Terra de província, fechada, perdida num Alentejo profundo, rodeada “de oliveiras e sobreiros”, como cantava o poeta, era terra de algum desespero e muita miséria para o trabalhador rural que não raro fugia dessa desesperança atirando-se do alto do ramo forte de uma árvore, pendurado numa corda. Como um dia, pela manhã, eu surpreendi um, numa azinhaga que corria ao fundo da rua de Elvas onde eu morava. Partia para a escola, quando vi ao fundo da rua grande alarido e ajuntamento de populares. A curiosidade falou mais alto que a necessidade de chegar a horas às aulas e lá fui furar entre o pessoal que rodeava uma vetusta árvore, donde pendia inerte um homem. Enforcado. À minha volta segredava-se o desespero que o levara a ficar com os pés bem acima da minha cabeça, balouçando-os com o vento suão, o tal “que atira a corda aos desgraçados”. Era um Inverno bem pesado, e a cabeça pendia de lado. Ouvia eu dizer que estava azulada, não do azul do céu sem nuvens, mas de um azul cinza chumbo. Terá sido a primeira vez que vi a morte e um cadáver à minha frente. Tinha, sei lá, dez, doze anos e uma completa inocência existencial, bem aquecida até aí pelo carinho da família.
Foi por essa altura, nessa terra que, mesmo sem mistérios de Páscoa, continha já uma súmula de desespero grande, que comecei a tomar contacto consciente com a paixão e a ressurreição de Cristo. As igrejas, paramentadas de roxo, começavam por encobrir as imagens, as famílias percorriam as ruas, entrando em cada templo que encontravam e ali se detinham em oração, havia fúnebres procissões que percorriam as ruas da cidade, ou as de algumas freguesias quase fora de portas, chegando depois o domingo da boa nova, sendo a ressurreição anunciada de casa em casa pelo senhor prior que vinha acompanhado pelo sacristão, precedido de campainha anunciadora. As portas das casas estavam abertas, as do rés-do-chão, mas também as de prédios de vários andares, que o padre subia ofegante, para se sentar depois à volta de um cálice de Porto e de um bolinho, caseiro, confeccionado na véspera com particular cuidado para a ocasião. Um bolinho, ou um sortido de bolos secos, dispostos em pequenos pratos, chamados pires (designação que sempre odiei), com “naperons” por baixo, garrafa de Porto e cálice ali bem ao lado, tudo em cima de uma engalanada camilha que, durante o Inverno, era o refúgio para o frio gélido que soprava dos lados da serra de São Mamede.
Serra de São Mamede: boas recordações de tardes de Abril primaveris e domingos de Páscoa em que as famílias partiam de farnel aviado para comer o cabrito em piqueniques que rolavam dolentes pela tarde toda. Uma tarde dessas de domingo de Páscoa lembro-me de partirmos serra acima, num carro alugado para o efeito, eu, os meus pais, e um amigo da casa, o poeta José Régio. Desdobrava-se a toalha, lá onde havia a sombra de uma árvore, estendia-se o pano sobre a terra, depois colocavam-se talheres e pratos, uma assadeira grande onde fora assado o cabrito e onde viajara connosco serra acima, acompanhado de boas batatas novas bem embebidas no molho, havia garrafas e copos, pão, folares e muita conversa à solta. Pela encosta da serra viam-se famílias e mais famílias, grupos de amigos, enquanto a tarde ia caindo… lentamente, ao ritmo de uma província alentejana dos anos 50.
O pai era alto, de careca luzidia desde muito novo (não me lembro de o ter visto com mais cabelo), com uns olhos azuis límpidos, e umas mãos largas que pintavam coisas maravilhosas, como, por exemplo, retratos dessa mãe loura e bonita como não havia outra, ou paisagens como a serra de São Mamede. Havia ainda retratos meus que me obrigavam a estar quieto horas a fio, “a posar”, dividido entre o tédio de nada poder fazer e a observação quase obsessiva de ver pintar, de assistir à tela branca que lentamente vai sendo riscada pelo carvão, depois esboçada pela tinta, coberta pelas cores, trabalhada pelo pincel.

Era assim a Páscoa em Portalegre, mas não só. Num ano ou dois, a família viajou até Sevilha para assistir à Semana Santa. Foi o triunfo do terror, mas de um terror libertador, se assim o posso chamar. Assistir nas calles de Sevilla à passagem das procissões, o que normalmente acontecia à noite, era um espectáculo indescritível. Dos dois lados das avenidas estendiam-se bancadas que se apinhavam de gente, conversadora, aberta, generosa. Enquanto se esperava pela passagem dos andores (os palos), a gente ia comendo e bebendo e oferecendo entre si o que cada um possuía. Lembro-me de uma Espanha pobre, triste, cansada pela guerra que acabara há pouco e deixara pesadas marcas, mas lembro também que os rostos se iluminavam e as mãos se estendiam. Sentia-me bem naquele calor humano que invadia as ruas e se prolongava noite dentro. No meio dos meus pais, aconchegado entre ambos, via aproximarem-se os peregrinos, nos seus trajes sem rostos, martelando dramaticamente o empedrado com bastões de madeira, e o medo crescia em mim. Os capuzes negros, brancos ou roxos, consoante as cores das congregações, o ritmado do estrondo dos sons, a música religiosa, os coros que ecoavam pelas ruas, as imagens de Cristo da cruz, dilacerantes de dor, a noite sobre a cidade, as portas das igrejas abertas, como cavernas escuras, que vomitavam às centenas, aos milhares os peregrinos misteriosos, tudo isso se repercutia em mim de forma avassaladora. Sentia um misto de medo e conforto, medo pelo que via, conforto por ver o que via no meio dos meus pais, entidades que sentia protectoras e apaziguadoras. Se ali estava, levado por eles, nada daquilo que poderia fazer mal, ainda que as ameaças surgissem a cada passo. Essas imagens nunca mais as vou esquecer, são espólio de uma vida que procuro transmitir aos que mais quero. Por isso, teria o meu filho Frederico mais ou menos a minha idade nessa altura, lá o levei a descobrir também a Semana Santa em Sevilha, para ele sentir o mesmo, ou algo parecido ao que eu sentira três décadas antes. Procurei que o conforto fosse idêntico também, a sua mão na minha e na da mãe, enquanto via passar pelas ruas da cidade as mesmas procissões, agora um pouco mais abrilhantadas pela necessidade turística, agora mais sumptuosas pelas possibilidades que são outras, muito diferentes das por que se passava no pós-guerra. Aliás, nesses anos que se seguiram à Guerra Civil, ao triunfo do franquismo sobre o anti-clericalismo da República, as cerimónias religiosas em Espanha espelhavam naturalmente essa “vingança” surda da Igreja (e do próprio Estado) contra aqueles que a tinha perseguido, exibindo sem pudor a sua força, a sua grandeza, a sua tradição opressiva na liturgia e no cerimonial. Por essa altura de Guerra Civil eu pouco sabia, apenas uma ou outra informação que os adultos iam deixando cair, mas essa dimensão sobre-humana de algo que se não entende, de um mistério que nos ultrapassa e nos inflige um medo oculto e silencioso, paralisava-me de terror, mas também causava algum prazer, um frisson miudinho que alimentava a imaginação.
A Semana Santa passei-a depois, ao longo da vida, em várias cidades e locais diferentes. Vi (pela televisão) flagelações brutais nas Filipinas, mas fiquei-me pacatamente pelas procissões em Évora (a Páscoa para mim ficou para sempre ligada ao Alentejo) ou em Braga. Há dois dias, da janela da minha casa, em Lisboa, vi passar uma estranha e insólita procissão, na Av. de Roma. Meia dúzia de paramentados de branco a abrir, um sacerdote, meia centena de fiéis com velas, um carro com auto-falante a fechar, a total falta de mistério, apenas o inesperado. Caminhando rumo a quê? À sobrevivência da religião, numa sociedade predominantemente materialista e isenta de valores? Ou, pelo contrário, rumo ao progressivo apagamento, à dissolução por entre arranha-céus, supermercados, canais de televisão generalistas, multinacionais sem alma (desalmadas), violência expedita e vagas de insensibilidade?