segunda-feira, janeiro 28, 2008
DIA 30: VAVADIANDO COM IRENE PIMENTEL
sexta-feira, janeiro 25, 2008
CINEMA: EXPIAÇÃO
Depois de ter realizado, há dois anos atrás, um meritório “Orgulho e Preconceito”, segundo Jane Austen, Joe Wright regressa a um tema semelhante, por igual via, uma adaptação literária de um romance de envergadura. Agora em vez de Jane Austen, Ian McEwan, outro inglês que curiosamente abre esta sua obra com uma citação de Austen. Coerência, portanto, num autor.
Note-se: “autor”, não duvido. Há preocupações constantes que tendem à obsessão de fantasmas privados – mansões antigas exalando felicidade que encerram nos seus sótãos preconceitos, personagens leves como a aragem que as percorre que se precipitam em vendavais de paixões que as conduzem à tragédia; segredos que se expiam e atormentam vidas com memórias dolorosas, mulheres delicadas que sofrem perante a discreta ferocidade de uma sociedade que o homem controla e domina, do alto da sua superioridade senhorial e machista… Depois há uma equipa que funciona coesa (actores e técnicos que passam de filme para filme). Temos portanto o produto típico de um autor absorvido pela fina análise de figuras e situações emblemáticas de uma sociedade circunspectamente conservadora, que irradia uma falsa imagem de harmonia e felicidade, quando no seu seio germina uma violência tensa e um dormente cansaço, o que provoca o plausível aborrecimento dos gémeos que fogem da pasmaceira, o que leva Briony Tallis (Saoirse Ronan), uma miúda de treze anos, a “inventar” peças de teatro que tenta encenar para agitar o marasmo, o que conduz à perversão do que se vê e à invenção de situações “explosivas”, o que precipita esperados acontecimentos dramáticos que depois se calam para não ofuscarem a rigidez moral do ambiente. Com uma única excepção: o filho do empregado da casa, que se prepara para estudar medicina, protegido pelos patrões, mas que apesar de tudo nunca inspira a confiança suficiente para não ser logo acusado e mandado para a prisão na primeira crise que atravessa ocasionalmente.
Veja-se como Ian McEwan inicia a sua obra com a descrição da escrita da peça por Briony: “A peça - para a qual Briony tinha desenhado os cartazes, os programas e os bilhetes, construído a bilheteira com um biombo voltado de lado e debruado uma caixa com papel crepe vermelho para recolher donativos - tinha sido escrita por ela num assomo de criatividade que tinha durado dois dias e que a levara a perder um pequeno-almoço e um almoço. Depois de concluídos todos os preparativos, já não tinha mais nada a fazer a não ser rever o manuscrito e esperar pela chegada dos primos que vinham do norte. Só teriam tempo para um dia de ensaios antes de o irmão chegar. A peça, com passagens sinistras e outras desesperadamente tristes, era uma história de amor, cuja mensagem, transmitida num prólogo em verso, era a de que o amor que não estivesse assente numa base de bom-senso estaria condenado. A paixão louca da heroína, Arabella, por um maléfico conde estrangeiro é punida pelo infortúnio de ela contrair cólera durante uma ida impetuosa até uma vila à beira-mar com o namorado. Abandonada por ele, e por quase toda a gente, presa à cama numas águas-furtadas, descobre em si própria um inesperado sentido de humor. A sorte dá-lhe uma segunda oportunidade, sob a forma de um médico pobre que, na verdade, é um príncipe disfarçado que escolheu trabalhar no seio dos mais necessitados. Arabella é curada por ele e, desta vez, faz uma escolha sensata, sendo recompensada pela reconciliação com a família e pelo casamento com o príncipe-médico “num dia de Primavera com muito sol e algum vento” (1).
Mais adiante: “ Ela era uma daquelas crianças possuídas pelo desejo de ter um mundo exemplar. Enquanto o quarto da sua irmã mais velha era um antro de livros espalhados, roupas em desalinho, cinzeiros cheios, com a cama por fazer, o de Briony era um santuário do demónio do controlo: na quinta de brincar montada num parapeito fundo havia os animais do costume, mas estavam todos voltados para o mesmo lado — para o seu dono — como se estivessem prestes a entoar uma canção. Até as galinhas estavam impecavelmente colocadas dentro da cerca. Aliás, o quarto de Briony era o único do andar de cima que estava arrumado. As bonecas, de costas muito direitas, nas múltiplas divisões da sua casinha de brincar, pareciam ter recebido ordens estritas de não tocarem nas paredes; as muitas figuras minúsculas de cowboys, mergulhadores, ratos humanóides, dispostas sobre o seu toucador, faziam lembrar, pela forma como estavam alinhadas e pela distância que as separava, um exército de cidadãos à espera de ordens.
O gosto pelas miniaturas era um dos aspectos de um espírito em ordem; um outro era a paixão pelos segredos: num armário envernizado, que muito estimava, havia uma gaveta secreta que se abria carregando no veio de um entalhe inteligentemente torneado. Era aí que guardava um diário fechado com uma mola e um caderno escrito num código que ela inventara.” (1).
Coisa de miúdos, é certo, mas de miúdos frustrados por educações penosas, mentes retorcidas desde criança. Diga-se que a educação terá particular relevância na definição destes caracteres, mas há predisposição nata para assim se percorrer os corredores da casa, em passo estugado, decidido, curvando nos cantos a noventa graus, progredindo em linha recta até ao objectivo final. Quem assim anda, não pode sofrer desvios ditados pelo destino ou o acaso, sabe o que quer e não gosta de ser contrariado. Quando o é, alguém sofre as consequências. Robbie passa rapidamente de objecto de desejo a desejo de vingança. Lola Quincey (Juno Temple) é surpreendida a ser violada por um vulto, na noite da busca dos gémeos Pierrot (Felix von Simson) e Jackson (Charlie von Simson), e a casta e puritana Briony não duvida um segundo de quem é o violador de que apenas descortinou a silhueta. E impunemente atira para o opróbrio e o calabouço aquele que anteriormente era o encanto dos seus pensamentos. Quando há que encontrar um “culpado” ele terá de ser de outra classe social, tanto mais que o afastamento de Robbie afasta igualmente uma ligação inter-classicista de todo em todo indesejável.
“Ao longo destes cinquenta e nove anos (o tempo que medeia entre 1935 e 1994), o problema tem sido este: como é que uma escritora pode fazer a sua expiação se, com o poder absoluto de decidir o final, ela é em certa medida Deus? Não há ninguém, nenhuma entidade, nenhum ser superior a quem ela possa apelar, com quem possa reconciliar-se ou que possa perdoá-la. Não há nada para além dela. Foi ela que marcou os limites e os termos, com a sua imaginação. Não há expiação para Deus, nem para os escritores, mesmo que sejam ateus. É uma tarefa impossível, e a questão é precisamente essa. O que conta é a tentativa.” (1)
Como se vê, “Expiação” é realmente um filme muito interessante, muito curioso ainda ao nível da narrativa (boa e eficaz a adaptação do dramaturgo Christopher Hampton (português, nascido nos Açores, descobri agora), que parte do belíssimo romance de Ian McEwan, e o transfere sem alterar o espírito para o cinema. Consegue proezas dignas de registo, como, logo de início, a forma como nos dá duas versões de um mesmo acontecimento, quando visto, ao longe, através do vidro de uma janela, e quando presenciado e vivido por um dos protagonistas da cena. O processo repete-se com avanços e retrocessos na narrativa, mas talvez já sem a mesma justificação interior, ainda que com resultados interessantes. Reflexão pois sobre a criação artística (ou literária), sobre a procura da verdade, sobre a imposição ou não dessa verdade como prisma de criação.
Falemos ainda do excepcional desta obra: a partitura musical, da responsabilidade do italiano Dario Marianelli, e que mistura, ao longo de quase todo o filme, o matraquear da máquina de escrever com as notas musicais e outros ruídos, para criar um clima absolutamente absorvente e inquietante. Irreal. Boa a fotografia do irlandês Seamus McGarvey que mistura tons quentes e frios, e os altera a seu belo prazer. Veja-se como o verde pode ser, em cenas sucessivas, abrasador como o vermelho mais intenso (o assombroso vestido de Keira Knightley) ou frio e dolorosamente macerado (plano de Briony, aos treze anos a deitar-se num quarto forrado a verde). A realização é sensível, sensual e sumptuosa por vezes, mas deixa uma sensação de “um pouco mais de sol, e seria brasa.” Será que chega para atingir o Óscar de melhor filme do ano? Curioso não estar nomeado para o de melhor realização.
EXPIAÇÃO
Título original: Atonement
Realização: Joe Wright (Inglaterra, França, 2007); Argumento: Christopher Hampton, segundo romance de Ian McEwan; Música: Dario Marianelli; Fotografia (cor): Seamus McGarvey; Montagem: Paul Tothill; Casting: Jina Jay; Design de produção: Sarah Greenwood; Direcção artística: Ian Bailie, Nick Gottschalk, Niall Moroney; Decoração: Katie Spencer; Guarda-roupa: Jacqueline Durran; Maquilhagem: Sarah Jane Cosgrove, Ivana Primorac, Andy Seston, Matthew Smith, Elizabeth Yianni-Georgiou; Direcção de produção: Erica Bensly, Simon Fraser, Deborah Harding; Assistentes de realização: Tom Brewster, David Daniels, William Dodds, Stewart Hamilton, Candy Marlowe, Thomas Q. Napper, Josh Robertson, Michael Stevenson; Departamento de arte: Tim Browning, Laurent Ferrie, Oliver Goodier, Sarah Miller, Adrian Platt, Sarah Stuart, Tom Whitehead, Tracey Wilson; Som: Catherine Hodgson, Becki Ponting, Chris Sturmer; Efeitos especiais: Mark Holt; Efeitos visuais: John Moffatt; Produção: Tim Bevan, Liza Chasin, Richard Eyre, Eric Fellner, Robert Fox, Jane Frazer, Debra Hayward, Ian McEwan, Paul Webster; Companhias de produção: Working Title Films, Relativity Media, Studio Canal.
Intérpretes: Saoirse Ronan (Briony Tallis, 13 anos), Ailidh Mackay, Brenda Blethyn (Grace Turner), Julia West (Betty), James McAvoy (Robbie Turner), Harriet Walter (Emily Tallis), Keira Knightley (Cecilia Tallis), Juno Temple (Lola Quincey), Felix von Simson (Pierrot Quincey), Charlie von Simson (Jackson Quincey), Alfie Allen (Danny Hardman), Patrick Kennedy (Leon Tallis), Benedict Cumberbatch (Paul Marshall), Peter Wight, Leander Deeny, Peter O'Connor, Daniel Mays, Nonso Anozie, Michel Vuillermoz, Nick Bagnall, Charlie Banks, Jamie Beamish, Madeline Crowe, Scarlett Dalton, Michelle Duncan, Matthew Forest, Romola Garai (Briony, 18 anos), Vivienne Gibbs, Olivia Grant, Ben Harcourt, Jack Harcourt, Paul Harper, Mark Holgate, Ryan Kiggell, Katy Lawrence, Neil Maskell, Gina McKee, Anthony Minghella (entrevistador), Jade Moulla, John Normington, Georgia Oakley, Alice Orr-Ewing, Catherine Philps, Jay Quinn, Vanessa Redgrave (Briony Tallis, velha), Bryony Reiss, Jérémie Renier, Kelly Scott, Billy Seymour, Sarah Shaul, Anna Singleton, Richard Stacey, Emily Thomson, Tilly Vosburgh, Ben Webb, etc.
Duração: 130 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Classificação etária: M/12 anos; Locais de Filmagem: Aldwych Underground Station, Aldwych, Holborn, Londres, Inglaterra, Data de estreia: 17 de Janeiro de 2008 (Portugal);
Muitas hipóteses em música, fotografia e argumento adaptado.
(1) “Expiação”, de Ian McEwan, tradução de Maria do Carmo Figueira, Gradiva, 2002
quinta-feira, janeiro 24, 2008
CINE ECO: EXTENSÂO NOS AÇORES COMEÇA HOJE
Dos cerca de 20 filmes em exibição, portugueses e estrangeiros, destacam-se o projecto vencedor do Grande Prémio do Ambiente no Cine Eco 2006, “Ainda há Pastores”, de Jorge Pelicano. Trata-se de uma história que aborda um lugar chamado Casais de Folgosinho, situado num vale entre as montanhas da Serra da Estrela, onde não há luz eléctrica, não corre água canalizada, muito menos estradas. Em tempos aquele local foi um autêntico santuário de pastores, hoje, os mais velhos vão morrendo e os novos fogem da dura sina de ser pastor. Quanto ao filme vencedor do mesmo galardão em 2007, “Encontro com Milton Santos”, do realizador brasileiro Sílvio Tendler, refere-se a uma história com base numa entrevista com o geógrafo Milton Santos. O documentário, que conta com a interpretação de Beth Goulart e Fernanda Montenegro, expõe um pensamento sobre a globalização, necessária e desejada, bem como discute as distorções impostas aos países pobres que pagam injustamente pelo crescimento da economia dos países ricos e as consequências provenientes dessa lógica do capital, que amplia as diferenças ao invés de redistribuir as riquezas.
LIVROS: SÁNDOR MÁRAI, V
“A MULHER CERTA”,
AS DUAS ALEXANDRAS
E O “PÚBLICO”
Curiosamente, esta Alexandra é amiga, foi colega de estudos, é camarada de profissão e de jornal de uma outra Alexandra (esta Prado Coelho), a quem ofereci no Natal um dos seis exemplares de “A Mulher Certa” que comprei pretendendo difundir o mesmo prazer que eu sentira ao lê-lo, agora estendendo-o a familiares e amigas nessa quadra. O Natal é isto.
Estas Alexandras nunca me enganaram. O “Público” tem coisas de que gosto menos, é certo, mas muitas de que gosto muito. As Alexandras estão neste último caso. Ambas com Márai nos olhos.
quarta-feira, janeiro 23, 2008
CINEMA: CRISTOVÃO COLOMBO- O ENIGMA
Este não é um filme realista, é um dos filmes mais evanescentes que já vi. É um filme de fantasmas. Fantasmas que perseguem fantasmas, e falamos aqui de fantasmas enquanto almas, espíritos, corpos que interiorizam e guardam forças estranhas, ânimos e indizíveis energias. Fala-se muito de uma segunda infância quando se ultrapassa a maturidade e se entra numa outra dimensão que é a velhice ou a sabedoria. “Cristóvão Colombo – o Enigma” tem a alegria e a inconsciência de uma criança que brinca enquanto aprende alguma coisa sobre um tal Cristóvão Colombo que uns quantos dizem ser genovês e alguns afirmam português, nascido em Cuba, Alentejo, e ter dai partido para o mundo e para a descoberta da América. Numa altura em que Portugal e a Espanha dividiam o mundo entre si: uma parte para mim, outra para ti, coisa de crianças também.
Não, não se pode gostar ou não gostar deste filme com base no argumento, nos diálogos, na interpretação, até (por vezes) na iluminação ou naqueles artifícios de narração a que estamos habituados. Este filme participa de um outro registo. Não se gosta ou não. Ama-se ou não se ama. Eu amei. Há muito que não me enternecia tanto vendo um filme. Já vi majestosas obras-primas e chorei de prazer. Não é raro chorar de tanta beleza à nossa frente. No caso do filme de Oliveira, a lágrima desponta por outras razões. Ou sem-razões, sei lá. É lindo (não outra palavra: é lindo) ver Oliveira e a mulher passear por Nova Iorque em busca de Colom, desbobinando diálogos de manual de História, mas com um olhar de princípio do mundo que desarma a alma mais empedernida. “Oh Manuel (ou será: Manoel?), tu gostas mesmo de mim, tu amas-me?”, pergunta a mulher ao marido num barco com a estátua da Liberdade ao fundo (depois de nos terem dado um dos mais gloriosos planos da América que vi em cinema: a estátua ao fundo e, um primeiro plano, a bandeira a dardejar ao vento – os americanos deviam imprimir aos milhares e distribuir pelo mundo!). Trata-se de um casal que já ultrapassou todas as idades, que tem os anos marcados no rosto, a pele curtida pelas intempéries da vida, mas que conserva uma vivacidade no olhar e um sorriso malandro em cada palavra que diz. E o Manoel abraça-a e o mundo tem uma razão de ser e tudo parece estar certo e o Colom ser português de Cuba.
Numa situação destas, não há crítica que resista, o Oliveira já passou para o outro lado de tudo o que se conhece, resta-nos olhar incrédulos para o milagre, abrir a boca de espanto, sorrir aparvalhados para a beleza do mar e do céu, ficar extasiado perante um plano em casa de Colom no Porto Santo, ouvir a voz de Luís Miguel Cintra, e entrar no Paraíso.
Se Deus existe, inspirou Manoel de Oliveira. Esta serenidade de olhar, esta doce e divertida forma de olhar o mundo, é o Além. Todo o enigma está aí. Cristóvão Colombo foi apenas o pretexto para o cineasta nos levar consigo a descobrir o inexpugnável. O indecifrável, o indescritível. Não sei se é cinema ou teatro, mau ou bom, nem me interessa. Entra-se na sala, sentamo-nos, começamos por ver aquelas coisas da publicidade e dos anúncios aos filmes futuros, e sim, está bem, alguns devem ser muito bons. Depois aparece a assinatura de Colom no ecrã e entra-se numa outra dimensão. Se ao fim de quinze minutos entrou nessa dimensão, é a viagem pelo maravilhoso. Se não entrou, o melhor é sair. Não tem nada a fazer lá dentro. Este filme não é para si. Mas repare: não digo que esteja errado. É outra “coisa apenas”.
Já agora: o filme tem uma história. Parte de uma obra escrita pelo médico e investigador histórico luso-americano Manuel Luciano da Silva e sua mulher, Sílvia Jorge de Silva, "Cristóvão Colon (Colombo) era Português", que defende a tese da origem portuguesa do descobridor da América. A vida do médico e a sua paixão pelos Descobrimentos são temas centrais do filme, em que, inicialmente, Ricardo Trepa interpreta o papel do jovem Luciano da Silva e Leonor Baldaque o de Sílvia Jorge da Silva. Posteriormente, em idade mais avançada, serão o próprio Manoel de Oliveira e sua mulher Maria Isabel de Oliveira, que se ocupam das mesmas personagens. "Não se trata nem de um filme científico ou histórico, nem de carácter propriamente biográfico, mas sim de uma ficção de teor romanesco, evocativa da grandiosa gesta dos Descobrimentos Marítimos", explicou Manoel de Oliveira num comunicado distribuído sobre a obra, onde acrescentou: “Irá apresentar, contudo, a novidade de que Cristóvão Colon era, afinal, de origem portuguesa, nascido na vila alentejana de Cuba, e ter por isso dado à maior ilha por ele descoberta no mar das Antilhas, o nome da sua terra natal, Cuba". Nos Estados Unidos, Manoel de Oliveira filmou no parque da Estátua da Liberdade, na praça nova-iorquina onde se ergue a estátua de Cristóvão Colombo, junto ao Central Park, no Dighton Rock Museum, na Vila de Berkeley, em Massachussetts, e na cidade de Newport, em Rhode Island. O filme encerra na ilha de Porto Santo, onde Manuel Luciano identifica as suas últimas conclusões no lugar onde, na realidade, Colombo viveu com sua mulher, D. Filipa de Perestrelo.
Mas antes, Oliveira traça o percurso de Manuel Luciano da Silva que, em 1946, parte para a América com seu irmão Hermínio (Ricardo e Jorge Trepa, netos de Oliveira). Nos EUA forma-se em medicina, e regressa a Portugal para casar com Sílvia (Leonor Baldaque, neta de Agustina Bessa Luís), e prosseguir pesquisas de forma a demonstrar que Cristóvão Colombo era português. Neste filme familiar, aparecem ainda Lourença Baldaque (que interpreta uma figura de anjo, trajando as cores nacionais), Luís Miguel Cintra e Leonor Silveira, estes dois últimos que, não sendo familiares directos, o serão mais que muitos outros, dadas as afinidades adquiridas ao longo de décadas de trabalho conjunto.
CRISTÓVÃO COLOMBO - O ENIGMA
Titulo original: Cristóvão Colombo - O Enigma ou Christopher Columbus, The Enigma
Realização: Manoel de Oliveira (Portugal, França, 2007); Argumento: Manoel de Oliveira, segundo obra de Manuel Luciano da Silva e Sílvia da Silva; Música, José Luís Borges Coelho; Fotografia (cor): Sabine Lancelin; Montagem: Valérie Loiseleux; Design de produção : Christian Marti; Guarda-roupa: Adelaide Trepa; Direcção de produção: Dorin Razam-Grunfeld, Michael Sledd; Assistente de realização: Olivier Bouffard, Patrick Huber, Greg Staley; Departamento de arte: Stephane Alberto, Gregory Kenney; Som: Jean-Pierre Laforce, Henri Maïkoff; Produção: Jacques Arhex, François d'Artemare; Companhias de produção: Filmes do Tejo, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso-Americana, Les Filmes d'Après-midi, Manoel de Oliveira Filmes.
Intérpretes: Ricardo Trêpa (Manuel Luciano da Silva, jovem), Manoel de Oliveira (Manuel Luciano da Silva), Leonor Baldaque (Sílvia Jorge da Silva, jovem), Maria Isabel de Oliveira (Sílvia Jorge da Silva), Luís Miguel Cintra (Narrador, Director da casa dee Colombo, Porto santo), Lourença Baldaque (Anjo), Norberto Barroca (velho), Sam Masotto (emigrante), Leonor Silveira (mãe), Robert Gordon Spencer (emigrante), Adelaide Teixeira, Jorge Trêpa (Hermínio da Silva), etc.
Duração: 75 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Classificação etária: M7 12 anos; Locais de Filmagem: Alentejo, Cuba, Évora, Castro Marim, Castelo, Alfeite, Almada, Algarve, Lisboa, Rua Augusta, Baixa, Porto Santo, Madeira, Porto, Sé, Vila Franca de Xira, Portugal, Berkeley, California, Massachusetts, New York, Newport, Rhode Island, EUA; Estreia em Portugal: 13 de Dezembro de 2007.
domingo, janeiro 20, 2008
LIVROS: A MULHER CERTA
Quem foi Sándor Márai? Nasceu em 1900, em Kassa, uma pequena cidade húngara que hoje pertence à Eslováquia. Passou um período de exílio voluntário na Alemanha e na França durante o regime de Horthy nos anos 20, até que abandonou definitivamente o seu país em 1948 com a chegada do regime comunista, tendo emigrado para os Estados Unidos. A subsequente proibição da sua obra na Hungria fez cair no esquecimento quem nesse momento era considerado um dos escritores mais importantes da literatura centro-europeia. Foi preciso esperar várias décadas, até à queda do regime comunista, para que este extraordinário escritor fosse redescoberto no seu país e no mundo inteiro. Sándor Márai suicidou-se em 1989, em San Diego, na Califórnia, EUA.
Em 1941, Márai publicou “Az Igazi” (A Mulher Certa), um romance composto por dois longos monólogos. Para a edição alemã de 1949 (“Wandlungen der Ehe”), o autor adicionou uma terceira parte, escrita durante o seu exílio em Itália. Em 1980 rescreveu esta terceira parte, à qual adicionou um epílogo, dando-a à estampa com o título “Judit... és az utóhang” (Judit... e um epílogo). A presente edição lançada em Portugal reúne as quatro partes que constituem este “work in progress”.
Este é um daqueles romances que se lê de um fôlego e se vai deixando de lado para durar. Percebem? Queremos ler rapidamente até ao fim, mas não queremos que acabe. Queremos estar envoltos naquelas palavras, dialogar co aquelas personagens, conhecer a cidade, os locais, mas não queremos que tal acabe já. Quanto mais lemos, mais lamentamos as poucas páginas que faltam. São raros livros assim.
Sandor Marai é escritor elegante de palavra, subtil na anotação, lança-se na psicologia das personagens com agilidade e sabedoria, cruza o romance histórico e a meditação filosófica, oferece-nos uma Budapeste que se entranha, fala-nos da guerra e da política, do horror e do amor, e, no final, suicida-se no exílio. Não há salvação? Será mesmo este um pessimista desesperado? Pelas páginas de “A Mulher Certa” perpassa um pouco (ou muito) da condição humana, mas a forma como Sandor Marai escreve, por si só, é motivo suficiente para acreditar. Se não for em nada mais, na arte da utilização da palavra.
Numa cafetaria de Budapeste, uma mulher, nova, bonita, desejável, relata a uma amiga como descobriu que o marido a traía com a recordação de alguém que ficara para trás na sua vida. Conta como o tentou reconquistar em vão e como tudo se precipitou para o divórcio. Na mesma cidade, o marido dialoga, mais tarde, com um amigo, e explica como o seu casamento, que tinha tudo para ser feliz, ruiu e ele se deixou levar por uma paixão antiga. Funesta. No terceiro monólogo, numa pequena pensão romana, entra a segunda mulher desse homem a confessar a um amante como foi a sua vida com o marido. Desde ressentimento e vingança, passando por uma luta de classes que se insinua nas relações amorosas, até chegar à história íntima de Budapeste esventrada por várias guerras, há de tudo, com ferocidade e raiva. Finalmente, anos depois, num bar de uma cidade americana, fala-se de jazz e de um exilado húngaro. Marika, Péter e Judit descrevem com realismo e uma desencantada tristeza a falência das suas relações. Não há mulher certa, como não há amor que resista, como não há felicidade possível. Uma obra de uma terrível solidão, de total desencontro com a vida, mas onde, apesar de tudo, se respira.
No Natal, ofereci este livro, que foi dos que mais me tocou nos últimos tempos, a várias familiares e amigas (calhou serem só mulheres, é certo!). Veremos a reacção das que leram.
APRESENTAÇÃO DE LIVRO EM BRAGA
Apresenta o livro (e ciclo)
ZHANG YIMOU
de Lauro António
Decorre no próximo dia 21 de Janeiro, pelas 17h30, no Anfiteatro B1 do Campus de Gualtar, em Braga, o lançamento de uma monografia sobre o cineasta chinês Zhang Yimou, da autoria do cineasta português Lauro António. O lançamento desta obra conta com o apoio do Instituto Confúcio da Universidade do Minho e marca o início de um ciclo de cinema do mesmo cineasta chinês, com uma apresentação sobre a obra lançada, a obra de Zhang Yimou e as películas a apresentar durante o referido ciclo.
Durante a sessão será serviço chá chinês ''O Segredo da Flor''.
Nascido em Xi?an, China, em 1951, Zhang Yimou é um dos melhores realizadores chineses da 5ª Geração, respeitado e reconhecido um pouco por todo o mundo.
Tendo alcançado o sucesso da crítica cinematográfica e comercial muito cedo, Zhang Yimou é hoje em dia um dos realizadores mais influentes no mundo do cinema, contando já com inúmeras nomeações e prémios para filmes como ''Ju Dou'', ''Esposas e Concubinas'', ''Herói'', ''Nem um menos'', ''Casa dos Punhais Voadores'', entre outros.
Um dos fins estatutários do Instituto Confúcio da Universidade do Minho é a promoção de actividades culturais relacionadas com a China que elevem o interesse público pela sua história e cultura, designadamente ao nível da literatura, história, arte, filosofia, sociedade e economia, e ciência e tecnologia, através de actividades que podem incluir cursos intensivos, conferências, seminários, exposições e ciclos de cinema.
Esta iniciativa resulta não apenas do interesse cultural em si do(s) evento(s), mas também da auto-exigência de promover e aproveitar todas as oportunidades de cooperação entre discentes e docentes da Licenciatura de Estudos Orientais, e entre os mesmos e o Instituto Confúcio. A proposta de organização deste ciclo de cinema partiu de uma aluna da Licenciatura em Estudos Orientais, tendo o Instituto decidido agarrar a ideia com ambas as mãos, agendando e cabimentando a iniciativa para o Plano e Orçamento de 2008.
Filmes do Ciclo de Cinema
(todas as sessões têm início pelas 18h e decorrem no Anfiteatro B1, Campus de Gualtar)
- Herói, 21 de Janeiro, 2.ª feira;
- O segredo dos punhais voadores, 22 de Janeiro, 3.ª feira;
- Nem um menos, 23 de Janeiro, 4.ª feira;
- Caminho Solitário, 24 de Janeiro, 5.ª feira;
- A Maldição da Flor Dourada, 25 de Janeiro, 6.ª feira.
sábado, janeiro 19, 2008
CINEMA: JOGOS DE PODER
Por exemplo: em inícios da década de 80, nos EUA, em pleno reinado do republicano Ronald Reagan, existiu (existiu mesmo, assim como existiram os actos descritos no filme, asseguram argumentista e demais responsáveis) um senador democrata do Texas, de nome Charlie Wilson, solteirão, pouco conhecido da comunicação social, mas não nos corredores do poder, dado a mulheres e álcool, e sem problemas de o assumir. Foi Tom Hanks quem explicou as pretensões de Charlie Wilson quanto á forma de ser apresentado no filme: “Não me importo que me mostrem bêbado, a consumir drogas ou a dormir com mulheres. Nada disso me importa porque, provavelmente, fiz essas coisas. Mas, acima de tudo, quero que se retrate de forma fiel a importância da missão." A “missão” era a sua assumida luta contra o comunismo internacional. Por essa altura os soviéticos estavam metidos no Afeganistão até às orelhas, mas a guerrilha “mujahidina” não desarmava, resistia, apesar dos milhares de baixas que a aviação moscovita provocava. Eram aviões e helicópteros de último modelo contra armas da I Guerra Mundial. Um massacre.
Charlie Wilson (Tom Hanks) dirigia uma comissão para apoio a guerrilhas anti-comunistas. Depois de falar e ser (duplamente) seduzido pelas palavras (e não só!) da multimilionária texana Joanne Herring (Julia Roberts), que organizava soirées muito concorridas para angariar fundos para a luta contra a URSS, Charlie compreende que a luta do povo do Afeganistão tem de ter um outro apoio e percebe igualmente que uma derrota soviética nas montanhas rochosas do Médio Oriente poderia ser o início do fim para o inimigo nº 1 dos EUA.
Com o apoio de Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman), um irado e subaproveitado agente da CIA, consegue duplicar, quadruplicar, e voltar a quadruplicar o orçamento de apoio aos afegãos, permitindo-lhes um armamento à altura da situação, que inverteu por completo os dados da questão. Poucos anos passados, os soviéticos saem daquele País com o peso de um derrota humilhante, e não faltou muito para a queda do muro de Berlim, da própria URSS e do pacto de Varsóvia. O Leste Europeu desmoronava-se perante esta vitória em toda a linha de alguns falcões americanos. Verdade? “Veremos”, teria dito o mestre Zen. E viu-se. A URSS acabou-se, mas os americanos descobriram um novo 31, abastecido por armas por si oferecidas. Começou no 11 de Setembro, passou pelo Afeganistão, onde re-encontraram os “talibans”, antes por si armados e treinados, já vai no Iraque, nada dos diz que não atravesse o Irão e assim por diante. “Catastrófico?” “Veremos”, mas nada de bom se augura.
Esta história de três pessoas combativas e muito persuasivas parece ficção política, mas é verdade. Ao que nos dizem tudo aconteceu assim. O que mostra também de que forma se pode fazer (e se faz!) política. Se acontece assim nos EUA, por que não acontecer um pouco por todo o lado? Uma dama bonita e rica, muito dada a guerras em nome de Deus, um senador fogoso, um agente da CIA que se julga injustamente colocado na prateleira. Uma guerra por aí e uma louca necessidade de nela intervir. O que teria sido melhor para o futuro da Humanidade? “Veremos!”
O que já vimos foi uma brilhante comédia assinada por um realizador de fina ironia e de brilhante direcção de actores. O mesmo brilhante realizador que há anos era vilipendiado por alguma crítica que agora exulta. O mesmo que se iniciou no cinema, em 1966, com uma adaptação da peça de Edward Albee, “Who's Afraid of Virginia Woolf?”, a que se seguiram, entre outros, “The Graduate” (1967), “Catch-22” (1970), “Carnal Knowledge” (1971), “The Fortune” (1975), Silkwood (1983), Biloxi Blues (1988), “Working Girl” (1988), onde descobriu Julia Roberts, “Postcards from the Edge” (1990), “Regarding Henry” (1991), “Wolf” (1994), “The Birdcage” (1996), “Primary Colors” (1998) “Angels in America” (TV) (2003), até chegar ao cintilante “Closer” (2004). Um homem de grande cultura e inteligência, com um humor corrosivo e uma ironia fina, um dos melhores encenadores de teatro americanos, e um fantástico director de actores.
Com argumento de Aaron Sorkin, Segundo obra de George Crile, “Charlie Wilson's War: The Extraordinary Story of the Largest Covert Operation in History”, “Jogos de Poder” (que se chama no original, “Charlie Wilson’s War”, “A Guerra de Charlie Wilson”, numa tradução à letra) mostra a elegante eficácia do cineasta, e a mestria do seu trabalho com três actores de eleição, Tom Hanks, Julia Roberts, e Philip Seymour Hoffman. Se todos aparecerem nomeados nada espanta. São três interpretações magníficas, de um virtuosismo invulgar, marcadas por (quase) imperceptíveis expressões, por gestos e olhares esboçados, por sorrisos de um breve sarcasmo que nos enche de alegria e prazer. Representar assim é uma sublime arte. Mas todo o elenco é óptimo e todo o filme é um regalo para a inteligência e o espírito. Não é uma obra-prima? Pois talvez não. Mas que importa? Quanto ao resto: “veremos!”
Título original: Charlie Wilson's War
Realização: Mike Nichols (EUA, 2007); Argumento: Aaron Sorkin, segundo obra de George Crile; Música: James Newton Howard; Fotografia (cor): Stephen Goldblatt; Montagem: John Bloom, Antonia Van Drimmelen; Casting: Ellen Lewis; Design de produção: Victor Kempster; Direcção artística: Maria-Teresa Barbasso, Brad Ricker, Alessandro Santucci; Decoração: Nancy Haigh, Alessandra Querzola; Guarda-roupa: Albert Wolsky; Maquilhagem: Luisa Abel, Janice Alexander; Direcção de produção: Moncef Belam, Gregg Edler, Nigel Marchant, Cristen Carr Strubbe; Assistentes de realização: Noureddine Aberdine, Rosemary C. Cremona, Antoine Douaihy, Basil Grillo, Mustapha Grumij, Michael Haley, Matthew Heffernan, Mohamed Nesrate, Mark Trapenberg, Nathalie Vadim; Departamento de arte: Martin Charles, Gina B. Cranham, Charlotte Raybourn, Marco Trentini, Bruce West; Som: Christopher Atkinson, Ron Bochar, Nourdine Zaoui; Efeitos especiais: Wesley Barnard, Caimin Bourne, John C. Hartigan, Andy Williams; Efeitos visuais: Richard Edlund, Helena Packer, Liz Radley, Liz Ralston, Robert Skotak, Sarah Vinson; Produção: Tom Hanks, Gary Goetzman, Michael Haley, Mary Bailey, Celia D. Costas, Edward Hunt, Ryan Kavanaugh, Paul A. Levin, Jeff Skoll; Companhias de produção: Good Time Charlie Productions, Universal Pictures, Playtone, Participant Productions, Relativity Media;
Intérpretes: Tom Hanks (Charlie Wilson), Amy Adams (Bonnie Bach), Julia Roberts (Joanne Herring), Philip Seymour Hoffman (Gust Avrakotos), Terry Bozeman, Brian Markinson ... Paul Brown), Jud Tylor ... Crystal Lee), Hilary Angelo, Cyia Batten, Kirby Mitchell, Ed Regine, Daniel Eric Gold, Emily Blunt, Peter Gerety, Wynn Everett, Mary Bonner Baker, Rachel Nichols, Shiri Appleby, P.J. Byrne (Jim Van Wagenen), John Slattery (Henry Cravely), Thomas Crawford, Joe Roland, Patrika Darbo, Amanda Loncar, Salaheddine Ben Chegra, Om Puri (Presidente Zia), Faran Tahir (Rashid), Rizwan Manji (Mahmood), Maurice Sherbanee, Salam Sangi, Navid Negahban,Mozhan Marnò, Habib Saba, Nadia Miller, Michelle Arthur, Shila Vossugh Ommi, Edward Hunt, Michael Haley, Denis O'Hare (Harold Holt), Michael Spellman, Russell Edge, Christopher Denham (Mike Vickers), Joseph Sikora, Gabriel Tigerman, Patrick Bentley, Marc Pelina, Ken Stott (Zvi), Tracy Phillips, Aharon Ipalé, Ned Beatty (Doc Long), Mary Bailey, Trish Gallaher Glenn, Ron Fassler, Enayat Delawary, Nancy Linehan Charles, Daston Kalili, Pavel Lychnikoff, Ilia Volokh, Alexander Lvovsky, Sammy Sheik, Moneer Yaqubi, Gabriel Justice, Siyal Mohammad, Quill Roberts, Jim Jnsen, Harry S. Murphy, Spencer Garrett, Kevin Cooney, Ambria Miscia, Dan Rather, Rachel Style, etc.
Duração: 97 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia:3 de Janeiro de 2008 (Portugal)
sexta-feira, janeiro 18, 2008
CINEMA: JESSE JAMES
Jesse James durante a vida era já uma lenda, mas depois de morto tornou-se um mito, tanto mais que viria a ser assassinado, à traição, por um dos membros do seu gang, um tal Robert Ford, de que a História retém apenas a abominação do acto. Antes de morrer era cantado com temor e reverência, depois de morto passou a vítima suja de um qualquer Judas de má memória. “The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford”, produzido e interpretado por Brad Pitt, numa realização do neozelandês Andrew Dominik (que anteriormente havia só dirigido uma longa-metragem, “Chopper”, 2000, que o haveria de lançar internacionalmente), tem como tema precisamente este facto, retratando os últimos meses de vida de Jesse James (entre 7 de Setembro de 1881 e 3 de Abril de 1882) e o que restou de vida (amaldiçoada) do seu carrasco.
Com esta obra (e outras que se anunciam com idêntica inspiração), se diz que o western regressa ao cinema. Não tanto assim: o western nunca deixou de estar presente no cinema americano, constituindo um género que um dos mais célebres críticos e ensaístas cinematográficos de sempre, o francês André Bazin, considerou “o cinema americano por excelência.” Na verdade, o western é a História mais genuína de uma nação que nunca deixou de se reflectir neste género, com mais ou menos intensidade, é verdade. Mas a própria história do western cinematográfico acompanha a História dos últimos cento e tal anos dos EUA. Pode analisar-se a América através das suas componentes sociais, politicas, militares, psicanalíticas, olhando para os westerns que se foram realizando ao longo das décadas. Neles se espelha com uma nitidez insofismável o melhor e o pior de um povo, temores e esperança, vícios e virtudes, e nem sempre a virtude está do lado da lei.
Este “Jesse James”, de Brad Pitt, que se baseia num romance histórico de Ron Hansen, publicado em1983, é uma obra extremamente interessante, construída contra a narrativa dominante, procurando e recuperando olhares e silêncios, em detrimento de acções galopantes. Arrojada opção que nos permite surpreender uma obra diferente, sedutoramente intensa, vivendo sobretudo do olhar. Este é um filme que “olha” personagens que se “olham entre si”, criando uma floresta de íntimos e secretos relacionamentos que inquietam e criam o suspense.
Jesse James e Bob Ford, sobretudo, olham-se com insistência, analisam-se, estudam-se, reflectem-se um no outro (“queres ser como eu, ou queres ser eu”?, pergunta JJ), e pelo olhar tentam penetrar-se um no outro (sim, este é um filme de homossexualidade mal resolvida, obviamente: Bob Ford ama Jesse James e mata-o para fazer desaparecer dentro de si esse desejo que ele renega). Todo o filme está pautado por cenas que remetem para esse voyeurismo amoroso (JJ toma banho, nu, Bob Ford espreita-o e julga-o desarmado, mas JJ revela-lhe a arma, elemento fálico opor excelência, encoberta por uma toalha). Mas, para lá dessa vertente psicanalítica, há uma outra que se lhe cola: Jesse James é o protótipo que se procura copiar, mas, tal como acontece sempre que tal acontece, a atracção para a afirmação pessoal, passa pela “morte do pai”, a rejeição e separação do modelo, por forma mais ou menos violenta. Neste ponto a colagem ao cristianismo é óbvia: Bob é o Judas desta ceia familiar pouco católica, onde estão familiares e apóstolos, reunidos em conciliábulo. Antes de assaltar o comboio, uma das grandes cenas deste filme, reúnem-se numa floresta (que só por acaso não é o jardim das oliveiras), mas, pouco depois, a figura de Jesse James surge espectral, recortada em silhueta da luz intensa do comboio que avança. Também ele irá ter o seu Judas, que o matará à traição, pelas costas, quando sobe a uma cadeira para endireitar um quadro. Tal como Cristo, Jesse James é atraiçoado sabendo ao que vai. Assassinato ou suicídio? Não terá sido o cobarde Bob Ford apenas o meio encontrado por JJ para atingir os seus fins, que o cansaço da fama tornava inevitável?
Uma excelente meditação, madura e inesperada, sobre temas de enorme modernidade, a que um elenco fabuloso (Brad Pitt, melhor actor em Veneza, Casey Affleck, Sam Shepard são fulgurantes) empresta uma dimensão trágica, bem servida pela fotografia de Roger Deakins, e a inspirada banda sonora de Nick Cave e Warren Ellis. Se houver justiça, vão aparecer várias nomeações.
O ASSASSÍNIO DE JESSE JAMES PELO COBARDE ROBERT FORD
Título original: The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford
Realização: Andrew Dominik (EUA, 2007); Argumento: Andrew Dominik, segundo romance de Ron Hansen; Música: Nick Cave, Warren Ellis; Fotografia (cor): Roger Deakins; Montagem: Curtiss Clayton, Dylan Tichenor; Casting: Mali Finn, Deb Green, Jackie Lind; Design de produção: Patricia Norris; Direcção artística: Martin Gendron, Troy Sizemore; Decoração: Janice Blackie-Goodine; Guarda-roupa: Patricia Norris; Maquilhagem: Brian Hillard, Gail Kennedy, Rochelle Pomerleau, Dave Snyder, Christien Tinsley; Direcção de produção: David Dresher, Ravi D. Mehta, Brian Leslie Parker, Brian Parker; Assistentes de realiazação: Megan Basaraba, Jesse Cooper, Richard Duffy, Martin Ellis, Lisa Jemus, Carole O'Brien, Scott Andrew Robertson; Departamento de arte: Ricardo Alms, Michael Madden, Brad Milburn, Grant Van Der Slagt; Som: Christopher S. Aud; Efeitos especiais: Diane Woodhouse; Efeitos visuais; Dick Edwards, Mark Edwards, Deak Ferrand, Bryan Hirota, Sophie Leclerc, Julie Orosz; Produção: Tom Cox, Jules Daly, Lisa Ellzey, Dede Gardner, Brad Grey, Murray Ord, Brad Pitt, Jordy Randall, Ridley Scott, Tony Scott, David Valdes, Ben Waisbren; Companhias de produção: Warner Bros. Pictures, Jesse Films Inc., Scott Free Productions, Plan B Entertainment, Alberta Film Entertainment, Virtual Studios.
Intérpretes: Brad Pitt (Jesse James), Mary-Louise Parker (Zee James), Brooklynn Proulx (Mary James), Dustin Bollinger (Tim James), Casey Affleck (Robert Ford), Sam Rockwell (Charley Ford), Jeremy Renner (Wood Hite), Sam Shepard (Frank James), Garret Dillahunt (Ed Miller), Paul Schneider (Dick Liddil), Joel McNichol, James Defelice, J.C. Roberts, Darrell Orydzuk, Jonathan Erich Drachenberg, Torben Hansen, Alison Elliott, Lauren Calvert, Kailin See, Tom Aldredge, Jesse Frechette, Pat Healy, Michael Parks, Ted Levine, Joel Duncan, James Carville, Stephanie Wahlstrom, Adam Arlukiewicz, Ian Ferrier, Michael Rogers, Calvin Bliid, Sarah Lind, Nick Cave, Matthew Walker, Zooey Deschanel, Michael Copeman, Laryssa Yanchak, Hugh Ross (Narrador), etc.
Duração: 160 minutos; Classificação etária: M/ 12 anos; Distribuição em Portugal: Columbia / CTW; Locais de Filmagem: Alberta; Burton Cummings Theatre, Winnipeg, Manitoba; Calgary, Alberta; Canmore, Alberta; Edmonton, Alberta, Canadá; Hidden Hills, California, EUA.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
sábado, janeiro 12, 2008
1958 A SAGA DELGADO
sexta-feira, janeiro 11, 2008
A AMÉRICA VAI MUDAR?
RUA LAURO CORADO
Distrito: Aveiro
Concelho: Aveiro
Freguesia: Vera Cruz
A morada postal deverá ter os seguintes parâmetros:
Rua Lauro Corado
Aveiro
3800-019 AVEIRO
Quadro de Lauro Corado: Aveiro. cais
PAOLO CONTI, em ritmo de milonga
Paolo Conte - Alle Prese Con Una Verde Milonga lyrics
Album: Paris Milonga (1981)
Alle Prese Con Una Verde Milonga
Alle prese con una verde milonga
Il musicista si diverte e si estenua…
e mi avrai, verde milonga che sei stata scritta per me,
per la mia sensibilità, per le mie scarpe lucidate…
per il mio tempo e per il mio gusto
mi avrai, verde milonga inquieta
che mi strappi un sorriso di tregua ad ogni accordo,
mentre fai dannare le mie dita…
…io sono qui, sono venuto a suonare,
sono venuto ad amare, e di nascosto a danzare…
e ammesso che la milonga fosse una canzone,
ebbene io l’ho svegliata e l’ho guidata ad un ritmo più lento…
così la milonga rivelava di sé molto più di quanto apparisse…
la sua origine d’Africa, la sua eleganza di zebra,
il suo essere di frontiera, una verde frontiera…
una verde frontiera tra il suonare e l’amare,
verde spettacolo in corsa da inseguire…
da inseguiere sempre, da inseguire ancora, fino ai laghi biancchi del silenzio
fin che Atahualpa o qualque altro dio
non ti dica: descansate niño, che continuo io…
…io sono qui, sono venuto a suonare,
sono vinuto a danzare, e di nascosto ad amare…
quinta-feira, janeiro 10, 2008
UM CENTENÁRIO
10 de Janeiro de 1908
10 de Janeiro de 2008
Lauro Corado
(1908-1977)
BIOGRAFIA
VAVADIANDO COM MRB
quarta-feira, janeiro 09, 2008
MANHÃ SUBMERSA NO YOU TUBE
segunda-feira, janeiro 07, 2008
ROAD HOME
Andava eu à procura, no Google, de fotos de um filme chinês, de Zhang Yimou, que em inglês se chamou "Road Home", quando me aparecerem várias "Road Home", a que não resisti. Aqui ficam algumas, espero que para deleite de muitos. Pintura, fotografia, música, cinema, há um pouco de tudo, e em tudo alguma nostálgica poesia de quem regressa a casa.